terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Comunicado de boas festas

 

São neste momento 12h35m e ainda aguardamos (com a serenidade possível nestes casos) um comunicado do Benfica sobre a arbitragem do jogo de ontem com o Famalicão. Após contactos sucessivos com a agência para a transparência do futebol português, de quem o Benfica é sócio honorário, sem resultados dignos desse nome, manifestamos assim a nossa preocupação por esta ausência inusitada (mais uma) de um comunicado esclarecedor em prol da dignificação da arbitragem, da (suposta) insustentabilidade do futebol português e da ausência de informação fidedigna sobre o desaparecimento do desaparecimento das baleias no espaço mediático.

Assim sendo: Boas Festas!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Uma pequena derrota, um bom resultado

O Rui Borges apreende bem, aprende depressa e aprende com todos. Depois do jogo contra o Benfica, apreendeu com o José Mourinho a colocar trancas às portas e a esperar [sabe-se lá bem o quê]. Os jogadores do Bayern de Munique pareciam não estar habituados a enfrentar defesas tão recuadas e compactas, instalando-se no nosso meio-campo e por lá andando para trás e para a frente denodadamente. A nossa atitude não foi a mais correta também, um pouco ofensiva [de ofensa] e chocarreira até, com uma ou outra irritante defesa do nosso guarda-redes e um contra-ataque do Geny Catamo perfeitamente dispensável [e que por pouco não dava autogolo], que só gerou aborrecimentos e mal-entendidos com os senhores que jogavam contra nós 

Na primeira parte, os jogadores do Bayern de Munique pareceram receosos. Alguém os deve ter ameaçado com a obrigação de ver um debate para as presidenciais, um António José Seguro contra o Marques Mendes ou um Ventura contra o Cotrim de Figueiredo [em alemão, claro está]. Ao intervalo devia ter-se dado o jogo por acabado. Parecia estar frio e, assim, corria-se o risco de ainda alguém se constipar. Teria sido melhor para todos: para o Bayern de Munique, que não sofreria um autogolo com a participação de um gajo que veio diretamente da indústria dos moldes do eixo Leiria- Marinha Grande; para o Sporting, que não cansaria desnecessariamente os seus jogadores [dos quais estamos muito precisados]; para o árbitro, o fiscal-de-linha, o videoárbitro e o videoárbitro do videoárbitro, que não validariam o segundo golo do Bayern de Munique, um nível de bandalheira só atingido quando o rapaz Pinheiro expulsou o nosso Coates por permitir que o Taremi lhe calcasse o tornozelo do pé direito, correndo o risco de tropeçar, cair e fazer um dói-dói num joelho.

Na segunda parte, resolvemos colocar em causa a [poderosa] indústria alemã ao permitir a participação da indústria dos moldes do eixo Leiria-Marinha Grande no autogolo que nos colocou em vantagem. Não satisfeitos, em vez de metermos o Biel no lado esquerdo do ataque, um jogador que nos dá outra acutilância ofensiva, recorremos ao Mangas, um jogador [recentemente] contratado aos Village People ou ao Duarte e Companhia, não sei bem. Não, não se brinca com a maior potência industrial da Europa e ainda se regressa a casa para contar a história. Enfiaram-nos três [golos] de rajada e não foram mais pois até eles consideraram que o árbitro, o fiscal-de-linha, o videoárbitro e o videoárbitro do videoárbitro [e as respetivas mães, por que não dizê-lo] foram extremamente incorretos, caseiros, melhor dizendo. Também não interessa muito, pois tudo o que fosse menos do que quatorze ou quinze a zero era bom, muito bom.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Prelúdio para Munique (s)em Dó

A narrativa construída após o jogo da passada sexta-feira é de simples entendimento: o Sporting perdeu porque não ganhou enquanto o Benfica ganhou porque não perdeu. O futebol, a bola [a dita cuja], esse objeto incomodativo, só interessa na exata medida em que permite desconversar desta forma. Qual é o interesse de uma finta, remate ou defesa quando se pode dispor de um bitaite ou bojarda do José Mourinho ou da descrição das origens humildes do Rui Borges por Altino Tojal ou Soeiro Pereira Gomes? Duas experiências oníricas: de um lado, “o especial”, que fala estrangeiro e tudo; do outro, o puto ranhoso de joelhos esfolados e calções rotos, que se fez homem aos pontapés [na bola].   

