quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Jogar de smoking

Para grandes males grandes remédios. Se os mercados querem sangue nós damos-lhes sangue. Face ao pior arranque de sempre do campeonato, a nossa direcção não perdeu tempo a tomar decisões. Podiam ter comprado o pinheiro que nos faz falta. Podiam despedir o treinador e contratar outro. Podiam demitir-se. Mas isso não era ir à raiz do problema.

A directiva interna do Conselho Directivo não deixa dúvidas. Todos os funcionários têm que ter uma “imagem profissional, dentro do parâmetros habituais de higiene e de vestuário adequado, questão que tem um impacto importante na representação e imagem do próprio clube”. Para além de estarem proibidos de cheirar mal, os funcionários não podem usar “calças de ganga, calções, bermudas, ténis, chinelos desportivos e havaianas, assim como apresentarem-se com piercings e tatuagens”.

Esperemos que esta medida não venha a ser contraproducente. Não tendo muitos dos nossos jogadores grande jeito para a bola, aconselhava-se o recurso ao fato-macaco e não, propriamente, ao smoking.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Acabou a paciência

Este ano, ainda não fizemos um jogo em condições. A tragédia foi-se transformando em farsa.

Ninguém percebe rigorosamente nada do que se passa em campo. No ataque, hoje começaram por jogar uns e acabaram outros. Ao intervalo, saíram dois. Fica-se com a sensação que aquilo é tudo fruto do momento, do acaso. Nada está pensado.

O único avançado decente é o Vukcevic. Mas raramente joga. A imprensa não gosta. É um jogador individualista, dizem uns. Não é bom companheiro, dizem outros. Ninguém diz o óbvio: é o único no ataque que cria lances de perigo e o resto é conversa.

Em vez dele, temos com frequência o Postiga, que se arrisca a ser um dos avançados mais ridículos do Mundo. Hoje gramámo-lo 90 minutos em campo.

Quanto tempo vai demorar isto a terminar?

Segue dentro de momentos...

As inevitáveis falhas técnicas de mais um ensaio experimental e pioneiro de Paulo Sérgio não espantaram ninguém. Afinal, tudo aquilo estava a acontecer ali mesmo, sem rede, ao vivo e em directo, e era perfeitamente natural que tal sucedesse. No final, o habitual: pedimos desculpa por este programa, a interrupção... segue dentro de momentos. E o problema técnico, também…

sábado, 25 de setembro de 2010

Se não puderes ajudar…

Recorda Javier Marías, no seu “Selvagens e Sentimentais – Histórias de Futebol” que “antigamente, chutar, o que se chama chutar, todos sabiam fazer, desde o 2 até ao 11. Uns melhor e outros pior, mas todos decentemente quando a ocasião o impunha. Em certo sentido era a base prévia ao básico do jogo. Até no recreio do colégio: alguém que atirasse a bola sempre por cima da rede – uma bola era cara – simplesmente não jogava". Esta absurda evolução recente que faz com que equipas e jogadores não saibam chutar "só pode dever-se a uma coisa: a que os treinadores limitam já tanto as funções e a especialização de cada jogador [desde muito novos] que não vêem inconveniente em que seis ou sete não façam a menor ideia do que é atirar à baliza”.

Nos avançados saber chutar é, por maioria de razão, quase… tudo. Reza a lenda (Caretas do Sporting, 2007) que, na estreia de Peyroteu pelo Sporting, o treinador Szabo chamou-o à parte e disse-lhe “Não esquecer principal papel avançado-centro, caréga Maria!”. No requintado dialecto do húngaro, “caréga Maria” significava marcar golos. E Peyroteu carregou. Marcou dois dos cinco golos da vitória leonina sobre o Benfica (5-3) nessa primeira tarde de glória nas Salésias. E, depois, continuou a carregar. 635 golos em 393 jogos...

Hoje, os tempos são outros. Nestes dias de tempestade, Paulo Sérgio (neste caso, mais vítima do que réu), a 15 minutos de mais um dramático final de jogo, decide, desesperado, lançar mais um avançado: “Tenho que fazer qualquer coisa! Ora, bolas, dum lado chove, doutro faz vento.” – pensa, enquanto sorteia quem, de entre Postiga, Djaló ou Saleiro, irá, de seguida, fazer entrar em campo.

Lembrando as suas raízes alentejanas, toma, então, a decisão: “Calhando, vinagre no deserto, é vinho de três anos. Vá lá, Postiga, desta vez, saiu-te a ti! Pranta-te pronto, tu vais resolver isto! És manilha para isso! Força, salta pró terreiro e vê lá se t´aguentas nos calções. E, se não puderes ajudar, atrapalha. O que importa é participar!”

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Irritação


Neste momento, o que mais me irrita é que exibições como a do Sporting contra o Benfica já não me irritem. Mal começo a ver o jogo já sei como tudo vai acabar.

O Benfica, perdidos o Di Maria e o Ramires, tem um meio campo e um ataque a diesel. Mesmo a jogar devagar, a maior parte deles não aguenta mais do que uma hora de jogo. Escapa o Coentrão, que é um grande jogador e joga a outro ritmo.

Mesmo assim, o Sporting deixou-se pressionar. Por jogadores tão rápidos e agressivos como o Cardoso, o Carlos Martins, o Aimar e o Saviola.

Depois continuamos um grupo de bons rapazes. O Cardoso ganhou em falta (umas marcadas, outras não) uma série de bolas ao Nuno André Coelho (NAC). No segundo golo assim foi (nesse golo acumulam-se duas faltas, a que foi feita sobre o NAC e o ajeitar da bola com o braço). Ninguém está à espera que na Luz os árbitros marquem esse tipo de faltas. O que se está à espera é que o central explique da forma mais pedagógica possível ao Cardoso que não pode ganhar as bolas saltando de braços abertos, à cotovelada (o Tonel, não sendo um excepcional central, teria explicado, como sempre, isso muito bem ao Cardoso).

Por fim, sobra sempre o nosso “fair play”. Vários foras de jogo mal assinalados, um golo irregular, uma entrada do Xavi Garcia a matar (por muito menos, o João Pereira foi expulso em Alvalade), a expulsão perdoada ao Ruben Amorim e, nós, nada. Por muito menos do que isto, o Benfica faria mais uma reunião dos órgãos sociais para decretarem o boicote ao Campeonato e as televisões passariam de meia em meia hora durante uma semana, pelo menos, o golo irregular, com os comentários do João Querido Manha ou assim.

Façam qualquer coisa. Irritem-se, pelo menos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Jesus, 2 - Escuteiros de Alvalade, 0

Oração do Escuta

Senhor Jesus
Ensinai-me a ser generoso,
A servir-Vos como Vós o mereceis,
A dar-me sem medida,
A combater sem cuidar das feridas,
A trabalhar sem procurar descanso,
A gastar-me sem esperar outra recompensa,
Senão saber que faço a Vossa vontade santa,

Ámen


Cortês, leal, amiga do seu amigo, obediente, económica, pura no pensamento, na palavra e na acção. Sorri e assobia (para o ar) perante todas as adversidades. O seu dever é ajudar sempre o próximo (adversário). Do Presidente, ao Treinador, aos jogadores, tudo gente delicada, respeitadora e aprumada em quem podemos confiar! Em campo, parecem gentlemans da Linha. Apenas o Maniche, o João Pereira e o Liedson destoam aqui e ali. Compreendo melhor, agora, a saída do bad boy Tonel. Sporting 2010/2011, uma verdadeira equipa de escuteiros, sempre alerta para servir... de cordeiros!

domingo, 19 de setembro de 2010

O Professor: Último Acto: Plus Ultra, adaptado de “O Alienista”, de Machado de Assis

Um belo dia, contudo, para surpresa geral, o Professor anunciou que todos os pacientes internados na Casa do Futebol se encontravam curados e poderiam, portanto, ser libertados.

Se imaginais que o Professor ficou radiante ao ver sair o último hóspede da Casa, mostrais que com isso não conheceis o nosso homem. Plus Ultra! Era a sua divisa. Não ficou alegre, ficou preocupado, cognitivo: alguma coisa lhe dizia que a teoria nova que tinha vindo a desenvolver tinha, em si mesma, outra e novíssima teoria.

Vejamos – pensava ele: - vejamos se chego enfim à última verdade. Sim, há-de ser isso! I've gotta feeling – Woohoo!

