O choro das carpideiras de serviço do José Peseiro intensificou-se na semana passada. Aparentemente, estas carpideiras tinham um alvo - Frederico Varandas -, sem nunca se terem dado ao trabalho de perceber que não foi ele quem o despediu, mas os jogadores (ninguém despede o treinador contra a vontade dos jogadores, como se viu com Marco Silva). Longe vão os tempos do “Vamos a eles como tarzões!” do Fernando Cabrita a selecionador nacional. Os jogadores do Sporting são internacionais pelos seus países e muitos deles trabalharam com grandes treinadores ao longo da sua carreira. Os comentários sobre Marcel Keiser foram do mau gosto à xenofobia, mas, para além do corporativismo parolo, o objetivo era o de fragilizar o recém Presidente do Sporting.
Quando menos se esperava apareceu outro alvo: Tiago Fernandes. A primeira coisa que fez o jovem treinador foi fugir da herança de José Peseiro. Não sendo filho dele e tendo alguma ambição para sua carreira, não podia ficar agarrado a esta herança (que não é currículo mas cadastro), contrariando a vontade dos jogadores e não os mobilizando para os jogos que tinham pela frente. Nos Açores, acabou com o duplo pivô, provou que o Lumor é mais alternativa do que Jéfferson, apostou no 4x4x2 e, mesmo quando substituiu o Diaby pelo Jovane Cabral, não alterou no essencial essa tática. Contra o Arsenal, mudou para o 4x3x3, apostou no miúdo Miguel Luís a titular (para dar sinal que é preferível apostar na formação do que em qualquer um dos “ics” que entulham o plantel) e voltou a não reeditar o 4x2x3x1. Para acabar com a pieguice e as desculpas, fez discursos afirmativos antes e depois dos jogos.
Os resultados foram bons, mas parecia que se estava num velório, tal o choro das carpideiras de serviço: devia-se ter demitido, por solidariedade para com o seu treinador principal; deu o braço a torcer e jogou na segunda parte contra o Santa Clara como se jogava anteriormente; é arrogante e não respeita os colegas e os mais velhos; queria ser o treinador do Sporting mas o Varandas trocou-lhe as voltas. Pelo que disse e não devia ter dito, pelo que não disse e devia ter dito, tudo serviu para malhar no Tiago Fernandes. Se outras razões não existissem para desejar a vitória contra o Chaves, a solidariedade dos sportinguistas para com o seu jovem treinador bastava. A solidariedade bastava para o desejo mas não bastava para se ganhar o jogo. O adversário conta e é preciso ter competência para lhe ganhar.
O Tiago Fernandes voltou a apostar no 4x3x3, insistindo no Miguel Luís no meio-campo, ao lado do Bruno Fernandes, e deixando o Gudelj a seis. Este é o sistema de jogo que mais o favorece Bas Dost, desde que lhe façam chegar as bolas em condições. Com o meio-campo mais arrumado, a equipa circula melhor a bola, responde à perda de bola de forma mais eficaz. Só que, com o Bruno Fernandes sem atinar, falta criatividade no ataque e capacidade para desequilibrar na zona central do terreno. Ficamos todos à espera de que o Jovane Cabral ou o Nani, apoiados pelo Acuña e pelo Bruno Gaspar, tirem um coelho da cartola numa qualquer arrancada. Do segundo não se espera o mesmo do que do primeiro e, por isso, a equipa joga mais inclinada para o lado esquerdo e foi por esse lado que o Acuña sacou um centro direitinho para a careca do Bas Dost fazer o primeiro golo. A primeira parte foi o golo e pouco mais. O Sporting teve mais bola, o Chaves foi inofensivo, mas houve pouco perigo criado em qualquer das áreas.
Na segunda parte, voltámos aos tempos de Peseiro e a uma equipa sem guião que ficou como o tolo no meio da ponte. Os jogadores não sabiam se era para atacar ou para defender, procurando controlar a bola sem saber bem com que objetivo. A expulsão (exagerada) do jogador do Chaves ainda mais na dúvida deixou a equipa e o sinal do banco foi equívoco, saindo o Jovane Cabral e entrando o Diaby para a mesma posição (que foi uma nulidade). Há quem pense que a melhor maneira de não fazer asneira é não fazer nada, quando, muitas vezes, não fazer nada é uma grande asneira. O Tiago Fernandes deixou a iniciativa ao treinador do Chaves que fez o que lhe competia, substituindo jogadores com o propósito de tentar chegar ao empate. E aconteceu aquilo que nos acontece com frequência: um perneta qualquer rematou de fora da área e fez o golo de uma vida. Estava preparado o enredo para o filme do costume. Salvou-nos um tonto do Chaves a quem lhe devem ter dado orientações para marcar fosse de que maneira fosse o Bas Dost nas bolas paradas. O árbitro ainda o avisou mas, para ele, ordens são ordens e, na sequência de um canto, só teve como único objetivo placar o Bas Dost não revelando qualquer interesse em disputar a bola. “Penalty”, paradinha do costume, guarda-redes para um lado e bola para o outro e regressámos à casa de partida quando estávamos a respirar por uma palhinha.
