sexta-feira, 9 de março de 2018

Uma ideia clinicamente possível

O Viktoria Plzeň entrou desconfiado. Tinham ouvido falar da ideia de jogo do Jorge Jesus e suspeitaram o pior, em particular quando viram o Montero a ponta-de-lança. Só como ideia se imagina o Montero sozinho na frente. Mas a ideia era mesmo essa, fazer crer que se tem uma ideia e, depois, jogar com aqueles que ainda não faleceram como se isso decorresse dessa ideia e não de uma fatalidade.

Demoraram cerca de sessenta minutos a perceber a ideia e só a perceberam quando viram que mesmo os que não tinham falecido também não estavam com boa cara. Começaram a pensar que correr, atacar e meter os maiores que tinham na frente podia ser uma boa ideia. Pelo menos, uma ideia melhor do que a de continuarem a assistir ao autêntico recital de futebol do Bruno Fernandes. A ideia foi boa e só não deu em golos por alguma falta de jeito. Devem estar a pensar por que razão esta ideia não lhe veio à cabeça mais cedo, pois, até chegarem a esta ideia, tivemos tempo para marcar dois golos.

No primeiro, o Coentrão ganhou a bola e correu com as forças que tinha até ao ataque sem que ninguém se desmarcasse para lado algum. Não desanimou e passou a bola ao Bryan Ruiz, que estava parado, e desmarcou-se ele próprio para dentro da área, contrariando a movimentação habitual do Zeegelaar de se embrulhar em meio metro quadrado com o Bryan Ruiz e que tantas saudades nos deixou. O Bryan Ruiz, que parado consegue sempre os seus melhores momentos, picou a bola por cima de uma adversário para a devolver ao Coentrão que, mesmo correndo o risco de se desatarraxar todo, meteu de primeira para o meio, apanhando o Montero parado. Estando parado, o sangue de barata que lhe corre nas veias permite-lhe marcar golos com a frieza de um veterano italiano.

No segundo, o Bruno Fernandes recupera uma bola na zona frontal, avança com ela e passa-a ao Montero, esperando a tabelinha mais à frente para ficar cara-a-cara com o guarda-redes e marcar golo. O Montero, com o ego em alta, resolveu fazer tudo mal e tão mal foi fazendo que, às páginas tantas, não lhe restava outra alternativa que não fosse desfazer-se da bola a qualquer preço. O sangue de barata ou a sorte permitiu-lhe um passe para a baliza meio de bico, metendo a bola junto ao poste. O Bruno Fernandes, que estava preparado para lhe ralhar, acabou por perdoar tudo, com a promessa de nunca mais voltar a fazer uma coisa como aquela.

Os jogadores do Viktoria Plzeň com esse segundo golos tiveram a epifania que descrevi e desataram a tentar marcar golos. A cada investida, a defesa ia cedendo mais um pouco, valendo-nos o cabedal do Coates e o nervo do Mathieu e do Coentrão. Pedia-se aquilo que autores clássicos como o Alves dos Santos ou o Gabriel Alves conceptualizaram como o refrescamento da equipa. O Acuña foi o primeiro a sair. Foi uma opção lúcida do Jorge Jesus: como não pode jogar contra o Chaves, nada melhor do que o poupar. Depois ficou a dúvida se não queria tirar antes o Coentrão quando o substituiu mais tarde pelo Rúben Ribeiro. A coisa estava a ficar tão feia que até a entrada do Rúben Ribeiro constituiu um refrescamento. Aguentámos até ao fim e podíamos mesmo ter marcado um golo quando o Mathieu sprintou quase o campo todo para morrer ao pé da praia. Se o Varandas conseguir apanhar as pulsações a onze jogadores, pode ser que na República Checa se resolva o problema.

10 comentários:

  1. hahahahahaha
    Estara o Rui a candidatar-se ao lugar de Rogerio Casanova?
    Muito bom (e lucido)!
    SL

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Meu caro,

      Obrigado. Não me estou a candidatar a nada e muito menos ao lugar do Rogério Casanova. Convém não confundir a Estrada da Beira com a beira da estrada.

      SL

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  2. O Rui escreve algumas coisas com muita pintarola mas, David, não é preciso exagerar!

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    1. Meu caro,

      Eu paguei ao David para dizer o que disse, daí o exagero. Tentei lá em casa que alguém conseguisse fazer o mesmo, mas ninguém aceitou. Estou a brincar, evidentemente.

      SL

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  3. "Desatarraxar" é uma pérola! Normalmente o humor caricaturado é um exagero desproporcional de uma situação quotidiana... neste caso do desatarraxar não e também estou sempre à espera de ver o Coentrão a desmembrar-se no chão, como acontecia aos bonecos do toy story, sempre que um humano entrava no quarto.
    SL
    Basco "O Leão"

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    1. Meu caro,

      Era o Coentrão a desatarraxar-se e o Mathieu no "sprint" final a ver quando caia para o lado completamente arrebentado.

      SL

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  4. Eles estão a rebentar mas tem alma. Ninguém melhor interpreta o filme : "por cada leão que cair outro se levantará".
    Montero, nº 4 na lista, resolveu, se arrebentar vem de lá um júnior que resolve. Ainda há muito para jogar.
    SL

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    1. Isso é que é ter fé...mas atenção há quem vá a pé a Fatima,por fé, e não resolve nada

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    2. Meus caros,

      O Coentrão e o Mathieu simbolizam mais essa máxima do "por cada leão que cair outro se levantará", dado que são mais de torcer do que quebrar. Quanto ao Montero tenho mais dúvidas. É mais "por cada leão que cair outro se procurará levantar sem que se tenha a certeza que esteja em condições de andar".

      SL

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