terça-feira, 14 de junho de 2016

O sono comanda a vida

Não aconteceu nada que não esperássemos. Empatámos com uma espécie de Haiti do Campeonato Europeu. Um conjunto de pescadores reuniu-se e constituiu uma equipa. A Selecção foi escolhida por catálogo sem se perceber a equipa que daí iria emergir, embrulhando-se este “pim-pam-pum” numa conversa manhosa sobre um hipotético 4x4x2 que melhor partido tiraria das qualidades dos nossos jogadores.

Não há nada como os consensos antes dos jogos. Definitivamente o Danilo era melhor, muito melhor do que o William Carvalho. Dizia-se que com ele não passava nada, que de cabeça era tudo dele. Não foi inútil. Foi pior. Foi contraproducente. O homem não é um trinco. O homem é um tronco. Parado à frente dos centrais, invariavelmente lhes cortava as linhas de passe para as laterais ou, em progressão, obrigava-os a contorná-lo.

Com o golo da Islândia, entrámos em modo de desespero. Como previa, o Plano B é o do entra o “Renato aí vai ele Sanches”. Esgotado esse efeito em pouco tempo, passou-se à fase do “é melhor meter o Quaresma, pode ser que saque uma trivela” (não percebo nada disto, mas bem me parecia que a decisão de o não substituir no jogo contra a Estónia ainda ia acabar mal, dado que o rapaz não vai para novo). Para se concluir, à boa maneira de um treinador português, mete-se um ponta-de-lança para se cumprir a táctica celebrada pelo Cajuda de “meter a carne toda no assador”. Mas é preciso meter a carne. Meter os ossos não chega.

O Fernando Santos é um António Gedeão às avessas. Com ele, o sono comanda a vida. Às vezes adormece-se o adversário para o apanhar a dormir. Outras vezes, adormecemo-nos e somos apanhados a dormir.

23 comentários:

  1. Excelente crónica! Pena já ter lido aqui que consideraste Danilo melhor que o William. No resto totalmente de acordo!

    Z

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    1. Meu caro,

      Nunca escrevi tal coisa. Não é pelo William Carvalho ser do Sporting. Compará-los é comparar o toucinho com a velocidade. Está à frente dos olhos. Só não vê que o William Carvalho é melhor quem insiste em não querer ver.

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  2. Meu caro Rui
    Revejo-me nas suas palavras.
    Acrescentaria qualquer coisita quanto ao nosso seleccionador uma vez que afinal é ele o cérebro de tudo isto, segundo dizem. Para o caracterizar só me ocorre o comentário que um velho monárquico de Braga proferiu num debate no “pós 25 de Abril” sobre a possibilidade de se instalar uma monarquia em Portugal. Questionado sobre quem seria o rei, dizia ele que isso era o que menos importava: «para rei qualquer caralho serve». Pelo que se tem vindo a ver nos últimos anos, para seleccionador também!
    Abraço republicano

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    1. Caro Trindade,

      Aliás, a República Portuguesa apoia a Selecção. Não têm faltado o PR e o PM.

      Um abraço

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  3. Então era ironia... "Cheguei ao Tribuna e estávamos a levar com uma bola ao poste e com o Patrício a agarrá-la depois da carambola que lhe sucedeu. Temi o pior. Nada disso aconteceu. O meio-campo pegou no jogo e não mais deixou os rapazes do Porto tocarem na chicha, mesmo sendo o Danilo muito melhor do que o William Carvalho, como hoje se verificou." Gosto muito do que escreves... mas se assim é às vezes ninguém te entende ;)

    Z

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    1. Meu caro,

      Essa foi completamente irónica. Só quem não viu a diferença nesse jogo. A diferença foi do dia para a noite. O William Carvalho foi a quilómetros superior ao Danilo.

      SL

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    2. Anonimo, ve-se a milhas que era ironia.
      Quanto ao jogo de ontem...pff...tudo dito. Que bocejo.

