segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Um comunicado special

 

Aguardávamos, com alguma ansiedade, desde o final da supertaça, por mais um comunicado do Benfica, em prol da transparência do futebol português. Em desespero, sentimos a tentação de avançarmos a nossas expensas com um comunicado em favor de um comunicado do Benfica. O nosso limitado arrojo e modestas ferramentas não nos permitiram avançar com tal empreitada.

Este fim-de-semana, após semelhante manifestação de democracia, civilidade e benfiquismo na assembleia geral do clube, ficamos com a certeza de, desta vez, termos direito ao nosso almejado comunicado. As nossas preces foram ouvidas e o comunicado finalmente foi comunicado. Para nosso espanto não versava sobre a gloriosa manifestação de sábado mas sobre supostas situações de arbitragem em jogos do Sporting (sendo o Porto injustamente esquecido?) e do Benfica. 

Sentimo-nos honrados por, num momento tão importante como este, se terem lembrado do SCP. Sabemos que não queriam, obviamente, desviar as atenções de algumas actuações menos conseguidas (é assim que se diz?) dos últimos tempos e que vivem um momento verdadeiramente special one. Nesse sentido, ficamos com esperança que os comunicados comuniquem com regularidade e não se descontinuem, sem razão aparente. É sinal que estamos no bom caminho. Bem hajam!

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

E agora algo completamente diferente

(clicar na imagem)

Continuo sem perceber o entusiasmo e a divagação sobre a suposta existência de um desporto parecido com “futebol” na Arábia Saudita e arredores. Creio não exagerar ao considerar aquela monarquia (absoluta) uma tecnocracia despojada de qualquer verdete que a possa associar, ainda que remotamente, a uma democracia, sem qualquer respeito pelos direitos humanos, um local pouco recomendável onde minorias, jornalistas ou partidos políticos são tolerados desde que não existam. Com o recurso a alta tecnologia de raio-x alguns eleitos poderão observar a existências de senhoras em locais públicos, o mesmo não será necessário para ter acesso a espetáculos culturais muito em voga, como a tortura de seres humanos e sentenças de morte por decapitação, presumivelmente com lotações esgotadas. Não pretendo ser exaustivo.

Erradamente, alguns entendidos, pretendem ver no futebol de hoje uma “indústria do futebol”. Após o advento sério da profissionalização e o desenvolvimento de um negócio (ou negócios) global, principalmente a partir da década de 1990 (Premier league, por exemplo), o futebol, de facto, sofreu um processo de “industrialização”, envolvendo a movimentação de grandes somas de dinheiro e a criação de áreas adjacentes de produtos comercializáveis. A mercadoria diversificou-se e o espetáculo (não confundir com o jogo) converteu-se no capital a um tal grau de acumulação que se tornou imagem, para seguir aqui uma linha de pensamento de Guy Debord já bem antiga.

Embora componente essencial da corte actual que o rodeia, não podemos ver o futebol (e tudo o que o envolve) de hoje apenas como uma indústria (de resto, aqui um termo sem sentido), ou mesmo como fazendo parte de um processo, como atrás referido; entendendo-o antes, segundo o signo da especulação pura, seja esta financeira ou futebolística, num quadro diversificado de interesses que empregam o futebol como veículo para as suas actividades, políticas, ou simples interesses privados. A imagem do futebol assiste a projeção de outras imagens, facilitando a transformação dos seus conteúdos, reconvertendo-os com o auxílio da muleta do (suposto) desporto.

Sempre existiram donos de clubes, compras e vendas, veja-se a história do futebol em Inglaterra (Elton John comprou o Watford em 1977) e Itália. Todavia, nunca como nos últimos anos, grupos de interessados, profissionais do investimento, países e organizações, nomeadamente, da Península Arábica e arredores, revelaram tanto interesse no futebol, seja como patrocinadores, compradores de clubes e SADs, ou simples investidores. Nunca como hoje, uma verdadeira trupe de influenciadores, empresários, facilitadores, consultores e aventureiros se insinua ao serviço do futebol.

