segunda-feira, 23 de junho de 2014

Antes de o ser já o era

Os jogos da seleção correram mal antes de começar. Não falo da convocatória. As equipas adversárias condicionaram sempre o nosso jogo sem que, em contrapartida, tivéssemos condicionado o deles. Condicionados pelo jogo dos adversários e sem condicionar o deles, as lesões e as substituições precoces ainda nos condicionaram mais.

Os EUA jogaram com rapidez pelas laterais. Tivemos que adaptar o jogo da equipa para evitar essas saídas rápidas dos laterais. Aparentemente não estávamos preparados para contrariar este ponto forte. Os EUA, por outro lado, aproveitaram sempre esse ponto fraco do lado esquerdo da defesa, decorrente de jogarmos em 4x3x3 sem que ninguém no ataque descaísse para aquele lado quando perdíamos a bola. A meio da primeira parte estávamos a jogar em 4x4x2.

Para condicionar o jogo do adversário, então, devíamos ter jogado com dois extremos rápidos que dificultassem as saídas dos laterias (o Varela ou o Vieirinha deviam ter sido opções de início). Sendo assim, o Cristiano Ronaldo tinha que jogar no meio, como, aliás, jogou. Porventura, devíamos ter jogado em 4x4x2 como acabámos a jogar. O problema é que a jogar em 4x4x2 o trio maravilha do meio-campo de Paulo Bento (Veloso, Meireles e Moutinho) não pode jogar. Um, pelo menos, tinha que ir à vida.

A diferença entre o William Carvalho e o Miguel Veloso é bem evidente. Pela presença física, pelo posicionamento, pela capacidade de marcação, pela capacidade de passar a bola de primeira sem rodriguinhos desnecessários e que só encravam o jogo. Mas não chega, como se viu. Quando temos a bola, quer o Moutinho, quer o Meireles ou encontram-se na mesma linha do Carvalho ou recuam para junto dele para receberem a bola no pé. Espaço entre linhas, como se costuma dizer no futebolês nacional, não há.

O primeiro golo dos EUA, com o Rui Patrício, tinha sido um frango. Com o Beto, foi um remate indefensável. Esse golo é um hino à nossa falta de concentração. O Nani é displicente a cortar a bola. Reage tarde e só toca ligeiramente na bola. Depois é ultrapassado infantilmente pelo adversário, que faz um arranque a diesel. O remate sai forte e colocado, mas sem balanço e de muito longe. O Beto tinha dado dois passos atrás, pouco antes do remate. Está mal colocado junto da linha de baliza. Fia-se no golpe de vista, por (má) convicção ou por falta de reação atempada.

O segundo golo foi uma repetição das inúmeras jogadas pelo lado direito do ataque dos EUA. O Veloso marca o jogador adversário com os olhos. O Bruno Alves, como em todas essas jogadas, nunca se deslocou para fechar esse lado. Correu para trás, mas mantendo sempre a posição relativa face ao adversário. Em desespero toca na bola. Demora três quartos de hora a levantar-se. Deixa o avançado em jogo que marca com a barriga. É uma alegoria para uma equipa que foi para o Brasil com o Rei na barriga e pensou que isso bastava. O Rei estava menos Rei do que o costume e, por isso, sobrou barriga para tão pouco Rei.


(Não vou brincar com o André Almeida. O rapaz fez o que pôde. Aos vinte minutos estava lesionado. A culpa não é dele nem dos restantes jogadores. A culpa é de quem convocou jogadores lesionados ou em riscos de lesão, que os treinou mal e que nunca soube organizá-los e contrariar os adversários).

10 comentários:

  1. Caro Rui,

    Excelente artigo, desde o título até ao "PS".

    Mas se calhar temos a seleção que merecemos. A seleção do país onde se aposta em estrangeiros, a seleção do empresário que manda no futebol, a seleção da imprensa que só questiona depois da asneira consumada (o treinador ontem "determinado" será 5a feira o "teimoso").

    O caso do Varela é incontornável: não aprendemos nada com o último Europeu. E não vamos aprender nada com este Mundial.

    Resta-nos o Ronaldo, o Nani e pouco mais, para termos alguma fé. Mas parece que não chega.

    SL,
    João

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    1. Caro João,

      Foi a crónica de uma morte anunciada. Só não sabia o Paulo Bento. Acho que os jogadores já o sabiam. Tinham é a esperança de mesmo assim chegarem aos oitavos de final. Chegados aí, a culpa seria do azar de quem nos saiu. De um jogo em que jogámos vem mas em que tivemos azar. Estava tudo preparado para ser assim.

      Não sei é como se faz a renovação da equipa sem se dar oportunidades aos mais novos. Se o Veloso, o Meireles, o Postiga, o Bruno Alves e outros que tais não desistirem, no próximo europeu lá os temos outra vez.

      Um abraço

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  2. "A diferença entre o William Carvalho e o Miguel Veloso é bem evidente." - sim, com o veloso em campo, e apesar de ter um traseiro que mais parece um barril, a verdade é que Portugal chegou ao intervalo a ganhar. Com o william os EUA deram a volta ao resultado. Isto é um facto. Mas porque carga de àgua havias de brincar com o André Almeida? Seria alguma coisa relacionada com o triplete que ele ganhou? Com ele em campo estava 1-0, sem ele e com o william foi o que se viu...

