As coisas são como são e acontecem porque têm de acontecer. Nem o Clark Gable, nem a Vivien Leigh conseguiram fugir às suas circunstâncias. O Peseiro não conseguiu fugir às suas circunstâncias sendo que a principal é ele próprio, com as suas idiossincrasias. O jogo de ontem, contra o Estoril, é o Peseiro, nem mais, nem menos. A equipa do Peseiro 1.0 era irregular, tanto jogava bem como mal, tanto ganhava e goleava como perdia com qualquer equipa de pernetas. Mas era uma equipa de ataque. O objetivo era sempre marcar pelo menos mais um do que o adversário. O resultado final foi o “quase”, que nos marcou e a ele também.
O Peseiro 2.0 é o do passado mas mais hesitante ainda, resultante desse passado: quer atacar como no passado mas quer manter a segurança defensiva para não cometer os erros do passado. O duplo pivô é filho do passado do passado. É a tentativa de construir a quadratura do círculo: o Peseiro do passado acrescido da experiência passada do Peseiro. O resultado nem é uma coisa nem outra. O Sporting ataca pouco e mal e continua desprotegido atrás quando perde a bola. O duplo pivô resulta da falta de convicção e da hesitação sobre o modelo de jogo. Não é uma tática, é a falta dela, é um fetiche, para que ninguém diga que o Peseiro 2.0 não aprendeu com o Peseiro 1.0.
O jogo de ontem, contra o Estoril, tornou claro, para quem não queria ver, os equívocos e as hesitações do Peseiro 2.0. Para azar, o Sporting fez um a zero muito cedo, fruto de uma boa pressão do Bas Dost e da sagacidade do Wendel na compreensão do lance e na interpretação em conformidade. A ganhar por um a zero, a equipa ficou sem guião. Era para atacar ou para defender? Era para controlar o jogo e isso era exatamente o quê? Deixar passar o tempo? O Sporting foi sempre uma equipa perdida, sem objetivos. Atacava sem convicção e, quando perdia a bola, continuava descompensada atrás. Que sentido tem jogar com o duplo pivô (sobretudo tão estático, dado que nem Petrovic nem Gudelj se chegam à frente por uma vez que seja), quando na construção de jogo são tanto jogadores que se atrapalham e quando se perde a bola não se consegue parar um contra-ataque? Existe uma terra sem dono entre o ataque e a defesa que, com tantos jogadores na intermediária, ninguém consegue ocupar.
Se a equipa estava praticamente sem guião, com menos guião ficou com a dupla substituição aos sessenta minutos. A indicação do treinador para equipa que estava em campo foi inequívoca: este é um jogo-treino! Só num jogo-treino é que se fazem substituições aos pares porque não há limites para elas. A dupla substituição só faz sentido num jogo a sério quando se pretende mudar radicalmente o jogo e dar uma sacudidela na equipa. Ainda se percebe a substituição do Bas Dost pelo Montero, na perspetiva da gestão do esforço. O que não se percebe é a substituição do Jéfferson pelo Lumor. O Jéfferson nem sequer devia ter entrado. Entrou porque o Peseiro não consegue ver o que qualquer mortal vê há muito tempo. Não sabemos se o Lumor é bom, mas sabemos seguramente que nunca será pior do que o Jéfferson, porque pior do que o Jéfferson não há. A substituição foi para queimar o Jéfferson? Só pode ter sido, mas diz mais de quem o mete a jogar do que do próprio jogador.
Com a lesão do Wendel e a (necessária) entrada do Bruno Fernandes, o Sporting ficou sem plano B para qualquer eventualidade. Como de costume, o Bruno Fernandes, sem o Nani em campo para parar o jogo e obrigar os colegas a organizarem-se, passou a andar a correr para trás e para a frente, até ficar com um torcicolo de tanto olhar para a bola que lhe passava por cima. E o pior aconteceu. O André Pinto teve um daqueles dias que não se deve sair de casa e, num ápice, ficámos a perder por dois a um e sem plano B que se vislumbrasse. O plano B que se arranjou foi avançar um central para ponta-de-lança e apostar no chuveirinho. Mas até nesta contingência se viu a incompetência do treinador. Avançou o central mais baixo e mais rápido e ficaram atrás os mais altos e lentos, não se ganhando uma bola de cabeça na frente e expondo a equipa a novos contra-ataques e a sofrer mais golos.
Se o Peseiro tivesse brio profissional, viria assumir os seus erros, insuficiências e responsabilidades. Nada disso aconteceu. Procurou transformar a anormalidade em normalidade, no novo normal. Não se demitiu como devia. Mas o Peseiro há muito que não vive da profissão de treinador. Vive de créditos passados (que se desconhecem), da condescendência como são tratados pela imprensa e opinião pública certos treinadores e do ciclo contratação-despedimento-indemnização que se renova todas as épocas por razões que a razão desconhece. Não se deve voltar onde se foi feliz e ainda menos onde se foi infeliz, esta é a lição para o Peseiro. “Loucura é continuar a fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes” (Einstein), seria a lição para o Sousa Cintra e a Comissão de Gestão, mas (felizmente para eles), não estão na direção do Sporting para a aprender. Por agora, temos o Tiririca do filho do Manuel Fernandes: pior não fica, restando-nos esperar que novos tempos virão (ou “vão vir”, como diria o Paulo Futre).
