domingo, 23 de abril de 2017

Fuga para o empate

O pior já passou. Entramos em campo com um plano muito simples: a estratégia seria carregar heroicamente sobre as hordas adversárias, atravessando um Rio Grande de dificuldades, adversidades e outras coisas terminadas em ades, tentando não ceder à falta de sorte dos deuses, à má sina, e a uma ou outra miopia do senhor do apito, bradando-se, no final, pela utilização das novas tecnologias tipo vídeo árbitro e por aí fora.

O problema foi que o adversário numa desconcentração infantil (pensando que o Slimani já por ali não andava) acabou por sofrer um golo logo no início, por intervenção do Dost que andou a ver vídeos do Argelino. A partir daí surgiu um dilema: o que fazer com uma vantagem tão madrugadora? Seguir o guião da cavalgada heróica? Ter uma atitude pragmática de resguardo e apostar em contra golpes? O tu queres ver que ainda vamos ganhar isto?, atravessou aquelas cabecinhas enquanto o rival se reorganizava sem problemas de maior.

Uma primeira parte de cacetada e de futebol trauliteiro deve ter dado para os enviados especiais do mundo do futebol se entreterem observar as moças distribuídas pelas bancadas.  Desses primeiros 45 minutos recordo apenas as duas cervejas e os dois bolinhos de bacalhau que enfiei no bucho. Para a história nem um remate enquadrado com a baliza. De ambas as partes, entenda-se. Um bom jogo.

Na segunda parte as nossas pilhas duraram 15 minutos, mais coisa menos coisa, coincidindo a sua extrema-unção com o golo adversário. Alguns terão pensado que o guião da cavalgada heróica contra tudo e contra todos iria a voltar a animar as hostes, mas para animar qualquer coisa é preciso talento, ritmo e pernas. E isso não se faz por decreto.

Falta tanta coisa que nem sei como (re)começar. Uma defesa eternamente remendada, com uns laterais bons para variadíssimas modalidades, nas quais o futebol, infelizmente, não se inclui. Um segundo avançado que é sempre o segundo… a chegar à bola. O Alan Ruiz é craque mas daqueles para brilhar no Belenenses ou no saudoso Estrela da Amadora. O rapaz anda por ali perdido, nem sequer é uma questão de intensidade, mas mesmo de jeito para o futebol de alta competição. É claro que substituí-lo pelo outro Ruiz, este ano, não muda nada. O outro Ruiz é o jogador mais triste do mundo, retirando esse título ao nosso querido Montero, e sofre de uma doença bipolar que se manifesta ao ano. Um ano joga bem, depois deprime, o ano seguinte não sabe em que rua se encontra o seu futebol. Não temos mais avançados, nem segundos, nem primeiros para substituir o Dost se necessário for. Temos que ir à luta com o chuta(va) chuta(va), e quando um jogador como o Podence entra até parece o Cristiano Ronaldo, comparado com alguns dos seus colegas.

Salvam-se o capitão Adrien, um mouro de trabalho, o Gelson e o Dost. O William fica ali entretido no meio­-termo, entre a falsa lentidão, e a falsa rapidez. O mais curioso é que, do outro lado, O Tondela, essa grande equipa, lá se foi aguentando estoicamente, dando até a impressão de que podia ganhar um jogo sem interferência divina.

Podia ter corrido pior, e se assim fosse, podíamos ter sido uns heróis a correr atrás do prejuízo. O que vale é que o JJ viu bem a coisa. As melhores oportunidades foram nossas.

18 comentários:

  1. Que crónica tão gira. Pena se ter esquecido do essencial: o tributo de Artur Soares Dias. Acho que 3 penalties flagrantes que ficaram por marcar contra o clube cujo vice foi apanhado a depositar dinheiro na conta de um arbitro justificava essa honrosa menção. Afinal andaram meses e meses a falar de dois supostos penalties na Luz...

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    1. Nem quando ganham conseguem ter um minimo de classe.
      Impressionante

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    2. Não se aproveita nada mesmo...pobres de espírito.

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    3. Aqui não temos cartilha que nos valha...sai tudo de forma insustentavelmente leve...

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    4. Olha "cromo" Markovic: Quanto ao Artur Soares Dias e às alegadas, pelo universo benfiquista, Grandes penalidades não assinaladas recordo-te: A favor do Benfica ficou uma grande penalidade por assinalar (Bruno César carrega e desequilibra Lindelof que está no ar para cabecear). Os outros lances que os facciosos reclamam incluindo alguns da "imprensa especializada" como passíveis de grande penalidade são:
      1º - Uma quase grande penalidade por entrada imprudente com contacto de Schelotto, insuficiente para derrubar Grimaldo, que só se deixou cair (e o árbitro viu isso) depois de perceber que já não chegaria à bola.
      2º - Um lance de ombro a ombro de William e Rafa, disputa perfeitamente normal não fosse o ombro de Rafa estar ao nível do antebraço de William (culpa de quem?) com Rafa tentando ainda desviar a bola, a projectar-se em "carrinho"para a frente. Aliás exactamente igual, por não ser falta, ocorreu quando no último quarto de hora, Brian Ruiz teve à entrada da área do Benfica uma recepção orientada com o peito tentando esgueirar-se para a área sendo impedido de finalizar pela carga de ombro de Luisão, tendo ainda Ruiz projectado o pé esquerdo para a frente tentando desviar a bola de Ederson. Tal como Rafa fizera relativamente a Patrício.

