segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Perdemos o Barreiro mas salvámos Almada por uma unha negra

“Never was so much owed by so many to so few. We shall never surrender”. Deve ter começado assim o discurso de Jorge Jesus ao intervalo. Tínhamo-nos salvado graças à pronta intervenção de Rui Patrício e Mathieu que, nos seus Spitfires, aguentaram os Messerschmitts do Marega e do Aboubakar, depois da nossa Linha Maginot, do Battaglia e do William Carvalho, ter sido destroçada, tendo-se assistido à debandada dos restantes jogadores rumo a Dunkerque. Reuniu-se o que restou das tropas e procurou-se resistir na segunda parte, esperando que os frios das estepes parassem os adversários, apesar dos nossos já estarem a sofrer de escorbuto.

Com efeito, na primeira parte, fomos simplesmente arrasados. Os do Porto tinham muito mais intensidade no jogo, pressionando sempre em todo o campo e ganhando todas as bolas que havia para ganhar. Quando a ganhavam, desatavam à desfilada para a nossa área e nem se davam ao trabalho de fintar os nossos jogadores, limitando-se a atropelá-los. O Brahimi fazia sempre a mesma jogada e a malta caia sempre, fletindo da esquerda para o meio e ganhando superioridade no meio e no lado direito. Enquanto isso, o Marega ia tropeçando na bola e no Jonathan Silva com enorme convicção até deixar o Mathieu com os seus poucos cabelos em pé. Mesmo eriçado, ele, o Rui Patrício e a barra foram os nossos melhores jogadores.

Só equilibrámos o jogo na segunda parte, quando começaram a faltar as forças aos do Porto e o Jorge Jesus acordou de um sono profundo e colocou o Acuña, um esquerdino, a fechar o lado de dentro do Piccini, impedindo que as jogadas do Brahimi se repetissem. O Gelson Martins do outro lado começou a desesperar o Layún e o Marega teve que recuar para ajudar, avançando o Jonathan Silva. O jogo passou a ficar equilibrado e alguns jogadores do Porto, passada a fase da alucinação, em que estavam a jogar acima das suas possibilidades, voltaram a ser o que nunca deixaram de ser, oferecendo-nos o Danilo dois golos que desperdiçámos. Para não lhes ficarmos atrás, oferecemos-lhes um golo também, mas o Marega não tropeçou da melhor maneira na bola e o Rui Patrício defendeu.

Quando pensávamos que finalmente íamos para cima deles, não fomos. As forças não davam para mais e os suplentes não davam garantias. O Bruno César não entrou mal mas, nesta fase da vida, não atrasa nem adianta. O medo de nos desequilibrarmos numa transição era tanto, que o Podence só entrou nos descontos.

Assim se continua a escrever o planeamento desta época. As contratações foram melhores que as da época passada, mas o plantel continua a não ter profundidade. Jogam os mesmos até morrerem. O Jorge Jesus não gera alternativas e, pelo contrário, até as vai queimando (em contrapartida, o Sérgio Conceição até os mortos vai ressuscitando). Ninguém percebe por que razão não jogaram na Taça da Liga os juniores ou os da Equipa B. Não se percebe muito bem como é que nesses jogos, que não interessam a ninguém, o Gelson Dala não tem lugar. Só se for para evitar, à treinador português, que o rapaz faça uma grande exibição e passe a ser concorrente de um outro que é o preferido. O Iuri Medeiros pode ser um jogador pouco intenso e com lacunas defensivas, mas ninguém tem dúvidas sobre a sua qualidade técnica. O nível de massacre nos treinos deve ser de tal ordem que quando entra em campo até parece que aprendeu a jogar futebol no dia anterior. Entretanto, vamo-nos entretendo a brincar aos crescidos na Liga dos Campeões, sem proveito nenhum e a perder pontos para o campeonato.

10 comentários:

  1. De uma Lição de História (o 1º parágrafo), a um retrato da História do Sporting (último parágrafo).
    Está aí tudo. Grande post!

    (ainda havemos de dizer de Acuña o que acabámos por dizer de Bryan Ruiz. Está a ser tão espremido que até dói).

    Um abraço.

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    1. Caro Cantinho,

      No Jorge Jesus nada disto é novidade. No Benfica também era assim. Não sabe gerir as expectativas e motivações de um plantel de 26 jogadores. Tem um grupo de fieis e os outros não contam.

      Transforma uma bom jogador num jogador de excepção. Ao mesmo tempo, transforma um jogador assim-assim num mau jogador. Só que uma equipa vive dos bons jogadores e dos medianos também. Bem motivado, como se viu com o Porto, jogam mais do que se espera.

      Um abraço

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    2. Meu caro Rui, ele transforma um bom jogador num jogador de excepção quando lhe cai no goto, para dizer o menos. Quando não destrói um bom jogador ou pura e simplesmente o ignora. O caso do Iuri analisado pelas vezes que foi chamado, pelos minutos que jogou e pela relação entre a utilização/aproveitamento num determinado jogo e o que lhe aconteceu no seguinte, permitem elucidar a cínica obstinação que caracteriza o nosso treinador. A não utilização do Podence, depois de um jogo menos conseguido, é fruto da mesma cegueira. A não utilização do Gelson Dala - ainda estará para proclamar que o rapaz é afinal um ala-direito por descobrir - é do mesmo domínio.
      O Cantinho já o disse repetidas vezes: Jesus espreme cada jogador até ao tutano e depois abandona-os e manda vir outros. Está a fazer isso com Acuna e com Gelson e fará a seguir com Battaglia, porque a simples ideia de colocar Palhinha ou Petrovic em campo uma vez por outra deixa o homem à beira de um ataque de nervos.
      Não temos uma grande equipa, mas temos muito melhor equipa do que aquilo que Jesus consegue tirar dela. Somos bons a jogar contra os melhores -como contra o Barcelona - temos que ser muito bons contra o Porto e ainda mais contra o Tondela ou o Moreirense.

