Cada jogo é um jogo e um jogo é um jogo, envolve aleatoriedade, sorte ou azar. No entanto, não se escrevem sucessivas crónicas sobre os jogos [do Sporting] sem uma narrativa que os integre, que lhes dê um sentido [de conjunto]. Essa narrativa está presente quando se vê um jogo e esse jogo não é compressível por si, sem uma interpretação dos jogos que o precederam e um exercício de prospetiva sobre aqueles que lhe irão suceder. Escreve-se a crónica de um jogo a pensar nos anteriores e nos que se seguirão. O objetivo é ter sempre razão, [re]interpretando o passado ou antecipando futuros desejáveis [sempre que possíveis].
Nesta altura, perguntar-se-ão sobre a razão de ser destes prolegómenos. Uma das principais razões é a necessidade de encher chouriços. Uma crónica de um jogo também é um chouriço. Nem sempre os jogos proporcionam as melhores partes do porco, mas tem que se encher o chouriço seja como for [e se não for possível encher um chouriço, enche-se uma alheira ou uma morcela]. Há jogos que não dão para mais do que um [metafórico] chouriço, é um facto. Outra razão [pueril também] é que pode fazer sentido dizer o que se vai dizer a partir do que disse ou a pensar no que [hipoteticamente] se vai dizer a propósito dos próximos jogos. Esta crónica não deixa de ser um chouriço, mas também não é plenamente compreensível sem a leitura das crónicas anteriores, especialmente das duas ou três últimas.
Essas crónicas deixaram [boas] pistas para o que ia acontecer neste jogo [do Sporting] contra o Boavista. A intervenção [um pouco] despropositada do Franco Israel no primeiro golo, o golo do Boavista, consolida a narrativa que se tinha construído. Essa narrativa é consolidada também no nervoso miudinhos dos jogadores e do Rúben Amorim após o golo, na embirração do árbitro, na asfixia do adversário até ao mata-leão, que permitiu o empate ainda antes do intervalo, na disponibilidade física da equipa e, especialmente, do Gyökeres para ir terraplanando o adversário até à sua capitulação.
Quando se ganha por seis a um, não há muito [mais] para contar. O resultado autoexplica-se. O que talvez não seja simples de explicar é a substituição do Hjulmand [ao intervalo]. Quem tem um amarelo corre o risco de levar o segundo e deixar a sua equipa a jogar com menos um, foi assim que o Rúben Amorim explicou. Este texto dispõe de um subtexto, para nós, quem tem um amarelo num lance que não comete falta, que sofre falta, que é agredido sem que o adversário seja expulso, não pode disputar mais nenhum lance ou não acaba o jogo. Nós [adeptos do Sporting] achamos normal, a imprensa também. Mas como é que se explica esta normalidade ao Hjulmand? Em português de Portugal compreende-se bem, mas em dinamarquês da Dinamarca também?