quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Qual é a nossa estratégia?

Não vi jogo suficiente para me irritar com a dignidade que o Sporting merece. Esta equipa, ou muito me engano, ou ter-se-á tornado de uma previsibilidade sem espinhas, mesmo quando experimenta, ou quando diz introduzir novas nuances no jogo.  Toda a gente sabe como o Sporting joga ou vai jogar, só o Sporting é que não sabe isso. Só assim se explicam as sucessivas trocas de bola no meio campo leonino com o jogo a acabar e…a perdermos. E não foi apenas no jogo de ontem. As razões para tal talvez escondam a localização do pote de ouro na ponta do arco-íris.

Não se trata apenas do modelo, da estratégia, da motivação, há muito que este Sporting se entretém com a bola com a objectividade de um bloco de mármore: parece bonito mas é um pastelão maçador, lembrando a espaços o tika-taka entretido de Lopetegui (deus nos livre e guarde). Ontem, mais uma vez, desperdiçamos oportunidades, não muitas, mas suficientes (como, aliás, em Alvalade) para não perder o jogo. Todavia, fica sempre a sensação que o Dortmund tinha o jogo relativamente controlado, e que qualquer aceleração poderia surpreender o Sporting. Mais surpreendente é a nossa incapacidade frente a equipas como o Tondela, Nacional ou mesmo o Rio Ave, que esta semana levou três em casa do Vitória.

O ano passado a presença imponente de Slimani (e às vezes do Teo) dava ao jogo uma imprevisibilidade mortífera no último terço, imprevisibilidade essa, que, para além de qualquer sistema, deixava em sentido qualquer defesa, já para não falar do desgaste que erodia aos poucos a equipa adversária. Este ano, para além de Gelson, que continua a gingar mas fazendo-o de forma mais adulta, a equipa em geral parece um corpo estranho a pensar na morte da bezerra. No fim-de-semana temos a nossa final da liga dos campeões contra o Arouca. É o jogo de uma época, como aliás, serão todos daqui para a frente no campeonato. Até aqui andamos a adormecer os nossos adversários. Ninguém está a espera daquilo que virá. Faz tudo parte da nossa estratégia…a sério!

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O desafio de uma vida

Só vi a segunda parte do jogo contra o Nacional. Teremos jogado melhor na primeira. Falhámos um penalty (desde quando é que o William Carvalho passou a marcá-los?). Mas, quando vemos as estatísticas no final da primeira parte, tínhamos quatro remates à baliza contra três do adversário.

A segunda parte foi uma grande confusão. Com o relvado transformado num batatal, o jogo foi todo aos repelões. Os do Sporting ainda começaram por tentar jogar à bola. O William Carvalho insistia que tinha de ser assim. Só na cabeça dele é que isso era possível e na do Jorge Jesus. É que se o jogo se transforma numa confusão tem que se jogar de forma confusa, competentemente confusa. Não se percebe a razão para não ter entrado o Castaignos e se ter passado a jogar para a molhada (a entrada do Elias serviu exactamente para quê?).

Mas nem tudo foi mau. Os centrais estão cada vez melhores. Vivem em permanente sobressalto, devido ao desequilíbrio numérico do meio campo. Têm de jogar a laterais também. Têm de pegar na bola e ir por ali fora, fintando e tabelando até chegar com ela à frente. Com os centrais e mais meia dúzia de Brunos Césares a coisa ainda se compunha (isto se o árbitro marcasse os penalties que tem de marcar).

A partir de certa altura, com os jogadores do Nacional a queimar tempo, o jogo deixou de acontecer. No período de compensação, em vez de mandarmos umas bolas para a molhada, dedicámo-nos a correr com a ela e a passá-la, queimando tempo também.

Estamos a sete pontos do Benfica. Estamos onde o Jorge Jesus pensava estar por esta altura. Estes resultados e esta classificação só se explicam se se admitir que existe um plano. Um plano que transforme o Jorge Jesus num Rui Vitória ao quadrado. Na época passada, o Benfica precisou de recuperar sete pontos com a APAF para ser campeão. Esta época, vamos ser campeões, depois de recuperarmos sete pontos contra a APAF. É o desafio de uma vida!

domingo, 23 de outubro de 2016

Liga dos últimos

A coisa começou no jogo contra o Madrid. O Real Madrid, já se sabe, é uma prima-dona com estatuto gravado na passerelle do futebol mundial. Nunca mais saímos desse enclave (para nós imaginário) onde se simula um torneio entre equipas europeias. A vitória moral é uma doença com raízes profundas no futebol nacional e muito enraizada no imaginário sportinguista.

A partir daí começamos a somar vitórias morais entre derrotas (Rio Ave, Dortmund), e empates (Guimarães e Tondela). Em todos estes jogos existiram (supostamente) condicionantes e imprevisibilidades de toda a ordem e feitio, e a equipa estaria (supostamente) a crescer. As dores do crescimento sentimo-las nós bem. Quanto a responsabilidades não se fala. O melhor treinador do mundo continua a viver num mundo paralelo onde se rodeou de espelhos. Os melhores jogadores do mundo naquele tal jogo com o Madrid em que… perdemos, continuam a passear a sua ineficácia com a lentidão do costume.

Ontem parece que foi o antijogo, o azar, as pernas a dar horas da liga dos campeões, mais antijogo com o beneplácito do árbitro, supostamente enervando os adeptos. Enervando os adeptos, muito boa essa piada. Segundo o treinador foi tudo isso. O resto está bom: treinador e jogadores, coitados. O facto de a equipa pouco se mexer em campo, não existir fio de jogo nem oportunidades de golo, não interessa para nada. O facto de a defesa ser mais macia que aquela manteiga que eu me esqueci este verão na mesa da cozinha com 39 graus, não tem qualquer importância. Para andar nestas andanças, segundo o treinador, temos que aguentar.

Um périplo à performance dos jogadores deixa-nos esclarecidos. Os dois laterais (escolhidos pelo treinador) fizeram a pomba ao assinarem pelo Sporting. O Schelotto depois de renovar contrato já nem para demonstrações de velocidade furiosa serve. O Semedo, que nos tinha convencido ter um pacto com a distracção, afinal tem um pacto com a aselhice. Salva-se o Coates, enquanto não temos equipa de basquetebol para escoar. No meio campo o aranha Carvalho lá se vai aguentando nas canelas. Ao lado do Elias a coragem é um bem necessário. Verdade que o Elias não tem culpa. Culpa teve quem o foi buscar ao retiro espiritual onde ele estava. Aquele moço, o André, poderia muito bem ter vindo num pacote de três ou quatro para o Sacavenense. Dizem que é um falso lento, eu acho que é um falso rápido. O Bryan Ruiz está a dar as últimas mas ninguém lhe recomenda banco antes da extrema-unção. Deve estar com saudades do João Mário.

