terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Contratos no gavetão das meias

Há muito tempo que não lia um romance de aventuras. Acabei de ler o último episódio da saga de Lorenzo Falcó, espião falangista, escrito pelo Arturo Pérez-Reverte. Os republicanos procuram transportar num cargueiro ouro do Banco de Espanha para pagamento de despesas de guerra aos russos, seus aliados. O cargueiro é interceptado por um contratorpedeiro da marinha aliada do General Franco, conseguindo fugir e refugiando-se em Tânger, sob jurisdição internacional. Há ação, muita ação, ninguém é o que parece, havendo espiões duplos em cada canto esquina, não faltando uma espia russa, que dá o título ao livro (“Eva”). Os personagens vão-se revelando ao longo do livro. Há heroísmo e cobardia onde menos se espera, há honra e respeito entre contendores, há inteligência a rodos, há amor impossível, tudo combinado em doses perfeitas de personagens densas. 

Passando dos anos trinta e da Guerra Civil de Espanha para a atualidade, leio que a mãe de um dirigente do Desportivo das Aves terá escondido uns contratos desse clube com o Benfica. Quando era miúdo, a minha mãe escondia, de mim e da minha irmã, bolachas e chocolates para que não os comêssemos de uma vez só. Bastava pensar como a minha mãe para descobrir o esconderijo, de onde ia subtraindo umas partes mas deixando sempre as embalagens incólumes para disfarçar. É esta minha experiência que me permite saber onde a mãe do dirigente do Aves escondeu os contratos. Não tenho dúvidas que os escondeu na cômoda do seu quarto, no gavetão das peúgas. As meias, verdades e mentiras, são o forte do Benfica. Isso sem heroísmo, honra e inteligência, passados quase cem anos da Guerra Civil de Espanha. Como diz um amigo meu, estas coisas só acontecem num país em forma de caixão, onde, digo eu, nem uma guerra civil em condições permitiu que tivéssemos o nosso Guernica.

9 comentários:

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    1. Obrigado pela leitura e pela correcção. O corrector do "word" tem a mania de dar erro mesmo quando as consoantes não são mudas, como é este o caso, e ou corrigir ou apresentar alternativas que carregamos sem ver.

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    2. Interceptado está perfeitamente bem escrito, e o "p" não é tão mudo como noutras palavras. Por exemplo, retirar o "p" da palavra Egipto, para muitos iluminados, é o correcto, ah e tal, porque é mudo e está ali a mais, só serve para gastar tinta, tempo, esforço, dinheiro, etc.

      Pergunto a esses iluminados, como se chama um habitante ou natural do Egipto? Será um egício?

      É egípcio!!!

      Assim se escreve em bom português, e não em bom acordês.

      SL

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Caro Rui,

    Isso interessa a quem ? O primeiro ministro já veio falar que na duvida o Xistra apitava a favor do Porto.
    É o que dá ter os seus jogos apitados da maneira inversa aquela a que assistiu hoje.

    Relativamente aos contratos, coitada da senhora, não viu que as peugas do filho traziam lá papelada e lavou tudo na máquina da roupa.

    Antes lavar contratos do que dinheiro que faz falta a toda a gente..
    Então se senhora leva a lavar a farinha da porta 18, era uma maçada gigantesca.
    Lá se ia a lavandaria...

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  4. A (raiz) semântica e a etimologia dos vocábulos contêm a sua história, evolução, significado, em suma, são a estrutura de uma língua.

    Alterar palavras por decreto, é só a coisa mais estúpida que fizeram à língua portuguesa, não admira que cada vez haja mais ignorância, é o mesmo que reescrever a história e retirar-lhe episódios, ou transformá-los noutra coisa.

    A grafia não é meramente uma questão derivada da fonética, ou uma função da mesma, pelo contrário, faz remontar as palavras aos seus étimos, à sua origem, à sua forma primitiva, e à família a que pertence.

    É na verdade o respeito por essa grafia que permite decifrar e compreender um vocábulo e a sua composição.

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    1. Epá, a erudição do blog chega e sobra! não é preciso encarecer a coisa...

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  5. Esta história/ estoria das peugas fez-me lembrar um anuncio da decada de 70 : "OMO - Lava Mais Branco".
    Por outro lado estamos à espera da DOUTA decisão do Sr. Meirim sempre tão pronto a castigar o ex- presidente do Sporting.O que LFV disse sobre o árbitro é intolerável!

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