Em Braga, um sportinguista é um sportinguista, enquanto um adepto do Sporting de Braga é um benfiquista com complexo de culpa: no momento da verdade, num Benfica-Braga, o lampião bracarense trai o cidadão bracarense. No café onde vi o jogo, estavam os quatro sportinguistas da praxe e uma multidão de benfiquistas. Os benfiquistas ainda arriscaram uns comentários, mas depois de umas vagas referências às equipas B, ao “je suis Guimarães” e ao “cluster” local da construção civil e obras públicas, viram o jogo calados e vagamente constrangidos. Nunca tantos pareceram tão poucos. A nossa tristeza pela derrota do Braga e o desejo de derrota do Guimarães eram genuínos. Moralmente, ganhámos ainda antes de começar o jogo.
O Marcel Keizer organizou a equipa com todas as cautelas e caldos de galinha como qualquer José Mota com ou sem barrete enfiado, não sendo preciso assim que o Luís Castro demonstrasse a sageza do treinador português. As equipas começaram a jogar na expetativa, cada um delas à espera do erro do adversário. O Guimarães não pressionava tão à frente como o Aves, o Nacional ou o Rio Ave, o Sporting jogava com a defesa mais recuada e sem grande vontade de sair em tabelinhas pelo meio ou de pressionar alto. No jogo do engonha do futebol português, um treinador holandês ou de outra qualquer nacionalidade perde sempre para o autóctone.
Notou-se que a equipa do Sporting não estava confortável com o modelo de jogo, por opção mas também por mérito do adversário. Os jogadores do Sporting pareciam ficar sempre a meio do caminho: nem avançavam como deviam, nem se fechavam em alternativa. A cada perda de bola, sucediam-se as investidas da cavalaria adversária que devastava o nosso meio-campo, obrigava a recuar os avançados e os laterais à desfilada e deixava os centrais em estado de pânico permanente. Se houvesse um golo, adivinhava-se que fosse do Guimarães e assim foi. Bola metida na molhada, mau alívio do André Pinto para a entrada da área, Joavne Cabral a acordar tarde para a vida e um baixote entroncado a enfiar uma bica com o pé esquerdo que fez tabelar a bola nos mecos à sua frente até entrar na baliza numa excelente jogada de “flippers”. No resto da primeira parte piorámos, se ainda era possível. O Sporting queria reagir e perdia mais bolas e os contra-ataques do Guimarães sucediam-se.
Na segunda parte, com a entrada do Raphinha, o Sporting equilibrou o jogo e ameaçou ficar por cima. Parecia que nada ficaria como antes e se assistiria a mais um jogo frenético. Não foi assim que aconteceu. Por volta dos sessenta minutos, a equipa do Sporting deu literalmente o berro. Bastava o Guimarães jogar comprido para aparecer um avançado a antecipar-se à defesa, a ganhar a primeira bola de cabeça ou a ganhar a segunda. Os jogadores do Sporting não ganhavam uma bola, perdendo todos os duelos individuais (nestas circunstâncias sente-se mais a falta de jogadores como o Coates ou o Battaglia). Era preciso mexer na equipa. Com aqueles não íamos lá. Começamos a pensar que com a entrada do Petrovic para o lugar do Gudelj ou a colocação do Acuña no meio para entrada do Jéfferson em substituição do Gudelj é possível virar o jogo. Mais tarde, quando caímos em nós, é que percebemos que a esperança em Marcel Keizer é tanta que enlouquecemos de vez e passámos a acreditar em milagres. Entrou o Mané para o lugar do Miguel Luís e a equipa ainda se afundou mais, deixando de existir qualquer ligação entre a defesa, o meio-campo e o ataque. O Gudelj era sempre um jogador a menos quando tocava a defender e um jogador a mais quando se pretendia atacar, obrigando o Bruno Fernandes a recuar mais do que o desejado. A entrada do Petrovic para o seu lugar pareceu tardia, mas quando se colocam tantas fichas nele é porque estamos perdidos. Valeu-nos o Renan Ribeiro para salvar a honra do convento.
Passei a escrever estas crónicas no dia seguinte aos jogos. Escrevo-as enquanto espero por um colega para o almoço. Esqueci-me que hoje não só não era dia de trabalho como era véspera de Natal. Natal é para dedicarmos tempo à família e ao que verdadeiramente importa. Percebemos que as coisas verdadeiramente importantes são a necessidade imperiosa de se comprar as gasosas para os miúdos ou ajudar a fazer rabanadas ou arroz doce, esperando que se tenha acertado no tamanho da saia, da blusa ou das sapatilhas da mãe, da irmã e do sobrinho. Andamos numa fona de um lado para o outro sem tempo para nada e perante olhares de quem nos vai fazer uma entrada de carrinho se voltamos a entornar o molho do pudim ou se provarmos o bolo-rei antes do tempo. Recebe-se mensagens que tanto podem ser sobre o Sporting ou de Boas-Festas, às quais respondo invariavelmente sem ler: “Bom Natal para si e para os seus”.
