sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Continuação dos prolegómenos sobre a metafísica (do) benfiquista

Esta minha incursão pela metafísica suscitou mais interesse do que esperava. Não sei se foi da (pseudo) filosofia ou do Benfica. Porventura, terá sido da entremeada. Mas nem só de comunicados da SAD vive a filosofia (do) benfiquista. Há mais declarações que implicam análise rigorosa.

Quando perguntado sobre as claques do Benfica, Luís Filipe Vieira respondeu: “Nunca sube que o Benfica tinha claques”. A conjugação da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo saber com pronúncia açoreana não é para aqui chamada. O que é para aqui chamada é a relação entre saber ou conhecimento e existência. Há quem afirme que o que existe define os limites do que se sabe. Luís Filipe Vieira afirma o contrário, o que se sabe define os limites do que existe, isto é, o que não se sabe não existe. No entanto, uma questão subsiste: e quando se insiste em não saber? Bernardo Soares diz-nos que não saber é não existir. Neste caso, quem insiste em não saber, existe, está-se é a fazer de morto.

Na conferência de imprensa após o jogo do Benfica contra o Sporting, Rui Vitória afirmou: “Foi uma arbitragem descontrolada”. Este qualificativo da arbitragem não se define por si próprio, define-se por oposição ao seu antónimo. Neste caso, não se põe o dilema do “ovo e da galinha”, foi a galinha (a arbitragem controlada) que apareceu primeiro. Quem sabe o que é uma arbitragem descontrolada, “mutatis mutantis”, sabe o que é uma arbitragem controlada. Voltando à metafísica benfiquista, o saber é o princípio da existência: se se sabe o que é uma arbitragem controlada então é porque tal tipo de arbitragem existe. Os “vouchers” e os emails indiciavam que tal existisse, embora o Benfica se tenha recusado a aceitá-lo. Desse ponto de vista, a afirmação do Rui Vitória é revolucionária, não chega à conclusão pelos factos mas pela filosofia.

Depois da SAD do Benfica ser constituída arguida no caso e-Toupeira, na televisão, André Ventura afirmou: “Isto não tem a ver com corrupção desportiva, tem a ver com corrupção dita comum: a corrupção definida no Código Penal”. A relação vai para além do saber e da existência, envolvendo a linguagem. Há quem afirme que a linguagem e o conhecimento são uma e a mesma coisa, só se sabendo o que se consegue formalizar de algum modo. É a linguagem que define os limites do que se sabe. Se perguntassem a André Ventura o seguinte: “Senhor doutor, o que pensa de corrupção que envolva a magistratura do Ministério Público?”. A resposta seria lapidar: “É comum”. Os significados de comum são: vulgar, frequente, habitual, que não tem grande significado ou valor. Neste caso, é a linguagem que (de)limita a existência ao (de)limitar o que se sabe. Em conclusão, nada disto é potencialmente grave, é comum, vulgar, frequente, habitual e não tem grande significado ou valor.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Eu (não) sei, tu (não) sabes, ele (não) sabe, nós (não) sabemos, vós (não) sabeis, eles (não) sabem

A SAD do Benfica foi constituída arguida no processo e-Toupeira. O Conselho de Administração da SAD efetuou uma nota de imprensa para exprimir o seu desacordo relativamente a esta decisão judicial. Este texto dispõe de todos os requisitos metafísicos para se transformar no equivalente pós-moderno do socrático “só sei que nada sei”. O texto merece uma leitura atenta tal a densidade analítica. Destaca-se uma afirmação: “Nenhum membro do Conselho de Administração da SAD do SLB sabe o que o Dr. Paulo Gonçalves sabe ou não sabe”.

Quando alguém afirma que não sabe o que o outro sabe ou não sabe está admitir não saber e saber ao mesmo tempo, um paradoxo que precisa de adequado esclarecimento filosófico. O que o outro não sabe não se define por si próprio, define-se por oposição ao que sabe, isto é, constitui um resíduo ou a diferença entre tudo o que potencialmente pode saber e aquilo que sabe efetivamente. Não saber o que o outro não sabe é, assim, saber o que o outro sabe. Por maioria de razões, não é possível não saber o que o outro sabe sem admitir pelo menos que ele sabe o que sabe. 

