segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Mais um jogo, mais uma tática

“Mais uma corrida, mais uma viagem”, era o pregão dos carrinhos de choque que ouvia na Feira de São Mateus, em Viseu, quando era miúdo. No Sporting, o pregão é “mais um jogo, mais uma tática”. Temos um treinador sem qualificações, que se encontra a fazer o propedêutico, recorrendo em cada jogo a um fascículo de uma coleção editada pela Planeta DeAgostini. Cada semana de trabalho é um novo começo, com os coletes a serem trocados entre uns e outros jogadores e os mecos a serem colocados em locais distintos. Os coletes calharam em simultâneo ao Coates, ao Luís Neto e ao Mathieu e assim se construiu uma defesa com três centrais. A constituição desta defesa com estes três centrais foi exatamente igual a uma outra contra o Belenenses, jogando o Coates e o Luís Neto nas posições inversas. O resultado também foi exatamente o mesmo: ao intervalo o Luís Neto não voltou do balneário. 

Jogar com três centrais não é o mesmo do que jogar com cinco defesas. É suposto que os laterais joguem de forma diferente do que quando os centrais são somente dois, acabando por se transformar em alas e atacando os alas por dentro. De outra forma, jogando-se com cinco defesas, fica-se com menos jogadores para atacar e defender daí para a frente, dificultando a pressão mais alta sobre a saída da bola do adversário e o equilíbrio do meio-campo. Também não se pode jogar assim, como se o Ristovski fosse como o Acuña. O Acuña é um extremo adaptado a lateral esquerdo e, assim, sabe subir com a bola, jogar no um-contra-um e meter a bola na área. O Ristovski é um defesa direito potente e rápido, que transporta bem a bola para o ataque mas, depois de chegado, não sabe o que lhe fazer, a não ser passar a alguém que se encontre em apoio (normalmente o Bruno Fernandes, seu grande amigo e que o livrava de muitos sarilhos). Se esta era a tática, então devia ter jogado o Rafael Camacho do lado direito. Quando se dispõe da bola, com três centrais, tem que se sair para o ataque com rapidez ou, de outra forma, hipotecam-se nesse processo ainda mais dois médios, quando recuam para receber a bola, quase sempre de frente para a sua própria baliza, e não avançam suficientemente para assegurar adequada  cobertura dos laterais, que têm sempre de subir no terreno.

Os primeiros quarenta e cinco minutos foram muito maus, assustadoramente maus. Sem pressão na defesa e no meio-campo, os jogadores do Portimonense trocavam a bola como queriam e como se não houvesse adversário. Quando o Sporting recuperava a bola, a saída para o ataque começava numa troca de passes entediante até o angustiado Coates se enervar e ir meio-campo dentro ou enfiar uma biqueirada para a frente, a fazer-nos lembrar os bons velhos tempos do Polga. Num primeiro momento, este desconchavo e esta incapacidade de criação de um ataque que se visse, permitiu que muitos dos espetadores descansassem um pouco, depois de terem acabado de ver o electrizante jogo de futsal contra o Benfica. Mas, com o tempo a passar e a perder por um a zero, com um golo marcado por um avançado a jogar ao pé-coxinho, começaram a andar mosquitos por cordas em campo e, se não fosse um livre marcado de forma absolutamente extraordinária pelo Mathieu, era capaz de ser necessário realizar eleições antecipadas ainda durante o intervalo. 

Na segunda parte, com menos um defesa, mais um avançado, o Jovane Cabral, e o Battaglia em modo “take no prisoners”, sem o Wendell ao lado a atrapalhar, passámos a fazer o que era esperado, em particular pelo Portimonense, carregando no ataque, sobretudo após a entrada do Plata. O Vietto teve o seu momento habitual, quando, isolado, fechou os olhos e rematou para onde estava virado, acertando no peito do guarda-redes. Estranhamente, decidiu marcar um livre com os mesmos resultados das restantes demandas, fazendo-nos lembrar os tempos do Paulo Bento quando, em desespero, o próprio Polga também os marcava. Estranhamente porque, nesses tempos, não havia um único jogador que soubesse marcar um livre, contrariamente ao que acontece atualmente, como o Mathieu demonstrou na primeira parte. O segundo golo acabou por acontecer num cruzamento às avessas do Acuña, fazendo a bola sobrevoar a defesa para o Jovane Cabral ao segundo poste a cabecear para o meio onde um defesa trapalhão a empurrou para a sua própria baliza, só para chatear o Sporar e assim o impedir de marcar pela primeira vez com a camisola do Sporting. Com este golo e a lesão do Mathieu, acabámos por não ver o Jesé entrar para cumprimento dos minutos de jogo previstos no contrato e, assim, o Silas meter a entremeada toda no assador.