Arranjei uns minutos para escrever esta crónica. Não foi bem para a escrever. Foi mais para desejar a todos e a cada leitor “Bom Natal para si e para os seus”, enquanto tenho tempo e ninguém se lembra que preciso de comprar canela, frutos secos, ananás ou qualquer outra destas coisas das quais a nossa vida hoje depende como se não houvesse amanhã. Esse desejo vai acompanhado de um excelente “cartoon” do A. Trindade, amigo e colega insustentável.
Boas festas! Para si e para os seus, claro está.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
SL
A manta é curta e faltam-lhe bocados... Boas Festas!!
ResponderEliminarMeu caro Zé Baleiras,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
Era assustador o banco do Sporting. Um guarda-redes e quatro defesas, mais o Mané e o Raphinha. Entrando o Raphinha não havia alternativas.
SL
Desejo-lhe um Natal Verde.
ResponderEliminarDo mal o menos, antes perder como genuíno Vitoria de Guimarães do que com os encarnados do Minho. Perder com ambos é lixado.
Na volta cá os esperamos em Alvalade com 50 mil Sportinguistas.
Boas Festas!!!
Caro João,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
Este foi um típico jogo em Guimarães. Rasgadinho e para homens de barba rija. Neste jogos sente-se a falta deles; de alguns como o Coates ou o Battaglia. Não se vive sempre da nota artística.
SL
Considerando o "momento", o título do texto é o melhor momento, que retribuo.
ResponderEliminarCaro S. Almeida,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
Não se podendo embebedar o peru, embebedamo-nos para esquecer.
SL
Os meus e eu agradecemos e retribuimos!
ResponderEliminarBoas Festas!!!!
Caro Aboim Serodio,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
SL
Caro Rui Monteiro, Boas Festas para si e para os leitores insustentáveis.
ResponderEliminarO fim de semana passado não foi grnade coisa mas, como dizia o palerma, amanhã é outro dia. Depois de ver o jogo treino do Slb com a "filial" de Braga, em streaming claro, sintonizei a maravilhosa Sport Tv, ainda com os golos encarnados na retina, qual deles o mais extarodinário, hesito entre o frango do GR do Braga, ou o passe de morte do defesa para o golo do Grimaldo, ou ainda o sprint que o super rápido Jonas fez para aparecer, completamente isolado, à frente da baliza contrária, para simplesmente encostar, aquele golo até eu marcaria. Pois estou consigo e não obstante achar que o Vitoria Guimarães tem uma boa equipa e bem orientada, também me parece que o Keiser abdicou do seu princípio de jogo e tentou jogar à "portuguesa", excepção feita ao glorioso, que está, obviamente, num patamar de excelência. O Holandês tentou ser Português e naturalmente perdeu sem apelo nem agravo. Quando tentou recorrer ao banco verificou que estava falido qual Banif,BPN ou BES. Esperemos que se consigam alguns reforços de Inverno mas ainda não ouvi falar em defesas laterais que, quanto a mim,é um dos sectores mais fragilizado.
Meu caro,
EliminarObrigado pela leitura e as Boas Festas. Espero, de facto, que o Natal tenha sido magnífico para si e para os seus.
O Keizer jogou cheio de receios. Os resultados não foram grande coisa. Não temos jogadores nem árbitros para jogar à portuguesa. O amarelo ao Bruno Gaspar foi um excelente sinal do que nos esperava.
SL
Estava falido para não dizer outra palvara que acaba em dido. Este plantel foi herdado do anteerior dueto BC-JJ, muito desequilibrado mas poderia ser pior se Battaglia, Bruno Fernandes e Dost não regressassem, e ainda Diaby e Renan que tem cumprido. Não havendo milagres em janeiro vamos mandar a artilharia para a Taça de Portugal.
ResponderEliminarCaro João,
EliminarPor muito que se possa criticar o Sousa Cintra, sem a recuperação do Bas Dost e do Bruno Fernandes este ano era um desastre. Se em janeiro recompusermos o plnatel, pode ser que dê para alguma coisa. Para ganhar o campeonato nunca dá. O Porto e o Benfica ganham sempre mesmo que não joguem rigorosamente nada. São vitórias em série e quanto a isso não há nada a fazer ou há mas depende de muito mais coisas do que os pontapés na bola.
SL
"No jogo do engonha do futebol português, um treinador holandês ou de outra qualquer nacionalidade perde sempre para o autóctone." O meu caro, com isto disse tudo. A derrota também se deve à (falta) atitude da equipa do Sporting. Quanto ao Braguinha, fez o que pôde. Boas festas.
ResponderEliminarSL. J. Rocha.
Caro J. Rocha,
EliminarOs treinadores portugueses andam há muitos anos a virar este frango. Não sei se chamaria falta de atitude. Era um jogo para homens de barba rija e os nossos são uns meninos.
SL