sexta-feira, 31 de maio de 2019

Respeitar e exigir respeito

Independentemente de outros méritos, um deverá ser reconhecido a Frederico Varandas durante o período que exerce funções de Presidente do Sporting: o sentido institucional. Ninguém viu nem ouviu o Frederico Varandas a insurgir-se desabridamente dos árbitros, da Federação ou da Liga. As (escassas) críticas foram dirigidas de forma contida e com recurso a linguagem adequada. O comportamento do Sérgio Conceição contrastou com o seu, como têm contrastado os dos mais diversos intervenientes no futebol nacional (no final da Taça de Portugal, ninguém teve dúvidas sobre o que se consideram comportamentos aceitáveis e inaceitáveis). Alguns consideram que se trata de sinal de fraqueza. Não consigo fazer essa avaliação: tanto pode ser uma sinal de fraqueza como um sinal de força. Não tenho dúvidas é que se trata de um sinal de responsabilidade e de educação. 

O que se espera é que a forma respeitosa como o Frederico Varandas, enquanto Presidente do Sporting, trata os outros seja recíproca. Ninguém é ingénuo para esperar que tudo pode e vai mudar. Os dirigentes são os de sempre e vão-se comportar como sempre. Na comunicação social, espera-se outro comportamento. Tem que se distinguir jornalismo de comentário futeboleiro. Não aprecio o segundo, mas sou capaz de entender as posições dos contendores: cada um é do seu clube e defende o seu clube, sendo essa a razão para participarem nesses programas. 

Jornalismo ou comentário especializado é coisa bem diferente. Custa-me ver na SIC um ex-árbitro que, em pleno Estádio de Alvalade, cometeu a indelicadeza de interromper o aquecimento do Rui Patrício para não se dar ao trabalho de passar por trás da baliza e, chamado à atenção, ainda se predispôs a andar à pancada com o treinador de guarda-redes. É um desrespeito pelo Sporting e sportinguistas tê-lo a comentar os nossos jogos. Os comentários e os relatos dos jogos do Sporting na SporTV também constituem uma falta de respeito, como venho analisando em sucessivas crónicas. Pela natureza pública da entidade, a situação agrava-se na RTP, sendo absolutamente desrespeitoso para o Sporting e sportinguistas o relato e os comentários da final da Taça de Portugal, repetindo-se o que tinha acontecido na final da Liga Europeia de hóquei em patins. 

Esta semana vi o programa do Rui Santos na SIC. Há anos que não o via. Nada mudou, a não ser o aparato tecnológico. Mantém-se o pseudomoralismo, continuando a considerar-se um arauto da verdade e exibindo um superioridade moral insuportável. Apelou à paz, sem explicar de que guerra se tratava, quem eram os beligerantes e não fazendo justiça ao Frederico Varandas e ao Sporting, excluindo-o e excluindo-nos desse apelo.. Enfim, um apelo sem qualquer substância. Comprou ou ofereceram-lhe uma geringonça e o homem tenta transformar a tecnologia em verdade, como se as escolhas dos lances a analisar não fossem dele e a equivalência entre juízos de facto e juízos de interpretação não fossem dele também.

Analisou o lance do Herrera no primeiro golo do Porto na final da Taça de Portugal e constatou o óbvio: houve um erro de facto. Meteu outros lances ao barulho, entre eles, o cartão amarelo mostrado ao Coates quando cortou um lançamento longo com a mão. Como recorreu à maquineta, parece que se trata de um erro de facto quando se está em presença de uma interpretação e ninguém no Mundo pode dizer com certeza onde é que a bola ia cair e a que distância e de que lado, esquerdo ou direito, do Soares, se a conseguiria dominar e as consequências de a dominar de uma forma ou de outra, se conseguiria ficar isolado e se, a mais de trinta metros da baliza e correndo com a bola, não seria intercetado pelo Mathieu correndo sem ela. Equivaleu, assim, um juízo de facto com um juízo de interpretação e assim uma mão lavou a outra. 

Não satisfeito, resolveu explicar a razão para o Sporting dispor dos jogadores a quem mais amarelos foram mostrados, tendo mais 58% e 48% do que os seus colegas do Porto e do Benfica, respetivamente. Quando se esperava que nos explicasse que os jogadores do Sporting jogam com regras diferentes dos do Porto e do Benfica, resolveu informar-nos que, nada disso, o que acontece é que têm inclinação para amarelos “escusados”. Que eram desnecessários, todos tínhamos percebido. Ainda não nos tinham explicado é que desnecessidade não resultava dos árbitros mas dos jogadores. De uma penada, os jogadores do Sporting foram tratados como rematados imbecis e, por arrasto, o Sporting, que os contratou, e os sócios e os adeptos, que os apoiam. 

