Falaremos do Sporting, mais mal do que bem. Falaremos também do Benfica, sempre mal. Falaremos do Porto, conformados.
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
Jogar à defeso
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Politiquices
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Boa Economia para Tempos Difíceis
Vive-se a acalmia que antecede a tempestade. A economia encontra-se congelada pelos regimes de “lay off” e pelas moratórias de crédito. Ninguém sabe verdadeiramente o que vai acontecer depois das férias, quando regressar o Outono e se iniciar o próximo ano letivo. Só o futebol continua como dantes, como se nada estivesse a acontecer. Fiquei a saber que contratámos um rapaz do Famalicão por uns milhões de euros. Foi a revelação da época passado, ao que se diz. Deve ter sido uma revelação idêntica à de Francisco Geraldes há umas épocas e de tantos outros de quem ninguém se lembra mais.
“Boa Economia para Tempos Difíceis”, de Abhijit Banerjee e Esther Duflo, Prémios Nobel da Economia, constituiu a minha primeira leitura de férias. Às páginas tantas, afirma-se que na Europa as sociedades são mais egualitárias do que a dos EUA, com rendimentos brutos menos desiguais, carga fiscal mais elevada e maior progressividade dos impostos. Existe uma só exceção: os atletas de alta competição. Na Major League Baseball, na NFL, na NBA e na Major League Soccer existem tetos salariais, enquanto nas competições da UEFA não. Para se ter uma ideia desta aberração, basta referir que, em 2018, o Messi recebeu o equivalente a metade do teto salarial total de qualquer equipa da NBA.
Existem razões para o controlo salarial das principais competições desportivas profissionais nos EUA. A mais repetida, respeita ao nivelamento competitivo das equipas e, assim, à possibilidade de todas elas disporem de condições para, tarde ou cedo, ganharem as competições em que participam, tornando-as mais interessantes. Mas a principal é outra: controlo dos custos pelas empresas que dispõem das concessões. Está-se em presença de um cartel de proprietários que, ao limitar os salários dos jogadores, aumentam a rentabilidade dos seus investimentos e dos seus negócios.
Os jogadores profissionais dos EUA têm organizado inúmeras formas de protesto para acabar com os tetos salariais. Os argumentos não faltam. No entanto, o único argumento a que nunca se recorre é que os jogadores jogariam com mais empenho e melhores resultados se os salários fossem mais elevados. Todos concordam que a vontade de ser o melhor constitui incentivo bastante. Como afirmou Vince Lombardi, treinador lendário de futebol americano e primeiro campeão da Super Bowl, “ganhar não é tudo, é a única coisa”.
Reduzir os encargos com contratos milionários dos jogadores de futebol não teria qualquer efeito no seu (des)empenho. Em contrapartida, os clubes seriam mais rentáveis. Em Portugal, tratando-se de instituições de utilidade pública, esta maior rentabilidade permitiria que mobilizassem mais recursos para muitas das suas principais funções de sociais de apoio à prática desportiva e ao desporto em geral. A competitividade do futebol não se ressentiria e teríamos melhores atletas em muitas outras modalidades e mais títulos olímpicos em modalidades como o atletismo, o judo ou o remo.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Carrocel mágico
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Benfica, felicidade e moeda
Há dias ouvi uma conferência muito interessante de André Lara Resende, que concebeu o Plano Real, na Universidade de Oxford, explicando a evolução da política monetária. Após a estagflação dos anos 70, o monetarismo ou a teoria da quantitativa da moeda passou a ser hegemónica no pensamento e nas políticas económicas. A inflação seria única e exclusivamente um fenómeno monetário e as crises, inflacionárias ou deflacionárias, deviam-se à incapacidade dos bancos centrais de contrair ou expandir a base monetária. Esta teoria foi levada à prática de forma brutal por Fernando Collor de Mello para combater a hiperinflação no Brasil, procurando esterilizar a moeda através do congelamento das contas bancárias dos depositantes. A recessão não foi menos brutal e acabou no seu “impeachment” por portas travessas.
Pouco a pouco, os economistas foram compreendendo que o sistema de crédito fazia expandir a base monetária, sem que os bancos centrais a conseguissem impedir. Sem grandes explicações teóricas, a partir dos anos 90, os bancos centrais passaram a tentar controlar a inflação através da simples manipulação da taxa de juro, aquecendo ou arrefecendo a economia em função da sua evolução e do seu ciclo. Na prática, não existe nenhuma fórmula, assume-se que a inflação simplesmente não se encontra ancorada e recorre-se quase a uma simples heurística: se a inflação sobe, então a taxa de juro deve subir também e se a inflação desce, então a taxa de juro deve descer também.
Com a crise financeira internacional de 2008 e as taxas de juro nulas ou praticamente, os bancos centrais viram-se na necessidade de recorrer a políticas não convencionais, como o “Quantitative Easing”, desatando a comprar tudo o que é ações e obrigações, expandindo loucamente os seus balanços. Estas políticas estão a ser ampliadas com a atual crise decorrente da pandemia da Covid-19. A inflação continua a não se ver, apesar da expansão monetária sem precedentes. Conclui Lara Resende que, provavelmente, a inflação resulta de expetativas dos agentes económicos, tendendo a manter-se alta quando é alta e baixa quando é baixa. A inflação seria mais resiliente e determinada por contextos históricos: há períodos em que é persistentemente baixa e outros persistentemente alta.
O Benfica vive o seu “Quantitative Easing”, o seu momento “bazuca”.
Nunca se viu tal expansão monetária em nenhum clube português. A ideia é
excelente no atual contexto económico e financeiro. Por muito que paguem ao
Jorge Jesus ou ao Cavani (nove milhões de euros por ano, é o que se vai
dizendo), as suas condições para aumentar o consumo de batatas fritas e hambúrgueres
são limitadas (se estivéssemos a falar do Taarabt a conversa seria outra), assim como os potenciais efeitos inflacionários. No fundo, está a seguir Millôr
Fernandes, quando afirma que “O dinheiro não traz a felicidade, manda-a vir”. O
Luís Filipe Vieira está a mandar vir toda a felicidade que (não) pode. A
felicidade dos benfiquistas é a sua felicidade (e vice-versa) e ninguém os quer
ver infelizes para o resto da vida sem ele, a presidente, naturalmente.