Há dias assim. Sabemos que vamos descobrir, quando nos atirarmos para dentro da banheira, que se vai exercer uma força vertical de intensidade igual ao peso da água que será deslocada pelo nosso corpo. Sabemos que vamos descobrir, quando nos sentarmos debaixo de uma macieira e nos cair no cocuruto da cabeça uma maçã madura, que esta nos vai atingir a uma velocidade igual a nove, vírgula, oito metros por segundo quadrado multiplicados pelo tempo de duração da queda, medido em segundos. Sabemos que vamos descobrir também que, substituindo-se o Gudelj pelo Doumbia, vamos jogar melhor. Sabendo que vamos descobrir o que ainda não foi descoberto, tomamos as necessárias precauções, vestindo-nos da cabeça os pés como deve ser, para não sermos apanhados a correr pela rua abaixo com o pirilau a abanar enquanto gritamos “Eureka! Eureka!”
A descoberta demorou a ser descoberta. O Guimarães veio jogar à bola a Alvalade, o que se saúda. Pressionava a nossa saída da bola com dois jogadores, encostando outros dois às laterais para bloquearem o Acuña e o Ristovski, subindo sempre os jogadores do meio-campo quando o Doumbia ou o Wendell desciam para receber a bola. Durante quinze a vinte minutos fomos perdendo bolas sobre bolas e enfiando biqueiradas para a frente, com destaque para o Coates. O Keizer explicou ao Doumbia que se devia adiantar com o Wendell, arrastando os médios que os marcavam, para que houvesse mais espaço para sair a jogar. Por isso ou porque os do Guimarães deram o berro, a partir dessa altura foi uma profusão de oportunidades perdidas e de tiros ao barrote. O Acuña desmarca o Raphinha que, à meia volta, remata ao barrote. O Raphinha desmarca o Bruno Fernandes que, de primeira, remata ao barrote. O Raphinha centra e o Luiz Phellype desvia a bola de cabeça contra o barrote. O Bruno Fernandes desmarca na área o Luiz Phellype que, isolado e com o guarda-redes no chão, remata contra o barrote (Em Alvalade, qualquer um dos seis barrotes é nosso. Espera-se maior sentido de compromisso de cada um deles, atitude que sempre revelaram com a direção anterior e com esta deixa muito a desejar. Não gostei!). O Diaby demonstrou-nos que tanto acerta nas orelhas da bola com o pé esquerdo como com o direito, não sendo defeito mas feitio, e o Bruno Fernandes enfiou um balázio de fora da área que passou a um poucochinho da baliza com o guarda-redes a assistir com cara de Svilar.
Entretanto, no meio deste despilfarro, o Acuña abalroou um adversário à entrada da área. Não sabendo se era dentro ou fora da área, o árbitro seguiu o manual de boas práticas tão apreciado pelos comentadores e fez vista grossa à falta mais que evidente. Recuperada a bola, o Acuña lançou o Luiz Phellype que foi ceifado por um defesa do Guimarães com o árbitro a fazer vista grossa também para compensar. Por momentos, o jogador do Guimarães pensou que era o Beckenbauer e tentou fintar a equipa toda do Sporting até perder a bola, que acaba nos pés do Bruno Fernandes. Recebendo a bola parado, faz um passe extraordinário de trinta metros, rasgando a linha defensiva do adversário e isolando Raphinha, que marca o primeiro golo não sem antes sentar o guarda-redes duas vezes. A (falsa) convicção dos comentadores da SporTv de que a falta teria ocorrido dentro da área e a (con)sequência imediata e direta da sua não marcação foi o golo do Sporting, transformou a simples análise de um hipotético livre num conjunto de relações de causa e feito que determinou aquele resultado final, como se se estivesse em presença da falsificação das notas de quinhentos escudos do Alves dos Reis e da necessidade de se realizar o julgamento de Nuremberg. A avaliação dos danos foi ao ponto de afirmarem que os jogadores do Guimarães estavam perturbados. Ora, se a qualquer um de nós nos enfiassem quatro no barrote não deixaríamos de ficar perturbados!
Na segunda parte, o Guimarães entrou com outro plano. A equipa recuou para o seu meio-campo e deixou de pressionar à frente. Esperava-se um jogo de nervos em que nos iríamos ainda arrepender das oportunidades perdidas. Felizmente, nada disso aconteceu. O Renan Ribeiro, numa reposição de bola, colocou-a a quarenta metros no Raphinha do lado direito do ataque que a dominou magistralmente com um adversário a um metro de distância e enfiou-lhe três reviengas seguidas até a meter ao primeiro poste onde apareceu o Luiz Phellype a ganhar a frente a um defesa, como lhe mandou o Bruno Fernandes, e a empurrá-la para o segundo golo. Os jogadores do Guimarães não reagiram e continuaram com a tática que trouxeram do balneário, de jogar na expetativa e no erro do adversário. Os jogadores do Sporting não foram no engodo e nada mais aconteceu até ao final do jogo, a não ser uns assobios ou de adeptos do Guimarães ou de adeptos do Sporting com problemas de menopausa ou andropausa, conforme o género.
