Os jogos da seleção correram mal antes de começar. Não falo da convocatória. As equipas adversárias condicionaram sempre o nosso jogo sem que, em contrapartida, tivéssemos condicionado o deles. Condicionados pelo jogo dos adversários e sem condicionar o deles, as lesões e as substituições precoces ainda nos condicionaram mais.
Os EUA jogaram com rapidez pelas laterais. Tivemos que adaptar o jogo da equipa para evitar essas saídas rápidas dos laterais. Aparentemente não estávamos preparados para contrariar este ponto forte. Os EUA, por outro lado, aproveitaram sempre esse ponto fraco do lado esquerdo da defesa, decorrente de jogarmos em 4x3x3 sem que ninguém no ataque descaísse para aquele lado quando perdíamos a bola. A meio da primeira parte estávamos a jogar em 4x4x2.
Para condicionar o jogo do adversário, então, devíamos ter jogado com dois extremos rápidos que dificultassem as saídas dos laterias (o Varela ou o Vieirinha deviam ter sido opções de início). Sendo assim, o Cristiano Ronaldo tinha que jogar no meio, como, aliás, jogou. Porventura, devíamos ter jogado em 4x4x2 como acabámos a jogar. O problema é que a jogar em 4x4x2 o trio maravilha do meio-campo de Paulo Bento (Veloso, Meireles e Moutinho) não pode jogar. Um, pelo menos, tinha que ir à vida.
A diferença entre o William Carvalho e o Miguel Veloso é bem evidente. Pela presença física, pelo posicionamento, pela capacidade de marcação, pela capacidade de passar a bola de primeira sem rodriguinhos desnecessários e que só encravam o jogo. Mas não chega, como se viu. Quando temos a bola, quer o Moutinho, quer o Meireles ou encontram-se na mesma linha do Carvalho ou recuam para junto dele para receberem a bola no pé. Espaço entre linhas, como se costuma dizer no futebolês nacional, não há.
O primeiro golo dos EUA, com o Rui Patrício, tinha sido um frango. Com o Beto, foi um remate indefensável. Esse golo é um hino à nossa falta de concentração. O Nani é displicente a cortar a bola. Reage tarde e só toca ligeiramente na bola. Depois é ultrapassado infantilmente pelo adversário, que faz um arranque a diesel. O remate sai forte e colocado, mas sem balanço e de muito longe. O Beto tinha dado dois passos atrás, pouco antes do remate. Está mal colocado junto da linha de baliza. Fia-se no golpe de vista, por (má) convicção ou por falta de reação atempada.
O segundo golo foi uma repetição das inúmeras jogadas pelo lado direito do ataque dos EUA. O Veloso marca o jogador adversário com os olhos. O Bruno Alves, como em todas essas jogadas, nunca se deslocou para fechar esse lado. Correu para trás, mas mantendo sempre a posição relativa face ao adversário. Em desespero toca na bola. Demora três quartos de hora a levantar-se. Deixa o avançado em jogo que marca com a barriga. É uma alegoria para uma equipa que foi para o Brasil com o Rei na barriga e pensou que isso bastava. O Rei estava menos Rei do que o costume e, por isso, sobrou barriga para tão pouco Rei.
(Não vou brincar com o André Almeida. O rapaz fez o que pôde. Aos vinte minutos estava lesionado. A culpa não é dele nem dos restantes jogadores. A culpa é de quem convocou jogadores lesionados ou em riscos de lesão, que os treinou mal e que nunca soube organizá-los e contrariar os adversários).