“O aspecto mais imediatamente visível do apodrecimento do sistema liberal monárquico nesses últimos 20 anos talvez fosse o da sua progressiva ingovernabilidade, o do crescente impasse das instituições. A “oligarquização” do sistema e os seus efeitos geravam o desprestígio da instituição monárquica, do rei, dos seus “aúlicos” e do pessoal político do regime, não só entre os grupos sociais dele excluídos, mas, também, de forma crescente, entre as “forças vivas”, os grupos dominantes. (…)
O Estado monárquico e a dinastia não demonstraram a capacidade de neutralizar o perigo republicano “caçando no seu campo”, isto, é, ensaiando uma auto-reforma do sistema, nem encontraram na sua base natural e normal de apoio, entre as classes possidentes, qualquer disposição efectiva de defender o statu quo. Também para elas, nas novas condições, aquela Monarquia liberal, instável e ineficiente não servia. Sem apoiarem explicitamente a conspiração republicana, as “forças vivas” vão seguramente deixar cair a Monarquia. Mais do que derrotada pela revolução lisboeta do "5 de Outubro”, a Monarquia vai render-se, à primeira oportunidade, na capital e nos arredores, entregando-se sem sequer esboçar a luta, por simples informação telegráfica, no resto do País. A fórmula monárquica do liberalismo esgotara-se”.
Fonte: História da República Portuguesa, 2009, Fernando Rosas
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