Semana passada em Barcelona, de visita à minha filha. Curso intensivo de modernismo e de cubismo enquanto se tropeça em japoneses, chineses e coreanos vestidos à ocidental, que se adoram a si próprios, tal a frequência dos retratos nos mais variados contextos. A geostratégia mundial pode-se ter alterado, com a Ásia a substituir a Europa, mas o domínio do simbólico continua a ser nosso. A geometria está em todo o lado: na arquitetura, nas artes plásticas e no futebol, e vai desde as catenárias da Sagrada Família à “parábola perfeita de Messi”, como qualifica o El Mundo o remate do primeiro golo do Barcelona contra o Espanhol. Em Portugal, o futebol não imita a arte e as parábolas estão remetidas a figuras de estilo.
O jogo contra o Chaves inicia-se enquanto desço do Parque Güell para o bairro de Grácia, onde me esperam as habituais “patatas bravas”, “croquetas” e “hummus” para “compartir” regadas pelo Tempranillo ou Merlot que conseguir pagar. Do “WhatsApp” vão chegando as primeiras mensagens: “vinte e três minutos para ver uma jogada em condições”, “Mota a mostrar amarelo ao Gudlej numa falta igual à de um jogador do Chaves e por duas vezes a beneficiar o infrator”, “todas as semanas é a mesma coisa”. Chego ao bairro de Grácia ao intervalo e vejo o resumo da primeira parte. Embora continuemos a atravessar a nossa fase azul, o golo podia fazer parte de uma fase rosa que esperamos que lhe suceda: os passes entre o Ristovski, o Raphinha e o Bruno Fernandes formam um desenho perfeito que o escorregão do Luiz Phellype não conseguiu estragar, levando-o às lágrimas.
“Surreal!”, grita o meu “WhatsApp”. Tínhamos acabado de nos deixar empatar quando estávamos a jogar contra dez, por expulsão de um jogador do Chaves. “O Bruno Fernandes é um fenómeno!”, grita de novo o meu “WhatsApp”, quando passámos para a frente. “É uma vergonha!”, grita o meu “WhatsApp”, mais uma vez. Não recebo mais nenhuma mensagem até ao final do jogo. Chego ao hotel e vejo o resumo integral do jogo. A expulsão do Ristovski é uma vergonha, a somar à de Setúbal. Tudo obedeceu a uma encenação: o VAR só pode interferir numa jogada ou a pedido do árbitro ou quando tem a certeza que este cometeu um erro manifesto, não havendo lugar a interpretações, subjetivas, por definição. O árbitro resolveu sancionar a interpretação do VAR, que constitui uma pura e simples mistificação, dado que só a expulsão lhe podia permitir reverter a sua decisão anterior de expulsar um jogador do Chaves por derrubar o Raphinha quando se isolava. Pelos vistos, o sistema habitual resolveu branquear mais esta vergonha. Foi a sola, como em Setúbal terá sido o vernáculo. A sola do Ristovski é diferente da sola dos jogadores do Chaves e dos restantes jogadores do campeonato nacional.
A sola ou o vernáculo de um macedónio são um problema, na semana em que dois personagens desconhecidos – César Boaventura e Vítor Catão – nos entraram pelas nossas casas para nos fazer reviver um episódio do Duarte e Companhia. O Lúcifer ou o Átila dessa mítica série eram mais verosímeis, apesar de se tratar de uma representação. Não existe é agência de detetives e em vez de um Citroën 2CV vemos figurões a passear em carros de alta cilindrada com dono desconhecido, mesmo para o fisco. Sem estética nem geometria, o futebol português só nos envergonha como país e como povo.
O mais grave para mim, nem é isto ter acontecido durante o jogo. É o facto dos 3 árbitros do jornal "O Jogo" que, todas as semanas, revêem casos, terem concordado com a avaliação do VAR em que era uma entrada violenta.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão há vergonha. A história é simples. O Mota expulsa um jogador do Chaves que vai ficar a jogar com nove. Gera-se o pânico. O VAR vem em socorro. Para reverter a decisão era necessária uma expulsão e o VAR arranjou-lhe um pretexto. Não era o melhor mas era o possível. A partir daí, desata-se a arranjar justificações: a sola, as pernas esticadas ou encolhidas.
SL
Cada vez maior o bordel do futebol.
ResponderEliminarCaro Francis,
EliminarDepois da dupla César Boaventura e Vítor Catão seria impossível descer o nível ainda mais. Em Portugal, nunca se sabe. Não nos admiremos se ainda virmos aparecer o Abominável Homem das Neves.
SL
Caro Rui Monteiro,
ResponderEliminarLongos foram os dias entre o "Longos dias..." e este "Vergonha Geométrica"...Mais aliviado folgo saber que esteve em Barcelona que conheço razoavelmente já que é por Espanha que nos últimos 20 anos passo grande parte do meu tempo.
Eu chamei Barcelona ao meu computador através de imagens da Movistar+ e vi a parábola pachenkana saída do pé esquerdo do Messi! Fenomenal "de verdad".