Quando da expulsão, percebemos que os comentadores da SporTv eram profundos apreciadores do presunto de Chaves. A choradeira foi-se arrastando, mostrando imagens que sim e mais que também e mostrando outras que talvez não. Os comentadores optaram sempre pelas do talvez não e não mais se calaram. Quando do “penalty”, descobrimos que não eram somente apreciadores do presunto mas assíduos frequentadores da Feira do Fumeiro de Montalegre. O “penalty”, que tem tanto de estúpido como de óbvio, foi transformado numa tentativa de genocídio do povo do Barroso, em clara violação dos Direitos do Homem e do Direito Internacional. Assistimos a mais uma rábula das carpideiras, agora, de serviço à moral e aos bons costumes, embora a moral e os bons costumes tenham dias, dependendo dos jogos e da cor das camisolas.
O Tiago Fernandes desenrascou-nos num momento de aflição. Fez um biscate, sem cobrar um milhão de euros pelo serviço. Ficámos a dever-lhe esta. Espero que o Varandas lhe esteja grato e seja recíproco. Merece ter mais oportunidades e continuar a sua carreira. O passado recente, do despedimento do Peseiro, ficou morto e enterrado. O passado mais longínquo, do assalto a Alcochete, também. Vamos começar tudo de novo, sem as nossas carpideiras e com as carpideiras alheias, às quais estamos habituados. Mas é bom saber que não vamos começar do início, encontrando-nos em segundo lugar, a dois pontos do Porto e à frente do Braga e do Benfica.
Rapidamente as carpideiras de Peseiro começaram a carpir o TF.
ResponderEliminarE daqui a uns anos (muitos de preferência...) irão carpir o Keiser.
É sempre o mesmo ...a seguir ao Jesualdo vinha o caos, afinal veio o Jardim, a seguir ao Jardim, em vez do caos, veio o Marco, a seguir a este só poderia ser o fim, afinal veio o JJ. Segundo os “comentadeiros” e “jornaleiros” da praça, estamos sempre à beira do precipício e damos sempre o passo em frente. E no entanto, ao contrário do coyote não caímos. Mesmo com invasões, Cintras e Peseiros. O segredo deve ser não olhar para baixo.
Só mesmo com o Sporting ao barulho alguém poderia ter a lata de dizer as barbaridades que se têm ouvido nos últimos tempos.
Repare-se que até o menino Villas-Boas achou por bem comentar a saida do Peseiro. Estava quase tão assado com a saída dele, como ontem o Carlos Manuel na Sporttv + a propósito do penalty.
Assumo que quando o PdC deu um pontapé no rabo do Peseiro, o menino estaria entretido com os seus carrinhos e não se apercebeu.
Pode ser que a amizade entre os dois tenha nascido entretanto. Possivelmente nos intervalos de alguma formação sobre a negociação de indemnizações, onde convenhamos que ambos dão cartas.
O seu comentário está à altura dos textos do R Monteiro.
EliminarMeu caro,
EliminarExcelente comentário. Depois do que está vem sempre o caos, pelo menos nas palavras do próprio. Ainda não ouvi nenhum a dizer que era incompetente para o serviço e a sair pelo seu próprio pé enquanto o diz. Pelo menos na política, nestas circunstâncias, alegam razões pessoais para a apresentação da demissão.
De facto o Peseiro e o Villas-Boas podem começar a ensinar esta ciência das contratações e rescisões. É interessante para quem trabalha receber em três meses pelo trabalho de três anos. Podem ensinar na Universidade do Benfica, onde dizem que vai um juiz qualquer para reitor. Nessa universidade vão-se ensinar coisas magníficas. O Paulo Gonçalves ainda vai para Director do Departamento de Estudos Jurídico-arbitrais e Matérias Conexas.
SL
Obrigado pelas suas palavras.
EliminarSe o Totenham não se chegar à frente, se calhar ainda é para aí que despacham o Vitória pela clausula de rescisão.
Um bom chefe de familia como ele faz questão de informar, independente da completa irrelevância para a ocasião, certamente terá algo para transmitir às gerações vindouras.
Se não me falha a memória desde que Van Basten terminou precocemente a carreira num lance semelhante, a FIFA deu instruções aos árbitros de sancionar estes lances com RED.
ResponderEliminarNo lance do Penalti sobre DOST, abraços só se dão a familiares e amigos. Não era necessário? Tambem os comentários da Sport TV são dispensáveis.
SL
Caro João,
EliminarOuvi uns comentários sobre o penalty que são de ir às lágrimas. Um jogador não disputa a bola nem se interessa por ela. Tem como único objectivo impedir que o outro a dispute. Bloqueia o movimento do outro deslocando o corpo e abraçando-o pela cintura. Se isto fosse no meio-campo alguém tinha dúvidas? Em muitas situações, basta a deslocação do corpo para dar falta e amarelo quando não se tem intenção de disputar a bola.
SL