Grande texto. Parabéns.
ResponderEliminarObrigado. Espero que não seja ironia pela extensão sobre uma personagem que não merece tantas palavras.
EliminarÉ isso...grande texto! Parabéns!
ResponderEliminarObrigado.
EliminarSL
muito bem!
ResponderEliminarObrigado.
EliminarSL
Claques 1- Varandas 0!
ResponderEliminarO P0 lixou-se porque é benfiquista!
Aconteceu o mesmo no Porto com o Paulo Fonseca.
Meu caro,
EliminarAcho que é mais simples: Peseiro 0 - Sporting 0. O homem é um zero e as equipas que ele treina são zero. O resto são teorias da conspiração que pouco interessam. Jogasse a equipa melhor e não havia teoria nenhuma.
Então só perdeu por 1 e foi despedido? Depois do Dortmund em Alverca e Arsenal e Juventus do Casino Estoril em Alvalade.
ResponderEliminarNem ele percebe...
Segundo o Brás tem um déficit positivo ainda...
Isto não se devia dizer, mas foi a melhor derrota da época na minha perspectiva.
Que a estrelinha do Peseiro nos proteja nos Açores e o novo treinador ponha a equipa a jogar futebol rapidamente.
Meu caro,
EliminarO Brás é que disse tudo: o Peseiro tem um défice positivo. É único no mundo.
SL
Excelente texto.
ResponderEliminarExcelente.
A questão começa logo com o nível a que foi colocada a fasquia: "Temos equipa e vamos lutar pelo titulo". Conversa para "papalvos" não para mim. "Linear caro Watson": Nós não vamos ganhar nada, nem com Peseiro nem com qualquer outro, porque não temos plantel para isso. E desde o principio que se deveria ter dito que iríamos entrar numa época de reorganização e de estabilização onde ganhar alguma coisa seria excepcionalmente muito positivo. Como afirmei inúmeras vezes Peseiro não era o meu treinador, como Cintra não seria o meu director responsável na transição.
ResponderEliminarAgora surpreende-me que, mais que a qualidade do jogo que se produz, não se analise a qualidade do plantel que se formou (também com alguma responsabilidade do Peseiro, sobretudo nas dispensas de jogadores da casa) o qual, à excepção de 5 ou 6 jogadores de 1º plano, é de mediana ou mediocre qualidade. Por exemplo: Aquela 2ª equipa do Sporting, em plantel não é superior em qualidade à 1ª equipa do Estoril, ainda por cima mais rodada e competitiva (ocupa um dos primeiros lugares da 2ª Liga e estas equipas de topo da 2ª Liga tem valor equivalente às das últimas 4 ou 5 da 1ª Liga). E sobre isso Peseiro nada podia fazer. Mas concordo em absoluto com a utilização desta 2ª equipa do plantel para a Taça Lucílio Baptista. Eles não prestam mas estão lá para jogar, o que só pode acontecer nesta prova e nas eliminatórias da Taça mais acessíveis.
Não tendo defendido a contratação de Peseiro, e ter sido apoiante de Varandas, parece-me extemporâneo o despedimento sobretudo sem uma forte alternativa na mão. E quem paga são sempre os adeptos e os associados...
Caro Vítor Cruz,
EliminarEstava à vista de todos que a equipa com o Peseiro não evolui nem evoluirá. A possibilidade de se fazer uma época miserável com ele era elevada, com o consequente desgaste da direção e do ânimo dos adeptos.
À primeira vista, para o Presidente, a solução mais cómoda seria mantê-lo. Agora, se ele percebeu que o Peseiro não sabe sequer treinar como se deve, é melhor intervir agora do que mais tarde, quando tudo estivesse perdido e se perdesse uma época sem sequer se criarem bases para a próxima. Para quem conhece o meio, é mais simples do que parece verificar se os jogadores acreditam minimamente no treinador ou não. É que se não acreditam não há nada a fazer.
Não sou favorável aos despedimentos a meio da época. Só fui favorável a dois: este e o do Paulo Sérgio. Com o Paulo Sérgio era muito evidente também a impotência e a incompetência. Nestes casos, independentemente da solução, mandá-los embora é bom em si mesmo.
SL
Ficou claro que Varandas foi influenciado por meia duzia de cromos com retalhos brancos na mão(não percebi se eram lenços ou cortes de papel higiénico). Como diria Lenin : Que fazer?
ResponderEliminarVarandas não tinha nenhum treinador em carteira, o Sporting vai fazer 2 jogos importantes com o adjunto do adjunto.
O titulo da Liga que ja era uma miragem....... findou.
Quem há muitos anos segue o Sporting já viu este filme rasca demasiadas vezes.
SL
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