A Macedónia do Norte entrou a pensar ganhar a jogar para o empate. Ora, se há seleção cuja especialidade seja ganhar empatando é a portuguesa. Só com o Fernando Santos é que os tenrinhos da Macedónia acabavam por perder com dois golos de contra-ataque. Ainda há quem o queira substituir, que prefira ter razão a ganhar [sabe Deus como, mas ganhar, não interessa].
Falaremos do Sporting, mais mal do que bem. Falaremos também do Benfica, sempre mal. Falaremos do Porto, conformados.
quarta-feira, 30 de março de 2022
Tenrinhos!
terça-feira, 22 de março de 2022
Forte personalidade (do ano)
Ontem, num jornal desportivo perto de si, analisava-se assim a arbitragem do árbitro Dias no jogo do Porto contra o Boavista: “Arbitragem globalmente competente em jogo intenso e com vários lances de difícil avaliação. A sua forte personalidade acabou por prejudicá-lo ao não aceitar boa indicação do VAR [de cartão vermelho para o Mbemba]”.
Embora com atraso, a nossa modernidade (tardia) implica nova linguagem e novas formas de codificação, e a bola não é, não pode ser exceção. Não, não se trata de ideologia de género [seja isso o que for] como agora se diz. Ninguém tem culpa, nem o pai, nem a mãe. Trata-se, tão-só, do filho de uma grandessíssima forte personalidade e quem sai aos seus não degenera, diz o ditado popular.
domingo, 20 de março de 2022
O assunto é um futebol sério
Falar sobre futebol passou a ser um assunto. O futebol não
deveria ser um assunto, apenas um jogo. Mas em Portugal (que eu me lembre)
sempre foi um caso de vida ou de morte. Recordo-me bem de alguns “enterros” da
equipa anteriormente campeã, com direito a desfile e tudo. Se tivermos em
consideração os inúmeros casos que nas últimas décadas salpicaram o futebol porquês,
percebemos que o futebol se tonou parte do cancioneiro ao mesmo tempo que do
tribunal. Ser um assunto, portanto, não é de hoje. O que é de hoje é o filme
que envolve o assunto. O filme e a logística. Por exemplo, ontem nem me passou
pela cabeça deslocar-me a Guimarães para assistir ao jogo. Para isso precisamos
de ter em dia o livrete das operações especiais undercover, com especialidade em caracterização e fuga. Não é fácil
entrar naquele estádio (e noutros) sem um conjunto de habilidades e
caracterização apropriada. Requer passagens anteriores por Guimarães e
conhecimento da língua local. Também não é fácil sair do estádio,
principalmente se estivermos na bancada dos adeptos leoninos (qualquer outra é totalmente
desaconselhável, mesmo a experientes espiões). Durante o jogo a coisa também
não se afigura simples, teremos sempre de ter em conta os adeptos adversários e
os nossos. Fora das quatro linhas joga-se um jogo cuja linguagem é pertença de
apenas uns (poucos) eleitos.
Ontem foi mais um dia de jogo, perdão, de assunto. As
equipas entraram em campo e começaram a tentar jogar futebol, embora com as
paragens normais nos vários apeadeiros do costume. Enquanto teve pernas para a
intensidade de um jogo de futebol profissional, ainda que jogado às pinguinhas,
o Vitória pareceu dividir o jogo, principalmente na primeira parte, fruto de
algum desacerto (é assim que se diz?) leonino, criando assim a ilusão que estávamos perante um jogo de futebol. Na
segunda parte, com a naturalidade habitual, o Sporting falhou e marcou. De
repente o futebol voltou a ser um assunto qualquer que não interessa ao caso e
começamos a assistir à lenga-lenga habitual de protestos dentro e fora de
campo. Paragens, dentro e fora do campo. E uma carga policial, desta feita
apenas fora de campo, mas dentro do estádio. A partir daí o assunto ficou cada
vez menos dividido e o Sporting marcou e falhou, não necessariamente por esta
ordem, demostrando algum virtuosismo no assunto em causa. O futebol é um
assunto sério, ou o assunto é um futebol sério? Eis a questão.
quinta-feira, 10 de março de 2022
Valha-nos Rúben Amorim e suas promessas!