O Sporting fez um excelente jogo. O Guimarães procurou jogar à bola e não foi feliz, porque o Sporting foi superior. Nada que não se espere que aconteça num jogo de futebol, dado que não podem ganhar as duas equipas. Não se compreende assim a razão dos comentadores da SporTv procurarem desqualificar a nossa vitória desqualificando os jogadores e a equipa adversária. Descobrimos o que sabíamos que íamos descobrir. Descobrimos ainda que existe uma qualquer lei da física ou da organização social que determina após um empurrão do Acuña a sucessão de um conjunto de eventos que culmina num golo do Sporting.
Faz-me lembrar um livro do Pierre Siniac que li há muitos anos. Numa cidade francesa, sempre que uma astróloga acertava nas suas previsões da semana, dava uma choruda gorjeta a um pedinte, que com esse dinheiro ia jantar a um determinado restaurante. Como era vítima de assédio sexual desse pedinte, se sabia disso, a empregada do restaurante metia a sua folga semanal. Um agente de seguros, que estava apaixonado por ela, se não a via no restaurante ia jantar a outro, onde invariavelmente pedia coelho à caçador, que era caçado pelo dono de uma loja de artigos de luxo e vendido ao dono desse restaurante. Vendendo-o e não se tendo que deslocar para o dar a uma instituição da igreja, tinha tempo para arranjar a montra da sua loja. Arranjando-a, um dos seus clientes podia comprar uma prenda para oferecer a uma prostituta que não tinha relações com ele sem ela. Tendo relações com ele, não estava disponível para ter relações com o vendedor desses artigos, que assim se dirigia a essa loja, onde o esperava a esposa do caçador que estava por ele apaixonado. Não tendo de esperar pela sua paixão escondida, chegava a tempo ao jornal onde trabalhava, não ficando o diretor desse jornal deprimido por se sentir abandonado e não se embriagando. Estando sóbrio, disponibilizava-se para efetuar a cobertura jornalística no centro cultural do filme que ia passar e do debate que se lhe sucedia. Havendo debate, a responsável do centro cultural não tinha medo de ficar sozinha a encerrar a sala depois do filme terminar e assim abria a bilheteira. Havendo filme, o assassínio seduzia uma vítima e o homicídio acontecia. Se a astróloga fazia uma previsão que nessa semana ia acontecer uma desgraça na cidade, este ciclo infernal retomava-se e o homicídio acontecia sempre. “Balada da Cidade Triste” é o título deste livro. Também podia ser o título do campeonato nacional e do seu entorno mediático.
Doumbia pode vir a ser um bom jogador mas ainda não é. Quanto ao Acuna já é um bom jogador mas fez, claramente, falta mas, para infelicidade dos idiotas da Sport Tv, for da área. No entanto a s variações sobre o tema continuariam a alimentar os programas de Tv pseudo-desportivos, não tivesse acontecido o memorável Braga-Slb de ontem. Foi um fartote, mergulhos para a piscina, pisadelas, palmadas nas pernas e finalmente, talvez o mais patético comunicado que há memória: o Braga poi prejudicado pela arbitragem mas não para beneficiar o Slb pois o destinatário do benefício ilegítimo chama-se Sporting. Palavras para quê, é um artista português que usa pasta medicinal...para limpar a boca depois das sujeiras que faz.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarO Benfica foi beneficiado para ser prejudicado, é o que se conclui do comunicado.
SL
Melhor que o jogo ,desta vez vi ao vivo, só mesmo esta crónica.Parabéns! SL
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarTenho inveja. Também eu gostava de ver os jogos ao vivo e não a ouvir os comentários da SporTv. Seja como for, sem esses comentários nada disto tinha piada.
SL
Lá está, oferecem-nos algo para tirar logo a seguir ! O plano está traçado. E depois nós somos sempre os que nos queixamos.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarA coisa é mais complicada ainda. Não nos precisam de dar nada. Só precisam de criar a percepção que nos dão. Fomos beneficiados porque não marcaram um livre a favor do Guimarães! Alguém acredita nisto?
SL
Ainda por cima os petardos foram na baliza Vitor Damas. Isto não se faz. Um jogo de 5x0 acaba num 2xo com a Sportv a balbuciar....não sei bem o que,como Keixer, não os entendo.
ResponderEliminarDomingo há mais, contra a SAD no Jamor. Costumo ir lá com o meu Beagle, desta vez não o levo, se ele dedscobre onde estão os gajos da Sporttv!
João Balaia
Caro João,
EliminarNa primeira parte, tivemos sete ou oito oportunidades flagrantes de golo. Ao intervalo se estivéssemos a ganhar por três ou quatro ainda era lisonjeiro para o Guimarães.
Não se pode analisar o jogo somente pelos resultados. Contrariamente às oportunidades e aos golos, não achei que o Guimarães jogasse mal. Achei foi que procuraram jogar à bola e jogando-se à bola às vezes uma equipa superioriza-se muito à outra. Foi um bom jogo de ambas as parte. Pelo menos, entretive-me a ver o jogo.
No Jamor, vai ser mais fácil encontrar comentadores do que adeptos dessa coisa que não é o Belenenses. É melhor não levar o Beagle, de facto. Tive um cão de água durante muitos anos e esse até com os comentadores da SporTv faria amizade.
SL