quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Atitude, alucinação e coerência

A equipa começa a apresentar sinais físicos de desagaste com tantos jogos seguidos e eu também. A equipa chegou atrasada ao jogo contra o Tondela e eu, ontem, também. Como de costume, entrei com o pé direito no Flávio e foi logo golo do Bas Dost, fazendo um duplo pé direito, mas afinal não tinha valido. O árbitro marcou falta, bem, falta de (deixa cá ver…) atitude. Sou favorável ao controlo anti-doping da arbitragem. É verdade, fumei coisas maradas quando era mais miúdo. Fumei mas não inalei, eu e outras pessoas especialmente recomendáveis como o Bill Clinton. Não é por isso que deixo de conhecer bem os sintomas. Uma vez, uma amiga minha, muito bonita por sinal, chegou-me a dizer que era um homem belo ao mesmo tempo que gritava para fugirmos que vinha a correr atrás de nós uma aranha gigante com a cabeça do Álvaro Cunhal adornada com o bigode do Chalana. Na ausência de VAR, percebe-se a intenção da Federação Portuguesa de Futebol de escolher um árbitro cujo nome comece por vê. É o mais parecido que se consegue arranjar. No entanto, esta boa ideia pode ser debalde se o árbitro estiver sempre a ver espécies da família dos aracnídeos com cabeça de políticos, de quem o país está mesmo a precisar para se acabar com a rebaldaria, disfarçada com excrescências capilares faciais de jogadores de futebol dos anos setenta e oitenta. Não foi somente neste lance que o árbitro marcou falta de atitude, sobretudo aos jogadores do Feirense. Para o árbitro, os jogadores, embora enfiando as suas caneladas, estiveram muito aquém do desejável, não merecendo qualquer cartão amarelo e gerando, desta forma, elevados custos reputacionais para um Aly Ghazal, por exemplo. 

Na segunda parte, o cerco apertou-se e os jogadores do Feirense foram-se amontoando em trinta metros do seu meio-campo, saindo em transições diretas para fora, para os defesas do Sporting e, com mais profundidade ainda, para o próprio Salin. O cerco tardava a dar resultados devido a um campo eletromagnético que se situava próximo da baliza, fazendo suspeitar que o Fernando Santos tivesse andado por ali com as suas mezinhas. Foi ele o responsável por desviar remates do Bas Dost, quando tudo levaria a crer que até o Castaignos marcaria golo, do Nani ou do Bruno Fernandes. Os golos do Sporting só se conseguem explicar por algum curto-circuito. O Wendell recebeu a bola do lado direito do ataque próximo da grande área, simulou que rodava para fora, rodou para dentro, enquadrou-se e meteu a bola na gaveta. Logo a seguir, depois de um canto, a bola sobrou para a entrada da grande área onde apareceu o Bruno Fernandes a fazer um remate furioso que o guarda-redes procurou defender depois de a bola ter saído da baliza. Em qualquer dos casos, houve falta de atitude não assinalada pelo árbitro, dado que o Bas Dost se encontrava às cavalitas dos defesas a abanar os braços como se estivesse num concerto dos Guns N' Roses ou dos AC/DC. 

Depois do dois a zero e estando há cerca de meia hora a aboborar na sua área, o Salin pediu ao Marcel Keizer e à sua defesa maior sentido de compromisso com a equipa (adversária, claro está). O treinador fez as substituições que se impunham para esse efeito e os defesas passaram a colaborar ativamente nas jogadas de ataque do Feirense. Com a saída do Mathieu e a entrada do André Pinto, o Coates sentiu-se em muito melhor companhia e foi o mais esclarecido, fazendo de imediato o que tinha de ser feito. Para não se perder tempo, passou a bola a um adversário à entrada da área, o adversário fez-se rogado e tirou-lha para a entregar a outro, o outro não se mostrou afoito também e tirou-lha para a entregar a outro, o segundo outro fez cerimónia e tirou-lha para dar ainda a um terceiro outro, que, para o evitar, finalmente rematou para defesa do Salin. Até acabar o jogo, o Salin fez mais um par de boas defesas correspondendo assim a excelentes iniciativas atacantes dos jogadores do Feirense e da sua defesa em conjunto. 