Já agora: por onde anda o pontapé do Alan Ruiz, as desmarcações do Castaignos, a segurança há muito procurada por Jesus na pessoa do Douglas? Como diria o Victor do Poste na Liga dos Últimos: “Não é só hoje. É sempre!



sábado, 22 de outubro de 2016

O jogo que vale uma época

Na época anterior, o jogo contra o Tondela valeu-nos a perda do campeonato. Devia ter servido de aviso. Este era o jogo da época. Não era o jogo contra o Dortmund. Vamo-nos entretendo a meio da semana com jogos que não interessam a ninguém. O Jorge Jesus tem de rodar a equipa na Liga dos Campeões. É nesses jogos, a brincar, que devem jogar os cromos que contratámos.

O jogo foi penoso desde o primeiro momento. Os jogadores do Sporting jogaram devagar e devagarinho. Jogaram ao ritmo do Brasileirão. Até por essa razão o Elias não tem desculpas. Não existe nenhum problema de adaptação. Não joga nada, mesmo a passo. Não ataca nem defende e tem o defeito irritante de falhar passes a dois-três metros dos colegas. É o nosso regresso ao passado em Brideshead.

Depois da primeira parte a passo de caracol, imaginei que alguma coisa mudasse na segunda. Ainda acreditei, quando entrou o Castaignos, que iríamos apostar na biqueirada para a frente e na disputa das bolas na área. Nada disso aconteceu. Só nos últimos minutos é que percebemos que, se não temos pernas nem jeito para levar a bola até à área em progressão, o melhor é bombeá-la directamente para lá. Criámos mais oportunidades assim nos últimos minutos do que durante o resto do jogo.

Quando o Bruno César é o nosso melhor defesa esquerdo, a melhor alternativa para substituir o Adrien e o que melhor pode jogar em apoio ao ponta-de-lança, está praticamente tudo dito sobre o desvario das aquisições e do planeamento da época. É que, entendamo-nos, o Bruno César nem sequer é propriamente um grande jogador. Foi o que se pode arranjar para dar algumas alternativas ao treinador a meio da época passada.

O cansaço acumula-se, a desconfiança instala-se, os adeptos desesperam. Vamos ver se o Jorge Jesus é capaz de travar este caminho para o abismo. Já vimos este filme várias vezes. Acreditamos que desta é diferente. Mas a história repete-se. Estamos mal? Estamos. Ainda poderemos ficar pior? Podemos. Quando é que se sabe se batemos no fundo? Não se sabe. Há sempre mais fundo para além do fundo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Deixem jogar o Castaignos!

Ontem, comecei o dia com notícias do jogo do Sporting contra o Dortmund. Com base nos resultados do passado, informaram-nos que o Sporting tem tantas probabilidades de ganhar a uma equipa alemã com as de um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Também nos informaram que desta vez podia ser diferente, dadas as lesões dos jogadores do Dortmund. Pelas contas do jornalista, havia nove lesionados.

Quando começou o jogo, fiquei surpreendido com a constituição das equipas. O Dortmund aparecia com onze jogadores e o Sporting também. Se bem percebi o noticiário, para o Dortmund aparecer com onze jogadores o Sporting devia jogar com vinte.

Esta batota do Dortmund foi decisiva desde o início do jogo. No futebol, sendo onze de cada lado, no final ganham os alemães. Como de costume nesta coisa da Liga dos Campeões, o árbitro também estava mancomunado com a equipa mais forte, gamando-nos o penalty da ordem quando estava zero a zero (não viu o penalty, mas viu um falta do Bas Dost numa confusão qualquer, anulando-nos um golo). É difícil ganhar contra o destino. É ainda mais difícil ganhar com uma batota, quanto mais com duas.

O Jorge Jesus resolveu rodar jogadores num jogo decisivo para a Taça de Portugal e massacrar os supostos titulares neste torneio organizado pela UEFA. Os titulares também só são três: o Patrício, o William Carvalho e o Gelson Martins. Os outros estão todos à experiência. As experiências não estão a resultar grande coisa, com uma ou outra exceção.

O Bas Dost é o melhor avançado disponível. Em princípio, é para continuar. O Markovic, cada vez que tem a bola, desata a correr com ela como um perdido até se enfiar num buraco e perdê-la. Para jogar a segundo avançado, talvez seja melhor o André, o Bryan Ruiz, o Campbell ou o Bruno César. Ainda tenho esperanças que o Castaignos nos vai fazer esquecer o Teo. É caso para dizer: deixem jogar o Castaignos!

O Elias não nos está a desiludir. Sempre foi assim e sempre assim será. Quando sai para fazer pressão, demora eternidades a recuperar posição, ficando o William Carvalho contra o resto do mundo. Os laterais são um caso perdido. Os centrais vivem em dúvida permanente: têm de estar sempre com um olho nos avançados e o outro nos buracos que se vão abrir nas laterais.

Mesmo assim, não dei o tempo por perdido. Nunca tinha visto os alemães a queimar tempo na fase final do jogo como ontem. Os do Sporting, tenrinhos, deixaram-se ir na conversa. Só se anda aos empurrões e às cabeçadas aos adversários e em discussões com o árbitro quando se está a ganhar. Quando se está a perder, só serve para perder tempo e, assim, alinhar na estratégia do adversário (e do árbitro).

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

As revelações tardam

Vi jogo com o Famalicão, para a Taça de Portugal, com a expetativa de assistir à revelação dos nossos craques contratados à última hora, após a transferência do Slimani e do João Mário. Comecei a vê-lo a meio da primeira parte. Estávamos a ganhar por um a zero.

Durante a primeira parte não fiquei com a certeza sobre quem eram os jogadores que estavam a jogar. Por exemplo, só ao intervalo é que fiquei a saber que o Markovic estava a jogar, quando me informaram que o golo tinha sido dele. Infelizmente não foi só o Markovic. O Alan Ruiz nem vê-lo também.

Não vi uns, mas vi outros, embora preferisse não ter visto. Preferia não ter visto o Petrovic ou o Jéfferson (este é um caso definitivamente perdido). Na segunda parte, avisado ao intervalo da constituição da equipa, passei a vê-los todos. Vi e não gostei muito. Não gostei do Markovic, do Alan Ruiz, do Jéfferson ou do Joel Campbell. Gostei assim-assim de outros. Achei o André esforçado, os centrais periclitantes e o João Pereira inconsequente. 

As coisas só não foram piores porque entrou o William Carvalho. Estou disponível para pagar bilhete só para o ver jogar. Com ele, até o Elias parece melhor. É uma autêntica máquina humana de otimização. É um algoritmo simplex com pernas. A bola, com ele, percorre sempre o caminho mais curto e mais adequados face às restrições de espaço e de tempo que os adversários colocam em campo. Estava extasiado e mais extasiado fiquei com a entrada do Gelson Martins. Gelson é o regresso ao jogo da bola. É a vertigem, ponteada pela disciplina tática que o Jorge Jesus lhe vai impondo, naturalmente.

