Há dias ouvi uma conferência muito interessante de André Lara Resende, que concebeu o Plano Real, na Universidade de Oxford, explicando a evolução da política monetária. Após a estagflação dos anos 70, o monetarismo ou a teoria da quantitativa da moeda passou a ser hegemónica no pensamento e nas políticas económicas. A inflação seria única e exclusivamente um fenómeno monetário e as crises, inflacionárias ou deflacionárias, deviam-se à incapacidade dos bancos centrais de contrair ou expandir a base monetária. Esta teoria foi levada à prática de forma brutal por Fernando Collor de Mello para combater a hiperinflação no Brasil, procurando esterilizar a moeda através do congelamento das contas bancárias dos depositantes. A recessão não foi menos brutal e acabou no seu “impeachment” por portas travessas.
Pouco a pouco, os economistas foram compreendendo que o sistema de crédito fazia expandir a base monetária, sem que os bancos centrais a conseguissem impedir. Sem grandes explicações teóricas, a partir dos anos 90, os bancos centrais passaram a tentar controlar a inflação através da simples manipulação da taxa de juro, aquecendo ou arrefecendo a economia em função da sua evolução e do seu ciclo. Na prática, não existe nenhuma fórmula, assume-se que a inflação simplesmente não se encontra ancorada e recorre-se quase a uma simples heurística: se a inflação sobe, então a taxa de juro deve subir também e se a inflação desce, então a taxa de juro deve descer também.
Com a crise financeira internacional de 2008 e as taxas de juro nulas ou praticamente, os bancos centrais viram-se na necessidade de recorrer a políticas não convencionais, como o “Quantitative Easing”, desatando a comprar tudo o que é ações e obrigações, expandindo loucamente os seus balanços. Estas políticas estão a ser ampliadas com a atual crise decorrente da pandemia da Covid-19. A inflação continua a não se ver, apesar da expansão monetária sem precedentes. Conclui Lara Resende que, provavelmente, a inflação resulta de expetativas dos agentes económicos, tendendo a manter-se alta quando é alta e baixa quando é baixa. A inflação seria mais resiliente e determinada por contextos históricos: há períodos em que é persistentemente baixa e outros persistentemente alta.
O Benfica vive o seu “Quantitative Easing”, o seu momento “bazuca”.
Nunca se viu tal expansão monetária em nenhum clube português. A ideia é
excelente no atual contexto económico e financeiro. Por muito que paguem ao
Jorge Jesus ou ao Cavani (nove milhões de euros por ano, é o que se vai
dizendo), as suas condições para aumentar o consumo de batatas fritas e hambúrgueres
são limitadas (se estivéssemos a falar do Taarabt a conversa seria outra), assim como os potenciais efeitos inflacionários. No fundo, está a seguir Millôr
Fernandes, quando afirma que “O dinheiro não traz a felicidade, manda-a vir”. O
Luís Filipe Vieira está a mandar vir toda a felicidade que (não) pode. A
felicidade dos benfiquistas é a sua felicidade (e vice-versa) e ninguém os quer
ver infelizes para o resto da vida sem ele, a presidente, naturalmente.
Excelente post. Como economista dou lhe os parabens. Acrescento apenas que a inflação é impossivel com salarios que não sobem desde os anos 80 (em quase todo o undo desenviolvido) sem poder de compra não há consumo. quanto ao benfica... os salários dos benfiquistas tal com os outros não sobem por terem o Cavani ou o cebolinha, os custos da bazuca do vieira vão ter de ser pagos, e não vai ser com receitas, essas vão subir mas nunca o suficiente para pagar tanto despesismo . Resta ao SCP is construindo a sua equipa devagar sem grandes mudanças no plantel com inteligencia. e sobretudo calma e paciencia coisas que não existem no nosso clube. Figas...
ResponderEliminarObrigado meu caro.
EliminarCompletamente de acordo, Com os salários sem ganhos reais há décadas e décadas e a crescente desigualdade, não é possível dispor de procura agregada robusta. Sem ela, o crescimento económico é débil e a inflação pouco ou nada se mexe, quando não se reduz, gerando riscos de deflação.
O Benfica também está a emitir moeda, só pode. Depois da pandemia da Covid-19, este ano foi péssimo para as receitas e o próximo não será melhor. Quanto a nós, devíamos ter juízo e evitar mais uns tantos disparates. O Leonardo Jardim conseguiu fazer omeletes com os ovos que lhe deram. É seguir esse exemplo.
