Uns falam muito e conseguem não dizer nada – estão neste
patamar alguns políticos da nossa praça; outros nada falam mas conseguem passar algumas coisas. Estão neste limiar os dirigentes do Sporting que nos últimos tempos se escondem atrás das
conferências de imprensa do treinador. Amorim que ainda há pouco tempo era
acusado de não ter qualificações para treinador de futebol, disserta agora
sobre dinheiro e capital, gestão e empreendedorismo como se de um catedrático
do IST se tratasse, ou de um avisado comentador económico nas tardes da Júlia.
Tudo isso poderia se afigurar estranho não tivesse eu andado
a banhos e a whiskies velhos, peixinhos grelhados e tintos a condizer. E, nesse
sentido, um pouco distraído. De volta, comecei a intrigar-me com alguns
comentários de Amorim, principalmente na sua versão economista nas tardes da
Júlia, não conseguindo discernir se o homem está realmente dentro de todo o
processo ou se navega ao sabor dos velhos bitaites internos.
Não sendo um fanático dos factos - ou mesmo da realidade - embora
apreciador do realismo mágico, consigo serenamente olhar o homem na sua
circunstância: vários titulares foram à vida (mais o Tabata) às pinguinhas (e o
mercado ainda não acabou), outros entraram, mas já o ano passado a equipa
parecia mais que espremida. Entrou o dinheiro da liga dos calmeirões, acrescido
das vendas de jogadores, supostamente parte da reestruturação da dívida ficou
concluída com reconversão das VMOC, a equipa vinha sendo preparada com antecedência,
segundo os responsáveis, isto é, Amorim. Se o treinador afirma que a
incoerência não é dele, será do comentador de economia das tardes da Júlia?
Temo que voltemos ao tempo da visão estratégica e dos funâmbulos das contas.
Chegamos ao Dragão com passagem em Braga: três vezes na
frente do marcador, três vezes nos deixamos empatar, algo nada normal durante o
consulado Amorim, treinador. Mesmo descontando os erros individuais, intrínsecos
a todo o ser humano, percebemos que a equipa como um todo defendeu de forma
mais desorganizada. O jogo treino com o Rio-Ave serviu para a despedida de
Matteus Nunes. A discussão arrebatada sobre se Amorim já sabia ou não sabia da
saída de Matteus, se o timing terá sido o melhor (meu deus – a janela de
mercado dura uma eternidade), são lateralidades pouco importantes numa semana
com um clássico que nos poderia deixar a cinco pontos do Porto.
Amorim continuou o seu trabalho como um avisado comentador
económico nas tardes da Júlia, o que lhe deve deixar pouco tempo para treinar a
equipa, não sabemos. E não sabemos se existirá mais alguém no clube(?), já não
digo um presidente, mas um vogal, um
assistente administrativo que possa ir às tarde da Júlia, se não for para esclarecer
ao menos para deixar o Amorim treinador treinar a dor como diria o Abel Xavier.
Felizmente o Hidemasa Morita ainda pesca pouco de português e
não deve assistir às tardes da Júlia (agora o programa chama-se apenas Júlia,
mas como passa de tarde..), e assim não sabendo da existência do comentador avisado
de economia Amorim começou o jogo no Dragão com vontade de resolver aquilo com
um remate tão colocado que acertou no poste. A primeira vez que o Porto foi à
baliza do Sporting quase que o Taremi sacava um penalti, mas a bola sobrou para
um isolado Evanilson e o árbitro já não teve de picar o ponto. A história da
segunda parte mostra-nos um Sporting um pouco desorientado, até o Adán andava
aos papéis, o Porro com a cabeça nas mãos acenando a um Sarabia fantasmático.
No final não fiquei para os comentários. Novidades, já
sabemos, é nas tardes da Júlia.