A arbitragem foi lamentável. Valeu tudo. Há muito tempo que não assistia a uma sessão de pancadaria assim perante a complacência do árbitro. Tudo foi permitido aos jogadores do Famalicão: pontapés, calcadelas, cotoveladas e outros ataques aos jogadores do Sporting ao jeito do Taekwondo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Os Euros e os Pontos

No meio de tanta emoção a ver os jogos da seleção, dei comigo a fazer contas à vida. É um truque antigo para fugir ao sono. Já se discutiu bastante por aqui que o Sporting devia apostar no campeonato e não se devia distrair com a champions, mas parece que a mensagem não está a passar para quem tem de tomar as decisões de gestão de esforço do plantel. O resultado de Guimarães foi de tal forma incrível que me vou tentar socorrer de argumentos quantitativos, reconhecidamente pouco apropriados para o futebol, para tentar convencer quem de direito.

Importa começar por constatar o nosso objetivo: no campeonato ganham-se pontos, na champions ganham-se euros. O resto é conversa. Nós ganhámos 1,5 milhões de euros com a nossa vitória na champions até agora, um feito aparentemente notável face aos 500 mil dos nossos adversários diretos. No entanto, estes euros têm um custo: pontos no campeonato. Na ressaca da champions já perdemos 5 pontos, o Porto 2 e o Benfica zero. Se virmos numa perspetiva de "eficiência" estamos ligeiramente melhor que o Porto e bem pior que o Benfica: estamos a vender os nossos pontos a 300 mil euros cada um, ao passo que o Benfica conseguiu ganhar euros sem perder pontos.

Claro que os jogos são diferentes. São sempre. Mas mesmo assim espero que esta constatação de que estamos a vender pontos no campeonato ajude a perceber o essencial: é necessário descansar pelo menos um jogador de cada sector na champions. Depois se vierem uns euros tanto melhor. Os euros fazem sempre alguma falta. Os pontos não sabemos, por isso o melhor é não andar a desperdiça-los.

domingo, 2 de outubro de 2016

O que faz falta?

Ontem, depois do jogo contra o Guimarães, não tive tempo para escrever nada. Hoje, um pouco à pressa, escrevi quatro notas que aqui deixo. É preciso animar a malta.

[Falta plano B] 
O Sporting não consegue controlar os jogos quando não tem a bola. Não há plano B. A equipa joga sempre da mesma forma, sempre para a frente tentando pressionar de imediato quando perde a bola e com a defesa subida. Quando perde a capacidade de ter a bola ou de a recuperar imediatamente, não consegue encontrar um plano de jogo consistente e o jogo fica partido, com enormes crateras no campo. Não consegue condicionar os adversários de outra forma. Essa perda de capacidade de ter a bola é mais frequente esta época do que na anterior.

[Falta de pernas] 
Há falta de plano B, mas também há falta de força nas pernas nos últimos minutos. Com o modelo de jogo do Sporting e com os jogos da Liga dos Campeões, os centrais e os dois jogadores de meio-campo não têm sossego. Nos últimos minutos de jogo começa a faltar-lhes o ar. O William Carvalho no início do jogo e com a cabeça oxigenada não teria feito o penalty que fez. Mais uma vez, também há falta de Slimani, num jogo partido, a capacidade de segurar bolas na frente para permitir que a equipa suba e descanse é decisiva.

[Falta de alternativas] 
O Sporting podia continuar sempre com o plano A se tivesse alternativas. Foi feito um sem numero que contratações, que parecia dar mais alternativas ao treinador. Essas alternativas não aparecem e a equipa está a ficar espremida. Quantos jogos mais vai fazer o Bas Dost a titular durante noventa minutos a correr o tempo todo? Não se pode pedir a um jogador de quase dois metros que se mexa como os outros. Ganhou todas as bolas de cabeça que tinha de ganhar, colocando-as nos seus colegas, que infelizmente não lhe deram devida sequência em muitas situações. Não tem a mesma capacidade do Slimani para defender e segurar bolas na frente. Mas o Slimani é um fenómeno.

[Conclusão] 
Ou o Sporting arranja um plano B ou arranja alternativas aos principais jogadores ou, então, tem de abdicar da Liga dos Campeões, e quanto mais cedo melhor. O Sporting sofreu três golos contra o Rio Ave, dois contra o Estoril e três contra o Guimarães. Oito golos em três jogos para o campeonato. Não vale a pena andar a culpar os jogadores e a dizer que se desconcentram e por aí fora. Alguma coisa está mal que os transcende. Corremos o risco de fazer uma primeira parte de época como a do Marco de Silva.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Desnorteando

Quando cheguei a casa, os diferentes canais da televisão estavam em alvoroço. Percebi que uma equipa qualquer tinha pedido quatro a dois. O Estoril perdeu quatro a dois mas tinha sido na sexta-feira passada. Não estava a perceber a razão de tanto alvoroço. Às tantas, um jornalista da SIC notícias afirmou que o Benfica tinha perdido o desnorte. Então é que perdi o norte: “quatro a dois”, “Benfica, “perder o desnorte”?

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A arte de bem jogar à carica

Desde que apareçam jogadores equipados à Sporting, qualquer jogo, em qualquer modalidade, desperta-me interesse. Contento-me com pouco. É-me indiferente se se joga à malha ou à carica (a minha filha apanhou-me um dia a ver um reportagem na Sporting TV sobre a nossa equipa de pesca desportiva; a partir desse dia a minha autoridade ficou pelas ruas da amargura). Também gosto de ver jogos em que uma qualquer equipa com camisolas vermelhas acabe derrotada.

No futebol, esta combinação pode-me ser servida em qualquer formato. Hoje foi para a Liga dos Campeões, mas se fosse para a Taça Lucílio Baptista o entusiasmo era o mesmo. Foi com este estado de espírito que vi, intermitentemente, o jogo do Sporting contra o Legia de Varsóvia.

Mal comecei a ver o jogo, o Jéfferson levou dois nós cegos a passo-de-caracol de um perneta qualquer da equipa polaca. Logo a seguir, o Bruno César ia fazendo autogolo. Temi o pior. O Bryan Ruiz, perante tantos disparates, pegou na bola e desatou a jogar como sabe. Os restantes jogadores acordaram e começaram a acompanhá-lo. De repente, a equipa estava em modo rolo-compressor. Os do Legia já não sabiam o que fazer para acabar com aquele inferno.

Vi o Gelson Martins fazer de Bryan Ruiz. Vi o Bryan Ruiz fazer de Slimani. Vi o Bas Dost fazer de Bas Dost (a sua economia de esforços nos remates transforma-os em passes para a baliza). Vi o Coates a tentar molhar a sopa outra vez (está-lhe a apanhar o jeito). Entretanto, o Slimani tinha feito de Slimani e o Casillas tinha feito de Cassillas. Ao intervalo, estávamos a ganhar em dois campos ao mesmo tempo. Nada mau, para um jogo à carica.

