terça-feira, 7 de maio de 2019

Um oito à Bordalo Pinheiro

Um encontro de agrónomos que se realiza ano após ano há cerca de vinte anos calhou neste fim-de-semana. Quando se iniciaram estes encontros, muitos de nós ainda não tinham filhos. Ao fim destes anos, temos filhos mas é como se não tivéssemos: não estão para nos aturar e ainda bem (para eles, diga-se). Combinar encontros e jogos de futebol no mesmo fim-de-semana não é para todos, sobretudo se se joga ao domingo, exatamente quando se está de regresso a casa. Implica adequada logística e todo um sem número de concessões que coloque as mulheres em dívida moral. 

O encontro foi nas Caldas da Rainha e, por isso, não regressámos sem uma ida à loja da fábrica Bordalo Pinheiro. Analisámos com detalhe e atenção a importância que se reveste uma fruteira em forma de couve penca na decoração da sala de jantar ou de um canídeo em porcelana à frente da casa com a respetiva placa “Cuidado com o Cão”, para que os vizinhos tenham medo (de o partir, claro está). O meu amigo Luís representou tão bem que fiquei na dúvida se a folha de couve não lhe era destinada. Estávamos em plena A8 quando o jogo contra o Belenenses se iniciou. Com o aproximar do final da primeira parte, o Luís, a medo, começou a dizer que estávamos a ficar sem combustível. Vimos toda a segunda parte na estação de serviços de Vagos, pois deu-se o caso de o jogo ali estar a ser transmitido, coisa que nunca imaginámos e muito menos planeámos, juntando-se o útil ao agradável. 

Aparentemente, a equipa do Sporting estava a adaptar-se ao relvado simplesmente, treinando para a final da Taça de Portugal. O Belenenses, com menos um jogador, comportava-se como um clube grande, recordando-me um ex-Presidente que afirmava que um clube grande, como o Belenenses, deve ser grande até a dever. Os jogadores em vez de despejarem a bola para a frente ou saírem com ela pelas laterais, inventavam um “tiki-taka” pelo meio que, à primeira pressão, acabava tudo em pânico. Num desses pânicos o Bruno Fernandes acertou nas pernas do guarda-redes e notou-se que estava a ficar cada vez mais irritado consigo mesmo. Como os jogadores do Sporting pareciam que estavam num jogo-treino, não se estranhou o golo do Belenenses. Foram à frente uma primeira vez e o Renan Ribeiro defendeu. À segunda, depois do Mathieu fazer um passe assim-assim para o Borja também efetuar uma receção assim-assim e ajeitar a bola para um jogador do Belenenses que vinha embalado, marcaram numa recarga do Licá, o velho Licá, o ex-internacional Licá. 

O jogo prometia. Mas o Gudelj de meia-distância fez embater a bola no lombo de um adversário e entortou o guarda-redes todo, fazendo o três a um e mantendo uma postura de quem faz remates daqueles várias vezes ao dia. A seguir, um defesa do Belenenses e o Luiz Phellype procuraram explicar ao João Félix as circunstâncias que permitem a um avançado rebolar-se no chão depois de levar uma trancada sem parecer maricas. O Bruno Fernandes fez a paradinha do costume e bateu o recorde do Mundo e da Europa também, mas continuava-se a notar a irritação. Lançado em profundidade pelo Raphinha, o Luiz Phellype torneou o guarda-redes e passou a bola ao Bruno Fernandes para fazer mais um golo, que não ficou muito mais alegre atendendo à facilidade, apesar de ter batido o recorde do recorde que tinha batido. Entrou o Bas Dost e os jogadores do Belenenses fizeram o favor de perder mais uma bola no meio para o Bruno Fernandes o isolar e marcar mais um golo à segunda. O Acuña foi à linha e centrou para o segundo poste, onde apareceu o Bruno Fernandes a rematar de primeira e a marcar mais um, batendo o recorde que tinha batido duas vezes e ficando com melhor cara. Até o Diaby participou num golo, atrapalhando-se com um defesa e deixando a bola para o Bas Dost simular e o Doumbia rematar e fazer o resultado final. 

Percebia-se que se estava perante uma situação de emergência. Desconhecia-se era que o árbitro fizesse parte de uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), só assim se compreendendo a razão para acabar o jogo logo ali e não dar o devido tempo de descontos. Com mais quatro ou cinco minutos, havia tempo de sobra para marcar mais um ou dois golos. Havia tempo e mais do que tempo para o Bruno Fernandes voltar a molhar a sopa. Concluído um “encore” pedimos outro e mais outro, procurando assim matar as saudades que dele vamos ter. Cada jogo jogado é menos um por jogar até ao final de época e temos saudades, muitas saudades, pois dificilmente o voltaremos a ver com a nossa camisola.

4 comentários:

  1. Caríssimo Luís,

    O Capelas fechou a loja mais cedo, não fosse o Bruno Fernandes ameaçar os 21 golos do esferovite...

    Saudações leoninas,
    Dinis

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    1. Caro Dinis,

      Não sei se foi especificamente por essa razão mas foi para evitar males (ou bens, como se quiser) maiores. Se estivesse um a zero o árbitro dava 4 a 5 minutos de descontos. Como estava não deu. O árbitro está lá para aplicar e não para brincar à caridade.

      SL

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  2. Se ao invés de ter estacionado em Vagos tivesse saído em Mira em direcção a minha Cantanhede e degustado o delicioso néctar da Bairrada,por certo em vez de 8 o meu amigo teria visto 16 golos! Já não estou aí há uns bons anos e não bebo,mas dizem por aí que esses nectares continuam bons!Vagos e Ílhavo também me dizem muito,foram o meu local de trabalho antes do Reino Unido....talvez tenha sido o milagre da Senhora de Vagos para muitos,para mim,foi o consolidar de processos,já se vê laboratório nas jogadas e principalmente confiança de que a bola vai entrar ali naquele centímetro quadrado e estará lá alguém para a empurrar.! Único senão,temos de comprar retrovisores para alguns defesas,sofremos sempre da mesma forma.....adversário nas costas!Abraço

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    1. Caro Fernando,

      Uma incursão maior e as mulheres punham-nos fora de cada com os tarecos à porta. Foi o que se pôde arranjar e não foi mau. Aprecio de sobremaneira o seu comentários final: há jogadores que precisam de jogar com espalho retrovisor!

      Abraço

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