Numa leitura mais apressada, poder-se-ia admitir que se está em presença de desculpas, verdadeiras ou falsas. No entanto, para esse efeito, deveria ter sido utilizada outro tempo verbal: “Nenhum membro do Conselho de Administração da SAD do SLB sabia”. Parece mais correta, tanto mais que membros desse Conselho de Administração foram inquiridos antes da SAD ser constituída arguida. Admitir que “não se sabia” pressupõe que se passou a saber, pelo menos. Mas a utilização do presente do indicativo em vez do pretérito imperfeito revela o alcance da mensagem. Não se pretende esclarecer, pretende-se criar um oxímoro que nos leva a Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa): “Saber é matar [...]. Não saber, porém, é não existir”.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Aos amigos favores, aos inimigos a lei

No jogo contra o Moreirense, três jogadores do Sporting protestaram três decisões do árbitro e foram sancionados com três amarelos. Nada a dizer: lei é lei. Contra o Benfica, a equipa do Sporting procurou perder tempo e o árbitro compensou com seis minutos de descontos. Nesses descontos, voltou a perder tempo e o árbitro compensou com mais cinco minutos. Nada a dizer: lei é lei.

Fica-se a aguardar que num só jogo três jogadores do Porto ou do Benfica sejam sancionados com os correspondentes amarelos por protestarem decisões do árbitro. Fica-se a aguardar que qualquer uma destas equipas tenha o jogo prolongado por mais onze minutos por perder tempo.

sábado, 25 de agosto de 2018

As bandarilhas de Peseiro

Se bem percebi o que fui lendo esta semana, este jogo era um pró-forma. O Benfica tinha o jogo ganho, só não se sabia por quantos, e os sportinguistas estavam conformados. Quando soube a meio da tarde que o Mathieu não jogava e imaginei um lado esquerdo da defesa com o André Pinto e o Jéfferson, eu próprio não fiquei muito otimista.

O Peseiro surpreende pela simplicidade, sobretudo pela simplicidade como aprende. Contra o Moreirense, tentou jogar com o Battaglia e um estorvo ao lado e não resultou. Contra o Setúbal, tentou jogar com o Battaglia e outro estorvo ao lado e não resultou também. Hoje, jogou sem nenhum estorvo e resultou. Sem um estorvo, pode entrar um jogador que saiba jogar à bola. Jogou o Raphinha, para sorte nossa e dele e para azar do Grimaldo e do Benfica. A colocação do Raphinha do lado direito e a insistência em jogar por esse lado mesmo nos pontapés de baliza, condicionou a construção de jogo do Benfica, que vive de correrias pelas laterais.

O Benfica passou a contar com três arruaceiros para construir jogo: Rúben Dias, Jardel e Fejsa. Com eles e, por vezes, com o André Almeida, que nem o treinador nem a direção confiam, mas lança mau olhado a qualquer contratação para a sua posição. Com o Battaglia e o Acuna a controlarem o Pizzi, restava ao Benfica apostar todas as fichas no nosso Jéfferson. Apostou no Rafa e apostar no Rafa é o mesmo que apostar no Jéfferson mas ao contrário. O Benfica ficou limitado às bolas paradas e aos ressaltos. Nós, ficámos limitados à sorte e às abébias dos sarrafeiros da defesa adversária, dado que o nosso plano era o de evitar que o Benfica pudesse dispor do seu.

O jogo ficou ensarilhado e ensarilhado continuou durante noventa minutos. Em dois cantos os jogadores do Benfica esforçaram-se por acertar no Salin, que para os não humilhar resolveu fazer uns voos encarpados com meia pirueta. Num lançamento de linha lateral, a bola ressaltou no cocuruto da cabeça de um jogador do Sporting e permitiu uma rosca ao Cervi para grande defesa do Salin. Ao contrário, o Acuna rematou ao lado e o Montero antecipou-se ao Ruben Dias mas não conseguiu desviar a bola para a baliza.

A segunda parte prometia mais do mesmo. Só que do Rúben Dias é um jogador perigoso em todos os sentidos, para as canelas e outras componentes anatómicas que estejam abaixo do pescoço dos jogadores adversários, para a sua própria equipa sempre que árbitro não tenha sido devidamente ordenado. Centro atrasado, em “slow motion” Montero simula que se vai fazer à bola pelas costas do defesa, muda de trajetória e ganha-lhe a frente e o Rúben Dias com a raiva do engano procura arrancar-lhe os ligamentos dos tornozelos e uma rótula. Penalty e Nani a fazer um a zero. O Rui Vitória desatou a fazer substituições que só resultaram porque, por um lado, o Luís Godinho recuperou mais bolas do que o Gedson, e, por outro, o Peseiro enlouqueceu, fazendo entrar um dos estorvos e esperando que desta vez tivesse um resultado diferente.