O futebol enquanto luta de classes ou construção de estereótipos sociais interessa-me [muito] pouco ou nada. Prefiro a parte desinteressante, a do pretexto, a da bola e quanto a essa o jogo de sexta-feira foi o que se convencionou designar em linguagem técnico-tática por completo e absoluto aborrecimento. O José Mourinho especializou-se na retranca, na arte de defesa a toda a sela, esperando um deslize, uma abébia, uma bola vadia que permita um golo caído do céu aos trambolhões. O Rui Borges continua com o seu habitual medo de existir [é mais simples tirá-lo de Mirandela do que lhe tirar Mirandela das entranhas], porque o respeitinho é muito bonito e [também] não se brinca com Fado ou Fátima. 

Começámos bem, muito bem. Pressão alta à espera de que os matraquilhos do Benfica fizessem a sua parte. O Trubin ainda safou o primeiro remate do Luis Suárez com a biqueira da chuteira do pé direito. No entanto, ao segundo [remate], o Pedro Gonçalves enfiou-lhe uma bola escorregadia por entre as mãos e a anca, deixando-o deitado de borco. No Estádio da Luz, os adeptos do Benfica esperavam uma forte reação a este golo e os jogadores do Sporting também. Como não havia reação [que se visse], os jogadores do Sporting obrigaram os do Benfica a reagir e, assim, a vir para o ataque porfiar, como era seu dever, sua responsabilidade. 

Ora, se quem espera sempre alcança, quem porfia alcança ainda mais depressa e o Benfica empata com um golo resultante de um aprimorado acaso, de uma carambola tantas e tantas vezes ensaiada nos treinos do José Mourinho [depreende-se]. Os do Sporting tremeram e os do Benfica encheram o peito de ar e foram-se a eles [aos do Sporting, entenda-se]. O intervalo foi um alívio para as duas equipas: a do Benfica deixava de estar obrigada a continuar a atacar, o que muito a atrapalha; a do Sporting podia aproveitar para rever os vinte primeiros minutos do jogo como forma de ultrapassar o medo existencial. 

Mas o medo de existir não se cura com mesinhas, “replays” ou “slow motions”. Portugal é o país da não-inscrição, como nos diz José Gil, onde nada [verdadeiramente] acontece. Esta incapacidade de inscrição no imaginário individual [de cada jogador] e coletivo [de cada equipa] constituiu mais um belo exemplo desta característica única da portugalidade: na segunda parte do jogo não aconteceu [rigorosamente] nada. Na conferência de imprensa, o José Mourinho jura que não, mas esta é uma simples forma de inscrever a impossibilidade de inscrever, não sei se estão a compreender. O Rui Borges disfarça melhor, finge que não enfia a cabeça na areia, mas nega, não negando, a realidade ou a falta dela [o nada, por outras palavras]. 

[No sábado fui ver a exposição da Paula Rego na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, onde acabei por tropeçar neste soneto de Alexandre O'Neill: “No céu duma tristeza cor de farda, /Uma angústia de nuvens se desenha. /O amor já morreu: que o tempo venha/ Desmantelar o que a memória guarda. /Jogai!, jogai! Quem não jogar não ganha /Nem perde. É a última cartada. /Eu aposto na vida, mesmo errada. /Talvez outro destino me sustenha. /Avião de Lisboa para o mundo, /Apaga-me a tristeza com as asas, /Tão nítidas no céu em que me afundo! /Depois desaparece atrás das casas /E deixa-me o azul, o azul profundo, /E duas nuvens de razão tocadas.” Este “post” resultou do jogo [naturalmente] e deste soneto e constitui um agradecimento aos amigos e amigas por um sábado bem passado, apesar do frango de churrasco com batatas fritas.]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Nunca pior

