A defesa da tradição não se faz
apenas através da vivência do folclore ou da conservação das instituições,
inúmeros eventos permitem-nos experienciar ao vivo e a cores a manutenção do costume nas comunidades. Ontem tivemos a
possibilidade de observar isso mesmo num jogo tradicional de futebol (e já
tínhamos saudades), fazendo parte do elenco a equipa do Futebol Clube do Porto,
a equipa de arbitragem dirigida pelo sr. Pinheiro, e uma terceira (por acaso o
Sporting) equipa que estava lá para encher chouriços. O Sr. Pinheiro Baptista fez
o que lhe competia na defesa da tradição, já por ele várias vezes, inclusive,
cumprida. O Sr. Pinheiro Baptista, assim como o modus vivendi do Porto faz parte
da riqueza intrínseca da tradição, aliás, expressa no dia anterior pelo porta-estandarte
Pepe. Por momentos parecíamos estar confortavelmente instalados nos anos 90 do
século passado.
O Sporting tentou jogar futebol
com as limitações que lhe são conhecidas, e ainda assim poderia perfeitamente
ter estragado ou adiado, pelo menos, o desenrolar da tradição, não fosse Adán
ter transformada a sua baliza numa capoeira e a baliza adversária ser mais uma
vez uma espécie de domínio inalcançável, tantas são as oportunidades esbanjadas,
algo que também começa a ser parte inegável da tradição. A tradição continua
sobrevivendo, igualmente, na enorme massa adepta verde e branca, verdadeiro suporte
da grandeza do Sporting (vejam os jogos nos Norte do país).
Esta posta, como um jogo
tradicional de futebol (sem Pinheiro Baptista), tem duas partes. Vamos à
segunda:
Como diria Maricá, citado por
Millor Fernandes: só com a ação se escapa da inércia. Presumo que o contrário
também seja verdadeiro. O Sporting estava agindo, diziam-nos, logo em Abril de
2022, preparando atempadamente a época seguinte (com a mesma equipa técnica das
duas épocas e meia anteriores). Logo chegou um vaso de porcelana chamado Jeremiah
St. Juste, antes fosse de vidro, teria sido igualmente frágil, mas mais barato.
A época continuou sendo preparada no enorme terreno de pousio que é o defeso no
futebol nacional. A malta chega a esquecer-se que existe uma coisa chamada
bola, como se estivéssemos nas gigantescas férias de verão dos idos 80 do
século passado, em que a malta se esquecia que alguma vez tivesse frequentado
um estabelecimento de ensino. Ainda bem que estava tudo pensado ao detalhe.
Cedo se percebeu que o Sporting
tinha uma equipa vulgar que simulava caçar com gato, julgando-se cão: escrevinhámos
sobre esse pormenor de simulacro que aos poucos tomou de assalto os balneários
e algumas cabeças dotadas de livre arbítrio. Só não conseguíamos convencer os
adversários, apenas os sportinguistas. Amorim lá foi explicando em várias das
suas roupagens: economista das tardes da Júlia, administrador não executivo e
até treinador. Não apreciei, apenas, as suas recentes declarações sobre a “distância”
para os nossos rivais. Se se estava referindo a ovos para a omeleta deveria
tirar da equação o Braga. De resto, apelar ao bom senso referindo a questão dos
orçamentos talvez resulte em contexto europeu, não no lodaçal da bola cá do
burgo. Perdemos vários jogos com equipas cujo orçamento não dá para mandar
cantar um central de porcelana do Sporting.
(Nota extravagante ao meio da
posta: já repararam que a média de espectadores do Sporting no campeonato não
chega a trinta mil? E isso após o anunciado record de vendas de gamebox, uma
box, poucos games assistidos).
Com tanto planeamento e boa
gestão de recursos chagamos ao jogo da época (ainda por cima tradicional) com pouco
espaço para os feijões. No final o presidente descobriu a pólvora outra vez e explicou
que somos resistentes. Pois somos. E, o senhor, será que é?