Li o “Sem filtro”, do Bruno de Carvalho (deve ser a este tipo de leituras que se chama responsabilidade social de um “blogger” do Sporting). O livro não passa de umas tantas transcrições mal-amanhadas de outras tantas gravações. A parte que interessa, interessa pouco. É um disco riscado. Ninguém é o que pensa. É as escolhas que faz: a vida não deixa de ser uma somatório de escolhas. Bruno de Carvalho fez escolhas, de pessoas, de amigos, de inimigos e de táticas. Acabou por se derrotar pelas escolhas que fez. A moral da história, verdadeira ou falsa, de nada interessa se não se aprende o que se é a partir das escolhas feitas em consciência. Não vale a pena dizer que as escolhas foram erradas se não se tiver consciência desses erros e de que esses erros têm consequências. Na vida, ou se aprende com os erros ou está-se sempre a recomeçar, uma e outra vez, cumprindo o Mito de Sísifo.
A parte que menos interessa, interessa mais. Não por ter algo que não saibamos, mas por reproduzir por quem esteve por dentro o que qualquer um de nós só vislumbra de fora. Há o jogo, o que interessa, e há tudo o que o envolve, recheado de personagens pícaras, ao jeito da Crónica dos Bons Malandros, do Mário Zambujal. As fragilidades do Jorge Jesus, prisioneiro da sua visão de si mesmo e da sua egomania; o Octávio Machado, sem funções atribuídas, que sobrevive porque se espera que saiba o que diz que nós sabemos que ele sabe; o consultor motivacional que foi à sua vida e era o “Lexotan” do treinador e da equipa; o Teo que, independentemente do valor do contrato, queria que lhe pagassem umas contas, nem que fossem da água e da luz; os jogadores, os seus pais e agentes, e seus representantes (?), constituindo umas Matrioscas que vão saído dentro umas das outras, procurando cada uma delas ganhar o seu; a mulher que não casou com o homem mas com o presidente e o homem foi o último a saber quando deixou de ser presidente; a banca, os bancários e os banqueiros, as empresas e as suas administrações e os políticos, todos, envolvidos em negócios em nome do interesse público e do altruísmo, que cada um reivindica para si em quantidades maiores do que os outros. Aparentemente, tudo gira em torno de Bruno de Carvalho, como se a Terra precisasse do seu umbigo para o movimento de rotação e a noite se suceder ao dia e o dia à noite, que se define menos pelo que diz de si próprio mas pelo que não diz ou diz dos outros.
Eu confesso que comprei o livro só para ler sobre as coisas que se passaram com Marco Silva e com JJ.
ResponderEliminarComprovei o que pensava dos 2 treinadores. Em relação ao Marco Silva eu sabia de algumas coisas que ele falou no livro, pois tinha ouvido por outras fontes que não ele. Em relação ao JJ não sabia da história da chantagem antes do jogo do Braga (admitindo que é verdade).
Meu caro,
EliminarO que se sucedeu a seguir veio dar razão ao Bruno de Carvalho no que respeita ao Marco Silva. O problema é que foi ele que o escolheu e interessa pouco se o esteve para despedir no início da época ou não. A verdade é que foi o treinador escolhido por ele durante uma época. Quanto ao envolvimento do José Eduardo parece-me uma história mal contada.
O Jesus é um cromo, como todos sabemos, e é retratado como cromo que é. O que também parece evidente e para mim também era evidente é que na última época os jogadores já nem o podiam ver. Com os facebooks do Bruno de Carvalho acabou transformado em herói e grande defensor dos jogadores.
O problema do BdC é nunca perceber a sua importância como Presidente do Sporting e, por isso, a sua responsabilidade. Quando se assume um cargo destes é-se responsável por tudo, tenha ou não se tenha culpa no sentido mais moral do termo.
SL
E foi preciso ler o livro para finalmente perceber a anedota que é(e que sempre foi) BdC! O facto de ter presidido, com os niveis de aceitação e até aclamação por mais de cinco anos é significativo da miséria que, infelizmente, atingiu o SCP... Oxalá este período negro do brunismo seja ultrapassado depressa. Ainda andam or aí uns fanáticos a atrapalhar, cada vez menos, felizmente. SL
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarInfelizmente para todos nós o BdC não atingiu somente o Sporting. O BdC é fruto do seu tempo e das suas circunstâncias. Outros como ele andam noutros clubes e no espaço público todos os dias. Não se pode analisar a ascensão e queda do Bdc como um epifenómeno desinserido do contexto que refiro.
