Se chegássemos em primeiros na pausa para os jogos da seleção nacional dos quartos de final da Liga das Nações, seríamos campeões [bicampeões, melhor dizendo], foi o que nos anunciou o Frederico Varandas, mais coisa, menos coisa, em fevereiro deste ano. O nosso presidente falou como se fosse a Alcina Lameiras ou, pelo menos, consultasse amiúde a Alcina Lameiras, não negando à partida uma ciência que [ele] não conhece. Chegámos em primeiros, embora à condição, pois o Benfica tinha um jogo em atraso [contra o Gil Vicente]. Em meados de março, a época encontrava-se resolvida, mais lesão, menos lesão, mais 4x4x2 ou mais 3x4x3.
Os oito jogos restantes constituíram uma formalidade, uma indispensável ida à repartição do Ministério das Finanças ou à Loja do Cidadão mais próxima para carimbar os papéis que permitissem a festa no Marquês. O Rui Borges e o Bruno Lage ainda nos entretiveram mais dois meses, fazendo de conta que faziam seja lá o que for que eles fingem que sabem fazer. Fingir saber fazer, também é fazer, pois não é só o poeta que é um fingidor, qualquer um deles é capaz de fingir tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente, parafraseando Fernando Pessoas.
O último carimbo foi o do Guimarães. Carimbar não tem nada de exaltante, de excitante, mas há carimbar e carimbar, há ir e voltar, parafraseando Alexandre O'Neil. Um carimbo nunca se repete, parece uma rotina, mas não é, revela idiossincrasias de quem carimba ou o seu estado de espírito, mais sonolento ou mais agitado e frenético. Carimbou-se duas vezes e ficou tudo muito bem carimbadinho, para que se soubesse de quem era a festa no Marquês [o Benfica não carimba coisa com coisa, fica tudo esborratado, sem jeito nenhum]. O primeiro carimbo, do Pedro Gonçalves, foi suave, no cantinho. O segundo, do Viktor Gyökeres, foi mais à bruta, para que não restassem dúvidas de que estava tudo carimbado, como manda a lei.
Carimbos arrumados e ala para a festa que se faz tarde. Não estamos habituados a ser bicampeões e isso nota-se. Vamos muitos, vamos todos [ou quase]. Não interessa o género ou a idade. Uma única coisa interessa: uma camisola do Sporting com o nome do Viktor Gyökeres estampado nas costas. É tudo muito pueril, é o eterno regresso à infância, parafraseando Javier Marías [estou proibido pelo médico de parafrasear mais do que três vezes por dia]. Discute-se se é melhor o Saldanha ou o Marquês, se a festa deve ser espontânea, dos [e para os] sócios e adeptos, ou mais aberta e organizada. A questão existencial de ser ou não ser campeão ou bicampeão acabou. E o Sporting?