segunda-feira, 20 de maio de 2019

Quando uma manada de elefantes entra em campo

O jogo contra o Porto tinha dois objetivos que na prática constituíam um só: assegurar que um ou outro dos (poucos mas) bons jogadores do Sporting não estivesse na final da Taça de Portugal, no Jamor, aproveitando os do Porto, ainda, para descarregar a frustração da perda do campeonato nas canelas dos adversários ou em qualquer outro elemento anatómico que estivesse à mão (ou ao pé, melhor dizendo) de semear. O Sporting aparentemente também tinha o mesmo objetivo, assim se compreendendo a razão para o Mathieu, o Acuña e o Bruno Fernandes integrarem a equipa titular. 

Os do Porto iniciaram o jogo com o propósito de molhar a sopa no seu alvo principal, o Bruno Fernandes, esperando qualquer coisa, designadamente uma resposta em conformidade que o levasse à expulsão. O objetivo estava bem definido, mas o Bruno Gaspar trocou-lhes as voltas ao atrasar inopinadamente uma bola para o Borja se embrulhar com o Corona e acabar expulso depois de mais uma rábula onde o VAR representou o papel de árbitro interpretando o lance e as relações de causa e efeito do que viu e esquecendo-se de fazer outras interpretações diferentes do árbitro quando viu o que viu, como as entradas sem bola do Filipe e do Militão. O Sporting tem poucos bons jogadores, como se referiu, muitos assim-assim e alguns, consensualmente, maus. Assim, expulsado um assim-assim, para uns, ou mau, para outros, reduziu-se a possibilidade de expulsão de um dos bons. Por isso ou porque com mais um sentiram a responsabilidade de fazer mais alguma coisa, os jogadores do Porto passaram a olhar mais para a nossa baliza, embora mantendo um olho no burro ou no cigano, não sei bem como é que aplica este aforismo neste contexto. A primeira parte concluiu-se sem que se tivesse jogado praticamente à bola: o Felipe acertou mais vezes no Bruno Fernandes do que na dita e o Marega também não conseguiu acertar na dita e, muito menos, com a dita na baliza e fez-se ao “penalty” e à expulsão do Mathieu com uma coreografia que nem nos anos oitenta e noventa se aceitava. 

Ao intervalo, terão explicado ao Bruno Fernandes que o melhor era encostar-se à esquerda e deixar pura e simplesmente de participar no jogo e nunca, mas mesmo nunca, se lembrar de atacar, colocando-se a jeito. Os do Porto atrapalharam-se com este triste e vil apagamento do seu alvo principal e ficaram sem objetivo. Umas castanhas aqui, umas biqueiradas ali, umas correrias inconsequentes acolá e nada mais. Estava-se num marasmo tão, mas tão grande que um mau, o Diaby, um bom, o Acuña, e um assim-assim, o Luiz Phellype, tiveram tempo, mas tanto tempo para se relembrarem onde ficava a baliza da equipa adversária que acabaram por marcar um golo. Raivoso, o Sérgio Conceição fez entrar o Aboubakar carregado de apontamentos. O homem, atrapalhado, em vez de montar a habitual roda com os colegas à frente da claque e, enquanto um dos seus membros despia a camisola, realizar um “brainstorming”, decidiu ler as cábulas enquanto corria. Não é um processo que se recomende e, assim, não se estranhou que tenha esbarrado no Renan Ribeiro quando estava isolado e se esperava que marcasse. 

À falta de melhor, os jogadores do Porto fartaram-se de ganhar cantos e tanto cantos marcaram que os nossos, exaustos e vagamente entediados, entraram em modo “levem lá a taça (em minúsculas, entenda-se)”, deixando de saltar às bolas e de fazer subir a linha defensiva. O Danilo empatou e logo a seguir o Herrera fez o dois a um, saudando as claques com um coração e evitando ter de se lhes dirigir no final do jogo para pedir desculpa de qualquer coisinha. Fiquei com dúvidas quanto à sua posição e com mais dúvidas fiquei quando a SporTv desatou a passar repetições e repetições de todos os ângulos menos daquele que permitia esclarecer essas dúvidas, chegando a passar umas repetições de trás da baliza cuja coisa mais relevante que permitiam vislumbrar era o novo “bleached blonde hair” do Herrera. 