O Professor encontrou, então, em si as características do perfeito equilíbrio mental e moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades, enfim, que podem formar um acabado mentecapto. Duvidou logo, é certo, e chegou mesmo a concluir que era uma ilusão; mas, sendo homem prudente, resolveu convocar um painel de amigos, integrado por Rui Santos, Pinto da Costa, Dias Ferreira, Seara e ainda pelo seu habitual séquito de 50 adjuntos, a quem interrogou com franqueza. A opinião foi afirmativa.

- Nenhum defeito?

- Nenhum – disse em coro o painel.

- Nenhum vício?

- Nada.

- Tudo perfeito?

- Tudo.

- Não, impossível – bradou o Professor – digo que não sinto em mim esta superioridade que acabo de ver definir com tanta magnificência. A simpatia é que vos faz falar. A verdade é que ainda hoje me persigo por aquelas substituições do Paulo Torres no 3-6 contra o Benfica e do Hugo Almeida no Mundial contra Espanha. Não percebo ainda hoje porque convoquei dois defesas direitos de raiz para o Mundial e, depois, coloquei a jogar como titular naquela posição um… mau central. Penalizo-me ainda hoje por não ter levado o Moutinho ao Mundial, quando o rapaz era o único totalista das minhas convocatórias até essa altura. Pergunto-me ainda hoje se, enquanto Treinador de Selecções jovens ou Adjunto de Equipas Profissionais, não terei atingido o limiar de incompetência do princípio de Peter? Aaah, sim, e há também aquela sentença em forma de questão que ainda hoje atormenta as minhas noites de insónia: “Porque perdemos? Perguntem ao Professor”. Não, meus amigos, estudo-me e nada acho que justifique os excessos da vossa bondade.

O painel insistiu; o Professor resistiu; finalmente, Seara, com ar de sacristão, explicou tudo com este conceito digno de um observador: Sabe a razão por que não vê as suas elevadas qualidades, que aliás todos admiramos? É porque tem ainda uma qualidade que realça as outras: a modéstia.

Era decisivo. O Professor, curvou a cabeça juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Acto contínuo, recolheu-se à Casa do Futebol. Em vão os amigos insistiram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado; nem rogos, nem sugestões, nem lágrimas o detiveram um só instante. - A questão é científica – dizia ele; - trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática. Fechada a porta da Casa, o Professor entregou-se, então, até ao fim dos seus dias, ao estudo e à cura de si mesmo.

O Professor: Segundo Acto: A Casa do Futebol, adaptado de “O Alienista”, de Machado de Assis

Regressado a Portugal e sustentado pela fama que o precedia, o Professor decidiu, então, concretizar o seu maior sonho, fundando a Casa do Futebol, em Lisboa, no antigo edifício do Hospital Júlio de Matos. Com o apoio do Governo, o Professor internava compulsivamente na Casa todos aqueles que entendia que não possuíam rudimentos mínimos do fenómeno futebolístico, submetendo-os a um vasto programa de testes e tratamentos até que alcançassem o estádio superior do conhecimento científico do futebol.

De início, começou por proceder ao internamento de casos mais evidentes e consensuais, como Luís Campos ou Carlos Azenha. Seguiram-se, sem surpresa, Querido Manha e Joaquim Rita. Rui Santos, o querido amigo de longa data do Professor, também não escapou: ainda balbuciou qualquer coisa do tipo “ai, ai, ai, isso agora é que não pode ser”, mas lá teve que se resignar ao internamento ante o douto parecer do Professor. Paulo Sérgio, Carvalhal e Freitas Lobo queriam, eles próprios, por sua iniciativa, dar entrada na Casa do Futebol e, depois de várias tentativas, lá conseguiram. Pelo contrário, Bettencourt, Filipe Vieira e Vale e Azevedo tentaram, numa primeira fase, protestar, mas acabaram por ser, também eles, internados (embora Vale e Azevedo tivesse, depois, conseguido interpor uma providência cautelar e… escapulir sorrateiramente pela porta dos “fundos”). Quando chegou a vez de Fernando Santos, o povo simples do futebol começou a interrogar-se: o Professor, estudioso e meticuloso como era, lá devia ter as suas razões, mas, que diabo, mesmo com todas as ajudas alheias, a verdade é que, na “ralidade”, o Fernando Santos era …o Engenheiro do Penta!

Gerou-se uma pequena tempestade na comunicação social desportiva em Portugal. O Professor, sempre arguto, convocou uma conferência de imprensa: “Direi pouco, ou até não direi nada, se for preciso. O futebol é, meus senhores, uma coisa séria e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus actos de Treinador a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. Se quereis emendar a administração da Casa do Futebol, estou pronto a ouvir-vos; mas se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada. Podia convidar alguns de vós a vir ver comigo os hóspedes da Casa; mas não o faço, porque isso seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos, nem a rebeldes”. Ante os argumentos de autoridade exibidos pelo Professor, a Comunicação Social ficou convencida e dispersou.

O internamento de novos pacientes continuou – Hugo Gilberto, Pôncio, Dias Ferreira e Seara foram os senhores que se seguiram. Surpreendentemente, porém, passados uns dias, o Professor anunciou a libertação de todos os hóspedes da Casa do Futebol, assumindo, com humildade, o seu erro: de acordo com as conclusões irrefutáveis dos estudos minuciosos que tinha vindo a desenvolver sobre os hóspedes da Casa (na altura, já cerca de seis milhões e pico de reclusos), deveria ser nela internado, afinal, quem tivesse sólidos conhecimentos científicos do futebol e não o contrário.

A população rejubilou com esta decisão do Professor, a comunicação social acolheu-a também de bom grado e a tranquilidade regressou, pois, ao Reino do futebol. Porém, algum tempo depois, começaram a ser internados António Tadeia, depois, Jorge Jesus e, de seguida, Paulo Bento. E, logo… surpresa geral, Pinto da Costa. Uns dias depois, Sir Ferguson (que tinha vindo a Portugal para pedir ao Professor que devolvesse os seus pinos de treino favoritos dos tempos de Manchester), também teve a mesma sorte. Mais tarde, escândalo internacional, nem… Big Mou escapou ao internamento!

Face a uma enorme manifestação de protesto convocada para a Casa do Futebol, o Professor teve, então, que enfrentar corajosamente a rude populaça, expressando os seus pontos de vista com a habitual elegância e tranquilidade: Vocês são pessoas que ou não sabem ler ou, a partir de determinada hora, não sabem o que dizem. E, tu, pá, que queres, és grande, mas não és lá grande coisa! Oh, seus grandessíssimos &#### $$ ####, por que é que não vão protestar para a #$%# ## ###?!? E tu, pá, queres dois socos, é?!? . A populaça não esperava uma oração de sapiência tão telúrica e abrasiva por parte do Professor – alguns comentaram mesmo que as suas citações estavam a evoluir - e, também ela convencida pelo seu imenso talento, dispersou.

O Professor pôde, então, prosseguir sossegadamente a sua demanda do Santo Graal do conhecimento futebolístico, aprofundando os exames sobre os pacientes, através de vastos inquéritos ao passado e ao presente, aplicando-lhes, de seguida, o método terapêutico mais adequado. Como comentou na altura o sempre respeitado Gabriel Alves, a força da técnica havia, uma vez mais, levado a melhor sobre a técnica da força.

To be continued… Não perca, por volta das 12 horas da manhã, no seu ILdL, o Último Acto de “O Professor: Plus Ultra”

sábado, 18 de setembro de 2010

O Professor: Primeiro Acto: Um Imenso Talento, adaptado de “O Alienista”, de Machado de Assis

O Professor, tal como o Pacheco do Eça, era um ser superior, cujo espírito brilhante, ele mantinha, por opção própria, cuidadosamente ocultado e resguardado de tudo e todos, ficando quase sempre calado, recolhido, nas suas profundidades. Nascido nos ninhos de incubação das Universidades, o Professor dedicou-se, logo desde que lhe começaram a crescer os primeiros pêlos do bigode, ao exigente estudo científico do fenómeno futebolístico. Rapidamente, porém, ganhou asas e voou para o estrelato, ao produzir um conjunto de máximas futebolísticas tão originais e profundas como “o futebol tem de ser arte”, ou “o maestro [ele próprio, o Professor, naturalmente] fará funcionar bem a orquestra”, ou, ainda, “o melhor futebol do mundo tem de ser com os melhores jogadores do mundo”. O semi-sorriso enigmático e condescendente, a sábia gestão dos silêncios, ou o seu ar ausente ou de enfado quando tinha que justificar quaisquer opções tácticas perante o povo ignaro do futebol não enganava: estávamos perante um Treinador com imenso talento.

