domingo, 10 de janeiro de 2021

We Shall Fight on the Beaches

“[…] we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing trength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender”.

Até ontem, atribuía estas palavras, este discurso a Winston Churchill, no parlamento inglês, em 4 de julho de 1940. Ontem, descobri que estava enganado, que as palavras eram da Doutora Helena da Liga Portuguesa de Futebol, dirigindo-se à equipa técnica e aos jogadores do Sporting. Enfrentámos a tempestade Filomena no ar. Não conseguimos aterrar, no Funchal, recorrendo à alternativa do Porto Santo. Voltámos a levantar voo e a enfrentar a Filomena no ar até a derrotarmos e aterrarmos no Funchal. Em terra, também foi preciso tentar derrotá-la, mesmo com risco de um resfriado, de uma gripe. Não foi possível na quinta-feira. Na sexta, defrontámo-la em terra e no mar, num mar de lama. As coisas estiveram mal paradas no ar, em terra e no mar, mas nunca nos rendemos.

O trabalho prejudica muito o futebol. Só vi os últimos trinta minutos. Percebi o contexto. O Nacional estava a jogar contra o vento e tinha muitas dificuldades em sair com bola longa para o ataque. E nós pressionávamos a saída bola de trás como se não existisse amanhã; e o Pedro Gonçalves isola-se do lado direito e remata cruzado para um mergulho do guarda-redes; e o Palhinha recupera uma bola, domina-a no peito, coloca-a no chão, percebe que o guarda-redes está mal colocado e remata de longe, com ela a sair rente ao poste; e entre o Nuno Mendes, o Nuno Santos e o Palhinha recuperam uma bola e metem-na no Pedro Gonçalves que a estica para o outro lado onde aparece o Pedro Porro que simula, faz uma pausa, espera até a meter novamente no Pedro Gonçalves à entrada da área, que simula o remate, passa pela defesa e a remata por cima da baliza, depois de ter ficado presa na lama; e o Nuno Santos corre como se fosse a última vez e, isolado à entrada da área, remata cruzado, ao lado, com a bola a ficar presa numa poça de água; e o Pedro Gonçalves ganha uma bola à entrada da área, passa-a do pé direito para o esquerdo e enfia uma bojarda ao poste; e o Tiago Tomás isola-se do lado esquerdo e remata ao primeiro poste para mais uma boa defesa do guarda-redes; e entra o Matheus Nunes; e entra o Jovane Cabral; e o Pedro Gonçalves desmarca o Matheus Nunes do lado direito, que centra para o corte de um defesa, sobrando a bola para o Tiago Tomás, que arranca para a linha e a centra atrasado para o Jovane Cabral a encostar para a baliza de primeira.

Durante trinta minutos passou sempre o mesmo pela minha cabeça: a nossa maldição, uma maldição pior do que a do Béla Guttmann. Vieram-me à cabeça jogos atrás de jogos e olhares, olhares desolados, do Polga, do Rui Patrício, do Liedson ou de milhares de adeptos na final da Taça UEFA em pleno Estádio de Alvalade. Tudo ia acabar como sempre acaba, não há como lhe fugir. Trinta minutos que duraram uma vida, imagens atrás de imagens de meio século de sportinguismo, desta fatalidade. E a bola entrou e entrou na baliza certa! Os homens não choram, é uma chatice, mas podem-se rebolar na lama como miúdos sabendo que não escapam ao ralhete da mãe.

E as palavras finais do Rúben Amorim dizem tudo: “Não tenho palavras para a atitude destes jogadores, como eles encaram os desafios, as dificuldades, tenho um orgulho enorme em ser treinador deste grupo”. Para o bem ou para o mal, as palavras contam, as palavras têm consequências.

12 comentários:

  1. 👏👏👏. Brilhante, como sempre. Saudações Leoninas.
    Maria Oliveira

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  2. e engraçado como os dois ultimos treinedores do SCP que eu considero grandes treinadores (Paulo Bento e Ruben Amorim )foram jogadores dos lampiões e seus adeptos . Será que isso quer dizer alguma coisa sobre os balnearios dessas equipas , em contraposição com o balneário do SCP , ao longo dos anos ?estou a dizer isto a querer relacionar o modo como os dois treinadores conseguiram unir o grupo e construir uma equipa , na verdadeira acepção da palavra ( embora o Ruben Amorim ainda não tenha chegado ao patamar do Paulo Bento )

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    1. Meu caro,

      Sou suspeito a falar sobre o Paulo Bento. O Paulo Bento foi um dos grandes treinadores do Sporting e não lhe temos feito devida justiça. Com miúdos, uns pernetas como o Polga e o Liedson faz milagres. Era um grande líder da equipa. A partir de certa altura perdeu-se, sobretudo na seleção, com o caso do Ricardo Carvalho. Há coisas que se evitam, depois de acontecerem é tarde. Não faz sentido nenhum vir contar a história e discutir a sua versão com o Ricardo Carvalho. Acho que a liderança não resulta de ter passado por este ou aquele clube, mas pelas suas características pessoais que eram muito vincadas.