Fui feliz na Lousã, onde vi a final da Taça de Portugal. Vi o jogo com sportinguistas, novos e velhos, mulheres e homens. Partilhei com eles a alegria como teria partilhado a tristeza se tivéssemos perdido. É-nos devido respeito. Não suporto a mentira, mas suporto ainda menos o “suggestio falsi”. Não somos estúpidos e não nos queiram fazer passar por estúpidos. O Frederico Varandas tem respeitado, dando-se assim ao respeito. Avaliá-lo-ei pelo respeito que tem pelos outros mas também pelo respeito que exigirá dos outros para consigo, para com o nosso clube e para connosco, adeptos e sócios, sobretudo daqueles que por deontologia profissional se têm de dar ao respeito mais do que quaisquer outros.

31 comentários:

  1. Infelizmente muitos confundem educação com fraqueza e agem contra as pessoas que são mais educadas, pensando que lhes podem passar por cima. E uma mentalidade existente na nossa sociedade em geral, não apenas no futebol.

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    1. Caro Mike Portugal,

      Não se confunde educação com firmeza ou carácter. Não é preciso andar aos gritos para fazer valer os nossos pontos de vista. Espero que o FV tenha essa firmeza e esse carácter. A educação ajuda.

      SL

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    2. Há tanto ordinário que não anda aos gritos... Um texto a "olhar para a arvore, e a perder a floresta"

      Z

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  2. Não poderia estar mais de acordo!

    SL
    JHC

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  3. Um registo tão diferente que estava convencido de que não era o Rui a escrever. Não se duvide de que estamos absolutamente de acordo em relação ao conteúdo mas gosto mais do estilo mordaz, brutalmente inteligente e desconcertante, a pegar de formas quase improváveis em quase tudo e mais alguma coisa. Fico mais contente com o estilo surpreendente.
    Neste, a dizer tudo certinho e direitinho, ficou demasiado parecido a outros que, evidentemente, também não são parvos.
    Peço mil desculpas, mas tinha que me desfazer deste lamento.
    SL

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    1. Meu caro,

      Este é um registo burocrático, sem dúvida. Senti necessidade de o escrever depois de ver e ouvir mais umas tantas coisas a desvalorizar o nosso clube. As intervenções desta semana foram: o Sporting ganhou, mas ... seguido da ladainha do costume. É necessário exigir rigor e independência aos jornalistas e às televisões. Espero que o FV ande atento às narrativas que se vão construindo. Há sempre uma boa razão para expulsar o Ristovski ou para mostrar um amarelo a um qualquer jogador do Sporting. Pior do que os árbitros só quem os vai justificando semana após semana.

      SL

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    2. Ou seja, gostas mais do estilo brunóide.

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    3. Meu caro,

      Gosto mais do estilo de quem não cola rótulos aos outros sejam eles quais forem.

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  4. Caro Rui, eu pessoalmente não vejo fraqueza numa atitude de respeito pelo outro, antes pelo contrário, essa deveria ser, sempre, a regra, em qualquer lugar e circunstância, logo, também no desporto e no futebol.

    Acontece que a maneira educada como o presidente Frederico Varandas se apresenta em público a representar o Sporting -- educação é o que o Rui lhe chama -- vem sempre acompanhada de outras tonalidades, por exemplo, arrogância, pedantismo, revanchismo, num discurso que a mim me soa sempre elitista e manchado por uma evidente falta de humildade (e acho eu que o presidente Varandas, até agora, não mostrou competência ou talento para prescindir da humildade).

    Tanto que, esta frase, que o Rui usa para descrever outro Rui, o Santos, se aplica, na minha opinião, perfeitamente ao presidente Varandas: "... a considerar-se um arauto da verdade e exibindo um superioridade moral insuportável..."

    Quando o presidente do Sporting aparece aos jornalistas a dizer que são "formas de estar, valores e educação diferentes", não está, obviamente, a negar o que acabou de dizer, pelo simples facto de o ter dito?

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    1. Meu caro,

      Aí está um crítica certeira. Há sobretudo um certo pedantismo. A diferença relativamente aos outros não precisa de ser afirmada. Vive do reconhecimento dos outros.

      Este ano foi muito difícil. O FV esteve sempre debaixo de fogo. Tentou demarcar-se do passado, exagerando nas diferenças e nas críticas. Admito que não tenha sido fácil para ele. É um pouco pedante, disso não tenho dúvidas.

      SL

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  5. Eu tinha vergonha, tanta conversa e nem à bola vai...escrevem, escrevem....

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    1. Também teria vergonha de perder tempo a ler uma coisa que considerasse uma vergonha e de me dar ao trabalho de comentar que se trata de uma vergonha. Quando se trata de uma vergonha, a solução é não ler, não ligar. Aconselho-o assim a não se dar ao trabalho de ler nem muito menos se dar ao trabalho de ligar ao que eu digo.

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  6. Não critiquei o que escreveu, critiquei o não ir à bola, a maioria dos escribas que proliferam por a blogosfera não colocam os gargantas por os estádios e pavilhões e opinam sobre tudo e sobre nada...sou benfiquista e no meu clube é a mesma coisa...