 

Existe por aí uma frase a pairar, desde o tasco mais lubrificado pelas hostes, até ao cabeleireiro cujo requinte máximo é ser frequentado por influencers ligados ao mundo da canalização e esgotos: O Benfica não joga nada. Trata-se de uma frase reconhecível pela sua endurance mediática, uma frase que representa um segredo miudinho, já nada bem guardado: O Benfica não joga nada… e isso é contagioso, pega-se, como se diz na minha terra, como uma lapa aos outros intervenientes, atravessando portas e janelas como se de um fantasma com ejaculação mística precoce se tratasse.

Em jogo recente com esse Benfica, o Sporting de Rui Borges entrou no jogo (durante vinte minutos) em modo Sporting de Rui Borges, não sendo brilhante nem dando para emoldurar uma lapela, sempre dá para o gasto. Depois o Sporting de Rui Borges deixou de ser  Sporting para passar a ser o Moreirense de Rui Borges, não sendo de destratar, que as surpresas acontecem, o Moreirense deixou de acreditar na existência de balizas, duvidando mesmo da existência de um meio do campo adversário, verdadeiro ateu relativamente ao último terço.

Os adeptos de ambos os clubes que me rodeavam num qualquer estabelecimento, recomeçaram as suas conversas do costume, a geopolítica, a importância do cinema Nouvelle Vague no século passado, o romance Herscht 07769 de László Krasznahorkai, essa torrente de lava que nos ilumina o caminho para dentro do mundo, segundo um dos membros da claque, e a discussão infinita da existência ou não de bilhetes para os The Cure na Maia, próximo Junho de 2026. 

E com isto ficamos a cinco pontos do Porto. Nada mau.

 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Diz que

 

Um grupo de sportinguistas preocupados contactou a redação do Insustentável Leveza de Liedson para tentar perceber se haveria jogo na próxima sexta-feira, dia 5, já que informações fidedignas saídas da estratosfera blogueira e das redes, avançavam com uma possível vitória antecipada do Benfica. O próprio jornal A Bola confirma-o na capa da edição de hoje: Mourinho Talismã (nunca perdeu com o Sporting). O mesmo jornal já se havia referido em relação à vitória épica do Benfica contra o campeão europeu de windsurf, Nacional da Madeira, como uma chama imensa, uma chama que arde, pelos vistos, sem se ver.

Desenvolvemos esforços no sentido de apurar a verdade sobre este assunto deveras escabroso, mas até ao fecho da nossa relação com o mundo exterior e seus derivados, não conseguimos ter nenhuma confirmação. De qualquer modo aconselhamos a conservação em sítio seguro da calma e da serenidade necessárias nestas alturas. De resto, também não se confirma, conforme avançado em primeira mão pelo presidente do F.C. Porto, a vitória dos dois clubes no clássico da próxima sexta-feira, com os três pontos devidamente atribuídos a ambos. 

Nota: na senda de mais uma alucinação das coletividades amadoras (assim parece), o jornal Record, anunciava antes do jogo do Sporting com o Estrela, lotação esgotada (mais uma!?) para o jogo de domingo. Pelos visto, apenas através do tal Gameback seria possível arranjar bilhete. Amigos meus, por exemplo, não conseguiram bilhete. Sucede que no jogo não estiveram sequer 43000 pessoas, muito longe (mais uma vez) da lotação esgotada. Muita gente com Gamebox está-se a borrifar para os jogos do Sporting, e nem sequer revende o bilhete para outros menos borrifadores. Gente fina é outra coisa. Ou as lotações esgotadas são manifestamente exageradas?