Era, também, sem dúvida, um gentleman: a forma sempre educada e cordial como nas conferências de imprensa e após resultados menos sucedidos dizia que “não acho que se deva discutir táctica entre treinadores e jornalistas” era manifesta evidência disso. A atitude frontal e corajosa como assumia as suas responsabilidades em momentos particularmente difíceis era, aliás, lendária: frases como “é preciso limpar a porcaria da Federação”, ou “herdei um Ferrari sem rodas no Real Madrid”, ou, ainda, “estava no lugar errado na hora errada” outra vez na Selecção Nacional, foram, entretanto, adoptadas como paradigmas de liderança em escolas de gestão internacionais tão prestigiadas como Harvard ou o MIT - Massachusetts Institute of Technology.

Apesar de ter sido sempre muito infeliz (enquanto Treinador de futebol profissional, bem entendido) em quatro dos cinco Continentes, o reconhecimento generalizado do seu imenso talento fazia com que ninguém se surpreendesse por a sua cotação permanecer, ainda assim, "em alta". Muito infeliz, é certo, nos resultados desportivos, o Professor era, porém, muito feliz nos resultados financeiros - como dizia o brasileiro Isaías a propósito das vultuosas indemnizações contratuais dos Treinadores despedidos (nesse caso, Artur Jorge), “o Professôo faz contrato por treis ano e recebe em treis meises…”. O Professor era, pois, um Treinador pobre em títulos, mas rico em ouro. Fiel seguidor de Samuel Becket, ele acreditava, piamente, na sua máxima: “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor”.

To be continued… Não perca, hoje, pelas 24 horas no seu ILdL o Segundo Acto de “O Professor: A Casa do Futebol”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

É a táctica, estúpido!

Saio mais cedo do trabalho. Dirijo-me à pastelaria da esquina para ver o jogo do Sporting. Encontro lá dois colegas a lanchar. Um é sportinguista, o outro é benfiquista. Olho para a televisão. Descubro, com surpresa, que estamos a ganhar um a zero.

Pergunto como é isso possível. O benfiquista, chocarreiro, diz que foi um golo aos repelões. Perdoo-lhe, como eles perdoaram ao Cardoso. Vejo a repetição do golo com o meu amigo sportinguista. Verificamos, como todo o rigor analítico, que se o André Santos quis fazer o que fez, então, o golo é uma jogada de manual. Mais, uma jogada de manual com intervenção do Abel (o que é, parecendo que não, uma contradição).

O jogo vai decorrendo morno. Até que o Torsiglieri avança determinado pela esquerda. Finta um adversário para dentro. Tabela com um colega, vai buscar a bola mais à frente e vira o jogo de flanco para o Vukcevic. Grito: “onde é que andava este homem?!”. O ânimo esmorece quando a bola vai para o Abel, que se desmarca pela direita. “Agora é que isto não dá em nada”, digo eu. Sai um cruzamento perfeito. Alguém salta, cabeceia e …. é golo. Ninguém percebe quem marcou. “Foi o Torsiglieri”, avanço eu. Vários jogadores se abraçam. Parece que todos estão a abraçar o Postiga. Eu e os meus dois amigos não queremos acreditar: o Postiga marcou um golo. O Postiga descobriu, dentro de si, o seu outro eu, o seu “alter ego” (pelo jeito, deve ser o Jardel).

A segunda parte não nos proporciona outra epifania. Para tornar o jogo mais emocionante, o Tiago dá um frango. Acabamos o jogo a defender de dentes cerrados, com quatro centrais, dois laterais direitos e um esquerdo e dois trincos (o Postiga permaneceu em campo para os do Lille continuarem a ter medo de nós).

Ganhámos. O nosso treinador afirma que não há um Sporting para consumo externo diferente do que joga na Liga. Está contente. Aquilo tem o dedinho dele e ele sabe que nós sabemos. Sorri como quem diz: “é a táctica”.

domingo, 12 de setembro de 2010

Onde pára o Carvalhal?

Levo a minha filha a uma festa de anos no shopping. Descubro que já não tenho tempo de regressar a casa para ver o jogo. Sento-me e vejo a primeira parte na praça da alimentação. Nada acontece do lado do Sporting. Anulam (mal) um golo ao Olhanense.

Ao intervalo, regresso a casa. Mantenho uma réstia de esperança. Não entro em casa. Dirijo-me ao café da esquina para ver a segunda parte. Aos sessenta minutos, com a entrada do Vukcevic, parece que ainda queremos fazer alguma coisa. Tudo se desvanece com uma perdida do incontornável Saleiro. Depois da tragédia, falta a parte da farsa, isto é, falta a entrada do Postiga.

Acaba o jogo. Tento lembrar-me de uma jogada, de um remate, de uma imagem, de qualquer coisas que me faça acreditar para a próxima. Nada me ocorre.

Como me parecia, este ano, com o Guimarães de Manuel Machado, o quarto lugar não são favas contadas. Quem será o Carvalhal que se segue? Quanto tempo vai demorar a chegar?

sábado, 11 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Risco de ausência no Euro 2012 origina corte no “rating”: Moody’s ameaça colocar Selecção Nacional no “Junk Bond”!

A agência de notação financeira Moody’s, de acordo relatório citado pela Reuters, decidiu, ontem, cortar no nível de “rating” da selecção portuguesa, por entender que, a médio prazo, esta vai continuar «com pouca força», tal como evidencia a “deterioração da defesa nacional” e o “escasso nível de performance ofensiva”. De qualquer forma, a principal razão que terá estado na origem deste súbito corte no “rating” da selecção nacional residiu em dois “default“ consecutivos que fizeram disparar o nível de risco de eliminação da fase final do Euro2012. Para a Moody`s as perspectivas de evolução da selecção nacional vão continuar a ser negativas. E só a médio ou longo prazo se poderão sentir os efeitos das aguardadas medidas positivas da Federação, envolvendo, nomeadamente, o desenvolvimento de um processo de “downsizing” e a consequente colocação em situação de “layoff”do actual, aliás, do recém - suspenso, perdão, do ex- ou futuro ex-seleccionador nacional, enfim, haa, hum, sim, esse mesmo, o Professor.

Este corte no “rating” é, assim, o culminar dos alertas feitos pela casa de notação financeira desde a fase final do Mundial da África do Sul. Na altura, a Moody`s exigia mais pormenores sobre o Plano Estratégico “Queiroz” (PEQ) 2010-2012 para definir a sua classificação. Mesmo com estas previsões pouco optimistas para o curto prazo, o Prof. Cantigas, reputado analista de risco, disse à Lusa acreditar no objectivo português de redução do défice de pontos para o primeiro classificado no Grupo H de Apuramento para o Euro 2012, mas alerta que a falta de consolidação do processo defensivo e a ausência de reformas estruturais no modelo de jogo vão limitar o crescimento da selecção nacional. Dada a necessidade de manter uma rígida estratégia defensiva nos próximos jogos, os riscos para o crescimento do nível de performance ofensiva estão claramente do lado negativo", afirmou aquele especialista.

Neste contexto, o Prof. Cantigas defende "cortes de 10% a 20% no número de jogadores das “quinas” em campo, por forma a criar maiores probabilidades de gerar uma melhoria duradoura na defesa nacional e, de seguida, uma melhor performance ofensiva”. Aquele perito, admitiu, no entanto, que, a menos que o activo Cristiano Ronaldo consiga recuperar rapidamente a sua capacidade goleadora em situações de um contra quatro, o endurecimento das estratégias defensivas levará a um menor crescimento da performance ofensiva de curto prazo, pior ainda do que aquele que tem vindo a ser assumido até agora.