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  4. Ok és demasiado subitil :)

    Z

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  5. Rui,

    Foi o facto mais enervante do fernandinho nao tirar o quaresma nesse jogo. Mas percebe-se, estava tudo decidido ha muito tempo. O 11 seria sempre este mesmo que estivessem todos a morrer. Todos excepto o Rui Patrício ou o Joao Mario porque aí ao minimo sinal sairiam, como aconteceu neste jogo ao JM qdo finalmente estava a jogar alguma coisa.
    É básico, é estúpido e pequeno este fernandinho.
    PS: aquele por de mão na cabecinha qdo sofremos o golo foi genial. O medo, o horror ... o terror de sofrer o empate aos 50 e poucos minutos..
    Mas o que é isto?

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    1. Meu caro,

      A substituição do João Mário foi espantosa.

      O jogo não lhe correu muito bem na primeira parte. Aparentemente terá sido a primeira vez que jogo com o Raphael Guerreiro. Andaram os dois a aprender como jogar em conjunto durante o próprio jogo, como se faz numa peladinha com amigos.

      Quando tinham aprendido a jogar em conjunto, sendo o João Mário o único a colocar a bola no chão e a combinar com o lateral, criando lances de perigo, o FS resolve substituí-lo.

      Dantes o FS tinha o tique nervoso irritante de estar sempre a ajeitar a gola da camisa. Estava sempre à beira de uma ataque de nervos. Agora leva as mãos à cabeça. É uma evolução.

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    2. Rui,

      A peladinha começou logo de inicio, com o Ronaldo a fazer uns malabarismos. O JM e o Guerreiro é que ainda não têm estatuto e levaram aquilo a sério. Tão a sério que quando atinaram o fernandinho acabou-lhes com o futebol a sério e lançou 2 acrobatas para mais malabarismos ( Renato e Quaresma).
      Já dizia o outro, o futebol é uma arte plástica ( e lá entrou o Eder... )

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  6. falta dizer que o Ronaldo na selecção é apenas Cristiano e que talvez fosse melhor passar a ser jogador-treinador, abdicando de ser jogador....
    O Renato lá vai ele, é mesmo só isso... nos dias de hoje um jogador define-se pela rapidez com que leva a bola para a frente - não importa o resto - saudades do Krpan!

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    1. Meu caro,

      Sempre defendi o Ronaldo na Selecção, contrariamente ao que todos dele iam dizendo. Desta vez estou de acordo com a opinião dominante. Estava simplesmente nas tintas para o jogo. Aparentemente foi ao Europeu fazer um frete e bater mais uns recordes.

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  7. Fernando Santos é um homem de consensos. É o que dizem os experts. Treinou o FCP durante 3 épocas e foi campeão em 1, mesmo com Jardel, Baía, Zahovic, Drulovic, Capucho, J. Costa e Aloísio.
    Treinou o Sporting onde, creio, face ao plantel que tinha (Clayton, Tonito, Lourenço, Mário Sérgio, Silva e Santamaria como opções regulares), até fez um bom trabalho.
    No SLB, num período onde ainda não havia o Museu da Cerveja, foi despedido à 2ª jornada.
    Apesar deste registo, o mundo futebolístico tuga gostava dele.
    Foi para a Grécia onde não venceu nenhuma Liga, apesar de treinar o Panatinaikos. Foi para a Selecção grega e aprimorou o gosto pela "retranca" e "jogar pouco". Sucesso? Bem, dentro do exigível até teve, conseguindo qualificações milagrosas.

    Agora chega aqui e apresenta aquilo que sempre demonstrou: quase Zero relativamente a qualidade de jogo.

    É coerente (ao menos isso).
    Talvez para manter a mesma imagem de "homem de consensos", faz da selecção um grupo multicolor. Estão lá os "verdes" (J. Mário e Patrício), os "azuis" (Danilo) e um "vermelho" (Sanches) que, não duvidem, acabará o Euro a titular, adicionando, também, aqueles semi-deuses que já passaram da validade (Moutinho).

