quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Prefiro os Flintstones

Depois de ter escrito o que escrevi sobre o jogo do Besiktas, estava dispensado de escrever o que quer que fosse sobre o jogo do Moreirense. Estabelecida a lei-geral é só esperar que se aplique em cada caso em concreto. O problema está em estabelecer essa lei-geral e duas observações não chegam. Há dimensões epistemológicas nas táticas do Rúben Amorim que remetem para potenciais contradições, como, por exemplo, a criação do universo a partir de um único momento fundador, o Big Bang, e o conceito axiológico do antes, fundador de qualquer movimento filosófico que se preze. Por outras palavras, o Rúben Amorim é um discípulo da Escola de Frankfurt, um Habermas do pontapé para a frente [e sem fé em Deus].

Todos viram e só preciso de me repetir em parte. Coates, o nosso ponta-de-lança, continuou escondido a central, enquanto aquele que parece o nosso ponta-de-lança, Paulinho, continuou a parecer e, assim, a fazer de contas que é [e fá-lo tão completamente e convictamente que às vezes até ele acredita que o é]. No momento certo [num canto, por outras palavras] lá apareceu o Coates para o golo da ordem e a vitória do costume. Antes e depois, o Paulinho foi falhando, umas vezes desmarcando-se bem e dominando mal, outras desmarcando-se e dominando bem e rematando mal. Houve falhanços para todos os gostos e, assim, se pode dizer que ele não sabe o que é falhar [quem sabe falhar costuma falhar consistentemente, sempre da mesma maneira]. 

Ontem, para a Taça da Liga, tudo mudou [e quando digo tudo, digo mesmo tudo-tudo]. Escondido, recuado ou avançado, não importa, não só deixámos de ter ponta-de-lança como deixámos de ter alguém que fizesse de ponta-de-lança também. Baralhámos completamente o Famalicão mas não menos baralhados ficaram os nossos jogadores [que os adversários não saibam quem é o nosso ponta-de-lança é uma coisa, outra coisa é os nossos jogadores não saberem também]. Valeu-nos o Ugarte. Está cá há pouco tempo e, por isso, ainda está completamente baralhado, independentemente de jogarem [ou não] o Coates e o Paulinho. 

O jogo ameaçava ser chato, chato mesmo e aí, aí sim, percebemos a razão para existirem árbitros sobretudo quando não existem vídeo-árbitros. Um jogo que podia acabar em goleada, acabou sofrido com uma vitória tangencial: tanto se jogava com o pé como com a mão, os fora-de-jogo (não) eram assinalados como se houvesse vídeo-árbitro para corrigir a (não) decisão, os amarelos apareciam e desapareciam sem ninguém perceber se estavam escondidos na manga ou havia outro truque qualquer. Foi um regresso ao passado, um passado pelo qual muitos suspiram. Passado por passado prefiro os Flintstones. 

5 comentários:

  1. Estava convencido que os desautocolantes do Mota não iam escapar à crónica.

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    1. Meu caro,
      Foi uma falha minha. Ver os desautocolantes a esvoaçar ao vento enquanto o MM salta de nenúfar em nenúfar depois de fazer de conta que não viu o penalty, merecia uma referência.
      SL

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  2. A encomenda do açougueiro de Vila Verde, quase que chegava ao seu destino.
    Mas eles não brincam em serviço e já nos mandaram duas encomendas, para o jogo com o Guimarães - porque aqui há também o vídeo árbitro - O Rui Costa para o campo e o inenarrável Vasco Santos para vídeo árbitro.
    Para o benfica lá temos o Pinheiro - o Mostovoi de Viatodos - e para o Var o conhecido benfiquista de Setúbal. tudo nos conformes como sói dizer-se.
    Vai ser "um fartar vilanagem"
    Abraço.

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    1. Meu caro,
      Voltamos ao mesmo. Mas esse Rui Costa nunca mais acaba? Este Duracel do apito não estava na hora de se reformar?
      Abraço

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  3. Bravo! Mais uma meta-crónina que, sustentada nos axiomas da filsofia e enquadrada pelas referèncias existenciais mais profundos, nos deixa a todos angustiados esperando pela próxima elicubração do autor. Um grande bem-haja!

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