O relatório bi-anual, em que a Moody’s, explica as decisões tomadas nos últimos seis meses ao nível dos "ratings", sublinha, por fim, que os ajustamentos tácticos da era pós -Queiroz serão "difíceis e dolorosos" e menciona Portugal como uma das selecções que mais devem sofrer para poderem vir a estar presentes na fase de apuramento do Euro 2012. A agência aponta que "nos próximos seis a nove meses, pelo menos, o impacto no crescimento da equipa nacional será provavelmente negativo (...). De qualquer forma e apesar de entender que a incerteza na recuperação da selecção portuguesa é maior que em situações anteriores, a Moody's considera "encorajadoras" as medidas que têm vindo a ser ponderadas pela Federação Portuguesa no sentido de proceder a um ajustamento estrutural no comando da selecção nacional. A agência acredita mesmo que, caso Paulo Bento assuma o comando da selecção nacional, Portugal irá adoptar medidas adicionais de contenção defensiva já em 2011, para cumprir as metas pontuais. De acordo com o referido relatório, «Existe uma forte pressão sob a selecção portuguesa para que esta consiga atingir os objectivos fixados para 2011 e, nesse sentido, acreditamos que serão apresentadas novas medidas estruturais que farão evoluir favoravelmente o modelo de jogo para um losango já nos próximos jogos da actual fase de apuramento».

domingo, 5 de setembro de 2010

Momentos Únicos: “Bala”, o “Quatro Estrelas” Genial!



Em Dezembro de 1990, Sousa Cintra, sempre genuíno, anuncia que pretende contratar mais um ponta de lança, nas suas palavras simples, um “quatro estrelas para ser suplente de... Fernando Gomes”, ex-capitão do FC Porto, então a actuar no Sporting.

Perante a desconfiança geral, lá apareceu mais um búlgaro, vindo de um clube com o “promissor” nome de Etar Tarnovo. Porém, afinal, nem era ponta de lança, nem era quatro estrelas. Era, simplesmente, Krassimir Balakov, porventura, o futebolista mais genial que tive o prazer de ver actuar ao vivo no Sporting Clube de Portugal.

“Bala” nunca foi campeão com a camisola do Sporting (apenas ganhou uma Taça de Portugal no seu jogo de despedida), apesar de ter jogado em equipas inesquecíveis, onde actuavam, por exemplo, Luís Figo, Paulo Sousa, Capucho, Cherbakov, Juskowiak, Naybet, Stan Valckx, ou Marco Aurélio.

Há, claro, diversas razões para essa equipa notável não ter sido campeã. Vivia-se, então, a época dourada dos “chitos do sistema”, onde, como chegou a afirmar publicamente o insuspeito José Silvano, ex-árbitro de Vila Real, Alvalade era o estádio português mais fácil para um árbitro dirigir um jogo de futebol, devido à grande distância existente entre o relvado e o público… O dirigismo ao nível federativo, também não ajudava: quem não se lembra da decisão da justiça desportiva portuguesa – posteriormente anulada pela UEFA - de repetir um Benfica – Sporting que os leões haviam vencido por 2-1 (aliás, com um extraordinário golo de Balakov) – sim, essa mesmo, a célebre “Taça Jesus Costa”, assim baptizada por Luís Figo no seu jogo de despedida do Sporting? Carlos Queiroz, que iniciou nessa fase a sua “brilhante” carreira como responsável máximo nos escalões séniores do futebol profissional (recheada de insucessos "épicos", de fartas megalomanias e de... lautas indemnizações), é outra das explicações para essa quase ausência de títulos, chegando a protagonizar diversas “ciumeiras” públicas com Balakov, pois, na sua douta concepção, apenas poderia haver uma única prima dona no Sporting: ele próprio, o Professor. Por fim, Sousa Cintra que, ao ver ruir a sua Presidência e, tanto quanto me recordo, para recuperar algum dinheiro que na altura teria investido directamente no Sporting, acaba por vender Balakov (então com 28 anos) ao Estugarda a “preços de saldo”.

Para quem gosta de estatísticas, Balakov fez, nos cinco anos em que actuou no Sporting, 168 jogos e marcou 59 golos pelo Sporting – o que é notável para um jogador que… não era ponta de lança (tomara, aliás, termos actualmente um segundo ponta de lança com estas estatísticas…). Mas, mais importante para quem gosta verdadeiramente de futebol, há momentos mágicos que, por muitos anos que viva, jamais esquecerei. Aquele golo no Bonfim, passando por tudo e por todos que surgiram à sua frente. Aquela “chapelada” ao Michel Preud’homme na Luz no tal 2-1 que há pouco referi. Aquele míssil que “fuzilou” Silvino logo nos segundos iniciais de um Sporting – Benfica. Aqueles livres teleguiados com força e precisão mortais. Aqueles cruzamentos ou passes em profundidade genialmente simples e letais. Que saudades!

Por tudo isso, nunca esqueceremos o genial Krassimir Balakov. “Благодаря, Балъков” (Obrigado, Balakov)!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Terapia motivacional: Se não puderes ser um Pinheiro…

Depois do flop da OPA sobre o “Pinheiro”, o CEO, preocupado com os níveis de toxicidade dos actuais activos da SAD, pede para falar com urgência com o Team Manager.

CEO – Bom dia, Team Manager. Enfim, vamos lá a isto que “time is funny”, ou lá o que é. Epa, como aquela coisa da OPA sobre o “Pinheiro” correu mal, temos que fazer algo em relação à valorização dos activos Djaló e Postiga na bolsa dos golos (“goal market”). Bem, tem alguma sugestão?

Team Manager – Bem, eu, acho que, enfim, poderíamos procurar adoptar uma metodologia assim tipo, tás a ver, gestão por objectivos – “Management by Objectives (MBO)”, associando prémios a determinadas “targets” de marcação de golos. Por exemplo, o Ribeiro Ferreira – Presidente do Sporting que em sete anos 1946 – 1953 ganhou seis campeonatos nacionais – oferecia uma garrafa fresquinha de Casal Garcia cada vez que o Albano, um dos cinco violinos, marcava um golo. No nosso caso, face às opções disponíveis dentro do actual “budget constraint” e para não corrermos mais riscos de entrarmos em “default”, poderíamos, sei lá, oferecer… umas minis e uns couratos. Que lhe parece?

CEO – Pois, percebo a sua sugestão, caro Team Manager, mas, bem, os tempos são outros e julgo que será indispensável efectuarmos um “benchmarking” das melhores práticas internacionais (“management best pratices”). Como eu costumava dizer nos Conselhos de Administração da banca, medidas desesperadas, exigem tempos desesperados. Bem, acho que era mais ou menos isso... Enfim, hoje, iria até mais longe e diria mesmo que “desperate times calls for desperate measures”. Por isso, o meu “manager instinct” diz-me que devemos optar por uma “motivational therapy”.

Team Manager – Eureka, é isso mesmo! Mas… mas o que é isso da "motivational therapy"?

CEO – Bem, a terapia motivacional visa melhorar a percepção que as pessoas têm das suas próprias competências, aumentando a confiança na sua capacidade para potenciar os seus pontos fortes e oportunidades e para superar obstáculos e dificuldades. Depois de cada sessão, os pacientes acostumam-se gradualmente às sugestões motivacionais feitas pelo terapeuta, e começam a confiar nelas. Na fase final da terapia, é sempre a abrir, ou, como dizem os meus amigos da Bolsa, “the threat is your friend”, ou lá o que é. Ora, nem é tarde, nem é cedo, vai lá buscar os nossos dois activos que eu próprio ministro a primeira sessão.

Team Manager – Ministro? Activos? Mas… Aaah, certo, sou eu, mas…pois, eu vou então mandar vir os rapazes.

(45 minutos depois)
CEO – Irra!!! 45 minutos para chegarem da relvado até aqui?!? Isto é inaceitável. O que se passou?

Team Manager – Bem, tivemos uns problemazitos. O Postiga, sabe como é, tem aquela dificuldade congénita - é incapaz de acertar com as portas… Teve que ser o Liedson a indicar-lhe o caminho. Já o Djaló fomos buscá-lo ao Seixal…

CEO – Ao Seixal?!? Não me digam que…? Epa, mas eu reuni a semana passada com o Vieira e ele garantiu-me que…

Team Manager – Não, não se preocupe. O rapaz foi lá simplesmente para recuperar umas quantas Jabulani que tinha perdido num treino de recepção de bola que hoje realizamos em Alcochete.

