Todo o mundo é composto de mudança, lá dizia o poeta, mas há pessoas e instituições cujas vontades não mudam com os tempos e as suas mudanças. Na Liga dos Campeões insiste-se em obrigar as equipas a jogar para receber o graveto, os carcanhóis. É uma canseira inútil, uma infelicidade desnecessária, que nada muda, nem as moscas. Não obrigar as equipas a jogar seria uma belíssima ideia, uma ideia própria do seu tempo, um tempo em que o real e o virtual se completam, se encaixam tão perfeitamente que é como se passassem a ser um e um só. Também não seria má ideia [digo eu] jogar estes jogos com arbitragem. O resultado não mudaria mas os jogos poderiam ser mais giros. Há países e campeonatos que têm a mania de recorrer a essa função [arbitragem] e a essas pessoas [árbitros]. Recorrer a umas pessoas disfarçadas não é a mesma coisa. Percebe-se a ideia [lá está, a ideia, mais uma ideia feita], de reproduzir a cadeia alimentar: os mais grandinhos ganham aos mais pequenotes até engordarem o suficiente e virem os tubarões engoli-los.
Estes prolegómenos têm um propósito, uma ideia [lá está, mais uma], funcionam como um introito para breve dissertação sobre a participação do Sporting na Liga dos Campeões. Há dias, antes ou depois do jogo contra o Dínamo de Kiev, não sei bem, Jorge Jesus afirmou, categórico: “É importante ganhar, mas também é importante não perder”. É a condição necessária e (não) suficiente às avessas, de pernas para o ar [quem não se lembra que numa função não basta a primeira derivada ser nula para o ponto se constituir como um máximo?]. O Ruben Amorim ignorou esta coisa de que é preciso assegurar a condição necessária primeiro para se conseguir a condição necessária e suficiente no final. Para se ganhar é necessário não perder, embora não perdendo também se possa não ganhar.
No jogo contra o Ajax foi evidente que se queria ganhar sem se compreender que era preciso não perder em primeiro lugar. A lição foi imediatamente aprendida e os jogos do campeonato caseiro contra o Estoril e o Marítimo foram o sangue, suor e lágrimas da época passada. Ontem, contra o Borussia de Dortmund, o conhecimento estava consolidado. Não ganhámos, não empatámos, perdemos, perdemos com dignidade. Não pretendemos ganhar sem primeiro procurar não perder. Procurar não perder não implica que não se perca, de todo. Procurar não perder não evita a derrota, evita a humilhação, sendo que o graveto, os carcanhóis não mudam. É assim que nos devemos comportar até ao final deste calvário ou até que as ideias mudem, se encontrem com a contemporaneidade que nos foi dada viver. Um dia, que não estará longe, receberemos sem jogar e nessa altura, sim, a participação na Liga dos Campeões terá valido a pena, plenamente. Até lá, jogo a jogo no campeonato e mais nada.
[Há uns meses que não dava ao gatilho. Estava um bocado perro, ao princípio. A coisa foi melhorando palavra a palavra até ficar tudo assim-assim, no final. Não sei se valeu a pena, independentemente do tamanho da alma. Acho que perdi o jeito]