quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Uma, outra e outra vez ainda

Três jogos oficiais, três gamanços, três vitórias. É difícil acontecer-nos pior. É difícil conseguir melhor. Os resultados escondem o que nos vem acontecendo. Nem sempre assim será. Vamos ater-nos ao jogo contra o Tondela. Em melhor oportunidade, regressaremos ao tema e aos restantes jogos. 

O golo do Tondela envolve quatro potenciais decisões de arbitragem. Todas as decisões penalizaram o Sporting.

O golo começa num livre mais do que duvidoso. O Naldo protege bola, tem-na sempre controlada, está sempre com ela junto aos pés, o adversário toca na bola, mas em nenhum momento fica com ela. Depois do toque na bola, ao Naldo bastou-lhe rodar para continuar a controlá-la, tanto mais que o adversário o tinha contornado em sentido contrário para a disputar. Os dois jogadores estão agarrados. O árbitro decidiu que o agarranço do Naldo era melhor do que o do adversário.

Livre marcado e golo do Tondela. Antes da bola entrar, há um jogador do Tondela que a toca para frente, deixando em fora-de-jogo o seu colega que iria marcar o golo. O árbitro não marcou falta. O marcador do golo domina a bola com a mão e empurra-a para a baliza. O árbitro não marcou falta e não mostrou o consequente amarelo.

Em quatro decisões potenciais, duas têm relação direta com o golo (fora de jogo e domínio da bola com a mão). Uma tem relação indireta com o golo (falta do Naldo). Outra não tem qualquer relação com o golo (eventual amarelo).

O golo marcado pelo Sporting é antecedido de um lançamento de linha lateral. O João Pereira ao fazê-lo coloca o pé de apoio para lá da linha lateral. A bola vai para a área e é disputada de cabeça por vários jogadores. Ganha um jogador do Tondela, ressaltando a bola para dentro da área. Dois jogadores – um do Tondela e outro do Sporting – disputam a bola. O jogador do Sporting chega primeiro e o jogador do Tondela faz falta. A bola é colocada na marca de penalty, o Adrien corre para ela, remata e faz golo.

O erro do árbitro tem uma relação muito indireta com o golo. O lançamento de linha lateral não dá origem ao golo. Dá origem a um corte da defesa do Tondela. Depois desse corte, ainda há uma disputa de bola. Essa disputa de bola dá origem a um penalty claro. O penalty teve de ser marcado e só depois é que foi golo.

É verdade que todos os acontecimentos no universo estão relacionados. O bater de asas de uma borboleta no Japão pode dar origem a um terramoto nos Estados Unidos. Mas o João Pereira não tem ar de borboleta (apesar de ter parecido uma libelinha quando apanhou com o Usain Bolt do CSKA) e os resultados no futebol não se medem com recurso à escala de Richter ou de Mercalli.

Equiparar os erros do árbitro num e noutro golo é intelectualmente desonesto. Os lances só seriam equiparáveis se o João Pereira tivesse efetuado o lançamento lateral diretamente para a baliza e a bola, sem tocar em ninguém, tivesse entrado. Aliás, estamos disponíveis para trocar trezentos e cinquenta e oito lançamentos de linha lateral iguais ao do João Pereira por um golo por jogo com a mão. Se nos permitirem essa troca, ainda dispensamos o fora-de-jogo.

8 comentários:

  1. Não é líquido que o lançamento do J. Pereira seja ilegal. Na opinião do antigo árbitro Pedro Henriques (e na minha), não o é.
    https://www.youtube.com/watch?v=tuE03KYdtkY
    Lendo a lei com atenção e partindo do princípio que os calcanhares do J. Pereira estão sobre a linha, tal como parece pelas imagens (na lei não é especificado qual a percentagem de pé que tem que estar sobre a linha), o lançamento é legal.

    http://www.fpf.pt/Portals/0/Documentos/Centro%20Documentacao/LeisJogo/Leis_do_Jogo_2015_2016.pdf
    Lei 15, pag 49:
    No momento do lançamento lateral, o executante deve:
    • fazer frente ao terreno
    • ter, pelo menos parcialmente, os dois pés sobre a linha lateral ou sobre o terreno exterior a esta linha
    • segurar a bola com as duas mãos
    • lançar a bola por detrás da nuca e por cima da cabeça
    • lançar a bola no local onde ela saiu do terreno de jogo

    Por absurdo, se não é permitido ter qualquer parte dos pés dentro do campo, uma grande percentagem dos lançamentos seriam ilegais, pois na maior parte das vezes a ponta dos pés dos jogadores está dentro do campo.

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    1. Meu caro,

      Obrigado pela informação. Assim sendo, o gamanço ainda foi maior.

      SL

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  2. Caro Rui Monteiro,

    Vou mais longe e pergunto-lhe o que é intelectualmente honesto neste país ?
    Só há uma coisa a fazer: continuar a ganhar...

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    1. Meu caro,

      De facto, nada. Mas no futebol exagera-se um tanto. O problema é que nem sempre é possível ganhar com estas arbitragens. É preciso estar preparado para isso.

      SL

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  3. O lançamento do JPereira não é irregular. Só o seria se o calcanhar não estivesse em contacto com a linha. O que é difícil de avaliar e uma decisão perfeitamente válida do fiscal de linha.

    Não faz sentido comparar um golo onde tudo está errado, com outro onde tudo está certo, mesmo o lançamento.

    Quem disse que o lançamento era irregular simplesmente NÃO conhece as regras do jogo.

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    1. Meu caro,

      Ouvi dizer isto dias a fio. A convicção era tanta que nem sequer me ocorreu que pudesse ser de outra forma. Em conclusão, o gamanço ainda foi maior.

      SL

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  4. Caro Rui,

    É mesmo isto: três jogos, três gamanços, e mesmo assim três vitórias.

    Relativamente ao jogo com o Tondela questiono-me: o Xistra fez aquela arbitragem porque foi nomeado ou apesar de ter sido nomeado?

    O "porque foi nomeado" refere-se à possibilidade de ter recebido uma qualquer chamada do Vítor Pereira antes do jogo que possa ter influenciado o rapaz. Parece que são coisas que acontecem...

    O "apesar de ter sido nomeado" tem a ver com a ideia que os árbitros nomeados sentem "mais confiança" e portanto arbitram melhor. Mas ao rever o golo do Tondela fico a pensar que gostava mesmo que tivessem optado pelo sorteio. É que queria ver um árbitro fazer pior que isto: um golo em fora-de-jogo, com a mão a partir de uma falta marcada ao contrário!

    SL

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    1. Caro João,

      O Xistra fez o pleno no golo do Tondela. É quase impossível cometer tantos erros num só lance de golo prejudicando sempre a mesma equipa.

      SL

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