Marco Silva, entrevista pelo Maisfutebol, fala um pouco das suas rotinas e das suas filosofias. (30 de Maio de 2013)
Vê muitos jogos na TV, ou procura desligar-se do futebol em casa?
Tento ver e estar atualizado. Passo muitas horas no clube, em casa tento desligar, mas não é fácil. O futebol é a nossa vida, uma paixão, mas tento passar algum tempo com a família. Chego ao clube muito cedo e saio tarde. Tento ver no clube os vídeos dos adversários ou dos nossos jogos. Posso chegar às 9h e sair às 18h. Fico a ver vídeos, a estudar adversários, e também em conversas com a equipa técnica.
O 4x3x3 está na moda?
Na moda não sei, mas é a mais utilizada. Em Portugal e na Europa. O mais importante são as dinâmicas. Isso é que define os comportamentos coletivos. Não sei se dá mais garantias, embora permita, em muitos momentos, ter a equipa equilibrada tanto no processo ofensivo como defensivo. Mas importante são as dinâmicas.
O «10» está em vias de extinção?
Aquele que jogava só com a bola no pé já não faz muito sentido. Vimos agora na final da Champions como os alas trabalham defensivamente. Mesmo o tal «10». O futebol é cada vez mais dinâmica coletiva. Depois os jogadores mais evoluídos tecnicamente podem desequilibrar. Esse «10» pode definir os ritmos. Aquele «10» à moda antiga começa a não fazer grande sentido, mas todas as equipas precisam de alguém com criatividade e leitura rápida nessa zona. É um momento de decisão, de último passe, e é importante ter um jogador assim.
Faz mais sentido adaptar os jogadores a um sistema ou o contrário?
Acima de tudo temos que perceber as características dos jogadores. Nunca devemos ter o sistema na cabeça e obrigar os jogadores a encaixar lá. Se pudermos formar dentro das nossas ideias, melhor. Por isso é mais fácil começar um plantel de raiz. Mas importante é perceber as características da equipa, e daí definir o sistema.
Qual a sua filosofia de jogo?
Gosto de jogar o jogo pelo jogo, sem linhas muito recuadas. No início desta época diziam que a nossa equipa era de transição, com linhas baixas. Nunca foi isso que trabalhámos, a identidade pretendida. A 2ª volta deu-nos alguma razão. No último terço da Liga tivemos quase sempre mais posse de bola do que adversário. Em Moreira de Cónegos conseguimos 70/30%. Em Setúbal 68%. Mesmo na Luz acabámos o jogo com mais posse. Começámos a desmistificar a imagem de equipa de transição. O nosso tridente de meio-campo foi muito importante nesse crescimento, pois passámos a controlar mais o jogo. Gosto de uma equipa que assuma o jogo, pressione alto, mas há adversários que não permitem isso. É preciso ter em conta também a realidade do clube, mas gosto de jogar ao ataque, sempre mantendo o equilíbrio.
Que perfil de liderança defende?
Tento ser o mais natural possível. Têm de existir regras em grupo, mas são normais numa equipa. Tento uma relação de proximidade muito grande com os jogadores. Alguma cumplicidade, dentro da barreira normal que deve existir. Devemos estar próximos, para alguns problemas que tenham. O respeito, a ambição, têm de ser conjuntas. O jogador é cada vez mais inteligente, gosta de perceber que aquilo que o líder pede faz sentido. E tem de haver sempre respeito, claro.
Jurgen Klopp disse que era amigo dos jogadores mas que eles não eram seus amigos, que isso não funcionava. Concorda?
Faz algum sentido. O treinador tem de ser amigo e confidente, muitas vezes. Os jogadores podem ter até alguma admiração pelo treinador, mas vai haver sempre insatisfeitos. Vai ser assim no Benfica, no Porto, no Milan, onde for. Em 25 ou 27 jogadores é dificil ter toda a gente satisfeita.
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