Na segunda parte, segundo o Jorge Jesus, gerimos o jogo. Aprecio a semântica. Diria de outra forma, borrifámo-nos para o jogo, metemos uns craques que contratámos à última hora e começámos a pensar no jogo contra o Guimarães. Parece-me uma atitude inteligente. Ganhámos o jogo, ganhámos as massas que a UEFA atribui para fazer de conta que estes jogos interessam pelo menos ao Menino Jesus e, espero eu, descansámos um ou outro jogador para o próximo jogo do campeonato (sobretudo o Bruno César, que, com esta exibição do Jéfferson e a lesão do Zeegelaar, vai ter de voltar a jogar a lateral esquerdo).

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O 4-6-2 de Jorge Jesus

Não quero substituir-me à análise do jogo já aqui feita, mas tendo em conta que eu só vi aí a primeira meia hora de jogo a minha perspectiva será porventura complementar.

Tive muito menos sorte que o Rui Monteiro. Os minutos que vi foram quase uma seca, um jogo de um só sentido, em que para passar o tempo se comparavam as vezes que o Estoril ultrapassava o meio campo com as decisões acertadas do Alan Ruiz.

A "culpa" foi do William e do Adrien. Os dois juntos devem valer por uns 4, o que põe o Sporting a jogar em 4-6-2, um sistema tático que baralha qualquer Freitas Lobo e deixa os adversários asfixiados na sua zona defensiva. Até o Fernando Santos, a custo, lá se converteu perante as vantagens deste sistema.

Posto isto importa com urgência encontrar os indivíduos que se fizeram passar por William e Adrien em Vila do Conde e... convoca-los para amanhã! Já se percebeu que o 4-6-2 é excelente mas não podemos abusar dele e portanto a minha proposta é que nos tentemos safar com o Legia em 4-4-2, guardando o melhor para o fim de semana. É que a história recente recomenda cautela, muita cautela, para Guimarães.

domingo, 25 de setembro de 2016

Regresso a casa

Depois de duas derrotas, o Sporting regressou a casa. Eu também. Regressei este fim-de-semana a Viseu, cidade onde nasci e vivi até ir para universidade, em Lisboa. Nunca regressei. Só uma ou outra vez para matar saudades.

Tudo parece mudado. Um amigo meu, do Porto, foi trabalhar para o município e tem dado a conhecer a cidade ao país. Há um outro dinamismo. A cidade parece mais cosmopolita. Popularizou-se a cultura. Não parecem existir tantos guetos sociais, económicos e culturais. Mas isto sou eu a pensar depois de regressar. Enquanto por lá estive, tropecei no passado o tempo todo. Os amigos que não via há muito, as conversas que tínhamos interrompido, os locais que nunca mudam na minha cabeça povoada de demasiadas memórias.

Ainda cheguei a Viseu a tempo de ver os últimos quinze minutos de jogo. Vi o Bryan Ruiz falhar um golo de baliza aberta, o Elias a fazer um passe para o adversário para sua surpresa e o William Carvalho a fazer uma abertura notável para o lado esquerdo que deu o nosso quarto golo. Acabámos o jogo como se estivéssemos a fazer uma peladinha com os amigos. Nada de novo, portanto.

O Mundo é feito de mudança, parafraseando Camões. Tudo parece mudar a todo o tempo. Mas há coisas que, aos nossos olhos, nunca mudam, como Viseu, os amigos ou o Sporting. E ainda bem.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Não basta acertar no diagnóstico

O Jorge Jesus fez o diagnóstico há muito da equipa e compreendeu os problemas que tem entre mãos. Há muito tempo que tinha percebido que, no mínimo, iria ficar sem o Slimani. Há muito que também sabia que não podia contar com o Teo.

Como se lembram, na pré-epoca quase nunca colocava o Slimani a jogar. Quanto muito, jogava na fase final das partidas. Experimentou várias opções para o emparelhamento na frente, que é fundamental para o 4x4x2 que procura sempre implementar. Os resultados foram sempre desastrosos. Fartámo-nos de sofrer golos exactamente iguais aos que sofremos contra o Rio Ave. Sem pressão dos avançados, assistimos a correrias dos jogadores adversários pelo campo fora até chegarem à área e aos desamparados defesas.

Quando os jogos passaram a ser a sério, a equipa só se equilibrou com o Bruno César a jogar no meio. Estamos lembrados do jogo contra o Porto. Começámos com o Bryan Ruiz no meio e o Bruno César no lado esquerdo e só equilibramos o jogo e lográmos a reviravolta quando trocaram de posição. Contra o Real Madrid o Jorge Jesus não repetiu o erro. O Bruno César estava na frente, pressionava os avançados e recuava para fazer de terceiro médio quando era necessário. Como estamos, precisamos do Bruno César no meio e na lateral esquerda. Não se pode pedir ao homem que esteja em dois lugares ao mesmo tempo.

Esta situação ainda mais se agravou pelo facto de o Gelson Martins ser mais extremo do que o João Mário. O João Mário passava a maior parte do tempo, sobretudo quando atacávamos, a jogar como terceiro médio. Estava sempre mais próximo dos outros jogadores do meio-campo e do ataque, sobretudo quando se perdia a bola. O Gelson Martins está a mudar, mas ainda não resolve esta questão do terceiro médio.

Com a substituição do Bryan Ruiz na esquerda pelo Campbell a situação ainda se agrava mais. O Gelson Martins está a aprender. O Campbell não sei se vai aprender, mas, de momento, não faz a mínima ideia do que deve fazer. Se fizesse o mesmo do Bryan Ruiz a ocupação do meio campo seria mais racional. Por outras palavras, fazia mais vezes de médio.

Mantendo o 4x4x2 e os actuais jogadores do último jogo, temos dois avançados que não pressionam os defesas nem recuam quando a bola passa a primeira linha ou para apoiar a saída para o ataque. Temos dois extremos, cada um em seu canto, à espera que a bola lá chegue. No caso do Campbell a incompreensão do que deve fazer é tão grande que mais não faz do que atrapalhar o lateral esquerdo quando avança no terreno. De repente, transformam-se em terra de ninguém uns quantos metros quadrados do campo, para serem explorados pelos adversários em ataques rápidos ou contra-ataques.

O Jorge Jesus, na conferência de imprensa, depois do jogo contra o Rio Ave, voltou a fazer muito bem o diagnóstico. As substituições, embora tardias, também revelaram que os problemas da equipa foram bem identificados. A forma como montou a equipa contra o Real Madrid ou como a mudou no jogo contra o Porto é reveladora do conhecimento destas fragilidades. O problema não está no diagnóstico, o problema está nas soluções. Não basta dispor do diagnóstico certo, é necessário dispor das respectivas soluções. Quanto a isso, só os próximos jogos o dirão.

domingo, 18 de setembro de 2016

E ao terceiro não ressuscitou…

Aconteceu o que temia. Na primeira parte, o Rio Ave ganhou as bolas que podia e não podia ganhar. Há duas explicações. Uma é a do desgaste físico da Liga dos Campeões. A outra é mais preocupante, por ser estrutural. Para se jogar com a defesa tão avançada é necessário maior pressão à frente na saída de bola do adversário. De outra forma, o meio-campo está sempre em desvantagem numérica e a defesa apanha com uns ciclistas embalados pela frente. O William Carvalho e o Adrien não conseguem disfarçar tudo o tempo todo.