CEO – Aaah, OK! Fico mais tranquilo. Bem, vamos lá ao que interessa. Rapazes, estão aqui para uma primeira sessão de terapia motivacional que apurará o vosso “Tiller instinct” e fará de vocês goleadores inaptos. Comecem, então, por repetir comigo esta palestra de auto-motivação do Pablo Neruda. Sim, esse mesmo, o interior esquerdo paraguaio conhecido por Carteiro. Lembras-te dos tempos em que também eras conhecido por Carteiro, ó Postiga? Pois, isso mesmo, vão ver como, depois de repetirem estas palavras e de as absorverem interiormente, irão conseguir ultrapassar todas as vossas dificuldades e reencontrar-se com os golos. Sim, Djaló, esta mezinha também faz bem às recepções e cruzamentos. Bem, bora lá, eu vou marcar o compasso com estas maracas e vocês vão repetindo depois comigo, OK? Vamos lá, então:

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso…
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Postiga e Djáló concentram-se, inspiram profundamente e repetem, lenta e compassadamente, as palavras do CEO. No final, levantam a cabeça e entreolham-se atónitos.

CEO – Tás a ver, caro Team Manager, para quem não percebeu, eles até estão a reagir muito bem. OK, prontos, bem, põe lá no frigorífico umas garrafinhas de Casal Garcia…

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Momentos Únicos: Oliveira 3 – Dínamo de Zagreb 0



O Sporting na época 1982-83 resolveu suicidar-se. Depois de Malcolm Allison ter ganho tudo o que havia para ganhar na época anterior, decidiram despedi-lo. Descobriram com espanto, digo eu, que o homem, para além de se encharcar em whisky e de fumar uns charutos, organizava umas orgias, ainda para mais nos estágios. Substituíram-no, então, por um treinador cheio de virtudes: o Oliveira (virtudes que veio a confirmar amplamente mais tarde, quando treinador da selecção). Não satisfeitos, resolveram tentar uma originalidade, isto é, deram-lhe o estatuto de treinador-jogador (solução que Penafiel tinha encontrado dois anos antes, no regresso do Oliveira da experiência frustrante no Bétis de Sevilha).

Neste jogo da Taça dos Campeões Europeus, cuja primeira-mão tínhamos perdido por um a zero, o treinador Oliveira terá dito ao jogador Oliveira que era preciso resolver a eliminatória e depressa, e ele assim fez.

No primeiro golo, imaginamo-lo com facilidade a falar com os seus botões depois de receber a bola: “Vou chutar. Não, não, espera lá… está aqui um jugoslavo a implicar. Acho que lhe vou fazer aquela coisa com que o Liedson costuma irritar o Luisão. Eh pá, acho que vou rematar para o primeiro poste que se está a fazer tarde”.

No segundo, começa a correr muito devagar com a bola ainda no meio-campo do Sporting. Depois, acelera, passa a bola a um colega e parece que lhe diz: “Passa-me isso outra vez que vou ali à frente marcar um golo e venho já”.

O terceiro é mais controverso. Há quem diga que ele queria centrar para o Jordão e que escorregou. Há quem diga que ele queria fazer o que fez, do tipo: “Vou centrar para o Jordão que já merece. Olha … parece que o guarda-redes está a pedi-las. Este tipo assim, com este jeito, ainda acaba no Sporting. Prontos, desculpa. Não te queria enganar mas isto é mais forte do que eu”. Eu não sei. O que sei é que só um jogador absolutamente espectacular é que consegue escorregar de forma também tão espectacular. Escorregar assim não é para todos.

É dele a frase a famosa frase” por cada leão que cair, outro se levantará”. Neste caso não foi bem assim. Foi mais, “por cada jugoslavo que cair, outro se preparará para fazer o mesmo”.

Qualquer um destes golos, ainda por cima na Taça dos Campeões Europeus, seria para a maioria dos jogadores o golo da sua vida. O Oliveira fez os três no mesmo jogo. Foi um dos mais admiráveis jogadores portugueses. Nunca percebi se jogava no meio-campo ou no ataque. Jogava, imagino eu, onde lhe dava na real gana e fazia em cada momento o que lhe passava pela cabeça. Era o tempo em que não havia o Freitas Lobo a explicar os “princípios do jogo”, as “transições”, o “bloco” e por aí fora. Tenho saudades desse tempo. Do tempo em que um jogador ou tinha jeito para a bola ou não tinha e isso qualquer cego via.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Filosofia de Jogo: Novo Acto, Adaptado da Peça “Deus”, de Woody Allen

Cena: Alvalade. Cerca do ano 2010 d.C. Dois lusos meditabundos no centro do anfiteatro vazio. Crepúsculo. Um é o JOGADOR; o outro, o TREINADOR. Estão ambos pensativos e desconcertados.


JOGADOR: Nada… Absolutamente nada…

TREINADOR: O quê?

JOGADOR: Sem sentido. Vazia.

TREINADOR: Sim, claro. Mas o quê?

JOGADOR: A nossa filosofia de jogo, claro. O que estamos nós a discutir?

TREINADOR: Ah, claro, estamos sempre a discutir a nossa filosofia de jogo.

JOGADOR: Porque não tem remédio.

TREINADOR: Reconheço que é pouco satisfatória e eu próprio estou um pouco angustiado com isso. Como diz o Freitas Lobo, temos alguns princípios de jogo, mas a verdade é que os finais têm sido mais difíceis…

JOGADOR: Pouco satisfatória??? A nossa filosofia de jogo existe? Quando se define uma filosofia de jogo, o truque é começar pela defesa. Procura-se uma defesa sólida e boa e depois organiza-se a equipa de trás para a frente.

TREINADOR: Também já experimentei isso. Saiu-me uma filosofia de jogo sem ataque. Vá lá, ajuda-me, pensa numa filosofia de jogo. Entramos em campo daqui a meia hora.

JOGADOR: Eu não. Não vou meter-me numa bodega destas. Tenho uma reputação de bom jogador a defender, alguns seguidores… Os meus fãs esperam ver-me a jogar numa posição digna do meu potencial.

TREINADOR: Deixa-me recordar-te que és um jogador faminto e sem trabalho, a quem generosamente concedi a oportunidade de reaparecer na minha equipa.

JOGADOR: Faminto, sim… Sem trabalho, talvez… À espera de reaparecer, é possível… Mas bêbado?

TREINADOR: Nunca afirmei que fosses bêbado.

JOGADOR: Pois não, mas também sou. Epa, mas, prontos, vou tentar ajudar-te. E se voltássemos a uma filosofia estruturalista, tipo losango, com o Matias em “cunha” a liderar as transições ofensivas e as assistências? Ou se adoptássemos, em alternativa, uma filosofia construtivista, tipo 4-1-2-3 ou 4-2-3-1, mas com o Vuk mais descaído sobre a direita, para garantir uma melhor basculação do bloco ofensivo?

TREINADOR: Não, nem pensar nisso. Enquanto o homem for um ser racional e criativo, eu não posso, como treinador, permitir que um jogador, qual autómato, se limite a um papel pré-definido numa única filosofia de jogo. Sabes quantas filosofias de jogo podemos utilizar com 11 jogadores, em 90 minutos e num campo com dimensões 105 m por 68 m. Pois, isso, são quase…, bem, é fazer as contas… De qualquer forma, quantas filosofias de jogo por explorar, quantas nuances tácticas para variar, enfim, são hipóteses quase ilimitadas. Em verdade vos digo: a rigidez filosófica não é adequada à natureza humana e não existe na vida real.

JOGADOR: Queria só lembrar-te que não existimos na vida real. Ou ainda não deste conta que somos apenas personagens de uma peça que está a ser representada no anfiteatro de Alvalade?

TREINADOR: É esquisito, não é? Somos apenas um Treinador e um Jogador e estamos prestes a assistir a uma obra que eu escrevi que tu interpretas e eles vieram dos arredores de Lisboa, do Minho, do Algarve, de Angola ou do Canadá para nos ver. E se os espectadores não fossem mais do que personagens de outra peça? E se houvesse alguém a vê-los? Ou se nada existisse e fôssemos todos um sonho de alguém? Ou o que é ainda pior, se não existisse ninguém a não ser aquele senhor gordo do Sector A26, Fila 12, Lugar 19?

JOGADOR: Essa é que é a verdadeira questão. E se o universo não for racional e as pessoas não forem imutáveis? Desse modo poderíamos mudar a filosofia de jogo sem termos de nos sujeitar a conceitos pré-estabelecidos. Estão a compreender?

CORO (Comunicação Social): Não, de todo. Vocês estão a compreendê-lo? (Para o público). Claro que não! Eles são um Treinador e um Jogador de futebol. Comem febras com arroz malandrinho n’”O Sapo”.

JOGADOR: Isto é absurdo!

TREINADOR: Absurdo? Mas o que é o absurdo?