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    1. looooooooool

      Vou fazer mais uma das brilhantes conclusões do Monteroffside:

      "Com o Veloso na esquerda perdemos. Ao intervalo estava 1-0 e assim que o Veloso passou para a esquerda os EUA entraram por ali à vontade e deram a volta ao resultado."

      Outra conclusão brilhante: "Com o Meireles em campo estavamos a perder e entrou o Varela e conseguimos empatar, logo o Varela é muito superior ao Meireles."

      Olha outra conclusão brilhante: "Com o Postiga em campo estavamos a ganhar. Entrou o Eder e só conseguimos o empate e nem foi ele a marcar o golo."

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    2. Grande lógica e muito bem fundamentada. Até acrescento: com o Postiga também estava 1-0. Parece aquele discurso do seleccionador contra a Alemanha: "até 1-0 o jogo estava equilibrado", esquecendo-se que o 1-0 foi aos 10 minutos... e antes do apito inicial? Estava 0-0. Aí o alemães até tremiam, tal era o equilibrio.
      Olhe, ainda bem que o André Almeida recuperou e consegui jogar os últimos 2 minutos, possibilitando que Portugal chegasse ao empate. Ele ontem durou quanto? 20 minutos? É normal, é a média que tem cada 5 jogos do Benfica.
      O André Almeida lesionou-se ontem devido à sobrecarga de jogos que tem nas pernas da época que findou. É menino para ter feito cerca de 10 completos (juntando todos os minutos e ainda colocando alguns do André Gomes). É um abuso, ninguém aguenta.

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    3. Meu caro,

      Eu levaria esse raciocínio mais longe.

      Antes de começar o jogo estava zero a zero. Mesmo não jogando conseguimos empatar um jogo.

      Antes dos EUA marcarem um golo não tínhamos sofrido nenhum. Se os adversários não marcarem golos, nós não sofremos nenhum.

      O André Almeida lesionou-se. O Fábio Coentrão lesionou-se. O Postiga lesionou-se. O Rui Patrício lesionou-se. O Hugo Almeida lesionou-se. O que é que quer que diga?

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    4. Eu sei que isto é gente pouco dada a dados reais, mais inclinados para a mitologia e a metafísica, mesmo assim deixo aqui alguns dados tirados daqui http://educar.wordpress.com :

      «De acordo com os números oficiais da FIFA, o William Carvalho fez 39 passes, falhando apenas 2 na segunda parte do jogo de ontem. Dá perto de 0,9 passes por minuto e um grau de precisão de 95%.
      Tirando o Beto, o mais perto que outro jogador lá chega é o Ricardo Costa com 67 passes em 75 durante jogo e meio. A média de passes por minuto é muito mais baixa e a precisão de 89%.
      No meio campo, o João Moutinho fez 126 passes certos em 146 durante os dois jogos, o que dá uma média de 0,8 passes, mas uma precisão de apenas 86%, o Raul Meireles fez 82 em 99 passes durante 159 minutos, o que dá uma precisão de 83%. Quanto ao Miguel Veloso andou pelos 86%, apesar de ter ido para defesa esquerdo, como segundo polivalente no lugar.
      Quanto a correr durante os jogos, só o Nani aparece nas primeiras dezenas de jogadores do top desta categoria, com mais de 20 km em 2 jogos.»

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    5. https://uk.eurosport.yahoo.com/blogs/the-rio-report/william-carvalho-sent-message-man-utd-scouts-140332305.html#more-id

      Pois, tem razão, estes ingleses são loucos...

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  3. Tal e qual o que era esperado antes do mundial ter começado.Conhecendo o Pal Bente como conhecemos de jinjeira,era de esperar que a casmurrice e as ideias(ou falta delas)se mantivessem...As equipes dele primaram sempre por não haver fio de jogo,salvo no 1ºano em que ainda aproveitou algo do trabalho do anterior treinador,nicles de jogadas ensaiadas nos livres e cantos,sistema de jogo sempre igual,avesso a substituições e só as fazendo quase no final de jogo,casmurrice até dizer chega acreditando que um razoável polivalente seria sempre melhor do que um bom jogador! Enfim poderia continuar a elencar as imensas "qualidades"deste teimoso,mas acho que bastam as enumeradas...para a "mui digna" FPF lhe ter renovado o contrato antes de irmos a jogo! Vão gozar com a pata que os pôs juntamente com os escroques seguidores a soldo na imprensa(?) falada e escrita!!! Gozar com o povo merecia mais do que um bom par de lachadas.Apesar de tudo os jogadores ainda são os menos culpados,apesar de os cochos e mancos não terem tido a coragem de se terem recusado a fazer parte desta cégada! Com um treinador BOM é ver o que fez o Sporting e o Estoril com jogadores disponíveis física e mentalmente,mas de qualidade muito inferior ao núcleo duro do Pale.Se até os States já nos dão Lições!!!
    PS-Veremos onde e quantas vezes irá calçar o polivalente adorado pelos trampiões...oh Montero!!! Aposto que muito poucas vezes!!!

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  4. O treinador é péssimo os jogadores deviam ser outros o corpo clínico é incompetente a imprensa é corrupta, só não é assim se passarem.

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