SL
É caso para dizer,mais valia ter estado mudo e quedo!Aos olhos equidistantes de quem sabe umas coisas da vida ,nem era preciso ler o aclamado livro onde quanto mais fala,mais se enterra.A culpa é sempre dos outros......ora a primeira coisa que se aprende nas aulas de liderança é justamente ,a culpa é sempre de quem lidera....por justaposição,a culpa será do autor do lixo..livro!
ResponderEliminarCaro Fernando Gonçalves,
EliminarTem toda a razão. O problema do BdC é não perceber que quando se é Presidente é-se responsável por tudo o que de bom e de mau acontece, independentemente da culpa em sentido moral ou até jurídico. Passados estes meses e com maior distanciamento pensei que finalmente tivesse percebido isso. Infelizmente não percebeu.
SL
Infelizmente tive de deixar o meu país para perceber essas coisas da liderança e responsabilização,não diria que foi uma aprendizagem,mas sim o complementar zonas cinzentas da matéria aprendida!Muitas vezes vemos os líderes do nosso pobre futebol chamarem a si próprios os fracassos ,mas pelos vistos será só fachada,porque como se vê ,à primeira oportunidade há sempre outro a pagar o "pato".Enquanto não se começarem a responsabilizar criminalmente ou com processos disciplinares impeditivos de voltar a exercer as mesmas funções quem é eleito ou designado para tomar decisões e comete erros grosseiros,as coisas nunca irão mudar nem no futebol nem na sociedade.
EliminarHá qualquer coisa de "O General no seu labirinto" em Bruno, nomeadamente a dificuldade em aceitar a realidade como ela é e os seus próprios erros que tudo deitaram a perder. Tem algo também próprio dos ciclos económicos: a exuberância irracional, de Greenspan, a bolha que cresce e, subitamente, a queda desordenada. Uma história de excessos, ao mesmo tempo triste, mas que encerra uma moral: um gestor não se deve identificar com as coisas, tem de ganhar sobre elas um afastamento que lhe permite ver melhor. BdC não o teve e vem-me sempre à memória aquela máxima do Blake de "como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Houve um momento em que eu achei que se tinha passado uma linha de não-retorno (quando um líder perde o respeito dos seus subordinados...). Ele, pelos vistos, não.
ResponderEliminarCaro Pedro,
EliminarCá veem as nossas experiências de vida e tudo aquilo que fomos lendo e refletindo. Estive, como todos estiveram, em momentos em que sentimos que o resto do mundo está contra nós. Só não desistimos por uma razão: aqueles que connosco trabalham continuam a acreditar. Quando essa crença se perde e, ainda por cima, vem o desrespeito mútuo, está na hora de arrumar os pertences e voltar para casa. O Bruno de Carvalho aparentemente não percebe, não percebe o que é autoridade e a sua fonte legítima.
Um abraço
Exactamente! Uma coisa é ter poder, outra é ser uma autoridade (provém do reconhecimento de quem connosco trabalha).
EliminarUm abraço para si, Rui
O Villareal no último fim de semana despachou o Sevilla, 4º classificado de La Liga, por uns claros 3-0 (Sevilla que, nos 1/16 da Uefa, já eliminou a Lazio por 0-1(em Roma) e 0-2).
ResponderEliminarEste antepenúltimo classificado de La Liga parece-me estar a ser subvalorizado pelos nossos comentadores, mas eu espero que os jogadores tenham bem presente que terão que lutar muito e, vamos lá, esperar que as sorte os premeie.
Daqui, do meu cantinho na Maia, terras do Lidador, vamos a eles, Leões. Boa sorte, Sporting!
SL
Meu caro,
ResponderEliminarTem razão mas só em parte. O Villareal é muito melhor equipa do que se diz por aí e o resultado do último fim-de-semana prova-o se dúvidas existissem. Agora, também é verdade que o Sporting terá efetuado o pior jogo da era Keizer.
SL
A escolha foi dos sportinguistas e não dele; quem o conhece(u) sabia que não ia acabar bem, só não sabia quando e como! foram os sportinguistas que o escolheram, até + que uma vez, portanto...
ResponderEliminar... também foram os sportinguistas que lhe colocaram os patins. Nos outros clubes continuam os mesmos dos apitos e dos vouchers. Esses são os bons que os benfiquistas e portistas cheios de autoridade moral não só escolheram como esperam manter até que a lei da vida se imponha, admitindo-se que não deixam sucessão.
EliminarObviamente que respeito a sua opinião, mas o consolo não chega, e depois essa forma de vivermos sempre a olhar para os apitos e as toupeiras, como se isso nos iluminasse o caminho de uma qualquer superioridade moral, que como sabemos não existe, não nos levará a lado nenhum. Se definitivamente não nos concentrarmos em nós e naquilo que temos que fazer em cada momento, não vamos lá!
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