(ESCURIDÃO)

O Sporting está vivo

Fui ver a segunda parte do jogo Naval – Sporting ao hall do hotel que fica ao pé da casa onde estou a passar férias. O jogo não foi bom. A filmagem, como sempre acontece em muitos dos nossos estádios, é péssima. Não se identificam os limites do campo e o posicionamento dos jogadores dentro dele. A câmara anda numa roda-viva atrás da bola e dos jogadores.

Retenho algumas imagens. A Naval quando quis fazer alguma coisa do jogo, com a entrada de um tal de Marinho, suicidou-se com o terceiro golo.

Sofremos um golo daqueles que acontecem nas peladinhas. Num livre, marcado a meio do meio campo, a bola vai em balão para a nossa área. Dava tempo para tudo. Para o guarda-redes se sair e agarrar a bola ou para a defesa se posicionar devidamente e cortar o lance de cabeça. Alguém ao segundo poste perde o lance de cabeça e no meio da molhada um jogador da Naval remata sem saber muito bem para onde e a bola acaba por entrar ao primeiro poste.

Depois, foi um sem número de jogadas finalizadas displicentemente pelos nossos avançados. Na última delas, o Djaló e o Saleiro conseguiram o cúmulo de não marcarem. Apeteceu-me entrar no ecrã e dar um par de estalos a cada um.

Chego a casa. A minha filha pergunta-me pelo resultado. Digo-lhe que o Sporting ganhou. Pergunta-me em que lugar estamos na classificação. Digo-lhe que estamos em terceiros, atrás do Porto e do Braga. Pergunta-me em que lugar está o Benfica. Digo-lhe que deve estar para aí em nono ou em décimo. A minha filha exulta: “o Sporting está vivo”.

O Sporting está vivo. Nesta altura, basta.


Nota final: que venha lá o pinheiro que tanta falta nos faz. Já agora que não venha com o nemátodo como veio o Purovic.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Como fortalecer o famoso “Espírito de Balneário” no futebol: O papel dos líderes e de quem… dá a cara pelo grupo

Ainda a propósito da saída de Tonel e do papel fundamental que jogadores com a sua árdua experiência de vida, exemplar postura profissional e dedicação sem limites podem desempenhar enquanto líderes do balneário leonino, recordo aqui, com a devida vénia ao “Caretas do Sporting” (Luís Miguel Pereira, 2007), uma estoria ocorrida na célebre finalíssima da Taça das Taças em 1964 contra o MTK.


Os espectadores dessa histórica vitória de Antuérpia “tiveram que esfregar os olhos para verem melhor um par de estalos que Fernando Mendes aplicou em Pérides. O moçambicano entrou a uma jogada com pezinhos de lã, permitiu ao adversário húngaro cabecear à vontade, e Fernando Mendes cravou-lhe ali mesmo o correctivo. Certo é que Pérides nunca mais vacilou e foi mesmo considerado “o monstro sagrado de Antuérpia”. Era, de facto, uma família. Tudo era resolvido lá dentro”

Mais um(a) jornada (episódio) do(a) campeonato (“sitcom”) realizado(a) pela Liga (Thames)

Como disse há dias, não sei se o futebol imita a vida. No Benfica - Setúbal imitou, isso sim, um filme Série B. O guarda-redes mal amado que entra para defender um penalty e se redime. Apesar de tudo, num filme o Hugo Leal teria rematado com outras convicção e competência, mais que não seja para maior glória do herói.

Às tantas, vai-se a ver e tudo isto significa que, no fundo, o Roberto é melhor que o Júlio César ou que, pelo menos, para fazer disparates não precisa de fazer penalties. Num filme tudo acabaria aqui. No futebol, veremos o que se vai passar a seguir.

O Porto deixou-se de brincadeiras. Com o Fernando Gomes a Presidente da Liga, mais penalty ou menos penalty, já vai à frente. Este ano não vai haver túneis para ninguém, a não ser o das Antas.

Nós continuamos o processo de deslavancagem, tão típico da alta gestão financeira que nos caracteriza há uns anos. Dispensámos o jogador que, ainda há seis meses, foi a contratação mais cara de sempre. Comprámos um Torsiglieri qualquer por quase 4 milhões de euros, oferecemos, provavelmente, o nosso melhor central (Tonel) e continuamos com o Polga, que nos tem “enterrado” jogos e jogos a fio nos últimos anos.

O Braga vai salvando a pouca sanidade que ainda resta, por enquanto. Contrata bons jogadores, que estão à frente do nariz de toda a gente e parece que ninguém vê. Joga e vence competentemente, mesmo quando não convence.

sábado, 28 de agosto de 2010

De Bravos Leões no Relvado, a... Patos Bravos no Mercado!

Nestes lentos dias alentejanos, acompanho, perplexo, as últimas movimentações do Sporting no mercado. Sinama Pongolle, de longe a nossa aquisição mais cara das cinco últimas épocas (6,5 M€), é emprestado, já em desespero de causa, ao Saragoça, depois de oito meses praticamente passados na bancada de Alvalade. Tonel, certamente o nosso central mais consistente e fiável dos últimos cinco anos e o único com capacidade efectiva no jogo aéreo nas duas áreas (para além da vantagem adicional, como bem disse o Rui Monteiro, de ser também o único com cara de mau e com o mau perder típico da velha escola de centrais do Porto…), depois da inexplicável ostracização a que foi votado neste início de época, terá sido praticamente… oferecido ao Dínamo de Zagreb. Entretanto, continua na bancada sem ser convocado o central argentino Torsiglieri, contratado esta época por 3,7 M€, quando, provavelmente, os dois melhores centrais do campeonato, ambos do Braga - Moisés e Rodriguez, não custam, cada um, mais do que esse valor.

Enfim, tal como na fábula do Sapo e do Boi de Esopo, o Sporting de Bettencourt continua a encher o peito, procurando ultrapassar, em disparates, o Benfica de Filipe Vieira. Espero que a história não tenha o mesmo triste fim.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

E se …

A bola é redonda, são onze de cada lado e, por vezes, ganhamos. Não sei se o futebol imita a vida mas, pelo menos, permite uma metáfora como esta.

Ganhar, como ganhámos hoje contra o Brondby, é como começar de novo. Começar de novo, apesar do Bettencourt, da história recente, dos árbitros, da Liga ou do Postiga.

E se o Djaló começar a cumprir aquilo que prometeu quando o vi jogar pela primeira vez, há cerca de cinco anos, no Torneio do Guadiana? E se o Nuno André Coelho é o central que tanto precisávamos? E se o Carriço se transforma no líder que todos esperamos? E se o Maniche ainda é o mesmo que o Mourinho treinou e que foi o melhor jogador do Euro 2004? E se o Patrício, finalmente, nos começa a fazer recordar o Vítor Damas?

E se …


Nota final: caro Júlio Pereira, compra lá mais uma vez o “kit” do Sporting ao miúdo. Pelo sim, pelo não, compra-lhe a camisola do Liedson.

O Dia da Vitória de Brondby: Ganhar 3-0 é Notável - Ganhar 3-0 com Postiga, Abel e Djáló é Histórico!



A cena ocorre no acampamento leonino no dia da Batalha de Brondby (26 de Agosto de 2010). O Rei Paulo Sérgio faz a revista às suas tropas. Os leões têm 8 cavaleiros efectivos, 3 escudeiros e 200 bravos apoiantes para opor aos 11 cavaleiros, aos 3 juízes e aos 25 mil vikings que os aguardam nas planícies de Brondby, entusiasmados com a vantagem nórdica obtida na Batalha de Alvalade.


De súbito, o Rei Paulo Sérgio é abordado pelo Ministro Costinha, que contesta a utilização dos escudeiros Abel, Postiga e Djáló, dizendo que, na prática, o Reino de Alvalade apresenta apenas oito cavaleiros efectivos nesta Batalha decisiva. Lamenta-se, pois, da falta de mais cavaleiros para pelo menos tentar equilibrar um pouco a enorme diferença dos efectivos de combatentes. O Rei Paulo Sérgio toma, então, a palavra e, inspirado por Shakespeare, pronuncia o seu histórico discurso:

“Quem expressa esse desejo? Tu, meu caro Ministro Costinha? Não, meu simpático amigo; se estamos destinados a morrer, o nosso Reino não tem necessidade de perder mais homens do que nós aqui temos; e, se devemos viver, quanto menor é o nosso número, maior será para cada um de nós o quinhão da glória. Pela vontade de Deus! Não desejes nem um homem a mais, te rogo! Por Júpiter! Não sou avaro de ouro, e pouco me importo se vivem às minhas expensas: sinto pouco que outros usem minhas roupas: essas coisas externas não encontram abrigo entre as minhas preocupações; mas se ambicionar a honra é pecado, sou a alma mais pecadora que existe.