SL
A chamada inflação.... de activos.
EliminarQuanto a construir um plantel com calma e inteligência... realmente estamos bem servidos. O chamado demolishing debasement, levado a cabo pelo capitao coragem.
sem grandes mudanças do plantel , é para lutar para não descer.Mas com estes escroques que dirigem o SCP poderemos ser campeões brevemente (da 2ª liga ) quanto á calma e paciencia,há demasiada no nosso clube ........
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão dê ideias. Se o Varandas e o Viana decidem mexer no plantel as coisas só podem piorar. Não deviam mexer em nada, devendo, isso sim, pôr-se a mexer dali para fora.
SL
"Nunca se viu tal expansão monetária em nenhum clube português" - Com mentiras lá se vai argumentando, esta época ainda nem chegou nem perto à época passada em que tanto Benfica como Porto investiram quase 70 milhões de euros.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarAté agora o Benfica só foi buscar jogadores a custo zero, como o Cavani. É esperar pela conta, entre salários, aquisições e comissões. Acaba tudo sempre num Relatório e Contas perto de si.
Esta fuga para a frente do Vieira, gastando rios de dinheiro, poderá ter duas razões:
ResponderEliminar1 - O querer ganhar as eleições a todo o custo, para garantir a carta de alforria, mesmo que provisória, para ver se a justiça portuguesa "se esqueça" ou contar com as prescrições ajustadas, ou,
2 - garantir mais uns milhões ao Jorge Mendes, dado que os negócios vão maus para o seu lado, visto os grandes clubes europeus, com a crise do Covid, se terem resguardado, dos poucos ganhos económicos actuais ou futuros, porque, aqui, não há teoria monetária, que lhes valha.
A ver vamos...
Um abraço
Meu caro,
EliminarA liberdade não tem preço, como se costuma dizer. O Cavani, o Jesus e outros que tais têm. Se têm, compra-se.
Abraço,
Obrigado meu caro.
ResponderEliminarNós temos uns tantos que não são dados ao trabalho. Há alguns que até engordam quando são atletas de profissão.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarO título do post deixou-me curioso. Quanto à moeda estamos de acordo e agradeço a forma simplista como o colocou. A inflação, essa tem mostrado tanta resiliência que se tivesse um clube seria seguramente o Sporting.
Sobre felicidade escreveu pouco. Imaginei que se fosse falar de Felicidade Interna Bruta (FIB) e do Butão. Mas como o blog é de futebol fomos parar, e bem, ao Benfica. Porque o tema da felicidade pode ser aqui chamado. Os adeptos do Benfica terão ficado infelizes com o final desta época. Contratar treinadores conceituados, jogadores com nomes sonantes e de preferência a gastar muitos milhões está a trazer a felicidade que os resultados não trouxeram. O FIB do Benfiquista está em alta.
Nós também já passamos por aqui. Sabemos a felicidade que traz ter um treinador que diz que vai ganhar tudo. Sabemos como é bom ver vedetas a chegar todos os dias ao aeroporto. Mas também sabemos que a felicidade nem sempre traz resultados...
SL
Caro João,
EliminarUm dias destes tenho de fazer uma incursão pela FIB. É uma excelente ideia.
O Benfica vai mudar tudo e mudar tudo custa muito dinheiro. Mudar também não traz resultados obrigatoriamente. De mudanças percebemos nós!
SL
Não será uma questão de tomates?
ResponderEliminarLFV esta a investir o que sobrou dos tomates do Félix, da venda do dito, claro!
A coisa rendeu tanto que o "nobel" Nuno Gomes mandou os pais do dito para casa fazer mais filhos.
Vai ser uma tomatada!
SL
João Balaia
Caro João Balaia,
EliminarPenso que o Benfica já está a gastar por conta do novo João Félix que vão inventar. Desde que o carrossel do dinheiro se mantenha eficiente, encontra-se sempre mais um. A imprensa especializada não tardará a dar notícias desse novo prodígio do Seixal, seja ele qual for.
SL
Tanto conhecimento ecoonómico e ainda não pagaram o Ruben Amorim...
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão percebo onde vê a contradição. Para não se pagar, é preciso saber e muito de economia. Saber, por exemplo, de pesca desportiva ou de gastronomia não ajuda em nada se se pretende não pagar.