domingo, 29 de abril de 2018

Futebol de praia


Não é fácil passar na Praia da Rocha, aquilo é toalhas e pernas por todo o lado. Falo por experiência própria, embora há anos que lá não ponha os pés. Ainda pensei em fazer praia no estádio do Algarve, à imagem de muita malta ali da zona do Estoril ou de Olhão, mas não foi possível.

Os comentadores entraram contrafeitos e com alguma azia (por razões óbvias situadas bem a norte da Praia da Rocha, mais concretamente num resort da 2ª circular em Lisboa), e pior ficaram logo aos seis ou sete minutos, ainda os vendedores pregavam as famosas bolinhas: Bas Dost estendeu a toalha (não é a à toa que ele quer ter uma casa por cá) e Bruno Fernandes deitou-se com prazer. Ainda não chovia e a areia estava quentinha. Um golo pode aquecer a alma de um homem. Comi o resto do peixe frito com arroz de cenoura sossegado.  

Bebericava um último gole de um branco seco de trazer por casa, quando os da Praia de Rocha se decidiram fazer ao mar. Ao Petrovic, homem de raiz continental e habituado a outras paragens, ainda percebemos o desconhecimento das vicissitudes da bola na areia da praia, mas ao Coentrão das Caxinas percebe-se menos aquele desleixo intuitivo. JJ no final falou apenas de Petrovic, embora este tenha servido, e bem, muitas vezes de nadador salvador. Podíamos ir ao bar descansar a ganhar dois ou três a zero, fomos empatados. Para dar mais pica à segunda parte.

No segundo tempo o tema passou a ser Nakajima. Os comentadores tinham que se agarrar a uma qualquer liana. Os jogadores do Sporting acharam estranho a presença de lianas numa praia, ainda por cima com chuva. O Bruno Fernandes decidiu enganar os adversários falhando alguns passes, sendo imediatamente copiado por vários companheiros de equipa. Jesus decidiu intervir dizendo que a ideia de falharem os passes era dele e não do Bruno, incentivando ainda mais os jogadores nesse sentido, sendo copiado pelo treinador adversário que imediatamente ordenou que os da Praia da Rocha também falhassem passes. Depois o Bruno Fernandes simulou estar cansado e já sabemos que por todos foi copiado.

Ninguém gosta de estar na praia à chuva, vai daí, o Bruno Fernandes decidiu sair da letargia e acabar com aquilo (o JJ juraria mais tarde que por ordens e determinações tácticas suas), tirando um coelho da cartola a uns bons trinta metros. Um coelho saído de uma cartola na praia era bonito de se ver. Acho que o Coentrão abraçou o Bruno de … Carvalho. Ou se calhar o Bruno de Carvalho é que abraçou o Coentrão. Os comentadores já não comentavam. Era demais para eles.

4 comentários:

  1. Como terá dito Salieri, tomando como bom o relato de Milos Forman, "Senhor, se não me deste talento, porquê castigar-me com a capacidade de o reconhecer?".
    É o que sinto ao ler este fabuloso texto.

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    1. Meu Caro,

      Com essas referências, só lhe posso, modestamente, estar deveras agradecido.

      SL

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  2. Extraordinário texto.
    O Levezinho não faria melhor, mesmo nas famosas ferias de Natal.
    Parabens, voce é o Ronaldo da blogosfera leonina.
    SL

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    1. Meu Caro,

      Obrigado. Embora os pontapés de bicicleta não sejam da minha área. Volte sempre.

      SL

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