segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O futebol faz mal: quando o anormal se torna no novo normal

Na última semana, tive a cabeça ocupada com vários assuntos e sem tempo nenhum para pensar em futebóis. No entanto, sempre que ligava a televisão, escolhesse o canal que escolhesse, parecia que vivia num país governado pelo Bashar al-Assad ou por outro do género. Alcochete parecia Aleppo e o estado de direito tinha sido substituído por uma disputa entre sunitas e xiitas alauítas. 

De repente, não há responsáveis. A ex-direcção do Sporting não é responsável pelo assalto a Alcochete. A direção do Benfica não é responsável pela acusação do ministério público de corrupção e acesso a processos em segredo de justiça. Discute-se se são preferíveis claques ou grupos organizados de adeptos, como se o tráfico de drogas e a promoção da violência e de ideais de extrema-direita tivessem direito de escolha. A discussão envolve muito juridiquês de trazer por casa, envolvendo juristas, jornalistas e adeptos, como se a opinião técnica se pudesse misturar com o senso comum. A justiça portuguesa embrulha-se com o jornalismo tabloide como se, em conjunto, pretendessem regular a moral e os bons costumes e, em geral, toda a vida social. Há ou não há presunção da inocência conforme as conveniências, como se só a absolvição ou a pena determinassem responsabilidades. No meio disto tudo, reina o silêncio dos cemitérios do governo. 

Num país decente, o governo há muito que tinha chamado a Federação Portuguesa de Futebol para a responsabilizar, responsabilizando-se ao mesmo tempo. Há muito que teria dito a esses senhores da Federação que ou acabavam com este estado de exceção ou o governo acabava com eles e com o futebol. Não se pode aceitar que o futebol continue a degradar a nossa vida coletiva e as nossas instituições democráticas. Eu e outros como eu não queremos o futebol para nada se o futebol é para continuar a ser assim. Entretemo-nos com outra coisa qualquer, seja a ver “curling” ou “snooker” no Eurosport.

9 comentários:

  1. Viva... partilho esse sentimento... diria mesmo que, neste momento, vejo futebol (e apenas o Sporting) por obrigação... mas que a obrigação tem cada vez menos peso... no desporto, como na vida em geral... os governos e quem os representa têm cada vez menos vontade de salvaguardar o que há de bom... interessa é chupar o osso dos interesses pessoais até ao tutano... mesmo que isso signifique o fim da espécie ...
    Saudações

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    1. Meu caro,

      O futebol é uma montanha de interesses, muitos deles inconfessáveis, que se aproveitam do mais puro e simples fanatismo dos adeptos. Não tem grande cura a partir do momento que é gerido à escala global por uma das instâncias mais corruptas do Mundo. Em Portugal, tudo isto passou a uma doença colectiva.

      SL

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  2. Uma Federação empalada em interesses

    Clubes inimigos em vez de rivais

    Adeptos com gosto pelo sangue

    Governo cobarde e medroso

    Justiça forte com os fracos e fraco com os fortes

    Imprensa indigna, falsa e vendida

    Por isso Amen a este post... como diria Shankly, salvo erro, o futebol é apenas a coisa mais importante das menos importantes.

    Mas também dizia o outro, o futebol não é um caso de vida ou morte, é muito mais do que isso

    Lá dos confins do Inferno ainda se ouvem os risos cavernosos de Mefistofeles, ahahahahahahahahahahaahha.....

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    1. Meu caro,

      O futebol é a guerra por outros meios, dizem outros. Devia era ser um coisa decente e não degradasse a percepção pública sobre a justiça e o Estado de Direito.

      SL

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  3. O futebol português, desde há muito, que é um produto tóxico! Eu só o acompanho, devido a ser adicto pelo Sporting.

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    1. Caro Hélder Mestre,

      Aqui está um grande comentário. Somos dois. Sou também viciado no Sporting. Um dia destes fazemos um encontro de Sportinguistas Anónimos. Em conjunto e falando das nossas experiências, pode ser que passemos para o álcool.

      SL

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  4. Aquilo que assistimos com a condenação extemporânea de Bruno de Carvalho demonstra que nada acontecerá aos prevaricadores do outro lado da segunda circular.

    Enfim, uma pobreza Franciscana.

    Precisava de enviar-vos uma mensagem, há endereço de e-mail oficial?

    Um Abraço e saudações leoninas

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  5. A maior parte das pessoas não gosta de desporto/ futebol. Gostam sim de uma boa peixeirada, admitindo ou não ser o caso.
    As audiências mandam e os canais não estão dispostos a contribuir para a mudança da situação. Fica muito mais barato pôr lá 3 ou 4 tipos sedentos de exposição a dizer banalidades e barbaridades.
    Até a Sporttv que era um bocado diferente já lá tem os seus estarolas também!
    Também podiamos discutir se todos os clubes são tratado das mesma forma. Todos sabemos qual seria a conclusão e os exemplos recentes são mais que muitos. Veja-se esta historia das novas imagens de Alcochete. Desde que a Sharon Stone cruzou as pernas num filme que não via um estudo tão minucioso de frames. Conclusões? Nada, mas já deu para encher 2 ou 4 dias de programação. Toupeiras? favorzinhos da Policia? Paulo Gonçalves a “negociar a renovação do Salvio” com o Vieira? Nahh…
    Mas voltando ao principio, a culpa também é nossa e nós sabemos. Tanto é assim que, tal como ninguem viu reality shows desde o BB do Zé Maria e ninguem votou em João Vale, o eterno Presidente, ninguem admite ver esses programas, no máximo passámos por lá no momento em que.....

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    1. Meu caro.

      A verdade é mesmo essa: não vemos nada mas final vimos tudo. As coisas fantásticas que as pessoas vêem naquelas imagens e as interpretações que delas fazem.

      Quanto ao Benfica, continua tudo como dantes, quartel general em Abrantes. Não se passa nada e menos se vai passar porque contrataram uns betinhos que passam mais tempo na televisão do que os tribunais para os defenderem.

      SL

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