Continuo a pensar o que sempre pensei sobre a Liga dos Campeões, mas começo a apreciar estes jogos a meio da semana. Não têm a emoção de um jogo contra um Varzim para a Taça de Portugal ou contra um Arouca para o campeonato, mas nem só de emoções vive um homem [ou mulher por muito que digam que são mais emotivas]. Os jogos da Liga dos Campeões são o mais parecido que se consegue arranjar de um jogo a sério. É um treino a sério e sério, um exercício com fogo real [embora não deixe de ser um treino para os mais atentos e avisados]. Depois de um jogo destes, um treinador pode ver-se despedido ou um jogador reabilitado. Também há o dinheiro [e não é pouco], uma espécie de Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] do futebol português, mas é conversa repetida, conversa gasta.
Mas deixemo-nos de teorias e vamos aos factos, ao jogo propriamente dito contra o Manchester City, começando por sublinhar a argúcia tático-estratégica do Rúben Amorim. Ainda antes de começar, a eliminatória já estava perdida. Como estava perdida e estava [como se viu] tratámos de enfardar cinco de uma vez em casa. O facto de o termos feito em bom tempo e resolvido o que havia para resolver, permitiu-nos negociar um acordo de cessar-fogo e, assim, dividir o espólio com o adversário. Na primeira parte começámos por cumprir o acordo até que nos entusiasmámos e levámos a bola duas vezes seguidas para o ataque. O adversário ficou aborrecido [e com razão] e o vingativo Sterling foi muito desagradável com uma pessoa mais velha, com idade para ser avô dele, merecedora de mais, muito mais respeito. Valeu-nos [e valeu-lhe] o Adán que levantou o braço, segurou a bola e deu-lhe uma reprimenda das antigas.
A segunda parte iniciou-se com uma brincadeira combinada entre as duas equipas. O adversário fingia que marcava, nós fingíamo-nos surpreendidos com os ressaltos e os passes e desmarcações, o Adán fingia que levava um frango e no final o árbitro anulava por fora de jogo. Ficava tudo na mesma mas sempre se podia dizer que a culpa [como sempre] era do árbitro [que só participa no jogo na exata medida que alguém tem de ficar com a culpa]. Às páginas tantas, o guarda-redes do Manchester City foi substituído por um senhor saído diretamente da repartição de finanças ou dos serviços municipalizados locais e foi esse senhor que demonstrou, se dúvidas ainda existissem, que o Paulinho falha sem olhar a credo, raça ou género, um verdadeiro paladino do princípio da não discriminação. Tudo acabou numa primeira bacalhauzada entre o Rúben Amorim e o Guardiola seguida de nova bacalhauzada entre o Paulinho [o único, o autêntico] e o Guardiola.
Vou ter saudades destes jogos a meio da semana. O Rúben Amorim promete-nos que vamos regressar, para o ano. Valha-nos isso!
quinta-feira, 3 de março de 2022
Real e sua representação ou futebol na Broadway
Para cada um de nós, a realidade, o real não existe, existindo, sim, a sua representação. O olhar pressupõe um entendimento sobre o que se vê e nem todos vêm o mesmo pois dispõem de entendimentos diferentes. Esta sobreposição entre o que se vê e o seu entendimento encontra-se bem expresso no Poema das Coisas Belas, de António Gedeão. Aqui vão uns versos:
"Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas, Mas só são coisas quando coisas percebidas, Por que direi das coisas que são belas? E belas para quê?"
"Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas, Sem precisarem de ser coisas percebidas, Para quem serão belas essas coisas? E belas, para quê?"
Ontem, o Evanilson tropeçou no Pedro Porro e caiu, aproveitando ainda para lhe enfiar uma bofetada nas fuças. O Paulinho tropeçou no Bruno Costa e caiu também. Os tropeções e as quedas são iguais, diferenciando-se uma situação da outra pelas fuças amassadas. A representação do Evanilson e a representação do Paulinho constituem uma dupla representação, a representação de dois artistas que remetem para a representação do real, sendo essa representação diferente para mim e para o árbitro Dias. Há dias, a representação do Taremi também foi diferente para mim e para o árbitro Pinheiro. Há mais dias ainda, a representação do Pepe e a queixada amassada do Coates também foram diferentes para mim e para o árbitro Almeida.
Três jogos, dois empates e uma derrota. É mau? Podia ser melhor? Podia ser pior? Não sei nem me interessa. Representação é arte, teatro, não é desporto. Se fosse desporto, futebol, interessava, sendo arte performativa, tanto faz que seja drama ou tragicomédia, revista ou ópera, desde que seja boa e se desenrole nos sítios certos, na Broadway ou no Parque Mayer, tanto faz também.