Ouvi há dias, na Globo News, uma entrevista de Ciro Gomes, eterno candidato a Presidente da República do Brasil, sobre a recente demissão do Ministro da Justiça, Sergio Moro, do governo presidido por Bolsonaro. Trata-se de um ministro com imensa popularidade resultante do seu papel como juiz no megaprocesso Lava Jato que levou à prisão, inclusivamente do ex-Presidente Lula. Na sua demissão, Moro fez uma série de acusações a Bolsonaro de interferência na Polícia Federal e em processos judiciais em curso que o envolvem e aos seus filhos.
A este propósito, Ciro Gomes construiu uma alegoria muito divertida. Disse qualquer coisa como isto: “Moro vivia numa penumbra entrecortada pela luz diáfana de uns candeeiros vermelhos e lilases, onde passeavam à sua volta senhoras com pouca roupa e de taças de champanhe barato na mão, e demorou dezassete meses a perceber que se travava de um prostíbulo”. Na segunda-feira, quando comecei a ler o Público e dei com um artigo de opinião de duas páginas de Fernando Gomes, Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, veio-me à cabeça essa alegoria.
Fernando Gomes é Presidente da Federação Portuguesa de Futebol desde 2012. Foi Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional de 2010 a 2012. Antes disso e desde 1994, exerceu vários cargos de direção no Futebol Clube do Porto e na sua Sociedade Anónima Desportiva. Fernando Gomes demorou vinte e seis anos a perceber que: “não se pode permitir que se vendam ilusões aos jovens”, “os orçamentos dos grandes clubes não podem estar dependentes das participações nas competições europeias”, “[se deseja] um jogo com mais qualidade técnica, menos faltas, mais respeito pelas arbitragens e mais respeito entre pares”, “os clubes têm de aceitar que as regras precisam de ser duras, apertadas e para cumprir”, “[é preciso] terminar este ciclo de violência física e verbal que nada tem a ver com o futebol”.
Fernando Gomes é dado a epifanias. Já em 22 de setembro de 2017, numa outras crónica no Público tinha descoberto que: “é necessário que os clubes saibam encontrar pontes de diálogo naquilo que os une e deixem de permitir que os seus símbolos, a sua história e a sua força sejam capturados para a apologia do ódio”, “o clima que se vive no futebol profissional português é inimigo do crescimento e da afirmação da indústria e também um péssimo exemplo para os mais jovens”, “as críticas [às arbitragens], que muitas vezes são inspiradas em dirigentes com as mais altas responsabilidades, potenciam o ódio e a violência”, “o clima de ódio tem tido reflexo também entre os adeptos”, “existem sinais de alarme no futebol português”.
Aparentemente, o puro e simples proselitismo rende e tem boa imprensa. Ninguém pede e muito menos exige responsabilidades. Hipocrisia por hipocrisia sempre prefiro a de Sergio Moro: as suas revelações necessitam de menos tempo e sempre é consequente com elas.
Como sempre, excelente!!!
ResponderEliminarO Rui é a prova de como a inteligência faz toda a diferença. Brilhante!
ResponderEliminarObrigado Pedro.
EliminarÉ no mínimo estranho para não se dizer outras coisa que alguém que tem há tantos anos responsabilidades no futebol português tenha estas epifanias sem se dar ao trabalho de explicar as acções concretas que desenvolveu e espera desenvolver para resolver os graves problemas que identifica.
Chama-se a isto sonsice. No entanto, pega sempre. A imprensa fartou-se de dar cobertura a esta reflexão razoavelmente indigente sem ninguém se dar ao trabalho de avaliar o seu trabalho e lhe fazer umas tantas perguntas sobre o que espera fazer.
Um abraço
Caro Rui,
Eliminarhá aqui um aspecto que não deve ser olvidado: a natureza tem horror ao vazio e Proença deixa muito espaço por preencher. Na minha análise, quando Fernando Gomes fala em vender os direitos de transmissão da Liga no estrangeiro já está a ocupar esse espaço. Como, por que meios atingiria esse objectivo, não é dito. Nem é isso que é relevante nessa estratégia. O fundamental foi atingido: expor o que (não) tem sido feito na Liga, o tal vazio. Faltará saber se Fernando Gomes será capaz de dar o passo seguinte e avançar para as necessárias reformas do futebol português. É que para lá dos "highlights" há todo um trabalho de formiguinha, de ourives, para que se possam traduzir na prática os objectivos. E uma coisa são objectivos, outra as ideias que assegurarão o cumprimento desses objectivos, outra ainda o trabalho político que será necessário fazer para a sua implementação, sem que as inevitáveis cedências prejudiquem o objectivo final de um futebol português competitivo e transparente.
Abraço
Tenho de ler e reler o artigo de Fernando Gomes. Deixou-me "apardalado", atónito!
ResponderEliminarEste Fernado Gomes será o mesmo do FCP?
Se é, não parece. Não fosse o Covid-19, era capaz de ir a Fátima a pé.
O povo na sua infinita sabedoria costuma dizer: "vai cair um santo do altar"
João Balaia
Caro João,
EliminarParece-me mais para dar resposta a alguma recado que lhe deu o António Costa para aceitar o reinício do campeonato. Qualquer coisa como: "espero que durante este período crítico da COVID-19 não se passem as vergonhas do costume".
SL