Parecia que tudo estava resolvido a bem para ambas as partes, mas não estava. Os do Porto voltaram à casa de partida e continuaram à viva força a querer expulsar um dos (poucos) bons jogadores do Sporting. À falta do Bruno Fernandes, que tinha sido substituído, desviaram as suas atenções para outro alvo: o Acuña, o argentino das bolas grandes, como afirma a sua mulher e nós não temos condições de desmentir. Quando o Acuña dominou a bola junto ao banco do Porto, local ideal para se encenar uma ópera-bufa como a que se iria assistir, o Corona e o Herrena fizeram-lhe uma emboscada e desataram a bater-lhe de todas as formas e feitios, enquanto, subitamente, se vê entrar em campo uma manada de elefantes comandada pelo Sérgio Conceição. Vendo o seu colega em ligeira desvantagem em número e armamento, os nossos reorganizaram-se e fizeram uma investida que rompeu a inexpugnável Linha Maginot, enquanto o Acuña, fora do campo, se mantinha tranquilo a explicar a dois elefantes os ensinamentos do Mahatma Gandhi e os princípios do Satyagraha para evitar que engrossassem a manada. O VAR, que tinha visto uma mão do Borja que, quem sabe, talvez pudesse impedir a adequada progressão do seu adversário e assim, quem sabe, isolar-se, não viu nem o Sérgio Conceição nem a manada de elefantes entrar em campo. Não viu ele e também não viu o árbitro, o quarto árbitro e os dois fiscais de linha. Ainda bem que estas assimétricas patologias oftálmicas não afetam a polícia que se dispôs de imediato a acabar com a rebaldaria. O árbitro expulsou o Corona e mostrou amarelo ao Acuña, por considerar, admite-se, que uma revolução mesmo por meios não violentos não deixa de ser uma revolução e uma forma de perturbar mentes mais simples e dadas aos instintos da sua natureza. 

Mas, no fim, o que importa é o resultado e o resultado foi lisonjeiro para nós. Ficámos sem um jogador para a final da Taça de Portugal e o Porto também. Não merecíamos este resultado e o Porto muito menos, que tanto porfiou para conseguir mais e melhor enquanto nós só passámos a jogar como uma verdadeira equipa quando tivemos de enfrentar uma manada de elefantes. Depois de levar uma bofetada do Sérgio Conceição, o Renan Ribeiro caiu, mas, como reza a lenda, por cada leão que cair, outro se levantará!

10 comentários:

  1. Bravíssimo!
    Obrigado pelos textos magníficos que nos tem proporcionado, que servem para mitigar os desgostos desportivos que temos tido, mas sempre na esperança de que isto dê a volta.

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    1. Obrigado. Enquanto não nos arranjarem outro entretém temos que aguentar este e esperar novos amanhãs que cantem.

      SL

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  2. O problema é que vai acontecer o mesmo na final da taça e não estou a ver o nosso Sporting a prevenir que tal não aconteça.

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    1. Penso que já mandaram cercar o campo do Jamor com arame farpado. Vamos ver se funciona.

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  3. Uma pequena amostra do que vai acontecer na final da Taça, aí sim vai ser de virar bonecos !

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    1. Como disse na resposta atrás, pode ser que cerquem o campo do Jamor com arame farpado. Também não era má ideia açaimar um ou outro jogador. Vamos ver se é possível.

      SL

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  4. O ACUNA TEM COLHOES GRANDES MAS O VARANGAY NÃO .

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    1. A testosterona talvez funcione para o Benfica ou para o Porto, pois com apitos ou emails ninguém é responsabilizado. No nosso caso, a testosterona serviu para enfiar uns rufias e uns miúdos, a quem lhes estragaram a vida, em prisão preventiva que dura há quase um ano (uma vergonha para um sistema de justiça que se preze). A melhor maneira é em vez de utilizar os órgãos que produzem testosterona passar a recorrer às meninges.

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