Na frente ninguém tem condições para fazer de Slimani. O André parece bom rapaz. Mas depois de se isolar e rematar com os olhos fechados para onde estava virado, fiquei mais ou menos esclarecido. Não via nada disto desde os tempos do Postiga. O Alan Ruiz só joga com a bola nos pés e, mesmo assim, devagar e devagarinho. O Campbell é mais rápido, mas inconsequente, não percebendo também que quando não tem a bola precisa de pressionar a defesa e apoiar o seu lateral. A melhor solução para o ataque ainda parece ser o Bruno César. Só que o rapaz não pode jogar à frente e a lateral esquerdo ao mesmo tempo.

O primeiro golo é ridículo e sintomático dos problemas da equipa. Uma autêntica anedota como Roderick domina a bola de peito e vem por ali fora sem ninguém lhe sair ao caminho. Com o Slimani, não se atreveria a nada disso. O Adrien, sem Liga dos Campeões, também tinha matado a jogada. Acabou tudo num golo marcado em câmara lenta. Levar um golo do Rio Ave não nos deixa bem-dispostos. Levar um golo deles depois de uma jogada do Roderick, apetece-nos vir para casa e dar um arraial de pancada na mulher, nos filhos e no gato.

Em vez de reagirmos e cairmos em cima deles, continuámos ao mesmo ritmo. O que falta de força sobra em displicência. Os nossos jogadores ainda deviam estar a pensar que estavam a jogar com o Real Madrid. Levámos mais dois golos em que havia todo o espaço do mundo para os jogadores do Rio Ave jogarem. Não me parece que atirar as culpas para a defesa seja o melhor diagnóstico.

Na segunda parte melhorámos. Era impossível piorar. O Bas Dost não é o Slimani, mas sabe ocupar os espaços onde os devem andar os pontas-de-lança. O Bryan Ruiz, ao pé do Alan Ruiz, parece o Usain Bolt. O Markovic deu um ar da sua graça. Pode ser que esteja ali uma parte da solução para os nossos problemas. Mas quem continuou a fazer a diferença foi o Gelson Martins, com mais uma assistência.

Ou alguns dos cromos que contratámos se revelam ou então é preciso mudar de táctica e não deixar a defesa tão exposta, porventura não jogando com ela tão avançada. Pelo sim, pelo não, acabava com a brincadeira da Liga dos Campeões, aproveitando-a para rodar os Elias, os Ruízes e os Campbelles desta vida, reunia os jogadores do ano passado e tentava fazer com eles uma equipa, com uma ou outra das aquisições. Ou muito me engano, ou estamos como no ano passado. Não existem grandes alternativas aos titulares e a equipa rapidamente vai ficar espremida.

Jesus é Deus? É, embora nunca tenha percebido bem o mistério da Santíssima Trindade. O Jorge Jesus é Deus? Era se a equipa tivesse ressuscitado ao terceiro golo. Não ressuscitou e por isso não é. Resta-lhe descer à terra e encontrar soluções. Se se mantivesse calado durante uns tempos, também agradecíamos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Real Madrid – Sporting por sms

Uma reunião que se iniciou com grande atraso e se arrastou mais tempo do que o planeado, impediu-me de ver o jogo contra o Real Madrid. Fui sendo informado por sms pelo meu amigo Júlio Pereira dos desenvolvimentos do jogo. Como verão, não vi o jogo mas foi como se o tivesse visto.

19:17 – Lançamento do Jogo 
Embora a competição doentia entre o Messi e o Ronaldo me esteja a preocupar, dado que ontem o Messi marcou três golos a uma equipa equipada de verde e branco, se a Selecção Nacional, sem o Ronaldo e com o Fernando Santos, venceu a França na final do Campeonato Europeu com um golo do Éder, então tudo (e mais além) é possível. (Confesso, encomendei esta mensagem de automotivação à Susana Torres).

20:44 – Balanço da primeira parte
Xiu! Nada de acordar os rapazes do Real Madrid. Ó Gelson, deixa lá isso que eles ainda se zangam… e o Ronaldo decide brincar ao Talisca. Na segunda parte, toca a rodar a equipa, que o jogo a sério é Domingo em Vila do Conde.

20:53 – Golo do Sporting
Ora bolas! Demasiado cedo.

20:59 – Campo a inclinar 
Os jogadores do Real Madrid ainda estão a dormir, mas o árbitro já acordou…

21:27 – Comentário em forma de desejo
“Na perspectiva do Real Madrid, seria importante …” diz o comentador da SportTV desesperado.

21:52 – Balanço do jogo 
Bom treino rapazes. Stop. Tivemos de sair cinco minutos mais cedo do jogo. Stop. Ainda perdíamos o avião da Ryanair de regresso a casa. Over & out.

sábado, 10 de setembro de 2016

Mais uma corrida, mais uma viagem

Mais um jogo, mais uma vitória. Três golos marcados e nenhum sofrido. Mais uma corrida, mais uma viagem. Vamos em quatro vitórias em quatro jogos. Parafraseando o Jorge Jesus, mas agora a sério: limpinho!

Começámos com muita bola e a fazer cócegas à defesa do Moreirense. Falta ali um Slimani qualquer. O Bas Dost não pressiona tanto e não é tão feio. No mínimo, mandava-lhe rapar o cabelo e fazer duas ou três tatuagens. Tem uns tiques à Aquilani que me encanitam os nervos. Apesar de tudo, sabe marcar golos sentado, habilidade nunca revelada pelo Slimani, que nunca gostou de jogar de cadeirinha.

Estávamos num chove-não-molha, quando o William Carvalho pelo canto do olho viu a desmarcação do Gelson Martins e fez uma assistência para um espaço que só existia na cabeça dele. O Gelson, com dois toques - um para dominar a bola e outro para encostar para a baliza-, fez o primeiro golo. O Moreirense ameaçou o empate com um remate perigoso na sequência de um livre. A seguir suicidou-se com a expulsão de um jogador.

Entrámos na segunda parte finalmente a jogar como deve ser. Na reposição de bola, um central trapalhão passou a bola ao Bas Dost que por pouco não marcou. Boa defesa do guarda-redes. Logo a seguir, remate do Adrien à entrada da área com o pé esquerdo e nova boa defesa do guarda-redes. Começava-se a temer um daqueles jogos em que se desperdiçam golos atrás de golos até acabarmos com o credo na boca.

