Dito de cor, não precisamos de
olhar lá para fora para percebermos que a cidade está vazia (já esteve mais). A
“normalidade” é agora uma noção anómala sujeita a variadíssimas oscilações.
Como era? Como vai ser? A normalidade nunca é igual para todos, em dado
momento. O futebol não é um mundo à parte mas comporta-se como tal. Vivendo
muito acima das suas reais possibilidades (não apenas em Portugal, mas em todo
o lado), assemelha-se a um balão inchado, extremamente dependente de quem lhe
sopra as golfadas necessárias à sobrevivência (publicidade, televisão, mecenas
bem e mal intencionados, maquinaria de lavagem de dinheiro, apostas), devidamente
municiado pelas instâncias internacionais a seguir os bons exemplos: UEFA e
FIFA. Alguém acredita nisso?
Também o futebol vai precisar de
ventiladores e de passar algum tempo nos cuidados intensivos. Também o futebol
será alvo de incontáveis metáforas. A sua indústria, como alguns gostam de lhe chamar,
é um artifício meramente especulativo. Onde se encaixam os adeptos, os
associados, nestas andanças? Perguntem aos ansiosos comentadores dos
intermináveis programas da normalidade passada, uma lateralidade história (e
histérica) que gravita, hoje em dia, algures, entre o FIFA 20 e o canal
história. O programa mais transferências, apenas terá mudado de nome para menos
(ou nenhumas) transferências. A vida não pára.
A competição vai voltar, anuncia
o jornal A Bola. Não se sabe (apenas)
em que moldes. O Record mostra os
jogadores do Sporting trajados de vida caseira, separados por não sei quantos
metros ou campos, o bastante para umas fotografias. A normalidade (im)possível.
Quando era puto havia o jogo da bola invisível, nunca pensei ser possível o
jogo com jogadores invisíveis e adeptos inexistentes. Fica só a bola. Dá para
matar o bicho, para quem tem fé.
Nota: A aragem financeira para os
lados de Alvalade não corre de feição. Até aí, a normalidade não descamba. Todavia,
o lay-off imposto à generalidade dos funcionários mostra, à evidência, que as
notícias da negociação recente de um treinador por valores que rondavam os dez
milhões de euros, só poderiam ser manifestamente exageradas. Caso contrário, lá
teríamos que ferrar o cão.
Caro Gabriel,
ResponderEliminarTalvez esta crise venha a obrigar os clubes portugueses e de todo o mundo a voltar à normalidade porque o que se foi vivendo não era só anormal, chegando à irrealidade. Esperemos que esta crise sirva para parar a roda dos milhões de dinheiros sem origem nem destino. Há muito melhor forma de gastar esses milhões e sobre eles se cobrarem os impostos devidos.
Um abraço
Caro Rui,
EliminarA memória é curta e selectiva. O futebol é quem o dirige (e quem com ele lucra). Enquanto isso não mudar... Aliás, as partículas que gravitam à sua volta e que dele emanam, andam por aí, a balouçar para ver de que lado deverão cair.
Um abraço
Caro amigo, grande posta
ResponderEliminarA normalidade do futebol é uma anormalidade tolerada porque, como se diz na minha terra, daquela gamela se alimentam muitos. Ao primeiro sinal de crise, mesmo aqueles que gastam muitos milhões num jogador começam logo a estender a mão de merceeiro (sem ofensa). É quase tão triste como esses comentadores de bola que insistem em falar de casa sobre nada e coisa nenhuma.
O Sporting, na pessoa do inenarrável Zenha, entre outros, continua a dar cartas como companhia de teatro amador. Pena ninguém os colocar em layoff… a cominho do despedimento por justa causa.
SL
Obrigado, meu caro
EliminarTudo junto, o melhor é adiar a alta ao futebol. Talvez se consiga voltar um pouco às bases.
O amadorismo, no teatro, terá as suas virtudes. Não será aqui o caso.
SL
A companhia de teatro amador