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    1. Meu caro,

      Ainda bem que estamos de acordo sobre o conteúdo. Conforme fui envelhecendo, a minha mulher proibiu-me de ir aos jogos para não exagerar na entremeada e nas minis. Sem entremeada e minis não se vê o jogo como deve ser visto.

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  7. Ir à bola dá legitimidade, acrescenta à gravitas. Enfim: dá substância.

    Por outro lado, quem não vai à bola não pode passar de um teórico , e toda a gente sabe a insustentável leveza da Teoria.

    Nota de leitura: a etimologia de Teoria aponta para o grego θεωρία (contemplação; especulação)

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    1. Como diz o outro " vocês sabem do que eu estou a falar "...

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    2. Meu caro,

      O mais de acordo possível. Sem ir à bola não se consegue perceber tudo o que o Rui Santos nos diz.

      SL

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  8. Serve de muito essa "educação", que é evidentemente pedantimso travestido.
    Veja-se como os árbitros nos trataram esta época. A equipa mais indisciplinada da liga... Total de faltas cometidas igual à da mais "disciplinada" - a do Cão-Ceição.
    Abram os olhos.

    Z

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    1. Meu caro,

      Não estou a ver a relação entre a boa educação e os árbitros. Também não estou a ver a relação entre a falta de educação e os árbitros. Há é uma relação entre os árbitros e o Sporting com boa ou má educação.

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    2. Caro Rui,

      aparentemente, o Jorge Sousa deu uma lição de educação ao Stojkovic. Aquela família dá-me pena: o tio perdeu a titularidade da baliza leonina para sempre na sequência do único atraso de bola deliberado a um guarda-redes desde a implantação da República. O sobrinho tem lições particulares de etiqueta com um antigo membro dos Super Dragões...

      Um abraço, Rui

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    3. Caro Pedro,

      Pensando bem, nunca tivemos um árbitro que tenha pertencido à Juve Leo. Porventura, é por não terem maneiras.

      Um abraço

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  9. Não sei, como a educação e princípios morais se confundem com pedantismo. É preciso gritar e dizer umas asneirolas para não ser sonso e pedante. Não pode um individuo ser, intrinsecamente educado?
    Da CS o Sporting não pode esperar nada de bom. Precisa-se militância sportinguista que exija respeito e consideração pelo Sporting e os sportinguistas. O caracolinhos sabe viver bem com todos e assim se vai mantendo no ar, já deixei de ver o programa, não adianta nem atrasa.
    J.Oliveira. SL

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    1. Caro J. Oliveira,

      No dia em que a boa educação fosse defeito estava o mundo perdido. Ser-se bem educado é normal. O anormal é anormalidade de praticamente todos não o serem no futebol português.

      O Rui Santos é uma coisa extraordinária. Não via o programa há anos. Continua tudo na mesma. O homem fala uma hora sem contraditório. Aparentemente tem audiência ou então é um programa patrocinada. Quem é que vê aquilo semana atrás de semana?

      SL

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  10. No dia em que a verdade desportiva fosse um facto o seu "arauto" estava no desemprego...Claro que o FV irrita os que atiram pedras e escondem a mão

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    1. Caro Zé Baleiras,

      O arauto precisa da (falta) de verdade desportiva como de pão para a boca. O FV irrita. Espero que irrite ainda mais. Espero sobretudo que imponha respeiro. Este "post" não ´sobre o respeito, o que é normal, mas sobre a falta dele, o que é anormal.

      SL

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  11. Caros Rui Monteiro e comentadores do Leveza de Liedson,

    Esta será talvez a minha quarta tentativa de comentar este post que me merece o mesmo respeito que todos os outros apesar de ser menos agradavelmente cáustico que os outros.
    Não vou comparar a pouca educação do SC com a superior educação do FV mas este ùltimo tem um diploma em Medicina que deveria comportar uma vertente de psicologia bem dominada. Pela leitura dos diferentes comentários todos estamos de acordo que FV é pedante. Eu não gosto dele até porque, fisinomicamente, ele se parece a Jorge Mendes mas, pior ainda, eu (que não sou médico) acho que ele (tal como os lampiões) padece de priapismo (sobretudo lingual) que perdura há vários meses e não só 4 horas. Padece também de uma espécie de tenesmo e eu sei quanto isso é chato. Como ele é médico e vulnerável espero alguém lhe faça chegar este comentário de um não colega.
    Apart ça tout va bien Madame la Marquise (Sacha Distel et autres)
    SVL (saudações verdadeiramente leoninas)

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  12. Devo acrescentar que se esta era a minha quarta tentativa de comentar as outras três foram abortadas por mim próprio...por não saber o que dizer sem ferir sensibilidades.
    SL

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    1. Caro Aboím Serôdio,

      Este "post" é mais sobre as qualidades ou falta delas de outros do que propriamente do FV. O FV só entra na exacta medida que funciona como contraponto a outros.

      SL

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