Empatámos, mas é difícil o Benfica voltar a sofrer semelhante humilhação: acabar por não ganhar um jogo contra uma equipa onde jogaram o Castaignos, o Jéfferson e o Petrovic. O Peseiro enfiou estas três bandarilhas, se não contarmos com a do Salin. Enfiou, por fim, a bandarilha que está enfiada desde o primeiro dia: por um vigésimo do salário qualquer treinador português consegue fazer pelo menos o mesmo do que o Jorge Jesus (poupando-se, ainda, na bazófia).

domingo, 19 de agosto de 2018

A lei de Peseiro


A equipa não entrou condicionada, mas quase. Não fosse o Nani inventar um daqueles lances cujo epitáfio se resume a (supostamente) inofensivo, e o jogo ainda demoraria a criar uma ideia que tivesse um pernil do passado recente. Não basta ter uma ideia, é preciso acreditar nela. Ainda bem que não acreditámos. E se é para correr mal, corre(rá) de qualquer maneira. Como aconteceu, aliás, logo a seguir. Depois podíamos ter marcado. Ou não. O adversário acreditou que não. E continuou na sua toada de quem remoí um sentimento a reboque de mais um erro adversário.

No intervalo saiu o Bas Dost. O Dost e o Fernandes nem tinham entrado. Os últimos acontecimentos da novela dão-lhes uma resma de ideias de rescisão suficientes para tirarem um curso de direito por linhas tortas. O Peseiro intuiu.  Eu também. No nosso campeonato basta colocar alguém com vontade de jogar e jeito para a coisa. O orçamento e a cor da camisola podem ser letais em determinadas circunstâncias. Com os árbitros e demais entidades sobrenaturais não podemos contar. Entrou o Jovane. Eles sabiam. O Peseiro sabia que eles sabiam. Nós não. Estávamos nervosos. Com o Jovane as coisas tornam-se mais rápidas e imprevisíveis. O Nani sabe disso. O Nani andou por esse mundo fora onde se joga à bola a sério. Em Portugal a bola tem muitos nomes e alguns apelidos. Nani facilmente será um deles.

De resto imperou a lei de Peseiro: Nunca voltes a um sítio onde foste infeliz (o que não está provado). 

domingo, 12 de agosto de 2018

A Lei de Murphy de pernas para o ar ou a vitória do bem sobre o mal

Vamos fazer um suponhamos. Vamos supor que esta época se iniciava nestes termos com o Jorge Jesus a treinador. Com jogadores a chegarem a conta-gotas, com outros que não se sabe se vão definitivamente ou se voltam. Com o Jéfferson a lateral esquerdo e sem o William Carvalho ou um substituto como o Petrovic. Com uma Direção em gestão à espera de outra que nunca mais se elege nem a malta almoça. Teríamos desculpas, muitas desculpas. Teríamos “bullying” permanente sobre os jogadores e sobre a Direção.

Este jogo era para correr mal. O Sporting vive uma combinação có(s)mica de azares e trapalhadas que só a Lei de Murphy de pernas para o ar é que nos podia valer: se alguma coisa puder correr bem, correrá. Tudo o que podia correr mal, correu, mas tudo o que podia correr bem, correu também. O bem ganhou ao mal.

Ganhou o bem e o Peseiro, que revelou a habitual sagacidade de um treinador português: se queres ganhar um jogo encanzinado em Moreira de Cónegos, mete dois extremos rápidos, tira duas lesmas e borrifa-te para a ideia de jogo que possas, ou pensas, ter. É esta intuição simples que o Jorge Jesus perdeu no seu labirinto de táticas e opções inextrincáveis. Não lembraria àquela cachimónia de risco ao meio retirar um jogador com o estatuto do Nani e meter um miúdo como o Jovane Cabral. Não lembraria, antes de mais, porque o Jovane Cabral nesta altura estaria dispensado. Se, por falta de alternativas, não estivesse, nem para o banco iria. Como na época passada, seriam adaptados o Misic ou o Wendel.

