quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Gostei do que vi

Depois de uma semana de trabalho intenso (e insano), sentei-me no Flávio para ver o jogo de apresentação contra o Marselha com o melhor dos estados de espírito possível. Mal começou o jogo, um canto a nosso favor deu origem a um golo do adversário, um clássico em Alvalade. Ninguém se lembrou de avisar o Viviano que não estava a jogar contra o Moreirense ou o Tondela, equipas que quem não se espera que vão pressionar o guarda-redes. Um erro, um golo, que não se irá repetir no campeonato pelas razões apontadas.

Gosto do Viviano, salvo seja. Os guarda-redes italianos são os melhores do Mundo. Dizem que este está gordo. Para mim, o arquétipo do guarda-redes italiano é o Angelo Peruzzi, que jogou na Juventus. Era gordo e ninguém chegou a saber se era de nascença ou se tinha engordado. Para defender, fazia o estritamente necessário. Entre um voo para a fotografia e dar dois passos para encaixar a bola, optou sempre pela defesa energeticamente mais eficiente. A concentração e a colocação entre os postes sempre foram a melhor forma de defender.

A perder por um zero, desatámos a jogar à bola. O problema parece ser a primeira fase de construção, como agora se costuma dizer. Mas quando a bola chega ao Nani ou ao Bruno Fernandes o nosso jogo ganha outra dimensão atacante. Os laterais envolvem-se bem no ataque e mesmo com a mosca morta do Montero na frente podíamos ter marcado.

Quando menos se espera e nos locais mais improváveis, o trabalho volta. Uma colega que passou pelo Flávio viu-me, dirigiu-se-me e desatou a azucrinar-me a cabeça. Só voltei a ver o jogo aos cinco minutos da segunda parte. Percebi melhor a escolha do Marselha para o jogo de apresentação. Os jogadores davam pau a toda a sela e o guarda-redes queimava tempo em qualquer reposição de bola (deram-se ao trabalho de fazer não sei quantas substituições no tempo de descontos, inclusivamente). Bom treino para o primeiro jogo do campeonato contra o Moreirense.

Nós continuávamos a jogar bem, mas sem um referência no ataque para as meter na baliza. Até que num canto, esqueceram-se do Bruno Fernandes e este pegou na bola e colocou-a no sítio onde esperava que aparecesse a cabeça do André Pinto. A cabeça apareceu, a bola tabelou-lhe e o guarda-redes fez uma grande defesa, mas permitindo que o André Pinto recarregasse com o pé que tinha mais à mão. Depois começaram as substituições. Quando se esperava que o jogo acalmasse, com a entrada do Bas Dost e do Coates, os nossos calmeirões para as bolas paradas, desatámos a tentar ganhar o jogo como se não houvesse amanhã. Não conseguimos, mas esteve por centímetros.

Gostei do que vi, em particular da dinâmica de ataque. Os laterais deixaram de servir exclusivamente para apoio aos extremos naquele futebol moído de ganhar a linha e voltar para trás e fazer a roda ao bilhar grande tantas vezes quantas as necessárias até adormecermos. Gostei especialmente do Bruno Fernandes e do Nani. Há jogadores esforçados e jogadores inteligentes. A ter que optar por uns em detrimento dos outros, prefiro sempre os inteligentes aos esforçados (o ideal é ter inteligentes-esforçados ou um esforçados-inteligentes). Das aquisições e com exceção do Nani, achei o Marcelo seguro e o gostei muito do que vi do Rafinha: excelente técnica, rapidez de movimento e inteligência a centrar (gostei de o ver ir à linha fazer um centro atrasado em vez de um balão para a molhada; pouco jogadores percebem que um centro não deixa de ser um passe para um colega de equipa).

Confirmou-se o que pensava: até o Peseiro consegue colocar uma equipa a jogar melhor do que o Jorge Jesus. Não sei se o Peseiro tem unhas para esta equipa e para algumas personalidades. Mas o rasto de devastação deixado pelo Jorge Jesus é enorme. As expetativas de bom futebol e de resultados que não se confirmaram. Os milhões e milhões gastos em contratações. Os camiões de pernetas como o Petrovic, o Doumbia, o Matheus Oliveira ou o Castaignos (ninguém se enganou na modalidade quando o contrataram?) que temos de despachar para parte incerta. Mas o pior, o pior mesmo foi a falta de aposta na formação e a destruição da matriz do modelo de organização do futebol do Sporting.

Como é que se espera atrair jovens jogadores para os juvenis, juniores e Equipa B se nenhum deles tem qualquer expetativa de jogar na equipa principal ou de valorização, estando condenados ao degredo numa qualquer equipa de terceira linha? Os jogadores da casa geram mais facilmente fatores de identificação dos adeptos. Por isso, considero as dispensas do Palhinha e do Francisco Geraldes dois erros de palmatória. Não é tanto pela qualidade dos jogadores que não sou competente para avaliar, é mais pela (falta de) qualidade de muitos que ficaram e por não se dar um sinal inequívoco de se querer reverter o ciclo de devastação do Jorge Jesus.