    Mas o futebol não vive de consensos. Vive de qualidade de jogo e dos seus intervenientes.
    Scolari, que era tão mau treinador como o Engenheiro, também começou com uma selecção "multicolor" (Ricardo e Rui Jorge de "verde", Paulo Ferreira e Maniche de "azul" e Simão de "vermelho"), para que todos puséssemos uma bandeira na janela/varanda. Depois, quando viu que os jogos se ganhavam de outra forma, optou pelo cinzento, e foi o que foi.

    Danilo, Vieirinha (Paulo Ferreira), André Gomes (Simão) e Moutinho (Rui Costa) foram perfeitas comédias.

    Tem a palavra o Eng. e todos os jornaleiros que, hoje, se vão afastar dele.

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    1. Cantinho,

      Permite-me discorda, acho que com um plantel com: Liedson, Polga, Rochemback, Sá Pinto, JV Pinto, Silva, Barbosa, os Bentos, Tello, Quiroga....e no entanto só conseguir ser 3º e, e isto diz muito de Mourinho, dar um banho de bola ao FCP em Alvalade mostra um trabalho fraco.

      A não ser que consideremos o SLB com Moreira, Sokota, Geovanni, Argel, Armando Sá, Fernando aguiar um colosso ;)

      Fernando é muito fraco.....e enquanto for o J.Mendes a mandar será sempre assim.

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    2. RG,

      vou pensar que estás a ser irónico. Silva (alguém que tem um quadril mais largo que os ombros e que conseguia rematar para trás)? Rui Bento (que ódio que lhe tinha.. o Custódio, com menos de 20 anos, tirou-lhe o lugar nessa época)?
      Relembro que essa época é a da arbitragem no Bessa (Paixão expulsa R. Jorge e Barbosa), da arbitragem de Martins dos Santos em Moreira de Cónegos, e esse é o ano do Apito Dourado e das idas de árbitros à residência de Pinto da Costa.

      Recebemos o FCP a poucos pontos deles, Rochemback falha um penalty e Niculae o 2-1 com a baliza aberta. Esse FCP viria a ser Campeão Europeu.

      E o SLB só nos passou na penúltima jornada, após uma charutada de Geovanni no último minuto do jogo.
      E relembro que o SLB nunca esteve à nossa frente e Vieira já começava a ser contestado pois não tinha resultados (estava lá há 3 épocas). O SLB vence a Taça ao FCP, no prolongamento, num jogo onde jogou contra 10, desde da 1ª parte. Preparava-se o escândalo da época seguinte, com Trapattoni.

      O engenheiro é fraco, mas esse Sporting era pior.

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    3. Caro Cantinho,

      Estou de acordo com tudo. Em minha opinião, a melhor época dele foi no Sporting. No Porto conseguiu perder dois campeonatos impossíveis. Naquele que, felizmente, ganhámos nós, o Porto tinha de longe, mas de muito longe a melhor equipa. O Jardel que nos ganhou um campeonato valia metade do Jardel do tempo dele. Mesmo assim perdeu.

      Nunca se viram grandes feitos, mas o homem é consensual. Ajuda aquele jeito cândido e a gestão dos diferentes interesses. A convocatória e a equipa de ontem só se explicam assim. Também há a possibilidade de ele simplesmente não saber o que anda a fazer. Porventura é uma mistura das duas.

      SL

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    4. Cantinho,

      Agree to disagree....

      Embora Silva fosse mau, lembro-me que por exemplo foi por ele que começou a goleada na Luz. Rui Bento mal ou bem tinha sido importante com Boloni. A equipa não era assim tão má.