Enfim, alguns exemplos interessantes, cuja actualidade nos diverte: SAD do Boavista, de quem principal investidor, Gerárd López, era também dono do Bordéus, dois históricos afastados das competições profissionais; Evangelos Marinakis, dono de clubes como Olympiacos e Nottingham Forest, investidor (dono?) no Rio Ave, entre outros, alguém que o Sporting conhece bem; John Textor, um génio do empreendedorismo que tentou o Benfica (que pena!), dono do Botafogo, ex-Olympique lyonnais (teve de se ausentar para o clube não desaparecer), Crystal Palace, entre outros, com as incompatibilidades que se imaginam nas competições internacionais. Ou exemplares mais sérios como o City Football Group Limited ou QSI (Catar Sports Investments) donos do City e PSG, respectivamente É clicar nos links para superficialmente ver a profundidade e a sinuosidade dos seus vastos interesses.   

O Catar, um país com longa tradição futebolística, entre outras, mais óbvias, já teve o seu mundial em 2022 (não perdi grande tempo com aquilo). A Arábia Saudita prossegue a sua demanda (até me custa escrever isto) de charme e limpeza da imagem, sportswashing (é assim que se diz) através de investimentos massivos (internos e externos - sem o seu dinheiro não teria existido aquele inenarrável mundial de clubes, já que os patrocinadores interessados eram poucos), e operações cosméticas generalizadas, tentando ocultar a realidade do país e atrair jogadores e treinadores. Cristiano Ronaldo não é pago principescamente apenas para jogar futebol aos 40 anos, mas para fazer parte da imagem do futebol e do país que o agasalha, a Arábia Saudita. O mister Jorge Jesus farta-se de elogiar o poderio da liga saudita enquanto come peixe perto de Lisboa. Cada um ganha a vida como pode e quer. Nada disto vale uma boa indignação.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Não vendas a pele do urso antes de o matar

Após a reta final da rampa das transferências, com a malta acampada em redor das melhores curvas, meu deus, aquilo não é uma rampa, é uma estafa, começa no início de Junho declinando (em alguns casos) no final de Agosto; parecem mesmo as férias grandes no final da década de oitenta quando a malta até se esquecia que estudava. Aqui é parecido: apenas remotamente alguém recorda a existência de um campeonato de futebol, só interessando o relato das transferências, em directo e em várias plataformas. Tanto se esquece, que existem clubes que tentam escrever jogadores no último minuto do prolongamento (jogadores que estavam a ser negociados desde o início das férias grandes) e nem sempre a coisa corre bem. Talvez, afinal, o interesse não fosse assim tanto, conjecturamos nós, que não percebemos os meandros desta corrida de movimentos ímpares e especulatórios.  

Afinal o campeonato já tinha começado, mas apenas no sábado passado. Só no sábado passado se percebeu, ou talvez nem tanto, que o Viktor Gyökeres já não joga no Sporting. Os problemas que ocorrem durante o recreio têm de ser resolvidos pelos outros meninos ou com a intervenção do professor responsável.

Algumas cabeças, ditas pensantes, ficaram surpreendidas. Na primeira parte do recreio a brincadeira correu sem grandes sobressaltos, com uma oportunidade falhada clamorosamente (estava a ver que não conseguia enfiar esta palavra), e um agarrão dado por um menino a outro menino num local proibido para esse efeito. Ninguém achou grande perda, não tardava e o Viktor resolveria.

Sucede que o Viktor Gyökeres já não brinca, o Diomande e o Maxi não estavam no recreio, tendo faltado às aulas para se deslocarem a um centro de saúde (com uma fila de espera razoável), o Kochorashvili andava por ali perdido, com medo das meninas, ao ponto de marcar com os olhos (ele, e o Mangas) o autor do segundo golo, já que no primeiro ninguém se deu sequer ao trabalho de marcar o menino, nem com os olhos. Depois a brincadeira ficou séria, recorrendo-se, inclusive, a um rapaz loiro que o professor não gosta de por a brincar com os outros, acabando o tempo de recreio sem que nada o fizesse esperar.