A alma
humana é porca como um ânus
E a Vantagem
dos caralhos pesa em muitas imaginações.
Meu coração
desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola
Redonda foi vendida a peso,
E a
biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata
da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.
Está frio.
Ponho sobre
os ombros o capote que me lembra um xaile —
O xaile que
minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os
ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
E o meu
coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.
Sim, está
frio...
Está frio em
tudo que sou, está frio...
Minhas
próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que
eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.
Engelho o
capote à minha volta...
O Universo
da gente... a gente... as pessoas todas!...
A
multiplicidade da humanidade misturada
Sim, aquilo
a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...
Sim, a
vida...
Meus ombros
descaem tanto que o capote resvala...
Querem
comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.
Ah, parte a
cara à vida!
Levanta-te
com estrondo no sossego de ti!
s.d.
Álvaro de
Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução,
transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 159.
(http://arquivopessoa.net/textos/1032)
Faltaram algumas palavras para que o poema tivesse "aceitação", digamos... popular e maior numero de comentários. Nomeadamente a palavra "nádegas" e a palavra "trampa"...
ResponderEliminarSL
Saudações Virgílio
ResponderEliminarAs mentes ilustradas e abertas, como as que aqui circulam, dispensam palavras e explicações. Um ânus é um ânus!
Abraço