“Last but not least”, uma última análise sobre a arbitragem. Contra o Sporting, os árbitros têm por hábito admoestar oralmente os jogadores adversários quando cometem faltas graves, mas sem lhes mostrar qualquer cartão. O trapalhão que marcou o autogolo foi humilhado publicamente com duas destas admoestações, mas a verdade, a verdade é que não levou nenhum amarelo. Várias questões me suscita esta técnica de arbitragem, à falta de melhor expressão. Ou se admoesta ou se mostra cartão? No jogo anterior, contra o Sporting de Braga, o árbitro errou quando mostrou amarelo ao Coates e o admoestou oralmente ao mesmo tempo? Estas admoestações são registadas no relatório do árbitro e depois publicadas em Diário da República? Mais tarde, os jogadores não se podem candidatar à GNR ou a fiscal de obras numa câmara do interior? Para nossa sorte, desta vez, o Jovane Cabral revelou especial cinismo no aproveitamento destes erros da arbitragem.

4 comentários:

  1. O Silas é tão bom, tão bom, que vai chegar ao fim da época e não vai encontrar o famoso "sistema tático" para a equipa. Péssimo, é não conseguir estabelecer uma dinâmica de jogo que possibilite jogar-se alguma coisa de jeito, ou ser coerente, na prática, com algumas afirmações que faz relacionadas com jogadores da formação. Ele levá-los aos treinos, até leva, mas contar efetivamente com eles, está quieto, nem para o banco. Que não estrague a carreira de Pedro Mendes já seria alguma coisa, mas até isso está difícil, já que a de Francisco Geraldes já há muito que foi delapidada: Silas, neste caso concreto, apenas representa mais um dos "coveiros" desajeitados.

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    1. Caro A. Martins,

      O problema do Silas não é só não saber é sobretudo nem sequer saber que não sabe. Por isso, não aprende nada e os erros repetem-se. Quantas vezes tentou esta tática dos três centrais sem resultados? E aparentemente quaisquer três centrais servem chamem-se António, Manuel e Joaquim ou outra coisa qualquer. Todos servem para assim jogar e a dinâmica da equipa, dos laterais e da defesa para a frente não interessa nada para esse sistema dos três centrais.

      A aposta tem sido muito intermitente, com exceção do Camacho. Como ontem se viu, o Plata é craque, precisando de ganhar “cabedal” e aprender. É preferível essa aposta do que continuar a dar tempo de jogo a Bolasies e Jesés.

      SL

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  2. Silas anda à procura da melhor táctica mas não a encontra. Tem muito que aprender e só depois se perceberá se presta ou não como treinador. O Sporting não é o SLB, onde qualquer Lage ou Vitória faz boa figura. Quem contratou Silas deveria saber isso mas não sabe. Contrariamente ao que ele dizia, o futebol, no Sporting, não é fácil,fácil. É aliás, muito difícil, pois para além das dificuldades inerentes à gestão da equipa, da estrutura, das atletas, dos agentes, etc, o normal em qualquer clube, há que considerar os fulanos do apito, sempre prontos, a inclinar o campo contra o Sporting. Bem, não se percebe se o Frederico já desistiu de encontrar a táctica, estratégia ou caminho para o futebol do Sporting, tão entretido que anda com os idiotas das claques. Porque não delega essa tarefa, também difícil, no Barbini? Ou será que já delegou?

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    1. Meu caro,

      O Silas tem atenuantes: não começou a época, não escolheu jogadores e deixou de contra com o melhor jogador da equipa e do campeonato nacional. No entanto, ao fim destes meses, era normal, bastante normal que tivesse estabilizado um sistema tático e uma equipa-base. Aparentemente vai fazendo experiências atrás de experiências sem fim á vista.

      SL

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