Ganhámos nós também. Ganhámos três pontos onde na época passada tínhamos período dois. Ganhámos com o regresso do Bruno Fernandes e do Bas Dost. É uma delícia voltar a ver jogar o Bruno Fernandes, mesmo, como hoje, quando o tem de fazer contra o resto do mundo. É uma delícia começar a ver o Bas Dost a devolver, ponto por ponto, os pontos que uns anormais lhe agrafaram na cabeça (marcou um “hat-trick” que só não valeu porque o VAR estava convenientemente desligado). 


(O Nelson Évora é Campeão Europeu. Ganhou o único título ao ar livre que lhe faltava. Foi do Benfica. É do Sporting. É um grande atleta. É um grande português)

sábado, 11 de agosto de 2018

O que leva uma criança a sonhar com uma camisola do Olympiacos?(*)

É de Viseu, fez no domingo oito anos.

É de uma candura extraordinária. O impulso que o leva a abraçar os pais, a ternura e o brilho que lhe envolve o rosto nesses momentos é reveladora da pureza dos seus sentimentos. Naqueles gestos compreende-se o verdadeiro afeto. Compreende-se também o poder oculto e torrencial das crianças. Não são cerebrais estes impulsos e obrigam-nos a refletir no que de mais puro tem a vida na sua essência. Um abraço daqueles faz fugir o chão debaixo dos pés e somos levados à dimensão etérea do amor levando-nos a perdoar-lhes de imediato o que por vezes parece imperdoável.

Tem a paixão do futebol e um amor imensurável ao Sporting - "No dia em que entrar em Alcochete não volto papá" - deve ser arrepiante um pai ouvir esta frase da boca de um filho a quem nunca faltou afeto.

Tem também um ídolo: Daniel Podence. Adoeceu quando este abandonou o clube. Mera coincidência? Talvez não. No dia do seu oitavo aniversário pediu que o bolo tivesse a fotografia do seu ídolo e um emblema do clube. Assim se fez. Gostou do bolo mas não era perfeito. "Sabes mamã, um dia o Jesus disse que tinha uma profunda admiração pelo Podence. Eu podia ter no bolo - Pedro tem uma profunda admiração pelo Podence."

Como se explica a uma criança destas os acontecimentos de Alcochete e as rescisões? Como se explica esta traição?

Daniel, desafio-te a fechares os olhos vestires a pele deste menino e reviveres a tua estada em Alcochete. Onde vês a maldade de quem te acolheu de braços abertos? Onde está a violência de quem te ajudou a desenvolver e potenciar o dom com que Deus te brindou? Que verdadeiras razões tens para invocar a rescisão, sem serem aquelas que apareceram na comunicação social e que, a nós que te admiramos, não dizem nada? Quem esteve ao teu lado quando choravas com saudade o amor insubstituível dos pais? Que valores faltaram incutir-te para seres um verdadeiro homem de modo a podermos dizer aquela criança que sim, tu és um digno e verdadeiro ídolo de quem ela se pode orgulhar?

O Sporting não são aqueles trinta, quarenta ou cinquenta de Alcochete. O Sporting são pessoas como este menino e muitos outros adultos incapazes de te odiar porque te olhamos com os olhos dele e te sentimos como ele sente. Os valores da Academia não foram engolidos pelos abutres que agora te aconselham e sabemos que guardas ainda no teu interior o mais sublime deles - o respeito pelo outro e por ti próprio por isso um dia ainda vais ser capaz de explicar ao Pedro o porquê da tua atitude. Sim, chama-se Pedro. Ofereceram-lhe, no dia do oitavo aniversário, uma camisola da Juventus com o nome do Ronaldo gravado mas, o que ele queria mesmo era uma camisola do Olympiacos gravada com o teu nome. Boa sorte no teu novo clube.


(Quem te aconselhou na decisão da rescisão e na de assinares pelo Olympiacos teve realmente uma brilhante ideia. O presidente deste clube é uma pessoa dócil, afável e respeitadora dos direitos dos seus funcionários. Não foi ele que insultou os jogadores da equipe por causa de uma exibição menos conseguida? Não foi ele que multou os jogadores depois de uma dura reprimenda com eco nos jornais e televisões de toda a Europa? Não foi ele que irritado mandou todos os jogadores de férias e quis acabar a época com os miúdos dos Sub-20? Que vais fazer quando ele voltar a comportar-se deste modo? Decerto vais pedir novamente a rescisão porque atitudes destas foram também motivo para nos abandonares. No dia em que quiseres regressar cá estaremos novamente para te receber de braços abertos e mataremos o melhor novilho. Diremos depois aos teus colegas de balneário: " Não fiqueis incomodados com a festa de receção que presenciais, porque este vosso irmão esteve perdido e achou-se, esteve morto e reviveu").