De um momento para o outro, marcámos mais dois golos e acabámos com o jogo. No primeiro, o Alan Ruiz, com tempo e espaço, fez um passe perfeito para a cabeçada imparável do Joel Campbell. O segundo foi a melhor jogada do desafio. O Gelson Martins desmarcou o Scheolotto do lado direito para um centro imediato ao primeiro poste, respeitando a desmarcação do Bas Dost, que acabou por não acertar na bola. Gera-se uma confusão entre ele e um defesa, a bola parece que não quer ser aliviada e o Bas Dost, sentado, meteu-a lá dentro outra vez. Apesar da posição não ser a mais conveniente para um avançado marcar um golo, sublinha-se o “soupless” do Bas Dost a fazer o remate. Desta forma, o defesa e o guarda-redes saíram dignificados, apesar do ridículo da situação

A partir do três a zero. O Jorge Jesus resolveu dar ritmo de jogo a algumas das mais recentes contratações. Não há dúvidas que estão com falta dele. Mas podia ter aproveitado os jogos da Liga dos Campeões para isso. O Markovic parece vir de um longo período de convalescença. Entrou-se na fase de deslumbramento, com os jogadores preocupados com a nota artística. Foram toques de calcanhar a mais. Não foi para isto que foram contratados. A equipa de futsal é campeã e reforçou-se devidamente.

Os últimos trinta minutos foram irritantes. O Moreirense foi avançando. Porventura, a ideia talvez fosse aproveitar este adiantamento para umas transições ofensivas, como hoje se diz (dantes dizia-se contra-ataques). Nada disso aconteceu. O Moreirense esteve perto de marcar. Não marcou porque o Monstro das Balizas assustou os seus jogadores.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Entre o Labirinto da Saudade e o General no seu Labirinto

Li umas frases soltas de uma entrevista qualquer do Luís Filipe Vieira (LFV). Num determinado momento, LFV afirma que quem se quis ir embora foi o Jorge Jesus. Logo a seguir, LFV afirma também que o Jorge Jesus não servia os interesses do Benfica.

Estas afirmações são profundamente contraditória. Se o Jorge Jesus não servia os interesses do Benfica e a sua Direcção lhe pretendia renovar o contrato, então a Direcção, ao agir desta forma, é que não servia os interesses do Benfica. Se o Jorge Jesus não servia os interesses do Benfica e não aceitou renovar contrato, apesar da intenção contrária da Direcção, então, ao decidir desta forma, servia os interesses do Benfica.

Não sou dado a grandes interpretações psicanalíticas, mas esta contradição parece um acto falhado. São seis anos de contradições. É muito tempo em futebol, uma eternidade. Talvez tenha sido a saudade a falar por portas travessas. Talvez seja a saudade no seu labirinto. Talvez seja o general no seu labirinto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sem “performance” não há “coaching” que nos valha

Na final do Campeonato da Europa jogámos sem o Cristiano Ronaldo e ganhámos na mesma. Não tínhamos o melhor do mundo, mas contávamos com a Susana Torres. Foi esta a explicação que deram. Desta vez, contra a Suíça, estavam reunidas as mesmas condições. Perdemos. Assim não é fácil encontrar uma explicação para esta derrota.

Só consigo encontrar uma explicação. A impossibilidade de decidir o jogo por penalties condicionou a táctica da selecção nacional. Não se consegue montar uma táctica como deve ser se não existir a possibilidade do jogo se decidir por mero acaso.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Uma inocente proposta de leitura

A pensar no Capitão Silva proponho...


A Feira

Penso que já não devemos chamar mercado ao que se viveu nos últimos dias. O caos é tal que se assemelha mais a uma daquelas feiras sobrelotadas, típicas desta altura do ano. No meio da desordem apenas umas notas soltas:
- Todos gostávamos de ficar com a equipa do ano passado, e em particular com os "Aurélios"; mas para um clube como o Sporting ter quatro jogadores titulares da seleção que ganhou o Euro e não aproveitar para vender nenhum era um cenário quase inimaginável. Simplesmente não somos o Barcelona e temos de saber viver com isso.
- Posto isto acho que se vendeu o que fazia menos mossa. Não quer dizer que João Mário não seja bom, mas em teoria será o mais fácil de substituir. O Rui Patrício pela especificidade da função e o William por ser tão melhor que a concorrência seriam os mais difíceis. O Adrien é o pulmão da equipa e arranjar outro pode ser possível, mas arriscado. Esta é a teoria, vejamos a prática.
- O mesmo não se pode dizer de Slimani. Há um Sporting com e sem o Slimani e não há ninguém que jogue como ele. Vai haver diferente, vamos ver se com resultados melhores. Acho difícil.
- Conseguimos manter o médico, o treinador e o roupeiro. Temi que tal não fosse possível. A CMTV chegou a noticiar que o Sporting rescindira contrato com o Bruno de Carvalho e deve ter havido quem acreditou.
- Por falar nisso, ficou provado que o Bruno de Carvalho é um péssimo negociador e que a situação financeira do Sporting o obriga a vender os jogadores todos ao desbarato.

Não vou falar dos que chegam, mas termino a falar dos que ficam. Tenho a certeza que nos vão vender a ideia que houve uma "revolução" na equipa e profetizar as maiores desgraças. Contra o Porto jogámos com 11 jogadores do plantel do ano passado. Já não se usa. O Porto jogou com 8 jogadores do ano passado. É o normal, será também o normal no Sporting.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Jogo de mãos ... e de pés

Vi o jogo contra o Porto. Jogámos assim-assim. Ganhámos por um, mas podíamos ter ganhado por mais um ou dois. Ganhar começa a ser a normalidade. Se jogamos bem, ganhamos. Se não jogamos, ganhamos na mesma.

Acabou o jogo e começou uma berraria sem fim sobre as mãos. As mãos do Casillas. Estranhamente não sobre a falta de mãos do dito para as balizas, mas sobre as mãos dos outros. É uma desculpa, como qualquer outra.

No primeiro golo, não há uma única imagem que prove que a bola tenha sequer tocado no braço do Gelson Martins. Mas continuou-se a discutir noite dentro um acontecimento que não aconteceu, isto é, um não acontecimento. Deixo um conselho para quem gosta de analisar estes lances com todo o rigor (incluindo os próprios jornalistas), quando um acontecimento que é suposto ver-se não se vê, então é porque simplesmente não aconteceu.

No segundo golo a coisa fia mais fino. A bola vai à mão do Bryan Ruiz, depois de um cabeceamento de um defesa. Estou disponível para aceitar que o golo é irregular se os defensores desta posição afirmarem ao mesmo tempo, e sem se rirem, que se o lance fosse ao contrário devia ser marcado penalty.

O Casillas tem um problema com as mãos. Não com as dos outros, mas com as suas. No primeiro golo, começou por tentar defender o remate do Bruno César com os olhos. Conseguiu. Depois não conseguiu chegar primeiro com as mãos onde o Slimani chegou com o pé direito. No segundo, lançou as mãos, mas a bola passou por entre as ditas depois do remate com o pé direito do Gelson Martins. O Casillas, de facto, tem é um problema com os pés dos adversários e com a cabeça, já agora (na sequência de um canto, o Ruben Semedo chegou meio metro acima das mãos dele, cabeceando, de baliza aberta, para fora).