      Claro que não tínhamos equipa para o FCP ( embora no jogo de Alvalade o Fanã tenha conseguida que parecesse o contrário ), mas tínhamos de ter sido 2ºs com ou sem arbitragem do Paixão. O SCP tinha um plantel a anos luz do adversário de Lisboa e não seria um charuto de Geovanni ou a arbitragem do Bessa que nos tirariam a segunda posição....no entanto tiraram!

      Mas isto foi apenas para o campeonato, não esquecer que fomos afastados nessa mesma época em Alvalade pelo Biligi ( Gençlerbirliği é mais feio lol ), e na Taça pelo V Setubal.

      Em suma ainda não vi uma única época digna de registo do Eng do Penta!

      PS: Neste momento penso que essa época digna de registo do sr Eng nunca irá acontecer!

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    5. RG,

      é na boa, não se pode concordar sempre (e ainda bem!).

      A equipa do SLB foi a base do título na época seguinte. A diferença? Tinham um treinador (Trapatoni) e não um taberneiro (Camacho) e o Estoril jogava no Algarve. Relembro que o 2º lugar dava acesso à pré da Champions. Vieira não podia perder isso (e foram eliminados pelo Anderlecht nessa pré - se fosse o Sporting a ser eliminado por esse colosso...).

      Sim, as eliminações com Vitória (na 2ª divisão) esses turcos foram más demais.

      O "bom trabalho" de FS resulta do restabelecer alguma dignidade ao Sporting na Liga, perdido por Boloni na época anterior (uma vergonha o nº de pontos perdidos e a derrota no último jogo no velho Alvalade, contra o Vitória, já despromovido).

      Aliás, a queda de Boloni, para mim, dá-se quando mete essa amostra que era o "pequeno Baresi", Rui Bento. Quando tira Viana do centro (onde jogava com Paulo Bento, esse sim, muito bom) e desloca-o para a esquerda, tirando Quaresma do 11, Boloni ia-nos custando uma Liga e uma Taça de Portugal. Valeu-nos o do costume, o Jardel.

      ps: concordo com o teu "ps".

      SL

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  8. Foi o Quinito quem celebrizou a táctica da carne toda no assador.

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    1. Obrigado. Tenho pena. A expressão ficava melhor no Cajuda.

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  9. Caro Rui,

    Na mouche.

    Lembro-me que no nosso melhor Euro de sempre (em 2004) também começou tudo com grandes consensos: o Rui Costa era o maestro, o Simão imprescindível, o Fernando Couto imperial nas alturas. Bandeiras por todo o lado. Levámos uma lição dos Gregos no Dragão e o Scolari mandou lixar os consensos: passou a jogar (feio) com o meio campo rotinado do Porto, com os laterais que tinham mais pernas que estatuto, pôs um miúdo inexperiente (chamado Ronaldo) a titular e o Ricardo Carvalho sentou um Couto fora do prazo de validade. A partir daí foi o que sabe, até nova tragédia Grega quando regressou o consenso.

    Ou muito me engano ou desta vez não temos treinador para isso. A boa notícia é que o consenso continua. A má notícia é que este consenso dá sono. Muito sono.

    SL

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    1. Caro João,

      Nesse Europeu ainda me cheguei a empolgar com a Selecção, nomeadamente no jogo contra a Inglaterra. O Ricardo Carvalho fez uma exibição soberba. A defesa subiu para a linha do meio-campo, asfixiámos a Inglaterra e o Ricardo Carvalho não deu uma única hipótese de contra-ataque aos adversários.

      Nesse Europeu o Scolari tinha demasiado a perder. Tinha mesmo de arriscar. Se não passasse a fase de grupos seria uma escândalo. Mesmo que ficasse nas eliminatórias não chegava para manter o emprego. O Fernando Santos tem menos a perder. Basta passar a fase e grupos e a continuar com esta gestão a pedido e por catálogo e tem emprego garantido por mais uns tempos. Nada vai mudar. Quanto muito, muda um Vieirinha qualquer para que tudo fique na mesma.

      SL

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