(*) Carlos Trindade Gomes

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Votar para fazer a diferença

O futebol é o assunto mais importantes de todos os não importantes. As nossas vidas, felizmente, têm coisas mais importantes e interessantes do que um Sporting-Benfica ou um Sporting-Porto. Onde trabalho, procuramos apoiar iniciativas de muitas organizações, públicas e privadas. Essas iniciativas têm contribuído para que sejamos um país melhor, na economia, na ciência, na educação, na saúde ou no apoio social.

Por detrás dessas organizações, está gente de carne e osso que todos os dias dá o seu melhor para nos pudermos orgulhar do país que somos. Ao pé deles, os protagonistas do futebol não passam de uns trastes. Há iniciativas destas que são distinguidas na Europa e no Mundo. Este ano temos as seguintes duas que são finalistas aos Prémios RegioStars da União Europeia:


Não me vejo a pedir votos para mim próprio. Mas se estas duas iniciativas ganhassem, sentia-me como se tivesse sido eleito Presidente do Sporting. Seria uma vitória à Sporting, uma vitória do que realmente vale a pena (quando a alma não é pequena, digo eu). Carreguem nos links e façam o favor de votar. Pelo Sporting! Por nós!

(Quem acedeu ao blogue para ler mais uma das rábulas das eleições do Sporting, pode ler o “post” da Maria Ribeiro. Está lá tudo dito e não é possível dizer melhor)

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Wake me up when September ends


Miguel Poiares Maduro, secundado por outros associados, apresentaram há dias uma posição publica conjunta a pedir o adiamento do ato eleitoral do Sporting com dois propósitos. Primeiro, dar tempo para que haja uma convergência entre diferentes candidaturas, com a finalidade de que a lista vencedora ao Conselho Diretivo tenha o maior respaldo possível. A segunda, para dar tempo de clarificar em definitivo a situação dos vários candidatos que se encontram sob alçada disciplinar.

O primeiro ponto, parece-me relativamente irrelevante. De facto, não me parece de todo preocupante que o ato eleitoral dê visibilidade ao pluralismo de posições que caracterizam historicamente o Sporting, nem me parece que mesmo que alguém vença com 71%, os outros 29% se remetam ao silencia, conforme a experiência recente deixa claro. Naturalmente, que haverá candidaturas que não representam nada mais do que a vaidade dos seus subscritores, mas essas ou não chegarão ao ato eleitoral, ou terão um numero risível de votos.

A segunda parte parece-me mais relevante. No respeito pela pluralidade, é indispensável que os associados que entendem que o projeto dos anteriores órgãos sociais é o mais adequado, possam ter representação eleitoral. Seja em listas encabeçadas por antigos membros do Conselho Diretivo, seja em listas lideradas por outros nomes por impossibilidade regulamentar dos primeiros.

Mas para que tal aconteça é preciso tempo. Se a justiça precisa de tempo para ser justa e não pode ser apressada, então o processo eleitoral também deve ter um tempo justo para que haja igualdade de oportunidades.

Infelizmente, nestes dias de brasa e de histeria, os mais beneficiados por esta decisão são os que mais a criticam. “Psicólogo?  O psicólogo era para…?”

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Gostei do que vi

Depois de uma semana de trabalho intenso (e insano), sentei-me no Flávio para ver o jogo de apresentação contra o Marselha com o melhor dos estados de espírito possível. Mal começou o jogo, um canto a nosso favor deu origem a um golo do adversário, um clássico em Alvalade. Ninguém se lembrou de avisar o Viviano que não estava a jogar contra o Moreirense ou o Tondela, equipas que quem não se espera que vão pressionar o guarda-redes. Um erro, um golo, que não se irá repetir no campeonato pelas razões apontadas.

