quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Todo o mundo é composto de mudança

Todo o mundo é composto de mudança, lá dizia o poeta, mas há pessoas e instituições cujas vontades não mudam com os tempos e as suas mudanças. Na Liga dos Campeões insiste-se em obrigar as equipas a jogar para receber o graveto, os carcanhóis. É uma canseira inútil, uma infelicidade desnecessária, que nada muda, nem as moscas. Não obrigar as equipas a jogar seria uma belíssima ideia, uma ideia própria do seu tempo, um tempo em que o real e o virtual se completam, se encaixam tão perfeitamente que é como se passassem a ser um e um só. Também não seria má ideia [digo eu] jogar estes jogos com arbitragem. O resultado não mudaria mas os jogos poderiam ser mais giros. Há países e campeonatos que têm a mania de recorrer a essa função [arbitragem] e a essas pessoas [árbitros]. Recorrer a umas pessoas disfarçadas não é a mesma coisa. Percebe-se a ideia [lá está, a ideia, mais uma ideia feita], de reproduzir a cadeia alimentar: os mais grandinhos ganham aos mais pequenotes até engordarem o suficiente e virem os tubarões engoli-los. 

Estes prolegómenos têm um propósito, uma ideia [lá está, mais uma], funcionam como um introito para breve dissertação sobre a participação do Sporting na Liga dos Campeões. Há dias, antes ou depois do jogo contra o Dínamo de Kiev, não sei bem, Jorge Jesus afirmou, categórico: “É importante ganhar, mas também é importante não perder”. É a condição necessária e (não) suficiente às avessas, de pernas para o ar [quem não se lembra que numa função não basta a primeira derivada ser nula para o ponto se constituir como um máximo?]. O Ruben Amorim ignorou esta coisa de que é preciso assegurar a condição necessária primeiro para se conseguir a condição necessária e suficiente no final. Para se ganhar é necessário não perder, embora não perdendo também se possa não ganhar. 

No jogo contra o Ajax foi evidente que se queria ganhar sem se compreender que era preciso não perder em primeiro lugar. A lição foi imediatamente aprendida e os jogos do campeonato caseiro contra o Estoril e o Marítimo foram o sangue, suor e lágrimas da época passada. Ontem, contra o Borussia de Dortmund, o conhecimento estava consolidado. Não ganhámos, não empatámos, perdemos, perdemos com dignidade. Não pretendemos ganhar sem primeiro procurar não perder. Procurar não perder não implica que não se perca, de todo. Procurar não perder não evita a derrota, evita a humilhação, sendo que o graveto, os carcanhóis não mudam. É assim que nos devemos comportar até ao final deste calvário ou até que as ideias mudem, se encontrem com a contemporaneidade que nos foi dada viver. Um dia, que não estará longe, receberemos sem jogar e nessa altura, sim, a participação na Liga dos Campeões terá valido a pena, plenamente. Até lá, jogo a jogo no campeonato e mais nada.

[Há uns meses que não dava ao gatilho. Estava um bocado perro, ao princípio. A coisa foi melhorando palavra a palavra até ficar tudo assim-assim, no final. Não sei se valeu a pena, independentemente do tamanho da alma. Acho que perdi o jeito] 

18 comentários:

  1. Para o caríssimo Rui Monteiro, escrever "obras destas" será sempre como andar de bicicleta. Obrigado. SL

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  2. Olá Rui Monteiro
    Até que enfim. Já tinha saudades das suas prosas.
    Um abração.

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  3. Bem-haja Rui pelo regresso. Ainda não perdeu a "pontaria" SL

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  4. Lá vamos nós ter a encomenda do costume quando vimos de um jogo da europeu.
    Nomearam para o jogo do Arouca/Sporting o Rui Costa e para agravar o fiscal de linha Nuno Manso, que tem pendente um processo crime por agressão a uma adepta do Sporting em Braga.
    Se isto não é perseguição do sistema, o que é?
    O Sporting tem de denunciar esta situação.
    Um abraço.

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  5. Caro Rui Monteiro,
    Sinceramente começo a ter pouca paciência para os montes de treinadores do Sporting que deambulam pelas redes. Ao menos os seus textos trazem uma lufada de ar fresco, uma ironia sábia um olhar macro. Faça favor de continuar...Se a nossa avançada estivesse tão "perra" como você já teríamos metido uma boa dúzia lá dentro... Mas vamos ... jogo a jogo...
    S. Carvalho
    Sol Carvalho

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    1. Caro Sol Carvalho,
      Depois da época passada e do que vai acontecendo nesta, para mim, o Ruben Amorim passava a ter contrato vitalício. O que interessa é o campeonato, jogo a jogo.
      SL

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  6. Caro Rui, bem-vindo de volta!
    Já tínhamos vontade das suas prosas, mas deixo aqui também uma palavra ao Gabriel Pedro, o qual faz uma muito boa dupla consigo... tivéssemos nós uma dupla assim no ataque!

    A participação do Sporting na liga dos campeões ou liga europa, é apenas mais uma ocasião de ver jogar o Sporting... no entanto, acho que a abordagem deveria ser completamente diferente, estes jogos deviam ser abordados como jogos de treino, com adversários fortes e esquecer o resultado... porque o resultado esses não se esquece de nós, seja qual for a abordagem.

    Jogo a jogo e o resto é conversa.

    Abraço,
    Sérgio

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    1. Obrigado Sérgio.
      O Gabriel Pedro é um verdadeiro Slimani desta coisa do comentário futeboleiro. Vai para a abaliza e deixa-se de coisa. Eu sou mais um Paulinho na sua inútil função de pivô ofensivo.

      SL

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  7. Respostas
    1. Obrigado eu. Os seus apelos em várias caixas de comentário foram um grande estímulo para voltar a escrever estas coisas.
      SL

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