Não, por fé, não desejeis, hoje, nenhum homem a mais no nosso exército. Paz de Deus! Não quereria, pela melhor das esperanças, expor-me a perder uma honra tão grande, que um homem a mais poderia quiçá compartir comigo. Oh! Não ansieis por nenhum homem a mais! Proclama antes, através do meu exército, Costinha, que aquele que não for com coração à luta poderá retirar-se: daremos um passaporte e poremos na sua mochila uns euros para a viagem; não queremos morrer na companhia de um homem que teme morrer como companheiro nosso.

O Dia da Vitória de Brondby: aquele que sobreviver este dia voltará são e salvo ao seu lar e colocar-se-á na ponta dos pés quando se mencionar esta data, ele crescerá sobre si mesmo. Aquele que sobreviver este dia e chegar à velhice, a cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é o Dia da Vitória de Brondby". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no Dia da Vitória de Brondby."

Os velhos esquecerão; mas, aqueles que não esquecem de tudo, lembrar-se-ão todavia com satisfação das proezas que levaram a cabo naquele dia. E então nossos nomes serão tão familiares nas suas bocas como os nomes dos seus parentes: o Rei Paulo Sérgio, o Rui Patrício, o Nuno André Coelho, o Carriço, o Evaldo, o André Santos, o Maniche, o Liedson, o Vukcevic e até os escudeiros Djáló, Abel e hãaa, sim, isso mesmo, imaginem, até o Postiga, serão ressuscitados pela recordação viva e saudados com o estalar dos copos.

O bom homem ensinará esta história ao seu filho, e desde este dia até o fim do mundo a festa do Dia da Vitória de Brondby estará sempre na nossa recordação, na lembrança do nosso pequeno exército, do nosso bando de irmãos; porque aquele que verter hoje seu sangue comigo, por muito vil que seja, será meu irmão, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que permanecem agora no leito de Alvalade irão considerar-se como malditos por não estarem aqui, e sentirão sua nobreza diminuída quando ouvirem falar daqueles que combateram, hoje, aqui, connosco, no Dia da Vitória de Brondby”.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Momentos Únicos: Vitória Épica em Southampton (4-2) do Sporting de "Big Mal"



“Momentos únicos” é o nome desta categoria de posts (não confundir com posts de categoria…) que aqui se inicia, sempre sustentada em imagens de situações inesquecíveis do Sporting ou do futebol português ou internacional.

Embora continue a suspeitar da subtil ironia implícita à designação da categoria, não posso deixar de agradecer esta sugestão ao nosso amigo portista Pedro Figueiredo. Reciprocamente e como prova de amizade, não vamos iniciar esta categoria com imagens daquele momento cínico, perdão, único de 2000 (até porque o Rui Monteiro já a ele se referiu no post anterior…), pois, esse mesmo, enfim, vocês, portistas, sabem do que estou a falar.

Assim e para servir de inspiração ao decisivo jogo de Brondby de hoje, nada como começar por recordar o grande Sporting de “Big Mal” de 1982 e os seus 4-2 para a Taça UEFA em Southampton, equipa capitaneada, na altura, pelo genial Kevin Keegan. Que saudades das excentricidades de “Big Mal”, do seu Whisky e dos seus charutos. Que saudades daquele tridente infernal: o Oliveira, o Jordão e, sobretudo, o grande Capitão Manel…

Quem é que hoje em Brondby não quer ficar na história? Como dizia Cícero, quanto maiores forem neste desafio as nossas dificuldades, maior será, no final, a nossa glória. Força, Leões, mostrem a vossa garra!

Acosta: um herói improvável (*)

A época de 1999-2000, quando, quase vinte anos depois, voltámos a ser campeões, foi memorável. Talvez tenha sido a última ou, mesmo, a única em que sofri seriamente com os jogos e o percurso do Sporting.

Retenho dessa época várias imagens, sensações, jogadas, golos. Algumas heróicas, outras nem tanto. Tínhamos um treinador, contratado como adjunto à espera de um salvador, que assistia aos jogos apertando uma santa nas mãos e que sempre que esta lhe faltava substituía o inevitável Pedro Barbosa pelo não menos inevitável Toñito. Tínhamos o melhor guarda-redes do mundo que, cansado de o ser, tinha decidido vir para o Sporting.

Mas tínhamos o Acosta e isso quase sempre chegava. Nós sabíamos, os adversários sabiam, o que acontecia quando tinha a bola e olhava a baliza.

O Secretário sabia o que ia acontecer quando fez o atraso suicida em Alvalade que acabou nos seus pés. Nós também sabíamos.

O Jorge Coroado ainda tentou desafiar o destino quando o mandou repetir o penalty que tinha marcado contra o Campomaiorense no jogo da segunda volta. Ele repetiu-o, da mesma maneira e com os mesmos resultados, com a determinação e confiança de quem o poderia continuar a fazer pela noite fora.

Mas lembro-me com especial comoção do jogo com o Marítimo, a três jornadas do fim. O Porto, depois de ter estado a ganhar por 3-1, deixou-se empatar com o Farense. O jogo do Sporting com o Marítimo era um pouco mais tarde. A nossa vitória colocava-nos a um pequeno passo do título. Vi o jogo num café em Viseu rodeado de amigos.

O jogo foi o suplício do costume. Não éramos, nunca éramos, muito melhores do que os outros e, portanto, o resultado era incerto. As imagens do jogo, como sempre acontece quando as transmissões são do Estádio dos Barreiros, eram péssimas. Sempre que havia um pontapé de baliza, um passe mais longo ou um centro a bola teimava em fugir do ecrã.

Até que o Acosta fez o que sabíamos que ia fazer. Uma simulação, uma finta e o defesa a fazer penalty. Acosta marca. Numa jogada pela esquerda, um jogador do Sporting centrou para o segundo poste, a bola atravessou toda a defesa e alguém, fora do ecrã, apareceu a marcar. Não precisámos da imagem para nada. Nós sabíamos quem tinha sido.

Chamávamo-lo, e chamamos, “Matador”.


(*) Este título merece uma pequena nota biográfica. O Acosta era um jogador entradote, cujos cabelos grisalhos o faziam parecer um pouco mais velho do que era, que sofria de ciática. Chegou a meio da época anterior e não só desiludiu os sportinguistas como foi alvo de chacota de alguns deles e dos nossos adversários. No princípio da época seguinte esteve para ser dispensado pelo Matterazi.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dos Olmecas a… Brondby: Jogo de bola ou ritual da vida?

Os Olmecas terão sido o povo que esteve na origem de todas as civilizações meso - americanas. A eles se deverão, além de notáveis criações culturais, invenções como a sangria sacrificial, a escrita, o calendário e, também, o… jogo de bola.

Recorrendo à Wikipedia, ficamos a saber que “Olmeca significa mesmo povo borracha (do nauatle ulli, "borracha"), a quem os Astecas atribuíam a origem do jogo de bola. O jogo disputava-se utilizando uma bola de borracha endurecida feita a partir de látex obtido da árvore da borracha nativa das áreas tropicais do sul do México e da América Central. Estas bolas de borracha foram encontradas juntamente com outras oferendas rituais, indicando que, mesmo em tempos tão remotos, o jogo já tinha conotações religiosas e/ou formas de drama.

Jogar à bola era, na verdade, participar na manutenção da ordem cósmica do universo e regeneração ritual da vida. Era um jogo de sorte, perícia e batota reflectindo a vida. O esforço de equipa levava à partilha de comportamento e cultura, apresentando, reforçando e reinventando o jogo da vida e o lugar de cada um na ordem cósmica. Nos tempos do clássico tardio, o jogo de bola estava ritualmente associado às guerras endémicas entre as várias cidades-estado da época. Os sacrifícios humanos [dos perdedores do jogo] tornaram-se um desfecho comum nas cerimónias pós-partida, particularmente nos campos de jogo reais de cidades poderosas
”.

Felizmente, a civilização humana evoluiu muito nos últimos 3.000 anos. Felizmente, no jogo de bola de hoje, já ninguém fala de jogos de vida ou de morte. Felizmente, no jogo de bola de hoje, já ninguém tem a cabeça a prémio. Felizmente, no jogo de bola de hoje, já ninguém recorre a rituais maléficos ou religiosos.