Depois, pela RTPi, vi o Chaves-Sporting e, de facto, não se trata do mesmo desporto. Espero que o árbitro seja melhor cortador de carnes do que é árbitro e, se não for o caso, que alguém lho diga. Concordo com quem tenha dito antes de mim que um árbitro medíocre nunca dará um bom VAR! Mas com que é que Portugal pode fazer putativos VAR's?
E, já que me enganei no nome do Danielo Rabinowski, avançarei que ele tenha dito também que na sua Argentina há uma aldeia onde ao "cura" todos chamam "padre" excepto os filhos que lhe chamam "tio"!
Abraço verde
Caro Aboim Serodio,
EliminarNo sábado via-se imensa gente nos cafés a ver futebol. Eles gostam de futebol e vibram com o futebol. Nós somos mais dados aos árbitros e a ver arbitragem. Há mais especialistas em arbitragens do que anestesistas no Serviço Nacional de Saúde.
Essa do "padre" e do "tio", em espanhol, é um delícia. Os nossos árbitros também devem ser sobrinhos de algum "padre".
Um abraço
*Rabinovich, panenkana
EliminarSó agora reli o que escrevi no intervalo do Prós & Contras...
Por razões que já evdenciei (simultaneidade...) não assisti ao Braga-Porto mas, depois de já conhecer o resultado, fui ver no OKGoals (imagens fornecidas pela Sporttv) o resumo do jogo. Por que raio o lance do primeiro penalty a favor do Porto se limitou a imagens ao nível da relva onde se viu (claramente para mim) que não houve infracção do jogador do Braga?
ResponderEliminarNinguém me deve responder pois tal só pode tratar-se de segredo dos deuses!
SL
Meu caro,
EliminarA SporTv também faz parte do espetáculo. São os árbitros, os comentadores e a SporTv. A bola e os jogadores é que não contam para nada.
SL
Exmº.Sr.Rui Monteiro,
ResponderEliminarPor favor, nunca mais faça isto! Uma semana sem dizer nada, como dizia o outro, " não havia necessidade "
Folgo em saber que não foram motivos de saúde
Melhores Cumprimentos
Nuno Casaca
Caro Nuno Casaca,
EliminarEntre a seleção, por um lado, e o Gaudi e o Picasso, por outro, prefiro os dois últimos. Regresso aos relvados esta semana. Espero que resgatemos a época na próxima quarta-feira.
Um abraço
Gostei dos artistas convidados - o Átila, o Lúcifer e o Abominável Homem das Neves.
ResponderEliminarVale a pena (re)ver essas e outras personagens do Duarte & Cia, nem que seja o início do 1.º episódio da série. Quanto ao Ab(d)ominável Homem das Neves, é mais difícil. É perguntar a algum parente que ocasionalmente dá à costa se sabe dele.
Dispensava era os Motas (o dos talhos e o da oratória/retórica/demagogia futebolística de bidé), assim como o VAR de serviço, que aparece sempre nestas alturas com as "chaves" trocadas a inventar uma irregularidade qualquer contra o Sporting.
De realçar também Luiz Phellype (é assim, né?), a encontrar-se com os golos. E também o jogo (para a)normal do resto da equipe. (tinha que fazer esta rima)
Nem jogaram muito mal, mas podia ter corrido pior, se o Ristovski se lembrasse de fazer aquele tackle, cortar a bola e ir chocar com as pernas do adversário mais cedo, antes do golo de Bruno Fernandes, num remate exterior cruzado e picado, a aproveitar um cruzamento bem medido de Acuña, sem o deixar cair, após um pontapé de canto que foi num primeiro instante cortado por um defesa, numa disputa de cabeça com um jogador do Sporting... e pasme-se!!! O caso do jogo, segundo relatadores/comentadores da SportTV.
Cumprimentos
O Catão e o Boaventura já tinha recalcado... conseguem ser mais medonhos que os Moto-serras e o Santinhos.
EliminarMas nunca vão ter o carisma de um Lúcifer, nem o respeito que o Átila impunha...
Para concluir, o mais próximo em Portugal Continental do Abominável Homem das Neves... talvez o Homem do Bussaco.
ResponderEliminarTalvez ele consiga colocar ordem nisto e tudo em pratos limpos.
Meu caro,
EliminarTem toda a razão entre os personagens do Duarte e Companhia e os do futebol português, os primeiros merecem-nos mais respeito.
SL
Isto ja estava bom e o Seixas resolve meter-se ao barulho. Que raio, Sérgio Conceição é o que é mas foi jogador da Seleção Nacional, e que jogador, tem currículo como treinador. O que faz o Seixas? Dizem que é sportinguista. O que tem Sergio Conceição, ate já foi sportinguista, a ver com o sporting?
ResponderEliminarSeixas quer ser bem visto pelo patrão do partido que andou ontem à borla nos tranportes mas tem 12 motoriatas privados.
Chegue-lhes Dra Ana Gomes!
Caro João,
EliminarDe facto a Ana Gomes é a última réstia de esperança.
SL