Este jogo tem uma moral simples. Sem jogar bem, o Sporting jogou melhor. É mais equipa ou, então, o Porto não é equipa bastante para o Sporting nesta altura. Inclino-me mais para segunda hipótese. A perder por dois a um, não fez um único remate à baliza na segunda parte. Acabou a meter avançados nos últimos minutos, apostando todas as fichas na tática da carne e do assador. Havemos de ver várias outras equipas a fazer o mesmo em Alvalade durante esta época, como o Feirense, o Nacional da Madeira e por aí fora.

Por fim, houve demasiado William Carvalho para a equipa do Porto. Já se sabia que o Willliam Carvalho era bem melhor que o Danilo, embora uns pândegos chegassem a defender o contrário. Ficámos a saber agora que o William Carvalho é melhor que o Danilo, o André André e o Herrera todos juntos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Quem dá mais?

Escrevo a frio, ou melhor, a gelado, por isso serei rápido e (a ver vamos) eficaz. Estamos perante um Sporting que acredita em si próprio sem temores esotéricos e sem sentimentalismos de inferioridade bacoca. O início não foi brilhante: os laterais demoraram a acertar o passo, ao mesmo tempo que o meio campo se embrulhava numa passerelle imaginária. Nada como um golo para acordar. O Porto começou a acreditar em algumas expulsões para desfrutar do passeio. Enganou-se… mas por pouco.

Quando começamos a jogar a bola o adversário suspirou pela antiga capela das antas. Não era para menos, aquele meio campo verde engolia o amarelo (Danilo versus William, alguém acredita?), inclinando o campo de uma maneira que as laterais começaram a florir, atapetando os corredores onde brilhavam o Chuta-Chuta e o Gelson, não esquecendo o Ruiz, a espaços, com a suavidade de um final de tarde de verão. Não fosse a voracidade de um Slimani (outra vez vendido) e estaríamos apenas perante um poente lírico de trazer por casa. Não era o caso.

Os primeiros vinte minutos da segunda parte confirmaram que a voracidade nem sempre colhe frutos. Estivemos perto da tempestade quando o árbitro se decidiu pelo entretenimento de outras eras, sem consequências por manifesta falta de originalidade. Que grande jogo do Semedo e do Chuta e joga como o caraças. Até o Paulista deu um ar de sua graça. Não tarda e também é vendido. Umas vinte vezes. Quem dá mais?

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O brinde ou a fava?

Não percebo a ansiedade ou o repositório de exclamações de má sorte. Calhámos num bom grupo. Perto do ideal. Ora vejamos: dos potes acima saíram Real Madrid e Dortmund. O primeiro faz parte da manobra de diversão que dissimula a Liga dos Campeões como (suposta) competição. Não é uma competição. É uma organização mercantil onde as multinacionais (ou através delas) dominam e reinam a seu belo prazer. O Real Madrid faz parte desse conclave obscuro. O Dortmund, por seu lado, é uma daquelas grandes equipas que vão sempre dar muita luta e suposta imprevisibilidade, mas que raramente ganham a competição. Todavia, na dúvida, serão sempre favorecidas relativamente à raia considerada mais miúda. Temos exemplos recentes disso, não temos?

Podemos estar descansados, ninguém vai exigir demasiado. Resta-nos assegurar que lutaremos pelo melhor lugar possível, quem sabe o segundo, com a certeza que teremos grandes chances de ficar em terceiro. Por isso, para adoçar a brincadeira, entra sempre uma equipa para encher calendário e pneus. Neste caso o Legia. Mas nunca se sabe. Uma saída airosa para a Liga Europa será sempre de reconhecido mérito.

O nosso euromilhões (ou parte significativa dele) já cá canta. Agora é fazer de conta que se acredita no eurobilhões a andar de bicicleta e… pensar a sério no campeonato. Isso sim, é que interessa. Em todos os sentidos.

domingo, 21 de agosto de 2016

O Patrício esteve em campo?

Segundo jogo e nenhum golo sofrido. Ganhámos uma dupla de centrais. Nas laterais ainda se vão experimentando soluções. O João Pereira voltou à direita. O Ezequiel Schelotto fez a pomba ao assinar mais um contrato e diz quem o conhece que ainda não parou de se rir. Na esquerda voltamos ao chuta-chuta, mais comentários seriam pouco abonatórios da nossa inteligência. Falta-nos um defesa esquerdo a sério, deixem-se de lateralidades inventivas.

O dali para a frente ainda se chama William. Não convém começar demasiado bem, pelo menos até 31 do corrente. Ali perto anda o capitão. Diz que foi ele que marcou (um grande) golo, mas sem aquela investida à linha do Slimani ainda estávamos a fazer tiro ao meco. O Slimani mesmo triste (isto segundo o jornal a A Bola) ainda acredita que é possível disputar cada lance como se o mundo fosse acabar antes do apito final do árbitro. Isso já é estar perto do Olimpo.

De resto, falta ali o Teo para tornar o jogo um misto de imprevisibilidade e falta de (bom) senso. Falta ali o Teo para a gente falar sobre o Teo. Resta-nos o Gelson, gingão incansável, cada acção sua é sempre uma incógnita até ao último momento. Mesmo para o próprio. Ruiz&Ruiz aos poucos começam a perfumar  os campos com o seu futebol. Devagarinho, claro. O Alan, agora mais esguio, até chuta de fora da grande área. Estamos a evoluir.

Ontem foi um daqueles jogos que os comentadeiros de serviço adoram acoplar à palavra: pragmático. Fazem bem. Não percebem que ali há futebol para dar e vender. Mas apenas na medida certa. Não fosse um defeso de meio ano e já teríamos um guião mais exaustivo. Já agora, o Rui Patrício esteve em campo?

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Uma lágrima no canto do olho

Li e ouvi diversas análises do jogo contra o Marítimo. Em todas elas falta o essencial. Não é possível uma análise definitiva do jogo que não tenha em consideração a forma como fomos beneficiados pelo Xistra no primeiro golo. Entre marcar penalty ou deixar que o Coates disputasse o lance de cabeça agarrado pelo adversário, o árbitro não hesitou: deu a lei da vantagem. Se marcasse penalty, como devia, as probabilidades de golo eram muito menores do que deixando continuar o Coates agarrado. A questão não é tanto o benefício concreto deste jogo. A questão é por que razão somos sempre beneficiados pelas arbitragens, nomeadamente nos jogos em casa.

Os “freakonomics”, Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, esclarecem-nos no seu último livro. Os árbitros beneficiam involuntariamente as equipas que jogam em casa. Envolvem-se emocionalmente com os adeptos. Não, não é o que estão a pensar. Ninguém viu o Xistra de mão-dada com o Slimani ou com a Patrícia Mamona. Os árbitros assimilam a emoção da assistência e tendem a tomar decisões que a tornem feliz. Este processo de assimilação da emoção é diretamente proporcional á distância entre o campo e as bancadas. Com base nos dados da Bundesliga, conclui-se que a vantagem de jogar em casa é menor nos estádios que dispõem de uma pista de atletismo à volta do campo relativamente aos estádios que não dispõem de pista.

