domingo, 4 de setembro de 2011

Sai uma zona mista e uma meia de leite para as mesas do costume…

Chama-se “Zona Mista” e passa na RTPN, televisão pública paga por todos nós. Tanto quanto se consegue depreender do formato, pretende ser um programa de debate semanal sobre a actualidade futebolística onde… adepto do Sporting não entra. Ou seja, uma espécie de tosta mista, com uma fatia de Benfica e uma fatia de Porto, condimentada com abundante molho ketchup do habitual moderador Hugo Gilberto. Os dois ingredientes principais são representados pelo João Gobern e pelo Bruno Prata, jornalistas da Antena 1 e do Público, respectivamente, que aqui fazem uma perninha enquanto comentadores televisivos de futebol.
O Bruno Prata, reconheça-se, é, normalmente, apesar de tudo, o participante mais equilibrado do “Zona Mista”. Tem, contudo, nas últimas semanas e como aqui já foi dito, criticado acerrimamente o Sporting pelas suas tomadas de posição sobre a arbitragem. Diz o simpático jornalista nortenho do Público que, no fundo, o Sporting quer é ser tão beneficiado como o Porto ou o Benfica.
Será que Bruno Prata pretende insinuar que o Porto e o Benfica têm sido sistematicamente os dois clubes mais beneficiados pela arbitragem nacional ao longo das últimas décadas? É certo que o Sporting apenas foi campeão duas vezes nas últimas três décadas, por mera coincidência em anos em que vigorava o sorteio mais ou menos puro para a nomeação dos árbitros. É certo que alguém com a clarividência do Rui Jorge – actual seleccionador nacional de sub 21 – que passou pelo Porto e pelo Sporting disse várias vezes: “Joguei seis anos no FC Porto, sete no Sporting e é uma questão de ver quantas vezes fui expulso num lado e noutro. Pergunto: será que mudei tanto a minha atitude e personalidade desde que fui para Alvalade? Eu tenho a certeza de que fui sempre igual." É certo que alguém com a credibilidade do Paulo Bento – actual seleccionador nacional – que passou pelo Benfica e pelo Sporting afirmou repetidamente que O Sporting tem sido manifestamente prejudicado [pelas arbitragens]. Porquê? O clube é muito simpático, por isso tem esse retorno”… Mesmo assim, é a primeira vez que um reputado jornalista desportivo coloca a hipótese do Porto e do Benfica serem sistematicamente beneficiados pelas arbitragens nacionais, constituindo, sem dúvida, essa afirmação de Bruno Prata uma flagrante injustiça para os nossos dois maiores rivais, como o Diabo Vermelho de Gaia ou o Guarda Abel facilmente lhe poderão explicar.
Mas, quanto ao resto, convenhamos que Bruno Prata diz a mais pura das verdades. Enquanto fervoroso adepto sportinguista, confesso que, nos inícios de época ou em momentos decisivos da Liga Portuguesa, eu próprio tenho, por vezes, o impulso secreto de que fala o Bruno Prata. Sim, aqui entre nós que ninguém nos ouve, eu sonho por vezes em ter arbitragens tão isentas quanto as que se passam nos jogos do Porto e do Benfica. Nesses momentos, os meus instintos mais primários dão-me para ansiar por penaltys a favor do Sporting, imaginem lá, por agarrões em cantos. Noutras ocasiões, sonho ver marcar penalty a nosso favor em jogadas em que, por exemplo, um bulldozer como o Onyewu, depois de receber um piparote de um qualquer médio lingrinhas adversário, se esparrama no área contrária como se tivesse sido atropelado por um carro blindado. Também tenho desejos insanos por golos leoninos obtidos em fora de jogo ou, do lado contrário, por fiscais de linha que cortem mais jogadas que o Ricardo Carvalho ou o Piqué juntos. Mais, os meus delírios leoninos incluem igualmente a total inimputabilidade dos nossos jogadores no plano disciplinar – calcadelas à uruguaia, cotoveladas à paraguaia, chapadas à espanhola, sarrafadas à argentina, varridelas à brasileira, tudo isso, jogo após jogo, passa completamente em claro, dentro ou fora da nossa área. Pelo contrário, nesse meu campeonato imaginário, os adversários do Sporting raramente acabam o jogo com onze jogadores em campo e são condicionados, logo à partida, com amarelos à medida. Mesmo assim a minha imaginação, lamentavelmente, tem muitas dificuldades para acompanhar a realidade -  afinal, só vamos na terceira jornada…
Felizmente, ao acordar no dia seguinte, vejo que quem está nomeado para os jogos do Sporting, do Porto ou do Benfica são árbitros como o Proença, o Olegário, ou o João Ferreira e, imediatamente, esses meus maus instintos desportivos dissipam-se como por magia… Depois, enquanto saboreio a minha tosta mista matinal, vou lendo ou ouvindo os habituais comentários do Cruz dos Santos, do Paraty, ou do Pedro Henriques e fico ainda mais tranquilo sobre as nomeações e as arbitragens passadas ou futuras… Afinal, como toda a gente sabe e os excelentes comentadores que temos não se cansam de nos recordar, a isenção da arbitragem nacional dá totais garantias que, após as trinta jornadas da Liga Portuguesa, o deve e haver dos erros dos homens do apito resulta sempre num saldo nulo para todos os Clubes que nela participam, em particular, entre os três grandes…
Enfim, como dizia Ambrose Bierce, um lugar-comum é isto mesmo: uma moral sem história, uma ideia que ressona em palavras que fumegam, nada mais que uma meia de leite-e- moralidade…

4 comentários:

  1. Excelente. No sítio certo, sem demagogias, exageros ou histerismos. Simplesmente a Verdade.

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  2. Olá

    Gostaria de lhe propor uma troca de links entre os nossos blogs. O meu é http://www.sportingaoataque.blogspot.com .

    Em caso de concordares, respondepor comentário ou via e-mail.

    Obrigado

    Sporting ao Ataque

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  3. Bem, muito bem !!

    Sendo que, para mim, o maior dos demagogos é G. Aguiar.

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  4. Caros Amigos,

    Obrigado pelas Vossas palavras. Em breve espero poder voltar a este assunto da arbitragem numa perspectiva mais propositiva.

    Saudações Leoninas,

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