Por isso, antes do jogo de bola de amanhã – o ”mata mata” de Brondby – Bettencourt e Paulo Sérgio sabem que… não precisam de ir “à bruxa”. Por isso, antes do jogo de bola de amanhã - o ”mata mata” de Brondby – Bettencourt e Paulo Sérgio, sabem, sobretudo, que não podem perder… a cabeça. Como diria o Octávio Machado, vocês sabem do que estou a falar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Conselhos úteis para convencer o seu filho a ser do Sporting

Depois de submeter o meu filhote João, logo desde os seus primeiros meses de vida, a sofisticados métodos de persuasão muito apreciados pela Stasi – como por exemplo, ouvir repetidamente durante seis horas de viagem o “Só eu sei porque não fico em casa” ou, de forma mais insinuante, o “Gosto de você, Leãozinho” - e de lhe oferecer os sucessivos kits anuais de equipamentos, pensei que o processo educativo se encontrava concluído com sucesso e que o petiz era, definitivamente, adepto do Sporting. Afinal, além da hipoteca, que mais pode um homem deixar ao seu filho nos dias de hoje, senão o clube de futebol?

Vivendo em Vila do Conde, não é fácil deslocar-me com frequência a Alvalade. Por isso, apenas no ano passado, coloquei a hipótese de levar o João – na altura com cinco anos - a assistir, pela primeira vez, a um jogo no nosso Estádio. O Braga, vindo de uma eliminação prematura na Liga Europa, parecia, à IIª Jornada do campeonato transacto, o cordeiro ideal para imolar nesta desejada cerimónia de imposição ao João do grau de “Aprendiz” da Ordem do Grande Leão Lusitano. Se bem o pensei,… mal fiz, pois, como se recordarão, perdemos 2-1 com os minhotos, que iniciaram aí o seu brilhante campeonato. No final do jogo e perante o meu desânimo, o filhote João olhou-me com os seus grandes olhos azuis e tentou animar-me: “Deixa lá, papá! O Braga também é Sporting…”

Porém, esse foi apenas o primeiro acto de uma época calamitosa como não se via há muitos e bons anos pelas bandas de Alvalade. Tanto assim foi que, no final da época, comecei a detectar no meu filhote alguns comportamentos desviantes muito preocupantes: “Ó papá, porque é que, entre os meninos da minha turma, eu sou o único do Sporting? Ó papá, tu gostas um bocadinho do Porto, não é – nos jogos contra o Benfica ou contra algumas equipas internacionais, puxas pelo Porto, não é, papá? Ó papá, tu também gostas do Sporting de Braga, não gostas? E o pior de tudo, “Ó papá, eu não gosto muito do Benfica, mas o Fábio Coentrão (também vila-condense e… ex-confesso sportinguista) é o melhor, ele contra o Brasil arrancava cá com uma velocidade, ninguém o parava, não é?”

O meu sinal de alarme disparou imediatamente e pensei levá-lo, de novo, a Alvalade no começo da actual época, reiniciando, assim, o laborioso processo educativo. Durante as férias, Brondby ou Marítimo, eram as hipóteses possíveis. Hesitei, hesitei…e, desta vez , não arrisquei. Ficarei, pois, a torcer por novo sorteio da Taça de Portugal contra o Pescadores ou o Mafra, que, este ano, perderam alguns jogadores importantes (como o temível chinês Zhang) e me parecem, neste momento, mais à altura deste difícil processo reeducativo…

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Paulo Sérgio, o Queiroz dos pobres

Pegando no último “post” de Júlio Pereira, só posso afirmar, com toda a segurança, que o Paulo Sérgio não é o Matterazi nem o Inácio. Não é o Matterazi, porque só os treinadores italianos são capazes de fazer uma pré-época que garante “pilha” para a época toda. Não é o Inácio, porque quer falar à Freitas Lobo e, portanto, não há jogador que o entenda.

Ele é mais um Queiroz sem o título de professor de ginástica.

Bruno Paixão: uma imagem que vale por mil palavras

Um amável leitor, ao efectuar uma referência à arbitragem do Bruno Paixão no jogo de ontem, fez-me recordar, com a ajuda do meu amigo Júlio Pereira, uma outra na época de 2003-04 no Bessa. O jogo interessava, para além de nós e do Boavista, ao Benfica e ao Porto. O Porto estava à nossa frente com alguns pontos de distância (5-6 pontos). O Benfica estava atrás de nós a, penso eu, cinco pontos. Se não ganhássemos e, sobretudo, se perdêssemos o Porto ficava mais à vontade (tanto mais que estava fortemente envolvido na Liga de Campeões, que veio a ganhar) e o Benfica ainda podia ficar à nossa frente (como veio a acontecer) e aceder à pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Bruno Paixão compreendeu, como ninguém, este alinhamento dos astros. A arbitragem foi de ir às lágrimas. Estávamos a ganhar 1-0 e, depois de várias coisas, entre elas uma expulsão ridícula do Rui Jorge, acabámos por perder nos últimos 15 minutos por 2-1.

Juntos na bancada, assistiam ao jogo Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Carolina Salgado e Cunha Leal (ex-dirigente do Benfica e, à época, Director da Liga). É uma imagem que vale por mil palavras.

Na terça-feira seguinte iniciou-se publicamente o célebre “Apito Dourado” com a constituição de Valentim Loureiro como arguido.

“A derrota tem algo positivo: nunca é definitiva. Em contrapartida, a vitória tem algo negativo: nunca é definitiva”, José Saramago dixit

No futebol (de resto, como na vida) há momentos de sorte ou de azar que podem mudar o rumo de uma época.

Alguém se lembra de um obscuro jogo contra o Campomaiorense em Alvalade à décima jornada da época da “reconquista” 1999/2000? O Sporting agonizava, então, já a dez pontos do Porto (depois de ter perdido 3-0 nas Antas), começando a falar-se na contratação de um novo técnico (Zeman?) e no regresso de Inácio à categoria de adjunto para a qual teria sido inicialmente contratado. Parecendo ter como único objectivo credível a luta pelo acesso à Taça UEFA, o Sporting arrastava-se miseravelmente em campo e os alentejanos, orientados pelo nosso inenarrável ex-mister Carlão, iam falhando sucessivas oportunidades de golo, aparecendo cinco ou seis vezes isolados perante Nélson, que nesse jogo defendeu – e bem - as balizas leoninas. Até que… a cinco minutos do fim e sem que nada o fizesse supor, o Luís Vidigal traiu os seus congéneres alentejanos, dando-nos a vitória com um inédito golo de meia distância.

Claro que só me lembro desse momento de sorte, porque, a partir daí, iniciamos a épica recuperação que nos havia de dar esse inesquecível título, imortalizando uma época, uma equipa e um treinador que todos nessa altura – sim, confesso, eu também - davam por perdidos. Inácio, Saber, Bino, Ayew, Toñito ou Mbo Mpenza também faziam parte dessa geração de heróis inesperados (tal como De Franceschi, que foi justamente homenageado neste domingo). Como os anos seguintes da sua carreira viriam a comprovar, esse foi o seu momento mágico de superação, em que se transcenderam e foram muito mais do que, de facto, eram. E, não esqueçamos, que a norte do Tejo moravam, ainda e simplesmente,… Jardel e os seus trinta e muitos golos por época.

O que prova que, com a conjugação certa das vontades e dos astros (é aqui que entra a parceria estratégica com o Professor Bambo que o nosso sagaz Presidente tem estado a congeminar), o Presidente Bettencourt, o Mister Paulo Sérgio e jogadores como Nuno André Coelho, André Santos ou Saleiro (ia escrever também Djáló ou Postiga, mas depois arrependi-me…) podem fazer milagres? Ou que, pelo contrário, o Paulo Sérgio interpretará, nesta almejada sequela, o papel de Matterazzi, garantindo um atraso aparentemente irreparável no campeonato e uma rápida eliminação das competições europeias? Ou, apenas - o que é o mais provável – julgamos, após o inesperado golo da vitória obtido nos instantes finais do Sporting – Marítimo, que, como no filme "As Horas", o mundo se abrirá, nesse momento, "com uma fabulosa gama de novas oportunidades, sensações e possibilidades, achando que tal marcará o começo da felicidade. Depois percebemos que aquilo já era a felicidade...".