Anda por aí um cartaz de um partido político em cujo slogan
se pode ler mais ou menos isto: eles
falam, nós fazemos. A frase de tão gasta apenas nos chama a atenção porque
na imagem aparece o candidato a falar para apoiantes, ou seja lá quem for, não
interessa. A falar, vejam bem. A frase não bate com a imagem mesmo que nos
esforcemos por dar de barato que os cartazes não têm som e que deve ser muito
difícil (acham?) pôr alguém a agir num cartaz. Não bate com a perdigota mas casa
bem com propósitos previstos.
Recentemente, um jornal desportivo, em dia de jogo europeu
(quartos de final da liga dos campeões) entre o Porto e o Liverpool, trazia uma
capa cujo grande (e único) destaque era um jogador do Sporting de nome Wendel.
E qual era o grande feito do Wendel, perguntam vocês? O grande (de)feito do
Wendel foi ter ido assistir (pelos vistos sem autorização) ao Juventus – Ajax em
Turim. Não está a causa a falta do rapaz, devidamente assinalada
pela direção leonina, duas voltas ao ginásio, um jogo de fora e alguns contos
de reis. Aqui interessa-nos o destaque dado de forma completamente inusitada a
este episódio. Não se trata apenas de desvalorizar (totalmente) o jogo europeu do
Porto, mas de continuar a sevar a agenda mediática de casos envolvendo o
Sporting. Esta capa nada tem que ver com o futebol, com o falar de futebol, nem
sequer se enquadra na agenda do dia futebolístico, apenas serve o propósito de continuar
a queimar em lume brando a vida interna do Sporting. Como se isso fosse
necessário, dir-me-ão. Claro que é. Milhões estão em jogo nos próximos anos. Não
bate com a perdigota mas casa bem com propósitos previstos.
Este fim-de-semana o Braga perdeu mais uma vez (de goleada)
com o Benfica. Até aí tudo bem. Já pensaram na conversa do Braga este ano
relativamente ao campeonato? Entre sonhos e objetivos mais ou menos delineados ao
sabor do vento, nas entrelinhas lia-se: 3º lugar. E é isso que convém aos dois
do costume. Já aqui escrevi muito sobre a tentativa de bipolarização do futebol
português, milhões estão em jogo, e com os critérios da liga dos calmeirões
cada vez mais apertados, dois já é muito, três é demais.
No final do jogo, Abel não cabia em si de contente, por mais
uma derrota (justíssima) com um opositor com estofo (e jantes de liga leve) de
campeão. Nada a dizer da arbitragem, nada a dizer do resultado, lá como cá, uns
justíssimos dez a três como resultado global. Alguns viram nisto uma porta
aberta de saída do clube, outros (mais atentos aos cartazes publicitários), uma
chance para treinar a (outra) equipa B do Benfica, outros ainda notaram um
contraste entre as palavras do treinador e o comunicado emitido pela direcção
do clube, onde se critica (supostamente) arbitragem.
Não perceberam que as palavras não batem com a imagem
pretendida. Espremido (leiam bem o final) o comunicado é uma nota de pesar pelo
quarto lugar, e um ataque pouco disfarçado ao Sporting, o verdadeiro (e único) responsável
pelos pontos perdido pelo Braga, incluindo (imagina-se) as cabazadas sofridas de
forma justa com o Benfica. Por isso Salvador se senta ao lado de Vieira, que
nem sequer precisa de assistir ao jogo no balneário. Por isso Salvador se senta
ao lado de Pinto da Costa a saborear um bom bacalhau ali para os lados de
Adaúfe.