Voltámos a jogar contra o Arouca, anos e anos após o nosso Presidente da altura ter sido acusado de cuspir no seu Presidente, quando apenas expeliu uma baforada que nem de fumo foi mas de vapor de água, dando origem a uma das discussões públicas mais profícuas sobre um tema que nos interessa a todos, independentemente da clubite ou sequer da longitude ou da latitude, o da transição climática ou da descarbonização. Embora sem despertar o mesmo interesse do ponto de vista da nossa organização social e da nossa vida em sociedade, também houve uma época em que o Lito Vidigal, treinador do Arouca, entrou em campo para empurrar um central do Sporting, gerando um chinfrim e um salsifré danados. Sem as baforadas de fumo ou de vapor de água ou as entradas dos seus treinadores em campo para arrear nos jogadores adversários, o Arouca é o Arouca e os jogos contra o Arouca são os jogos contra o Arouca [não confundir os jogos contra o Arouca com os jogos contra o Portimonense e, muito menos, destes com os jogos contra o Barcelona do Koeman].
Sem estes acontecimentos e os correspondentes penduricalhos narrativos, não se pede a ninguém para escrever uma crónica de um jogo como este, um jogo a que os brasileiros costumam designar de futebol de várzea [o equivalente à nossa Liga dos Último, programa televisivo de boa-memória]. O Rúben Amorim procurou explicar-nos o sentido, a razão para assistir ao que se assistimos, sem dar parte de fracos e admitir que a equipa não aguentava um gato pelo rabo. Não, os centrais estavam de boa saúde, ele é que teve a ideia [genial] de jogar com dois laterais no lugar de dois centrais para alterar a dinâmica da equipa, para que os laterais feitos centrais corressem atrás dos felinos atacantes do Arouca [viu-se essa capacidade do Esgaio no golo do Arouca]. Acabámos por jogar com um central e quatro laterais, dois à direita e dois à esquerda. É bizarro? Não, com esta simetria longitudinal, não. Seria de jogássemos com quatro de um lado e nenhum do outro ou três de um lado e um do outro.
Enquanto o Vinagre continuar no psiquiatra, há necessidade de meter o Nuno Santos a lateral esquerdo [ou muito me engano ou já não sai de lá] e de rearranjar o meio-campo e o ataque. O Matheus Nunes foi para o ataque, para o lugar que costuma ocupar o Nuno Santos, e entrou o Daniel Bragança para o meio campo, para o lugar do Matheus Nunes. Com quatro esquerdinos a atacar – Nuno Santos, Bragança, Sarabia e Paulinho –, parecíamos a equipa de futsal do Nuno Dias. Cerca dos quinze minutos, estes esquerdinos fizeram das suas [das deles, salvo seja] e o Matheus Nunes fez o primeiro golo. Esperava-se o segundo para acabar com o jogo [há quem diga que só depois do terceiro é que se pode descansar] mas o Sarabia é um pouco como o Paulinho: está sempre a um bocadinho pequenininho de marcar golo, sendo certo que a responsabilidade de um extremo não é a mesma da de um avançado-centro ou ponta-de-lança.
Na segunda parte, nem entrámos mal no jogo, mas um canto a nosso favor originou uma correria como se não houvesse amanhã de um avançado do Arouca, concluída com um centro para o cabeceamento de um avançado e grande defesa do Ádan, mas, azar dos azares, a bola sobra para outro jogador do Arouca que remata à meia-volta e faz o empate [nunca tive problemas em ir a um dentista brasileiro ou a um médico espanhol no centro de saúde, mas estava longe de imaginar que a escassez de avançados levasse o Arouca a contratar um palestiniano]. As coisas estavam a ficar feias, muito feias, mas no futebol de várzea é sempre o gordo que vai à baliza e vai à baliza não por ser guarda-redes mas por ser gordo e jogar ainda pior noutra posição onde se tenha de mexer mais. Percebendo isso, os nossos esquerdinos fizeram as reviengas do costume e o Nuno Santos enfiou um remate de fora da área fazendo com que a bola tabelasse no gordo, perdão, no guarda-redes e acabasse dentro da baliza.
O Arouca queria mas não podia e nós nem queríamos nem podíamos. O Rúben Amorim ainda tentou refrescar o ataque mas o Jovane Cabral, o Tiago Tomás e o Tábata não fizeram uma jogada de jeito para amostra, tendo que entrar o Ugarte para segurar o meio-campo e evitar males maiores [como disse, não tenho problemas de nacionalidades, estranho um palestiniano, para logo entranhar um uruguaio]. Ganhámos e somámos mais três pontos, naquela lógica do jogo a jogo. O Paulo Sérgio não foi de modas e acertou com um pinheiro no Jesus [não confundir com o Pinheiro, que esse arbitrou o nosso jogo] e estamos em segundo lugar a um ponto do primeiro.