Acabado o jogo, regressei a casa ainda a tempo de ouvir os comentários da RTP3. Estava um senhor de meia-idade, a atirar para o forte, com barba grisalha aparada e cabelo castanho-avermelhado, mais ou menos da mesma cor de uma tinta de zircão que utilizei para dar uma primeira demão num portão da casa de Bucos, em Cabeceiras de Basto, a criticar o Marcel Keizer pelo jogo contra o Porto. Não estranhei. À sua maneira, o que estava era a elogiar o jogo contra o Feirense. Foi bom ouvir esse elogio ao nosso treinador no mesmo dia em que o seu desempenho foi equiparado ao do grande e inigualável José Peseiro. Está na altura de se comparar o seu desempenho com o do Del Neri no Porto, despedido quando se encontrava com os mesmos pontos do primeiro. Na época de 2004/2005, projetando-se os resultados até então obtidos, se não o tivessem despedido, o Porto teria sido campeão. Seria campeão “ex aequo” com as restantes equipas, mas, mesmo assim, campeão. Os erros pagam-se caro e o Benfica acabou por ser campeão nessa época. Corremos sérios riscos ao despedir o José Peseiro. Ainda bem que contratámos outro treinador que é tão bom como ele. 

Com estes elogios todos, os comentadores não encontraram razões neste jogo para criticar o Marcel Keizer. Não estiveram bem. Não se pode aceitar que um treinador diga que prefere ganhar três a dois a um a zero e, depois, ganhe dois a zero sem sequer uma palavrinha para nos explicar porque é que preferiu este resultado ao seis a quatro que impõe a sua própria filosofia de jogo. Exige-se coerência aos treinadores entre o discurso e a sua prática.

10 comentários:

  1. Mais uma recheada crónica, muito bem esgalhada.
    Como viu ao vivo, perdeu o mais bizarro quadro estatístico já visto ao intervalo, isto no público 1.º canal, onde em golos estava 0 igual, mas em oportunidades o Feirense tinha uma, e o Sporting nem tal.
    Se Fernando Pessa fosse vivo, perguntaria, "E esta, hein?", mas agora é do Estado Fruteiro-Lampiónico que a RTP está refém.

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    1. Meu caro,

      Pelos vistos não só os árbitros que nos anulam oportunidades de golo. A televisão está a complementar bem esse trabalho.

      SL

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  2. O Sporting jogou com uma equipa do fundo da tabela e desfalcado.
    Valeram os golos e a comemoração do golo de Wendel, pena já não haver os Vapores do Rego.
    SL

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    1. Caro João,

      Nós não queremos ver jogar os jogadores do Feirense. É irrelevante se jogam uns ou outros. Queremos é ver jogar os do Sporting.

      SL

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  3. Caro Rui,

    Com estes anos todos de encomendas, tenho sempre a mania da perseguição com árbitros, fiscais de linha e tudo o que se equipe sem ser com a camisola verde e branca.

    Pois além do Verissimo, reparei que a unica oportunidade da primeira parte do feirense é um canto ou livre às 3 tabelas em que o jogador que remata parece ligeiramente adiantado em relação ao jogador do Sporting.
    Esse mesmo jogador do Sporting está tapado pelo do feirense na perspectiva do fiscal, pelo que era muito difícil não assinalar o fora de jogo. Curiosamente, deixou seguir.
    Segunda parte, bola junto ao mesmo fiscal, ataque do Sporting , três feirenses a por o jogador do Sporting em jogo e o senhor levanta a bandeirola.
    Não há coincidências...

    Se não fosse a minha doença mental pelo Sporting e já tinha ido definitivamente torcer por qualquer Wolverhampton da premier league...

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    1. Meu caro,

      Se fosse só isso. O facto de nenhum jogador do Feirense ter levado um amarelo, especialmente o Aly Ghazal constitui prova definitiva.

      É ver os jogos com o coração ao alto, tanto quanto posso, apesar de irritações como o jogo de Tondela.

      SL

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  4. torcer pelo wolverhamton ? do fdp do franguicio ? torcer para serem goleados todos os jogos , não ?

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Boa tarde, tenho o vosso blog na minha lista, seria possível adicionarem também?
    SL

    MercadoLeonino.

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