      O Rúben Amorim talvez seja diferente, mas também não sei se a sua liderança resulta da sua vivência no Benfica. Passou por diversas equipas, teve altos e baixos e passou um mau bocado no Benfica. Acho que é um fulano maduro à conta dessas experiências. Os líderes vêm-se nos momentos difíceis. Nesta época não foram muitos, mas reagiu bem, especialmente contra os austríacos (houve muito árbitro no terceiro golo que mate o jogo e nos deixa com menor um jogador) e o Famalicão. Só o futuro dirá como irá reagir a outros dissabores. Pelo menos, está-se sempre a preparar para eles, o que é bom sinal.

      SL

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    2. Era só para referir o Leonardo Jardim.
      Que não merece a desfeita de, por um minutinho só que seja, deixar de ser referido sempre e quando o Paulo Bento o for.

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    3. Meu caro,

      Tem toda a razão. O Leonardo Jardim devia estar nesta shortlist.

      SL

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  3. Por este mundo fora, quem pode salvar os adeptos portugueses do atual C. A. liderado pelo, Fontelas Gomes. Os números não enganam, quando atingimos uma amostra significativa e se deteta uma evidente tendência arbitral, é sinal que algo está muito mal. Em condições arbitrais normais, é impossível ocorrer 15 penaltis de diferença em 22 jogos entre 2 equipas com os mesmos objetivos desportivos. Como o Fontelas Gomes sabe, nunca na história uma equipa conseguiu fazer mais pontos do que um rival que usufruiu de mais 15 penaltis, logo ele sabe, que nas condições que criou, só o F. C. Porto, pode ser campeão em Portugal!

    Quando começou o atual PERÍODO ARBITRAL MAIS OBSCURO DA HISTÓRIA DO FUTEBOL PORTUGUÊS na 27ª jornada da época 2019/20, o Benfica e o F. C. Porto tinham legitimas aspirações a se sagrarem campeões, pois nessas 27 jornadas, o F. C. Porto, só tinha uma vantagem de 1 penalti em relação ao Benfica, que basicamente é o da 20ª jornada, que lhe permitiu ficar com os 3 pontos no confronto direto com o Benfica (3-2 final num jogo que, estava empatado quando o F. C. Porto usufruiu do penalti favorável). Desde a 27ª jornada de 2019/20 até hoje, nos últimos 21 jogos para o campeonato (as 13 jornadas de 2020/21 juntamente com as últimas 8 jornadas de 2019/20), o F. C. Porto usufruiu de uma vantagem de 13 penaltis para o Benfica! Se acrescentarmos o jogo, entre as 2 equipas ocorrido na semana passada para a Supertaça, em que mais uma vez, com o jogo empatado, o F. C. Porto usufruiu de mais 1 penalti favorável e o Benfica sofreu mais 1 penalti desfavorável, então em Portugal tivemos, uma diferença de 15 penaltis entre as 2 principais equipas portuguesas, nos últimos 22 jogos!

    Como na 27ª jornada de 2019/20, o Benfica e o F. C. Porto partilhavam a liderança com 64 pontos, com uma ligeira vantagem de 4 golos para o Benfica em relação ao F. C. Porto, o Fontelas Gomes ou quem conseguir, que explique como o mesmo plantel do Benfica que, só conseguiu marcar mais 4 golos que o seu principal rival em 27 jogos, conseguiria anular uma desvantagem de 15 penaltis nos 22 jogos seguintes?

    Vejam as informações detalhadas em http://influenciaarbitral.blogspot.com/2021/01/sos-por-este-mundo-fora-alguem-pode.html

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    1. Meu caro,

      Outra vez? Não quer fazer um relambório destes a propósito do Sporting. Era mais útil.

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    2. Ou então chutá-lo para canto ...

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  4. Os indomáveis!
    Nem a Helena,nem a Filomena conseguiram parar.
    Dia 31, a estucada final.
    SL
    João Balaia

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    1. Caro João,

      Nada disso, jogo a jogo. Vencemos a Helena e a Filomena. Depois vencemos o Nacional. Agora é preciso vencer o Marítimo. Uma coisa de cada vez.

      SL

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    2. com estuque ou com estoque...?

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