Entre a Páscoa e a Pascoela, o
Sporting decidiu mortificar-nos com um relance delicioso das nossas memórias.
Como a memória é curta convém notar que a Páscoa este ano foi em Abril. Já não
se trata do Natal, nem do dia de reis, nem sequer do dia dos namorados, ou
perto do dia do pai. Não, o Sporting em meados de Abril ainda discute (ou
discutia) o título e estava nas meias-finais da taça. Esse pormenor mostra-nos
que o nosso sofrimento tem tido o prolongamento que merece.
Dois factores contribuem decisivamente
para alguma da penumbra que ensombra a clarividência dos Sportinguistas: os
resultados recentes e, sobretudo, a perda do seu tempo assistindo aos vários
programas da bola que por aí pululam. Nestes, assistimos a verdadeiras aulas de
anatomia versadas em dissecação de cadáveres. Ontem, por desleixo, enquanto
esperava o filme dos Monty Python “Em Busca do Cálice Sagrado” e bebericava um
último copo de um tinto encorpado do Dão, dei por mim a fazer zapping pelos
milhares de canais que se dedicam ao nobre ofício da informação futeboleira.
Invariavelmente o assunto era o
mesmo: ora o mau momento do Sporting, ora o caso… a novela Slimani. As teorias
eram tantas e tão diversificadas que dei por mim deleitado, pensando que aquilo
não eram teorias da conspiração mas sim teorias da inspiração. As participações
eram fervorosas, analíticas, conhecedoras, todavia, incrivelmente vazias. O objetivo
era claro: mostrar que a turbulência teria voltado ao Sporting. Devemos sempre
pensar a quem isto serve.
Entretanto, e paralelemente,
tenta-se salientar o (suposto) magnífico momento do Benfica, com os resultados
que todos conhecemos. Do Porto, apenas maravilhas, com o seu presidente a
tentar meter a foice em seara alheia. Como a memória é curta e desprovida de escrúpulos,
já ninguém recorda aquele enternecedor jogo entre a B SAD (ou será be sad?) e o Benfica,
ou esse longínquo FC Porto-Portimonense com que fomos (recentemente) brindados. Com a saída das máscaras, será que
voltaremos ao velho normal? `