      Agora o cromo Markovic não viu:
      1º - a falta inexistente sobre Sálvio (Allan Ruiz corta a bola com o pé esquerdo antes do contacto) que permite ao Benfica marcar o seu golo.
      2º - A não exibição a Ederson de nenhum cartão na sequência da G.P. que cometeu (amarelo por imprudência, ou vermelho por anular uma prometedora jogada de golo eminente).
      3º - Uma falta perigosa a 1 metro da área do Benfica, em posição frontal, por derrube a Adrian, que ficou por marcar e o respectivo cartão por mostrar.
      4º - O atropelamento e derrube claro de Nelson Semedo a Podence, que lhe ganhara a frente e flectia perigosamente em velocidade para a área, que ficou por marcar e o respectivo cartão por mostrar.
      4º - Dualidade de critérios relativamente a faltas com graves prejuízos para o Sporting sobretudo no último quarto de hora, à semelhança dos árbitros que trazem uma "agenda".

      Sabe Markovic, ou lá que merda é você, antes de mais, não podemos sofrer de cegueira facciosa, tal como a maioria da "imprensa especializada" "vermelha", que pretende sobretudo lavar e branquear o que se passou na 1ª volta na Luz.

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  2. O "O tu queres ver que ainda vamos ganhar isto?" é mesmo o principal problema desta equipa. De tanto que correu mal ao longo da época, com todos os jogos importantes a correram mal e terminarem 1-2, parece que já tudo desconfia da própria sombra. Mesmo quando a coisa de repente corre bem a desconfiança não vai embora. Oh Junho, chega depressa e limpa aquelas cabecinhas bem limpinhas no Verão.

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    1. Meu Caro,

      Não sei se o Verão será de céu limpo. Mas ainda faltam alguns jogos para honrar a camisola.

      SL

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  3. ...o melhor da jornada é sempre aqui....e o Rui Monteiro? confesso que tenho saudades das suas crónicas... apesar de o Gabriel Pedro estar a grande nível..
    Abraço

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    1. Meu Caro,

      Obrigado. Aqui a equipa também precisa de alguma rotação. A época é longa...

      SL

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  4. Caro Gabriel,

    Concordo com a sua análise. Há algum tempo que não víamos um Benfica a jogar tanto em Alvalade. Nós conseguimos passar uma boa parte do jogo a suspirar pelo Marvin e a outra a depositar esperanças em Brian Ruiz e Podence. Acho que isto diz tudo.

    Sem golos do Dost e com golos do Messi acho que estão reunidas as condições para a rapaziada começar a ir de férias. Nota-se que precisam, coitados.

    SL

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    1. Caro João,

      O jogo foi demasiado fraco até para efabulações. Acho que nos aguarda mais um defeso de um trimestre, com consequências absolutamente imprevisíveis. Diz que é o mercado.

      Mas lá que precisamos de férias disto tudo, lá isso precisamos...

      SL

      SL

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    2. Depositar esperanças em Bryan Ruiz é o mesmo que esperar outro milagre em Fátima, e além do mais joão apesar de o Benfica não ter tido nenhuma oportunidade de marcar, nem de rematar, pelo menos foi mais sólido e colectivo do que no ano passado em que ganhou na única vez que lá chegou...

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    3. Meu Caro,

      Para terminar esta época, só nos restam as visões místicas... os milagres estão além das nossas possibilidades...

      SL

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  5. Excelente ilustração do ultimo derby. Obrigado Gabriel Pedro, sempre que posso por aqui para colocar a leitura em dia, os teus textos e os do Rui Monteiro são sempre de leitura obrigatória. Obrigado aos dois.

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  6. Sabe o que faz falta, caro Gabriel?

    O grande Teo, a qualquer momento viria uma bola cheia de efeitos made in ezekiel schelotto e eles transformaria em golo, com os inevitáveis três ressaltos e um avé Maria pelo meio.

    Falta essa parte vá, da cagada, que tivemos em alguns momentos da época passada.

    E esse je ne sais quoi genético-místico -paranormal só mesmo alguns têm.

    Um abraço

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    1. Meu Caro,

      Confesso que dou por mim, em determinados momentos, a ter saudades do Teo. A sua imprevisibilidade temperava o jogo de outra forma. Mas não deixa de ser sintomático da nossa decadência ter saudades do Teo. Não?

      SL

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    2. Somos adeptos de um clube que nada ganha há mais de uma dezena de anos.

      Há algo mais charmosamente decadente que isto?

      Venha o Teo, um símbolo do nosso amor perversamente perfeito.

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