terça-feira, 28 de agosto de 2018

Eu (não) sei, tu (não) sabes, ele (não) sabe, nós (não) sabemos, vós (não) sabeis, eles (não) sabem

A SAD do Benfica foi constituída arguida no processo e-Toupeira. O Conselho de Administração da SAD efetuou uma nota de imprensa para exprimir o seu desacordo relativamente a esta decisão judicial. Este texto dispõe de todos os requisitos metafísicos para se transformar no equivalente pós-moderno do socrático “só sei que nada sei”. O texto merece uma leitura atenta tal a densidade analítica. Destaca-se uma afirmação: “Nenhum membro do Conselho de Administração da SAD do SLB sabe o que o Dr. Paulo Gonçalves sabe ou não sabe”.

Quando alguém afirma que não sabe o que o outro sabe ou não sabe está admitir não saber e saber ao mesmo tempo, um paradoxo que precisa de adequado esclarecimento filosófico. O que o outro não sabe não se define por si próprio, define-se por oposição ao que sabe, isto é, constitui um resíduo ou a diferença entre tudo o que potencialmente pode saber e aquilo que sabe efetivamente. Não saber o que o outro não sabe é, assim, saber o que o outro sabe. Por maioria de razões, não é possível não saber o que o outro sabe sem admitir pelo menos que ele sabe o que sabe. 

Numa leitura mais apressada, poder-se-ia admitir que se está em presença de desculpas, verdadeiras ou falsas. No entanto, para esse efeito, deveria ter sido utilizada outro tempo verbal: “Nenhum membro do Conselho de Administração da SAD do SLB sabia”. Parece mais correta, tanto mais que membros desse Conselho de Administração foram inquiridos antes da SAD ser constituída arguida. Admitir que “não se sabia” pressupõe que se passou a saber, pelo menos. Mas a utilização do presente do indicativo em vez do pretérito imperfeito revela o alcance da mensagem. Não se pretende esclarecer, pretende-se criar um oxímoro que nos leva a Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa): “Saber é matar [...]. Não saber, porém, é não existir”.

8 comentários:

  1. ainda à pouco tempo o Benfica apoiou indiscutivelmente Paulo Gonçalves, frisando até que iria ocupar o seu lugar e desempenhar as suas funções. Agora pelos vistos já nem o conhecem eheh. Que passou-se ?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro,

      O Dr. Paulo Gonçalves não existe. Foi esta a conclusão do comunicado da SAD.

      SL

      Eliminar
  2. Caro Rui:
    Face a esta claríssima explicação, fico a pensar:
    - será Paulo Gonçalves um até agora desconhecido heterónimo de Fernando Pessoa?
    - será afinal dele o famoso poema “ o poeta é um fingidor...”
    - será que o anónimo proprietário da famosa arca de Fernando Pessoa é Luís Filipe Vieira?
    Alegrem-se pois Ricardo Zenith e Jerónimo Pizarro, as letras pessoanas vão ter novo impulso, partindo de onde menos se esperava.
    Talvez, em vez do Livro do Desassossego, cheguemos à conclusãp que a obra maior do nosso Fernando é o Manual de Paulo G.
    Um Abraço
    José Lopes

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro José Lopes,

      É exactamente isso. Paulo Gonçalves não existe. É isso que nos diz a nota de imprensa ou comunicado.

      Um abraço

      Eliminar
    2. Paulo Gonçalves é um heterónimo de LFV.

      Eliminar
  3. O importante é que finalmente os painelistad têm coisas sérias para falar...
    O BC deve estar a preparar alguma para voltar ao top das noticias

    ResponderEliminar
  4. https://www.youtube.com/watch?v=wZ7g95a33d0 - e voces sabem!

    ResponderEliminar