Assim é mais fácil explicar a decisão do Xistra no sábado passado. Foi a emoção que o traíu. Foi quase impercetível, mas um espetador mais atento viu o que eu também vi. Quando o Coates marcou o golo, o Xistra tinha uma lágrima no canto do olho. Ainda temos o fosso a separar o campo das bancadas. Se assim não fosse, teríamos visto o Xistra lavado em lágrimas.

sábado, 13 de agosto de 2016

Mudar de relvado

Terminei a época passada no Tribuna. Foi aí que assisti à maior série de vitórias do Sporting da sua história (digo eu). Não chegou para ganhar o campeonato. Resolvi mudar de relvado também. Voltei ao Flávio para ver o jogo contra o Marítimo. Desde que a cabeleireira da minha mulher lhe disse que o nosso vizinho era atleta olímpico de taekwondo, tenho, do ponto de vista desportivo, um outro olhar sobre o bairro onde vivo. Ainda hei-de ver o Marcelo por cá a distribuir uma comenda.

Depois de uma pré-época de arromba, sem o Slimani e a ameaça de deserção dos Aurélios, previa o pior. Com os Ruízes na frente, o Jesus optou por um “tiki-taka” sem balizas. Muitos apoios frontais, muitas fintas e tabelinhas e pouco remates e presença na área. Com esta táctica estamos sempre a suspirar por um canto ou um livre, porque de outra forma não há maneira de meter a bola lá dentro. A situação ainda piora quando vemos os Ruízes fazerem-se a um cruzamento do João Pereira com os olhos fechados. Não via uma coisa destas desde os gloriosos tempos do Postiga.

Numa bola parada, acabámos por marcar um golo, que contou com benefício do Xistra. Quando há penalty não há lei da vantagem. O Xistra deu a lei da vantagem e o Coates meteu-a lá dentro. Pelo caminho, o Patrício resolveu mostrar-nos porque é hoje um autêntico monstro das balizas. Acabámos a primeira parte em modo assim-assim.

Na segunda parte, o William Carvalho decidiu estar em todo o lado ao mesmo tempo. Asfixiámos o Marítimo e fomos falhando golos atrás de golos em grande estilo. É difícil encontrar alguém que falhe melhor do que o João Mário. Só o Bryan Ruiz e nem sempre. Desta vez, marcou um golo de baliza aberta. Uma novidade, portanto.

Esta época vai ser como a anterior. Tentámos a quarta ressurreição do João Pereira. Quando o vemos jogar, temos saudades do Scheolotto. Quando vemos jogar o Scheolotto, temos saudades do João Pereira. No lado esquerdo é pior. Entre o Zeegelaar e o Jéfferson, preferimos o Bruno César. Os centrais parecem mais seguros. No meio-campo temos o William Carvalho e enquanto assim for temos meio-campo. O Adrien ajuda e se não ajudar o João Mário outro o Jesus arranjará para ajudar. Até pode ser um dos Ruízes. No ataque, temos o Slimani e muita nota artística. É capaz de não chegar. Quase temos saudades do Teo.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Pensar pequeno


Estava a ver na televisão uma peça sobre a morte de um grande homem, Moniz Pereira. Este grande senhor do desporto nacional, foi incansável no seu trabalho, foi de extrema dedicação, querer, disciplina e perseverança e assim fez de nós um país maior e um povo melhor. Infelizmente logo de seguida assisti ao vídeo promocional da Volta a Portugal que passa na RTP. Se por um lado vemos uns que se agigantam e com eles nos agigantam, por outro vemos outros que na sua estreiteza mental tudo parecem fazer para nos diminuir enquanto povo e país. Foi o reviver de uma visão bolorenta do país. 


No referido vídeo promocional vê-se, ao som de um animado e estridente grupo folclórico, uma série de figurantes com capacetes de ciclistas. A particularidade, sublinhada de forma substancial pela banda sonora, é o facto de todos os figurantes, que procuram representar os portugueses de norte a sul, envergarem trajes regionais ou de ranchos folclóricos.  

Ficou-me a ideia de que saindo-se dos arredores do gabinete onde foi imaginada esta brilhante campanha promocional, o que vamos encontrar, para além da habitual e elogiada paisagem e gastronomia, são uns rústicos, parolos ou saloios pouco importa, cristalizados no tempo a quem simpaticamente a RTP emprestou uns capacetes para lhes emprestar também a modernidade. A Volta a Portugal fica assim anunciada como uma volta por um pitoresco Portugal dos Pequeninos.

Deve ser do calor mas só posso concluir que o António Ferro fez escola na RTP e que a sua mensagem patriótica, paternalista e ruralista está para durar. Poderia perder mais algumas linhas numa análise mais profunda à deturpação sociológica e antropológica que estas mentes, provavelmente circunscrevidas pelo “brunch” nos Olivais e o “sunset happy hour” em Chelas, ou vice-versa, fazem do país onde (não) vivem, mas tenho a malta à espera na camioneta e tenho é que pegar no acordeão e fazer-me à estrada e cantar os feitos dos grandes como o Moniz Pereira e esquecer o Portugal dos pequeninos e os seus estereótipos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Um país como os outros

Faleceu Mário Moniz Pereira. Não conheço a pessoa. Conheço a personagem. Dificilmente a consigo dissociar do Carlos Lopes e do Fernando Mamede.

Para quem é mais novo e conhece mal o país de antanho, os feitos desportivos contavam-se pelos dedos de uma mão. Ganhávamos em hóquei em patins, mas não era uma modalidade levada muito a sério pela maioria dos países. Falava-se das façanhas dos Magriços ou da travessia do Canal da Mancha pelo Baptista Pereira. O Joaquim Agostinho ia dando umas alegrias aos nossos emigrantes.

Precisávamos de um grande vitória internacional, para nos considerarmos como os outros. Hoje parece simples. Nos anos sessenta, setenta e oitenta parecia uma impossibilidade. Em 1976, estivemos próximos da vitória olímpica, nos dez mil metros, com o Carlos Lopes, em Montreal. Lasse Virén, na última volta, acabou-nos com o sonho.

Foi preciso esperar até 1984, em Los Angeles, para ver a nossa bandeira no mastro mais alto das olimpíadas. A minha geração não esquecerá as duas noitadas: a primeira com o Fernando Mamede, a segunda com o Carlos Lopes. Não esqueceremos a entrada triunfal do Carlos Lopes no estádio olímpico.

Nesse dia passámos a ser como os outros. Ser como os outros parece pouco. Na altura era muito. Era quase tudo. Tínhamos acabado de ganhar o futuro. O que hoje somos em muitas modalidades começou aí. Passou a ser possível competir com os melhores. Em muitas circunstâncias, fomos os melhores.