9 comentários:

  1. Caro Rui,

    Foi o próprio Sousa Cintra que quis resgatar o JJ.
    Peseiro é fraco. Podemos ter um.bom jogo como perder 0-2 em casa com um penafiel qualquer .
    A partr da identidade leonina: não renovei a gamebox por causa das dispensas de Geraldes e Palhinha.
    Conspirando um pouco, foram os únicos jogadores a defender o Sporting Clube de Portugal, nomeadamente o Palhinha no final da taça por não ter jogado e ver aquelas lesmas amorfas no campo e Geraldes que afirmou no inicio dos trabalhos mais ou menos que só fazia falta quem lá estava.
    Resultado: adeus!

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    1. Meu caro,

      O Peseiro é fraco mas o Jorge Jesus é pior. O prejuízo que esse nos causou é incomensurável. Os custos são completamente desproporcionados para os resultados que obteve.

      O BdC contratou-o o Sousa Cintra quis voltar a contratá-lo. Há uma citação do Einstein que caracteriza bem esta situação: "Não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar a cada vez um resultado diferente". O Sporting é um clube de loucos ou, pelo menos, dirigido por loucos.

      O mais inacreditável é ele continuar a dar entrevistas para falar de nós. É preciso topete!

      Agora, meu caro, sem Gamebox, se for casado, vão-lhe inventar umas tantas tarefas domésticas. Depois não se queixe. O Sporting é o Sporting com estes ou com outros. O que interessa é a camisola e a bola a rolar.

      SL

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  2. Caro Rui,

    Tudo o que diz é verdade. Daí nunca ter ficado em depressão com as rescisões. Alguns dos que ficaram iriam ter a sua oportunidade.
    Dispensar aqueles que criam a ligação afetiva com o clube depois da tormenta, é um golpe que de alguma forma tinha de ter consequências.
    No meu caso perde o Boia Verde e ganha o núcleo das Caldas da Rainha nas cervejinhas para afinar a concentração...
    Tarefas domésticas são uma cruz que se adensa depois da separação. Agora a sanidade mental é mais importante... para ficar maluco já me chega o Sporting.

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  3. E a derrota com o Estoril? Gostou?
    Acho que vai gostar mais quando Peseiro tiver ordem de marcha.
    Vamos voltar ao ciclo do SCP a pagar salários a vários treinadores. Bem vindos ao passado.

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    1. Segundo li algures, tínhamos deixado de pagar a uma empresa para criar perfis falsos e e enxamear as caixas de comentários. Não é assim ou este comentário é para saldar contas antigas?

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    2. De facto perder com uma equipa da 2 liga, quase em fim de pré época e a dias de começar a liga, é absolutamente vergonhoso e indicador do que será o Sporting do Pé Frio. E já nem falo da derrota com o Mafra e dos jogos à porta fechada que são a cereja do topo do bolo. Agora venha o Empoli, outro colosso que nos vai vergar. Preocupante...

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    3. Caro Bruno Nogueira,

      Era bom que os campeonatos se ganhassem nos jogos de pré-época. Nas duas últimas épocas, foram jogos atrás de jogos a perder na pré-época. Lembro-me de levarmos três secos do colosso Guimarães na pré-época passada.

      Até agora, vi o que vi. Não vi o que não vi (os jogos à porta fechada são isso mesmo e ninguém sabe bem o que se lá passou e para que serviu o jogo treino). Quando voltar a ver volto a dizer o que vi.

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  4. Caro Rui,

    Esta tua pergunta "Como é que se espera atrair jovens jogadores para os juvenis, juniores e Equipa B se nenhum deles tem qualquer expetativa de jogar na equipa principal ou de valorização, estando condenados ao degredo numa qualquer equipa de terceira linha?" é muito interessante e merece uma reflexão, porque a razão porque os pais, hoje em dia, põe os miúdos numa equipa, não é pela cor das camisolas, mas pelas expectativas que têm face ao seu futuro.

    Efectivamente, nos últimos anos deixámos de criar esse imaginário de que pelo Sporting se ia mais longe e se tinha uma maior visibilidade. Não só porque nós mudamos de projeto, mas também porque os outros mudaram de estratégia. E especialmente porque os valores dos pais e dos miúdos são outros. Bruma, Gelson & companhia são bem ilustrativos.

    SL

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    1. Caro Sérgio,

      Uma das dúvidas que tenho é se se deve apostar na formação exatamente pelas razões que apontas. Agora temos apostado ou, pelo menos, temos equipas que nunca mais acabam e continuamos a dizer que somos os maiores. Se é assim, tem de se rentabilizar a formação. Contrata-se pouco e bem e aproveita-se a formação para suprir a necessidade de quantidade nem que seja de pernetas. No final, pode ser que algum deles ainda se torne craque e se ganhe algum com isso.

      Se é para ter o Jorge Jesus ou outro igual, então vale mais ser-se claro e acabar-se com a formação. Não faz sentido é contratar treinadores destes e continuar-se a gastar dinheiro e a falar da formação e de delírios similares.

      SL

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