segunda-feira, 13 de maio de 2019

Distopias da futebolândia nacional

No sábado, era dia de festa. Despedíamo-nos de Alvalade esta época, depois de manipulações várias, beneficiando o Benfica e prejudicando o Porto pelo caminho, com o tão desejado título Abel&Salvador: o terceiro lugar. Os fins sempre justificaram os meios. Ano após ano, não sendo possível ganhar o campeonato nacional, queremos ser os melhores da Europa, seguindo o exemplo do Liverpool e do Tottenham. Um dia longínquo, seremos os melhores da Europa e de Portugal também. Uma coisa de cada vez, por ordem crescente de importância relativa. O Bruno Fernandes pretende seguir o caminho inverso, procurando ser campeão nacional antes de ser campeão europeu. Gostos ou falta de gosto, melhor dizendo. 

Como nos tinha avisado o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as equipas que jogassem no Vale do Tejo iriam sofrer as consequências de anticiclone das Ilhas Britânicas. As altas pressões atmosféricas trazem massas de ar quente e, estas, alucinações. Assim, ao lado da equipa do Tondela e do árbitro, entrou em campo a equipa do Setúbal, embora os jogadores fossem os do Sporting. Nada contra o Setúbal nem os jogos do Setúbal, mas se é para ver jogar o Setúbal contra o Tondela o melhor é o jogo realizar-se no Bonfim e com os jogadores do Setúbal. 

Os comentadores da SporTv ou não perceberam ou fizeram-se desentendidos e continuaram a ver jogar o Sporting. Viram a agressão do Ristovski, o protesto do Bas Dost, o fiscal de linha a demorar a marcar fora-de-jogo a um jogador do Sporting. Não viram foi jogar o Tondela ou confundiram os seus jogadores com os do Liverpool e o seu treinador com o Jürgen Klopp quando afirmaram que se trata de uma equipa com muito critério na saída para o contra-ataque ou que impediam o adversário de ter tempo de posse de bola como habitualmente. Não viram que as imagens não permitiam que se visse de forma clara e evidente razões para a expulsão do Ristovsky, não viram a ridícula simulação de falta que levou ao protesto do Bas Dost, não viram uma joelhada na cabeça do Bruno Fernandes, não viram nova falta do mesmo jogador sobre o Acuña para segundo amarelo, não viram as sucessivas entradas por trás (ou interpretaram-nas como brilhantes manobras táticas para impedir que os jogadores do Sporting se virassem). Viram o Sporting, não viram o Tondela, viram o que o árbitro viu e não se via e não viram o que o árbitro não viu e se via. Podia tratar-se de um espetáculo da “World Wrestling Entertainment” (WWE), mas não. Tudo parece obedecer à necessidade de uma narrativa oficial que permita, no fim, afirmar-se que a bola é redonda, embora se tenha recorrido à tática do quadrado para a fazer rebolar da forma mais conveniente possível. 

Quando a equipa do Tondela empatou, os comentários de dois benfiquistas que estavam no café constituíram uma epifania. Enquanto um rejubilava o outro dizia-lhe: “Ainda vamos arranjar maneira de fazer descer o Chaves!”. Afinal talvez não estivesse a ver jogar o Setúbal e o jogo mais não fosse do que a primeira mão da liguilha que se disputa entre o Tondela e o Chaves e cujo desfecho se encontra aprazado para a próxima jornada. Finalmente também compreendi o comunicado do Braga após o jogo contra o Benfica, culpando o Sporting e o mesmíssimo árbitro pelas faltas não assinaladas do Ruben Dias, do João Félix e do Florentino: os jogadores eram do Benfica mas a equipa era a do Sporting, como no sábado era a do Chaves ou a do Setúbal, vá-se lá saber. 

O “El País” deste sábado publicou uma reportagem sobre as sucessivas taxas naturais negativas dos portugueses nos últimos dez anos e a tendência de agravamento decorrente do envelhecimento da população. O título não podia ser mais sugestivo: “Os portugueses se extinguirão este século?”. É um título que dá que pensar, sobretudo aos sportinguistas. Será que ainda vamos a tempo de ganhar por mais uma vez que seja o campeonato nacional?

7 comentários:

  1. Começando pelo fim o "El País" não conhece a realidade portuguesa, aliás duvido até que saiba quantas amantes teve EL Rei Juan Carlos.Estamos a crescer, somos um país multicultural,com um primeiro ministro com origens indianas e presididos por um Homem dos 5 continentes.

    No futebol, estive em Viseu este fim de semana, apostei com amigos de Tondela(Tondela das raparigas bonitas da minha adolescência), pois apostei que o Chaves vai ganhar e o Tondela vai de Mota.

    João Balaia

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    1. Xiiii onde vai esse orgulho patriótico... Que Deus o ajude meu caro...

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    2. Caro João Balaia,

      O declínio demográfico, o envelhecimento populacional e o despovoamento são muito mais graves em certas regiões do que em Portugal. É um problema global da Europa e, em particular, dos países meridionais.

      Não me diga que somos conterrâneos?! Nasci e vivi até aos 18 anos em Viseu. Ia com frequência a alguns dos concelhos limítrofes como Tondela, Mangualde, nelas, etc. Havia discotecas e raparigas engraçadas, de facto. A rivalidade com o meu Académico de Viseu não era muita. Ainda convivemos na 3º divisão ou assim. Havia alguma rivalidade, pouca, com o Mangualde e Viseu e Benfica.

      Abraço,

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  2. Infelizmente, em Portugal os craques, que não vão a europeus ou mundiais, são os árbitros, pois é deles que se fala, semana após semana. Pobre futebol e desporto este, quando os protagonistas são estes. Provavelmente, a próxima colecção de cromos, já incluirá os árbitros. Sobre a sua derradeira pergunta, respondo com trecho da canção: "...Porque a nossa força é brutal! " Conseguiremos!!!
    J.Oliveira, SL

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    1. Caro J. Oliveira,

      Com efeito, o Bruno Paixão e agora o Hugo Miguel tiveram um papel mais relevante no ataque do Benfica do que o Seferovic e o João Félix juntos. Havemos de conseguir e se não conseguirmos, conseguimos no futsal, no hóquei, no andebol, no atletismo, no voleibol e por aí fora.

      SL

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  3. Caro Rui,

    Apareci pouco por aqui esta época, mas ainda não estou extinto. Sábado foi apenas mais um jogo à Sporting: tínhamos tudo para ganhar, mas lá nos perdemos num ou outro detalhe, seja de culpa própria, seja alheia.

    Quanto a Salvador & Abel não sei o que dirão da exibição de Tiago Martins. Desconfio que estão despontados por ter expulso o Ristiovski sem antes lhe aplicar uma cabeçada para ficar com um galo na testa. Nesse aspeto Helder Malheiro teve muito mais estilo. Mas acho que Salvador & Abel estarão mesmo revoltados é com Hugo Miguel. A explicação mais óbvia para o escandaloso roubo de Vila do Conde será mesmo a vontade dos árbitros em deitar abaixo a moral do Porto, antes de uma dupla jornada com o Sporting...

    SL

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    1. Caro João,

      Tem toda a razão. Espero que o Porto faça o respetivo comunicado a explicar que existe uma cabala para beneficiar o Sporting e para, assim, levarmos a Taça de Portugal. É uma coisa óbvia que está à frente do nariz de todos e só não vê quem não quer ver.

      SL

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