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    3. Caro JG,

      Sublinho as suas últimas palavras com as quais estou de acordo: "não temos uma grande equipa, mas temos muito melhor equipa do que aquilo que Jesus consegue tirar dela".

      SL

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  2. Caro Rui.
    Acabo de chegar do café onde habitualmente se fazem os mais elaborados e adjectivados rescaldos das jornadas, Desta vez investimos mais no rescaldo político. De qualquer modo, ainda deu tempo para falar da bola e dar uns urros sobre tácticas, estratégias e futebolistas. Enfim. de futebol. Não seria o mesmo sem isso.
    O nosso benfiquista de serviço saiu cedo. Estava demasiado desanimado para continuar. Ainda mais fora dele próprio do que é costume nestes momentos. Não deixava os outros falarem pior do SLB do ele próprio. Ainda tentamos dizer-lhe que ainda era cedo, que a procissão ainda vai no adro, que noutras alturas já estiveram a dez pontos e foram campeões e outras coisas que se dizem às pessoas quando estão nestes estados de desespero. Sem sucesso. Quanto ao Sporting defendi uma leitura da realidade semelhante à sua. Eu e outros, que isto não é um clube de deslumbrados. Constatei, como sempre, que existem outras visões, só por isso ainda lá vou, mesmo no universo leonino («não jogamos uma merda, eles são melhores», «com estes jogadores não há nada a fazer», «olha-se para o banco e… nada», etc. etc.).
    No rescaldo, o pior mesmo foi perder o Barreiro e ainda mais Almada… e os outros… e ainda a certeza de que vou ter saudades do Passos.
    Abraço

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    1. Caro Trindade,

      Quando a bola começa a rolar sou um sportinguista fanático. Vejo tudo a verde e branco. Quando acaba o jogo, sou ainda mais sportinguista por que fico desiludido e tenho idade para me preocupar com outras coisas. Escrever sobre o Sporting, mais mal do que bem, é uma forma de dizer aos jogadores que na próxima lá estou outra vez.

      As coisas estão a mudar e a mudar muito depressa. Perde-se o Barreiro e Almada mas não se precisa de perder a alma. O Passos, no actual contexto, gerou por oposição a grande moderação política, económica e social.

      Um abraço

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  3. Genial Rui, o ultimo paragrafo resume tudo.
    Este ano valeu-nos o acerto na contratação do Mathieu que nos garantiu uma estabilidade defensiva que não tínhamos o ano passado, mas isso não chega para ganhar aos Moreirenses, feirenses e tondelas desta vida, e é nestes jogos que se definem os Campeões. Há pelo menos um clube que já percebeu isto há muitos anos.
    Há um treinador que por muitos anos que passem teima em não se adaptar.

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    1. Caro Gil,

      Obrigado.

      O Jorge Jesus não sabe gerir e motivar jogadores no contexto de uma equipa. Todos fazem parte da equipa.

      SL

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  4. Primeiro de tudo foi um grande jogo de futebol, duas grandes equipas, um ambiente fantástico.

    Concordo com tudo o que disseste em cima.
    Foi um jogo muito equilibrado mas na minha opinião tivemos um Porto mais forte, mais objetivo e com muita vontade de ganhar. O vosso melhor jogador continua a ser o Gelson mas foi bem anulado na primeira parte com uma grande pressão do Porto. Jesus, como já nos habitou e tínhamos falado no batizado, continua a dar 45 min às equipas adversárias e percebeu tarde, onde colocar alguns jogadores para começar a criar mais oportunidades e a ter controlo do jogo.
    A frase que marcou o clássico foi a de Sérgio Conceição: “vamos ser campeões”!
    Um resto de um bom campeonato.
    Abraço, tio

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    1. Caro João,

      Foi um grande jogo de facto. As equipas queriam jogar à bola e nem por um momento ligaram ao árbitro. O Xistra deixou-se de habilidades e o jogo andou.

      A grande diferença está na motivação dos jogadores e não tanto na sua qualidade individual. Se o Porto tivesse mais qualidade individual tinha ganhado. Só que com um bom guarda-redes e dois bons centrais é mais difícil marcar golos aos trambolhões como o Aboubakar e o Marega costumam fazer.

      O JJ, o rei da táctica, entrou na expectativa como sempre. O Sérgio Conceição não. O Sérgio Conceição tinha estudado bem os pontos fortes e fracos do Sporting. O JJ demorou uma eternidade a perceber as movimentações do Brahimi. Por outro lado, como não temos o Slimani e temos o Doumbia lesionado, não podemos jogar comprido quando estamos sob pressão. Temos o Bas Dost limitado o jogo todo a saltar para ganhar a primeira bola.

      Um bom campeonato para o Porto e para ti também, com boa bola e menos árbitros e as palermices do costume do futebol português.

      Um abraço

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