terça-feira, 12 de março de 2024

Nouvelle vague

Ontem, fui ao Theatro Circo ver “O Desprezo”, realizado por Jean-Luc Godard, com a inesquecível Brigitte Bardot. Anteontem, no domingo, vi o jogo [do Sporting] contra o Arouca. Em dois dias seguidos, vi duas obras de autor. Sim, sem dúvida, o Ruben Amorim [também] pertence à “nouvelle vague”, não a dos anos sessenta do século passado, mas a que inclui o Jürgen Klopp ou o Pep Guardiola. O jogo foi pensado como se de um guião de um filme se tratasse e os atores representaram os papeis que deles se esperava, tanto os do Sporting, como os do Arouca. Impressiona a capacidade de determinar o [próprio] jogo da sua equipa e, ao determiná-lo, determinar o jogo da equipa adversária. Enquanto uns [os do Sporting] representaram voluntaria e conscientemente, outros [os do Arouca] fizeram-no de forma involuntária e inconsciente ou como de simples figurantes se tratassem. O guião não podia deixar de considerar ainda o cenário, aquele campo [de futebol] elegível às ajudas agroambientais da Política Agrícola Comum.

A equipa do Sporting entrou a pressionar e a procurar marcar um golo enquanto o campo permitisse um futebol [razoavelmente] funcional. Marcou [pelo inevitável Gyökeres] e entregou a bola ao Arouca, para evitar contra-ataques e outros males [maiores]. Sem as habituais transições ofensivas, o Arouca tentou, porfiou, mas inconseguiu. Em todo o jogo, a equipa do Sporting cometeu uma falha, concedeu uma única abébia, que permitiu uma grande defesa ao Franco Israel. Essa capacidade de condicionar o jogo ofensivo do adversário e, assim, do expor aos sucessivos contra-ataques constituiu o essencial do guião. O resultado [só] ficou definido nos descontos, mas muito golo se desperdiçou e muita falta e fora-de-jogo preventivo se assinalou. E não, não esquecer o estado do campo: com um John Deere ou um Massey Ferguson na frente não precisávamos de esperar até ao último minuto para, enfim, descansar. 

[Depois do jogo, qualquer sondagem daria o Sporting como campeão. Como ficámos a saber no domingo também, as sondagens têm margens de erro e, portanto, prognósticos só final, parafraseando o João Pinto. No final, alguém ganhará ou talvez não. Portanto, é preciso continuar jogo após jogo, crónica após crónica, mesmo quando a inspiração falta ou a vontade é pouca ou nenhuma] 

10 comentários:

  1. Vim aqui comentar só para dar um pouco de ânimo e assim continuar com as crónicas.

    Vejo as suas publicações através do Feedly e é o blog que mais anseio por uma publicação após um jogo o Sporting.

    Jogo a jogo, crónica a crónica até à vitória final! ;)

    Saudações Leoninas

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    1. Obrigado, meu caro.
      É preciso ânimo e os incentivos dos leitores ajudam e não é pouco.
      SL

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  2. Subscrevo o que disse o outro comentador. O fiutebol não é so ganhar. É beleza, é harmonia, é comunicação de uma equipe com os adeptos, é momento familiar (ou o seu contrário) é até a discussão taberneira de quem "a" tem maior... e, por tudo isso e mais, é inspiração para a criação. E para o sorriso do ler o bem escrito.
    Podemos ir jogo a jogo até ao final, mas por amor da santa, vamos nos divertindo também. Com boas jogadas, com a explosão do golo e com as crónicas. No fim, ganham realmente, aqueles que se preencheram melhor a vida. Logo, já vê, suas crónicas são obrigatórias.
    S.Carvalho
    PS: Nos aqui por Africa nao temos aquela adrenalina que o estádio nos dá. Temos o Geny (do Catano) e a TV. E as suas crónicas...

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    1. Caro Sol Carvalho,
      O que interessa, o que verdadeiramente interessa não é só a vitória, mas o quanto nos divertimos até à vitória. Se não nos divertirmos, a vitória só por si pouco ou nada representa. As crónicas também são uma forma de me divertir e de ajudar os outros a divertir-se ou a evitar tristezas. Continuaremos, então.
      Abraço,
      RM

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  3. "Em todo o jogo, a equipa do Sporting cometeu uma falha, concedeu uma única abébia, que permitiu uma grande defesa ao Franco Israel."
    Se o outro, após remate de alívio ao poste, argumentou que foi para não ceder canto, a nossa "abébia" foi para dar rotina, andamento e mais jogo ao redes Uruguaio. Guião é guião...

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    1. Ah, eu não venho cá dar animo nenhum, que isto já está mais que em velocidade de cruzeiro.

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    2. Meu caro,
      Tem razão. Eu próprio tinha muitas dúvidas quanto a estes Franco Israel. Depois deste jogo, confio mais.
      Abraço,
      RM
      [Tem sido um excelente estímulo para continuar a escrever. Volte uma e outra vez, volte sempre]

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  4. E contra a Atalanta vai ser igual!

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    1. Meu caro,
      Espero que sim. Espero que seja como este jogo do Arouca, que passou todo na cabeça do Ruben Amorim antes de passar na televisão. Ele imaginou o jogo e transformou-o em realidade.
      SL
      RM

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