Gosto do Viviano, salvo seja. Os guarda-redes italianos são os melhores do Mundo. Dizem que este está gordo. Para mim, o arquétipo do guarda-redes italiano é o Angelo Peruzzi, que jogou na Juventus. Era gordo e ninguém chegou a saber se era de nascença ou se tinha engordado. Para defender, fazia o estritamente necessário. Entre um voo para a fotografia e dar dois passos para encaixar a bola, optou sempre pela defesa energeticamente mais eficiente. A concentração e a colocação entre os postes sempre foram a melhor forma de defender.

A perder por um zero, desatámos a jogar à bola. O problema parece ser a primeira fase de construção, como agora se costuma dizer. Mas quando a bola chega ao Nani ou ao Bruno Fernandes o nosso jogo ganha outra dimensão atacante. Os laterais envolvem-se bem no ataque e mesmo com a mosca morta do Montero na frente podíamos ter marcado.

Quando menos se espera e nos locais mais improváveis, o trabalho volta. Uma colega que passou pelo Flávio viu-me, dirigiu-se-me e desatou a azucrinar-me a cabeça. Só voltei a ver o jogo aos cinco minutos da segunda parte. Percebi melhor a escolha do Marselha para o jogo de apresentação. Os jogadores davam pau a toda a sela e o guarda-redes queimava tempo em qualquer reposição de bola (deram-se ao trabalho de fazer não sei quantas substituições no tempo de descontos, inclusivamente). Bom treino para o primeiro jogo do campeonato contra o Moreirense.

Nós continuávamos a jogar bem, mas sem um referência no ataque para as meter na baliza. Até que num canto, esqueceram-se do Bruno Fernandes e este pegou na bola e colocou-a no sítio onde esperava que aparecesse a cabeça do André Pinto. A cabeça apareceu, a bola tabelou-lhe e o guarda-redes fez uma grande defesa, mas permitindo que o André Pinto recarregasse com o pé que tinha mais à mão. Depois começaram as substituições. Quando se esperava que o jogo acalmasse, com a entrada do Bas Dost e do Coates, os nossos calmeirões para as bolas paradas, desatámos a tentar ganhar o jogo como se não houvesse amanhã. Não conseguimos, mas esteve por centímetros.

Gostei do que vi, em particular da dinâmica de ataque. Os laterais deixaram de servir exclusivamente para apoio aos extremos naquele futebol moído de ganhar a linha e voltar para trás e fazer a roda ao bilhar grande tantas vezes quantas as necessárias até adormecermos. Gostei especialmente do Bruno Fernandes e do Nani. Há jogadores esforçados e jogadores inteligentes. A ter que optar por uns em detrimento dos outros, prefiro sempre os inteligentes aos esforçados (o ideal é ter inteligentes-esforçados ou um esforçados-inteligentes). Das aquisições e com exceção do Nani, achei o Marcelo seguro e o gostei muito do que vi do Rafinha: excelente técnica, rapidez de movimento e inteligência a centrar (gostei de o ver ir à linha fazer um centro atrasado em vez de um balão para a molhada; pouco jogadores percebem que um centro não deixa de ser um passe para um colega de equipa).

Confirmou-se o que pensava: até o Peseiro consegue colocar uma equipa a jogar melhor do que o Jorge Jesus. Não sei se o Peseiro tem unhas para esta equipa e para algumas personalidades. Mas o rasto de devastação deixado pelo Jorge Jesus é enorme. As expetativas de bom futebol e de resultados que não se confirmaram. Os milhões e milhões gastos em contratações. Os camiões de pernetas como o Petrovic, o Doumbia, o Matheus Oliveira ou o Castaignos (ninguém se enganou na modalidade quando o contrataram?) que temos de despachar para parte incerta. Mas o pior, o pior mesmo foi a falta de aposta na formação e a destruição da matriz do modelo de organização do futebol do Sporting.

Como é que se espera atrair jovens jogadores para os juvenis, juniores e Equipa B se nenhum deles tem qualquer expetativa de jogar na equipa principal ou de valorização, estando condenados ao degredo numa qualquer equipa de terceira linha? Os jogadores da casa geram mais facilmente fatores de identificação dos adeptos. Por isso, considero as dispensas do Palhinha e do Francisco Geraldes dois erros de palmatória. Não é tanto pela qualidade dos jogadores que não sou competente para avaliar, é mais pela (falta de) qualidade de muitos que ficaram e por não se dar um sinal inequívoco de se querer reverter o ciclo de devastação do Jorge Jesus.